quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CONHEÇA ALGUNS MESTRES DO RISO RADIOFONICO.

   
ALVARENGA & RANCHINHO DERAM  TRABALHO AO DIP, MAS ACABARAM CONQUISTANDO GETÚLIO.

No final dos anos vinte, quando Alvarenga e Ranchinho se conheceram, se apresentavam em circos, cantando músicas sertanejas, uma novidade na época.
Ao chegarem ao Rio já eram conhecidos, até que a Nacional os  contratou. Passaram então a fazer um programa  só deles que ia ao ar às terças-feiras às 20 horas,tendo como patrocinador o Rhum Creosotado, aquele medicamento que anunciou nos velhos bondes durante décadas  e do qual os mais antigos, certamente,  se lembrarão:

O  belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no  entretanto acredite:
Quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhum Creosotado.

A dupla fazia um humor fino, muitas vezes sarcástico e irreverente. Eram críticos dos políticos, dos costumes da época e fazendo paródias de tudo, não escapavam nem seus colegas do rádio.
Além de fazerem piadas, entoavam paródias ao som dos violões e arrancavam gargalhadas do público e problemas com a censura  e a polícia política do Estado Novo de Getúlio.
Presos por quatro vezes, passavam a noite no xadrez e libertados na manhã seguinte depois de ouvirem longas  repreensões dos agentes.
Uma vez o Filinto Muller, homem forte de Getúlio e presidente do temido DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda telefonou para a dupla exigindo que seus scripts fossem  submetidos previamente à censura.
Ao que Ranchinho argumentou:
-Mas doutor, além do texto, nós também temos o improviso.
E veio a resposta do poderoso:
-Pois eu também quero censurar o improviso!
A dupla fazia crítica bem humorada ao Estado Novo.

Certa vez, Alzirinha Vargas, que era filha do presidente e adorava a dupla, os convidou para uma apresentação especial no Palácio do Catete. Era 19 de abril de 1939, aniversário do velho. Os dois chegaram meio desconfiados, mas logo o lado artístico falou mais alto e eles se soltaram. Cantaram sátiras, piadas, incluindo algumas contra o governo.
Getúlio com seu indefectível charuto, ria de tudo. Ao final, colocando as mãos nos ombros dos dois  disse:
“A partir der hoje, vocês podem fazer a graça que quiserem. Ninguém mais vai incomodá-los”.

Se aquela atitude de Getúlio os deixou aliviados, certamente perdeu-se um pouco do encanto:  cadê a graça de fazer piada com o Getúlio sem a maldita censura?
Alvarenga e Ranchinho: sátira musical inteligente,
  humor sagaz e problemas com a censura do Estado Novo
   





Chegando ao Rio, vindo de sua Recife, não levou boa vida. Lutou muito para conseguir um lugar num navio que o levou  para os Estados Unidos onde viveu quatro anos. Voltou ao Brasil pagando a passagem tocando violino a bordo. Incorporou-se à grande novidade da época, o rádio e depois de muita luta chegou a diretor artístico da Tamoio para, finalmente, parar na Nacional onde fez carreira  como produtor de programas.
“Pelas estradas do mundo”, “Este mundo é uma bola”, “Caricaturas” e muitos outros. Dono de um texto admirável foi também um compositor de sucesso. Quem se lembra de “Chuvas de Verão”? Sem dúvida alguma o filhão Edu teve a quem sair.
O humor de Fernando Lobo não era para o público gargalhar, era para ouvir sorrindo, Possuía a capacidade de contar uma história de forma direta, simples, jocosa e criativa.
Mas a vida nem sempre sorriu para Fernando Lobo. Pelo contrário, fez cara feia, na madrugada de 2 de abril de 1959 quando a Kombi que dirigia chocou-se violentamente com outro, na esquina de avenida Atlântica com Paula Freitas. Os jornais da época deram bastante  destaque pois Lobo era figura muito conhecida na época. O número 501 da Revista do Rádio editado em 25 de abril de 1959 assim noticiou:

Aconteceu na madrugada do último dia 2. Fernando Lobo, compositor de sucesso e produtor da Rádio Nacional, estava em seu carro, (uma caminhoneta Wolksvagen)junto de amigos, quando o seu veículo chocou-se violentamente com outro na esquina da avenida Atlântica com Paula Freitas. O auto do radialista ficou bastante danificado, saindo feridos os seus ocupantes. O outro  veículo chegou a capotar , matando quem o dirigia, o corretor Feliciano da Costa Pereira, e também o seu filho de sete meses Marco Aurélio. Fernando Lobo, que não dirigia o seu carro (seu amigo Raul Ferreira Ribeiro estava no volante) foi internado no Hospital dos Acidentados , com diversos ferimentos, inclusive fratura de algumas costelas.
Lobo gozava de muito prestígio na época e seu acidente teve grande repercussão.



Notícia nos jornais e destaque na Revista do Rádio em 1959.

A matéria, que ocupa  duas páginas da revista, mostra várias fotos do radialista no leito do hospital. Um fato curioso, porém, aconteceu nesse acidente. È que o radialista Paulo Roberto, muito amigo de Fernando e seu colega da Nacional, que também é médico, passava coincidentemente pelo local, pois morava em Copacabana e foi o primeiro a prestar socorro às vítimas. Paulo, em vão, com ajuda de populares, tentou salvar a vida dos feridos mais graves, que infelizmente vieram a morrer no local.
Fernando Lobo, que ficou longo tempo afastado do rádio, viu a morte de perto. Mas segundo o apurado na época, o motorista que conduzia seu carro, não teve culpa no acidente. A  avenida Atlântica era a via preferencial e o outro veículo cruzou seu caminho.
O médico Paulo Roberto produzia na Nacional um programa de rádio chamado Obrigado Doutor.
Ao passar pelo local do acidente, prestou socorro ás vítimas.

O pai de Edu Lobo, já recuperado, certamente disse ao colega que o socorreu naquela madrugada:
Obrigado doutor!.



Começou no  Programa Cazé em 1933, como tantos outros expoentes da época. Fez de tudo em rádio. Foi contra-regra, discotecário, secretário particular de Francisco Alves, chegando a diretor artístico das maiores emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Também traduzia e adaptava letras de músicas para o Português e que facilmente se transformavam em sucesso. Escreveu programas montados famosos, como “Rádio Almanaque Kolynos” “Um milhão de melodias”, “Rádio Semana” “Dona Música” e outros. Entre os humorísticos, além dos citado em outro trecho deste livro, produziu: “Casa da sogra”,”Nossa família” “Cidade alegre” “Da boca pra fora” de parceria com Sérgio Porto.
Depois  migrou para a televisão onde continuou dedicado a programas musicais e humorísticos.
Foi também grande compositor. Quem não se lembra desses sucessos?:  “De conversa em conversa”,  “Bar da noite”, “Joãozinho boa pinta”, “ Tim-tim por tim-tim”, “Nossos momentos” “Cara de palhaço” e uma dezena de músicas de carnaval e sambas  imortais.

DOUTOR MAX NUNES DE PLANTÃO : MARIPOSA VISITA HOSPITAL E BOTA CARDIOLOGISTA PARA CORRER.

Bastante citado neste livro por seu trabalho no rádio humorístico, gostaríamos de acrescentar que Max  nos anos 40 já era responsável pelo texto de programas pioneiros do humor carioca. Criou na rádio Tupi “Ninguém rasga”  e “Palácio dos Vereneadores” onde revelava sua veia imbatível para a crítica política e humorística.
Em 1948 deixou a Tupi e foi para a Nacional onde produziu vários programas já citados, até lançar o fenômeno “Balança mas não cai”.
Em 1952 voltou a Tupi com vários projetos de programas de humor debaixo do braço também já citados. Mas gostaríamos de enumerar outros, como “O mundo de tanga” “Marmelândia”,o pais das maravilhas” e a “Boate do Ali-Babá” com destaque para o famoso  “Deputado Baiano” personagem que depois foi para a televisão e virou marchinha de carnaval.
Max Nunes foi para a TV Excelsior e finalmente a TV Globo, escrevendo, com Haroldo Barbosa e outros produtores, para a telinha,   grandes programas de humor, alguns ainda forjados no velho rádio.
Mas o talentoso  radialista e médico cardiologista tinha um enorme trauma: um medo doentio por mariposas. Uma mariposa que adentrasse ao local onde estava ele, fazia-o sentir  um pânico incontrolável.
Ele mesmo contou esta história para Luis Carlos Saroldi no programa Noturno da JB-AM que agora repito para vocês.
Uma madrugada   estava ele de plantão no hospital quando uma imensa mariposa apareceu no corredor. Rápido, entrou no primeiro quarto que viu. Lá, estava um internado, na cama. Não era grave o seu estado. Mas para fugir da mariposa Max ficou lá dentro com o paciente. Mediu pressão, temperatura, examinou... examinou... E a mariposa lá, na parede corredor.  O paciente começou a desconfiar que o estado dele era grave, tendo em vista o  interesse do médico apavorado. Depois de um longo tempo a mariposa, finalmente, foi embora  ele pode sair do quarto.
-Já fiz  de tudo para perder esse pavor, até terapia. Mas não adiantou nada. Disse Max Nunes. 



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

ANOS 50: HUMOR DE SUCESSO NA MAYRINK VEIGA.



Por volta do ano de 1953, a Rádio Mayrink Veiga produziu uma guinada no rádio carioca. Fazendo parte das Organizações Vitor Costa ela contratou os maiores astros do humor  no Rio de Janeiro. Para lá foram também produtores já consagrados como Haroldo Barbosa e Antonio Maria e outros que estava começando entre eles um jovem e talentoso produtor: Sérgio Porto, o famoso Stanislau Ponte Preta. Pescou também atores e locutores de alto nível entre eles um monstro sagrado chamado Luiz Jatobá.
E dois jovens locutores que também surgiam: Carlos Henrique e Cid Moreira. Conseguiu patrocinadores para todos os horários noturnos e  lançou uma linha de programas humorísticos que roubou audiência da Tupi e da Nacional numa faixa de horário que ia de oito às dez da noite, de segunda a sexta –feira.
Dois humoristas se destacavam na Mayrink Veiga nesse período: Zé Trindade e Chico Anísio, sendo que este passou também a escrever quadros humorísticos. Foi na Mayrink que surgiu um quadro em “A cidade se diverte”: a “Escolinha do professor Raimundo”.
Havia a boazuda dona Zezé, Nanci Wanderley; um mineirinho meio caído vivido por Antonio Carlos, um aluno muito burro com ares de sofredor interpretado João Fernandes e um espertalhão: Zé Trindade.


Nancy Wanderley: versátil, tanto fazia drama quanto humor. Atração nos humorísticos da Tupi e Mayrink, foi a primeira esposa de Chico Anísio.

Quando “A cidade se diverte” foi para a Mayrink Veiga, levou também “Cazuza,o calouro que já vem gongado” juntamente com outros personagens e intérpretes.
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Haroldo Barbosa, gênio do velho rádio e depois da televisão:  
deu força ao humor da Mayrink no anos 50

Antonio Maria, vascaíno, aqui irradiando futebol no Maracanã dos anos 50.
Compositor de sucessos, escrevia para o humor da Mayrink e da Tupi.

Sergio Porto, elegeu Rose Rondelli, Miss Campeonato, como uma das Certinhas do Lalau.

 SEGUNDAS-FEIRAS:  DIA DE MISS CAMPEONATO, SÁTIRA AO FUTEBOL E QUE LEVAVA TORCIDAS AO AUDITÓRIO PARA ELEGER A MISS MAIS BONITA.

Quem assinava o programa era Sérgio Porto e parece-me que foi daí  que surgiriam pouco depois as “Certinhas do Lalau” que tanto furor provocaram naqueles dias.
Destaque em “Miss Campeonato” era a vedete e  mais tarde radioatriz Rose  Rondelli,que depois se casou com Chico Anísio e tiveram dois filhos,Nizo Neto e Ricardo.

ROSE RONDELLI QUASE MORRE EM DESASTRE DE AVIÃO NA BAIA DE  GUANABARA!

Mas, Rose, na ocasião, passou um tremendo susto, quando o avião  da Vasp em que  viajava com a mãe caiu nas águas da Guanabara, logo após decolar.
Vamos relembrar o que a edição de O Globo de  31 de dezembro de 1958. publicou.

Irremediavelmente afetado pelo incêndio que lavrou num de seus motores, um Scandia da Vasp mergulhou ontem na Baía de  Guanabara , pouco depois de ter decolado do aeroporto Santos Dumont rumo a São Paulo, com 33 passageiros e quatro tripulantes a bordo, num dos mais dramáticos desastres aéreos de que se tem notícia nesta capital. Ainda não se sabe o número exato de mortes. Até o fechamento desta edição tinham sido recolhidos cinco cadáveres ao necrotério do IML. Entre os sobreviventes estão a vedete Rose Rondelli e sua mãe.
A tragédia, segundo relato das poucas pessoas que a testemunharam em todos os lances, consumou-se de repente. O avião movimentava-se normalmente e, quando já perdera contato com o solo, na altura dos 800 metros da pista, notou-se a fumaceira que saia do motor esquerdo, logo seguida de grossas línguas de fogo. Os que  estavam no Santos Dumont  viveram instantes profundamente dramáticos, pois já não acreditavam que o piloto, por mais habilidoso que fosse, conseguisse chegar de volta à pista, como parecia ser o seu propósito. E esses prognósticos infelizmente se confirmaram. A aeronave girou em torno do próprio leme, tombou pesadamente para a esquerda e caiu no mar.

Houve grande comoção quando se noticiou que a Miss Campeonato estava entre os passageiros. Somente quando as rádios  esclareceram que Rose Rondelli havia escapado com vida é que os admiradores ficaram aliviados.
Rose Rondelli também era muito conhecida em São Paulo, onde estrelava Miss Campeonato para a TV Paulista.
Rose Rondelli escapou com vida do acidente do avião da Vasp


Mas voltando a Sérgio Porto.
Ele também assinava com Haroldo Barbosa o sucesso que foi “Levertimentos”.
A famosa coluna de rádio de O GLOBO “O ouvinte desconhecido” assim publicou em 12 de abril de 1957:
‘A  rádio Mayrink Veiga, na próxima terça-feira, vai festejar o terceiro aniversário do programa humorístico “Levertimentos” escrito por Haroldo Barbosa e Sérgio Porto e interpretado pelo melhor cast cômico do rádio brasileiro”.

VAI DAR VALSA! 

Não poderíamos deixar de falar de um programa humorístico, que se não era capaz de arrancar gargalhadas dos ouvintes e assistentes do auditório, fazia um tipo de humor inteligente, criativo e eu diria fleumático.
Chamava-se, “Vai dar Valsa”. Com um texto muito interessante  Haroldo Barbosa, pegava um tema ou uma história e em vinte e cinco minutos o analisava sob diversos ângulos. Grande parte do programa recaia sobre a  narração  a cargo do genial Luiz Jatobá.  As falas do narrador eram entremeadas com participações rápidas do elenco. Todas as vezes que entrava o narrador, entrava junto um piano,ao vivo, tocando  notas em ritmo de valsa. Lembro-me de um programa em que Barbosa focalizou o que pode acontecer com amadores que resolvem preparar uma pescaria numa desabitada praia da Barra da Tijuca do início dos anos 50.  Não se esquecem de nada, inclusive comida e cachaça. “Na verdade o objetivo era encher a cara e a pescaria era apenas um remoto detalhe” diz o narrador. Num velho Chevrolet 39 eles partem para a aventura. Acendem o lampião,armam a barraca de lona, mas começa a chover.E tome cachaça. È quando levam um grande susto com um enorme siri, que se alojara na barraca. E tome cachaça...Após expulsarem o siri aos berros, eles tentam se abrigar da chuva e do frio. Como a chuva melhorasse, eles resolvem, já completamente tontos, retomar os molinetes e reiniciar a pescaria. Mas quem está pescando com o molinete deles: o siri !
Mediante  berros e ameaças o siri interrompe a pescaria e se afasta displicentemente. E as vicissitudes prosseguem. Tudo que eles decidissem fazer o siri tomava a frente.
Exaustos, tocados e sem pescar nada, resolvem bater  em retirada. Mas, para desespero do grupo, o carro não pega de jeito nenhum. Não têm uma ferramenta, uma chave de fenda que seja,  desesperados, sentam-se no chão, arrependidos do programa furado. Eis que, para surpresa do grupo, quem aparece para consertar o carro? O siri!
Nesta história cheia de surrealismo, o siri conserta o carro, vê o carro partir e ainda acena se despedindo.
Após rápidas considerações sobre o perigo de se promover certos programas,à semelhança da pescaria frustrada de nossos heróis, o narrador adverte:
“ Você deve planejar tudo e pensar bem no que pretende fazer. Caso contrário, certamente ...
Ao que um coro exclamava:
Vai dar valsa !
E ai a orquestra, que permanecera silenciosa durante todo o programa, atacava uma valsa que era o  sufixo do programa.
Haroldo Barbosa: humor fino e excelente texto.
Luiz Jatobá: atuação na CBS nos Estados Unidos.  Quando retornou ao Brasil foi para a Mayrink.Era o narrador de Vai da Valsa.
Jatobá e Walter Dávila: atrações de Vai da Valsa

A graça de Zé Trindade:  riso certo com os textos de Haroldo Barbosa e Antonio Maria.
Carlos Henrique:  locutor dos programas noturnos da Mayrink nos anos 50.




A propósito desse programa assim se expressou a Revista do Rádio de abril de 1958.

O programa se fez popular em face dos temas que Haroldo Barbosa escolhe.: todos quase sempre envolvendo o próprio ouvinte, participante indireto das situações pitorescas que ali se fazem pródigas. A exemplo do que aconteceu a um cidadão que levou a família para um ´piquenique na Ilha do Governador. E sofreu como tambor em dia de parada. Francisco Anísio fez bem o chefe da família (mulher e quatro filhos) que sofre com a esposa (Ema D’Àvila) e a garotada (Nanci Vanderlei, Antonio José,Jaime Filho e Selma Lopes, todos em ótimo nível) em meio às peripécias de quem enfrenta um domingo ensolarado, de maiô e tudo, sem contar com o resto. Narração convincente de Sérgio de Oliveira. Parte comercial coerente.


Observem que o rádio gozava de um prestígio tão grande que havia até uma crítica especializada. Todos os jornais ou revistas tinham seus críticos de rádio. A crítica de hoje somente se ocupa da televisão. Uma das colunas que se tornou famosa era a publicada em O Globo, sob o título: O ouvinte desconhecido, que se escondia no anonimato e que era identificado apenas pela alta direção do jornal.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O RÁDIO QUE FAZIA RIR: OS PROGRAMAS HUMORÍSTICOS.



As raízes do humor estão nos primórdios do rádio, quando da encenação de esquetes rápidos, reunindo de 2 a três atores e sempre com um final engraçado.Muitos esquetes eram como que anedotas radiofonizadas. Era uma maneira inteligente e chamar a atenção do público para uma nova forma de interpretar, fugindo à linguagem teatral.
Nos anos trinta já havia programas que exploravam o humor compondo quadros que se alternavam com números musicais. Era o cerne dos programas montados, que surgiram mais tarde graças à criatividade de Almirante.
Começaram a surgir redatores de programas humorísticos. A revista “Fon-Fon”, famosa publicação dos anos trinta  possuía uma seção  de página inteira, assinada por Alziro Zarur, destacado radialista que se tornaria mais tarde o presidente da Legião da Boa Vontade. A seção se intitulava PR-1 Fon-Fon e na página 27 do número publicado em 7 de maio de 1938 se podia ler:
Lauro Borges na PRE-8
A Rádio Nacional ganhou um elemento de primeiro plano em matéria de humorismo radiophonico: Lauro Borges, o “az” da “Hora Sertaneja” e da  “Hora Só ...rindo” da Transmissora, que agora apresenta  “A Buzina”, seu impagável jornal falado, no Programma Palmolive”, uma das boas coisas da PRE-8.
Lauro Borges, 8 anos mais tarde estrearia na Nacional, juntamente com Castro Barbosa, um dos maiores programas humorísticos do rádio: A PRK-30. Sobre este programa falaremos mais adiante.

Mas voltemos à revista Fon-Fon.Também na mesma página, ainda na seção do Zarur:
Almirante na PRE-8, está irradiando as suas famosas “Curiosidades Musicaes”, programas de meia-hora magnificamente ensaiados e  realizados com uma apresentação humorística notável. Sem exaggero, póde-se dizer: as “curiosidades musicaes” de Almirante constituem uma verdadeira sensação no “broadcasting” brasileiro.
Estamos no final dos anos trinta e início da década de 1940.
Um dos programas humorísticos pioneiros do rádio era escrito por Renato Murce e se chamou  “Piadas do manduca”. Era uma escolinha de adultos e crianças . Ficou no ar durante 25 anos, obtendo os primeiros lugares junto ao Ibope. Ia ao ar aos domingos às 8 e meia da noite, perante o auditório lotado da Nacional. Mas antes de se chamar “Piadas do Manduca” o programa se intitulava  “Cenas Escolares” e teve muitos problemas com a censura do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Transcrevo, a seguir, trecho do excelente livro de Renato Murce “Bastidores do Rádio, já esgotado e que é um excelente documento. Murce, uma das glórias do rádio brasileiro, escreveu:
As “Cenas Cariocas” representavam uma escola “bagunçada”. A professora Dona Teteca (Anamaria) sofria horrores com a indisciplina e as travessuras dos alunos: Manduca (Lauro Borges) Fedoca e Teleco, além do Coronel Fagundes (Juvenal Fontes) e  Seu Ferramenta (Castro Barbosa). Aderiam às aulas no desejo de “aprender” alguma coisa.
O programa era o mais hilariante possível. Provocou uma onda  enorme entre os ouvintes. A maioria gostava. Uma minoria, onde se  incluíam as verdadeiras “Tetecas”, sem força moral junto a seus alunos, deu de protestar. Dirigiram-se à Associação dos Pais de Família. Pediam sua intervenção para a retirada do programa do ar. Foram ao DIP. No dia seguinte, recebíamos aviso de que “Cenas Escolares” estavam proibidas. Obedecemos. Comunicamos, pelo microfone, o fato aos nossos ouvintes. Recebemos mais de mil cartas e telegramas. Além de inúmeros telefonemas de protesto.
Vários jornalistas escreveram sobre o assunto: Paulo Roberto, Orestes Barbosa, Caio César Pinheiro e J. Caribe  da Rocha. Todos defendiam o programa. Diziam que era até educativo. Às respostas estapafúrdias e disparatadas, seguia-se a necessária  correção e a explicação daquilo que fora arguido.
Renato Murce prossegue  seu relato, dizendo que não desanimou e  conhecendo bem a burrice do DIP, como ele mesmo escreveu, teve uma ideia que acabou passando pela censura. A ação não se passaria mais numa escola pública e sim na casa de uma professora aposentada. Na primeira metade do programa acontecia um alegre bate-papo pontilhado de piadas e situações engraçadas. Após o intervalo comercial, começa a “aula” propriamente dita. O programa passou a chamar-se “Piadas do Manduca”. Manduca era um menino sapeca e muito esperto que com tiradas hilariantes. Coronel Fagundes, na Nacional era interpretado por Brandão Filho. Chegado do interior, provocava risos com suas atitudes ora ingênuas, ora cheias da conhecida malícia mineira. Seu  Ferramenta era um imigrante português, claro, torcedor do Vasco, que levava Dona Teteca ao desespero com suas perguntas  ingênuas e engraçadas. Havia o doutor Leão, marido de Teteca. Doutor Leão era vivido pelo produtor do programa Renato Murce. Ele ajudava a esposa a esclarecer dúvidas e procurava manter o controle da situação quando a disciplina degringolava. Era sofisticado no falar, possuía vasto conhecimento, ensinava coisas úteis, mas ficava encalacrado quando o demônio Manduca se referia  “a uma certa francesa”. Mais tarde outros personagens foram incorporados, como um imigrante turco, Seu  Nagib , interpretado por Alfredo Viviani e outros que eventualmente iam visitar Dona Teteca.
O programa sempre se encerrava com uma boa piada de efeito que levava o auditório às gargalhadas fundindo-se ao sufixo, especialmente produzido e executado pelo conjunto regional de Dante Santoro.
Renato Murce, pioneiro no humor radiofônico e descobridor de talentos

EM PLENA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, ABRE-SE UMA TRINCHEIRA DE HUMOR PARA COMBATER O NAZI-FASCISMO.
 Estamos em agosto de 1942. Eis que  Renato Murce tem uma ideia criativa  que lhe rendeu imensa popularidade e respeito. Baseado  na peça de Júlio Dantas, A Ceia dos Cardeais, Murce escreveu a série O rega-bofe dos Vândalos, ridicularizando, a partir do humor, Hitler, Mussolini e Tojo, o primeiro-ministro japonês.
Transmitido na época em que nossos pracinhas lutavam na Itália, o sucesso de público foi estrondoso. Várias emissoras em todo o país solicitavam a retransmissão  e Murce passou a escrever uns folhetos com as histórias do programa. O produto da venda das publicações  foi doado à Cruz Vermelha Brasileira.
Mas o  que Murce alcançou com esse feito quase lhe custa a vida, quando uns fanáticos seguidores da “quinta-coluna”, não satisfeitos em ver Hitler, Mussolini e Tojo ridicularizados, tentou agredir o radialista, quando de madrugada voltava para a casa.Ele defendeu-se com uma barra de ferro retirada de uma obra da Light e por ser um desportista, conseguiu  botar os três bandidos para correr.
Renato Murce possuía uma imensa capacidade de trabalho e na antiga Rádio Clube do Brasil, PRA-2 chegou a produzir nove programas por semana, entre musicais e humorísticos. Um deles foi “Sorrisos Colgate”. Tratava-se de uma emissora clandestina cujo prefixo  já despertava risos: Estação PRK-20 – Zoio d’água: 200 velocípede na Antonio- 500 kilovate na onda.Contava com, além do autor, Lauro Borges, Castro Barbosa, Jorge Murad e Del Mundo.
Depois Murad saiu da Rádio Clube e foi fazer o humorístico “A pensão do Salomão”, que ficou no ar durante muitos anos.
Como Renato estava muito sobrecarregado,  confiou no talento de Lauro e Castro Barbosa. È que ambos eram brilhantes imitadores. Faziam, cada um, pelo menos umas dez vozes diferentes!  Foi ai que surgiu a PRK-20. Os primeiros programas ainda foram escritos por Murce, que depois deixou que a dupla seguisse só.
O sucesso foi tão grande, que logo outras emissoras atraíram a dupla com contratos tentadores. E lá se foi a PRK-20 para a Rádio Mayrink Veiga.


No entanto, Murce detinha o título de PRK-20. Lauro Borges e Castro Barbosa,não pestanejaram: mudaram para PRK-30. O programa viria a se transformar num dos maiores fenômenos do rádio humorístico brasileiro, a partir da idéia genial de Renato Murce e do talento da famosa dupla.Da Mayrink Veiga foram para a Nacional.
A dupla assina contrato milionário com a Nacional.

Mas Murce e a dupla continuaram amigos. Tanto assim que fariam, mais tarde com Murce, aos domingos, Piadas do Manduca. 
Mas,PRK 30 era uma estação de rádio além de pirata, pirada. Por ela eram narradas partidas de futebol e corridas de cavalos com um locutor gago! Ele começava a transmitir com o verbo no presente e mudava o tempo para o passado,pois tudo o que tentava contar já havia acontecido havia muito tempo.
O  âncora da programação era (pasme!) um locutor português, que anunciava as atrações ao “microinfame”. Havia uma fadista famosa, Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa  e “um locutor de voz lantejoulada”, Megatério Nababo de Alicerce, que ao som do “rabo da mula” de Lizt , declamava versos apaixonados para  suas “queridas fanzocas”.
As passagens musicais e vinhetas eram a cargo de uma orquestra completamente desafinada e as mudanças de assunto pelas falas do   “apresentadores” era   marcada por batidas de um prato da bateria, quando então Megatério gritava: “E passemos a outro pograma”!
A dupla atuou com sucesso nas rádios, Clube do Brasil, Nacional, Tupi
 Depois migrou para televisão.
O PRK-30 carregava uma enorme audiência e sempre contou com bons patrocinadores. Depois de permanecer na Nacional por vários anos, recebe uma proposta tentadora da Rádio Tupi e da Cervejaria Brahma. E mais uma vez mudam de estação, uma vez que a Nacional não conseguiu cobrir a proposta.
Foi tudo muito rápido. A tal ponto, que na sexta-feira seguinte a emissora da praça Mauá viu-se na contingência de não ter o que colocar no ar !

EIS QUE NUMA NOITE DE SEXTA-FEIRA...
A voz poderosa do locutor Afrânio Rodrigues anuncia: Sob o patrocínio da Perfumaria Mirta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da Cidade Maravilhosa o edifício Balança ... Balança... Balança... Ao que Brandão Filho exclama:  mas não cai! 
O excelente locutor Afrânio Rodrigues: seu apelido entre os colegas era chão de garagem, por causa dos cabelos cheios de Gumex, moda na época.
Explicando melhor a história: quando a PRK-30 foi para a Rádio Tupi, a Nacional ficou de calças curtas. O que colocar no ar na sexta-feira seguinte às 8 e meia da noite?
Tinha que ser um programa humorístico!  E isto porque, antes da PRK-30, quem ocupava aquele horário era a dupla Jararaca e Ratinho. Não havia cabimento vir com outro  gênero de programa. A alta direção da Nacional chamou então o jovem médico cardiologista que também escrevia programas de humor, Max Nunes, para por em prática um velho projeto seu que estava engavetado, tantas vezes recusado. Eram piadas e  esquetes, que não obedeciam a uma linha, nem contavam uma história. Fatos independentes que  se passavam dentro de um edifício de apartamentos muito do louco...
Na avenida Presidente Vargas, esquina com rua de Santana, havia e há um prédio de apartamentos, que por estar levemente inclinado, recebeu o nome de “Mula manca”, título de uma marchinha de carnaval gravada por Jorge Veiga nos anos quarenta. Estava ai a inspiração para o título do programa, graças à criatividade de Max Nunes: Edifício Balança, mas não cai. Estava cortada a fita inaugural de um dos maiores lançamentos do rádio de humor em todos os tempos.
Vestido a rigor, o elenco na estreia do Balança: da esquerda para a direita: Germano, Floriano, Brandão, Alfredo Viviani, e Gracindo.Também da esquerda para a direita as atrizes Itala Ferreira, Nilza Magrassi e Ema D'Avila.
Max Nunes sempre foi um exímio criador de chavões, gírias, bordões e gagues. Ficaram, assim, famosas,  expressões que permanecem até hoje, décadas depois do programa ter saído do ar:
“Primo, você é que é feliz”!
“Felicíssimo”!
E o fato de que foi no Balança que surgiu a expressão :”Mengo, tu é o maior”. Pela primeira vez o nome do clube foi reduzido a “Mengo”.
Peladinho, o sofredor rubro-negro, interpretado por Germano, chamava de burro! o ponta-esquerda Esquerdinha e assim também se dirigia aos técnicos de futebol que erravam. Chamar, portanto, o técnico de Burro!, vem do velho “Balança, mas não cai”.
Max Nunes, que viera da Tupi para a Nacional colocou em prática, em clima de emergência, um velho projeto de programa humorístico.

 Paulo Gracindo em depoimento ao programa Noturno na JB-AM de Luiz Carlos Saroldi conta como surgiu  o famoso quadro humorístico que foi  O  primo rico e o primo pobre.
Ele  relata que escrevia um programa na Nacional, chamado 24 horas da vida alheia e que nele havia um esquete intitulado Parente pobre e parente rico.Graças a um acordo com Max Nunes o quadro entrou no Balança. Max Nunes trocou o título para Primo rico e primo pobre e  Paulo Gracindo passou também a escrever o Balança.
Gracindo conta que a ideia surgiu de umas brincadeiras com seu sogro, um homem muito rico e que morava em uma bela casa no Leblon.  Recém- casado e com as dívidas de um pequeno apartamento que havia comprado, Gracindo  e o sogro ficavam de papo: _E ai, como vai a vida meu jovem? Perguntava o sogrão. Ao que Gracindo respondia desanimado     -Mais ou menos, mais ou menos.                                                                               - Eu também tenho muitos problemas, dizia o sogro: Você está vendo aquelas  sancas pintadas a ouro aqui no teto da sala? Pois deu uma infiltração na parede e vou ter que pagar um restaurateur para refazer a pintura. Não é mesmo um problema?
Ao que Gracindo retrucava: -“Pois lá em casa um  pombo fez cocô na minha janela e ficou uma sujeirada!
-Vai chamar um restaurateur? Perguntava o sogro.
-Não, eu mesmo é que vou meter os peitos e limpar o cocô do desgraçado do pombo!
E o sogro arrematava: -Você é que é feliz que não tem problemas com restaurater!
-Felicíssimo, Felicíssimo!
E por ai seguia o papo. Sempre que Gracindo falava de um problema o sogro vinha com outro pior. Estava lançada a ideia para um dos mais famosos quadros de humor do rádio.

Paulo Gracindo e Brandão Filho: Primo Rico e Primo Pobre.
 Um clássico do humor radiofônico que também iria para a televisão.

O Balança reunia o que havia de melhor em termos de elenco humorístico do rádio e lançava mão também de vozes consagradas que faziam novela, já que os programas humorísticos da Nacional estavam subordinados ao  departamento de Radioteatro. Talentos como versáteis como Henriqueta Brieba, Paulo César, André Villon, João Fernandes, João Zacarias ou Arthur Costa Filho.
Ema D'Avila, Floriano Faissal (diretor do Balança) Altivo Diniz e Brandão Filho.

Mas havia também os exclusivos do humor, entre muitos podemos lembrar: Apolo Correa, que era um tipo que punha as mulheres em polvorosa, quando ao chegar exclamava: “Mulheres, cheguei”!
Nunca foi revelado o que ele tinha de tão importante, a ponto de provocar um “frisson” incontrolável entre as madames.
Havia, claro, o Brandão Filho, que só fazia o primo pobre.
Os engraçadíssimos  irmãos Emma e Walter D’Ávila e o Wellington Botelho, que surgia no edifício resolvendo problemas incríveis e que terminava o quadro dizendo sempre: “Anão Zezinho, às suas ordens”!.
Havia também o engraçadíssimo Altivo Diniz, que fazia tipos angustiados e sofredores e João Fernandes, que provocava riso ao interpretar sempre personagens acabrunhados ou pacientes.
Nadia Maria e Altivo Diniz, na foto já veteranos,eram astros do humor.
Nadia Maria: estrela do humor no rádio, era assim nos anos 50


A confusão no prédio ia a extremos quando um animal misterioso  adentrava provocando pânico, até que surgisse Germano exclamando: “Calma, pessoal é a minha gambá que ficou presa  no elevador”!.
O  diretor e ensaiador era Floriano Faissal., que versátil como ninguém, também interpretava uns tipos.
O elenco feminino, além das atrizes citadas, contava também com Nylza Magrassi, Haydée Fernandes (esposa de João Fernandes), Therezinha Nascimento, Lizete Barros e outras.
Haydée Fernandes, atriz e Vera Lúcia, cantora.

O narrador, Afrânio Rodrigues ia anunciando os quadros e abria o programa lendo o texto que ficou famoso: “Cem por cento financiado pela perfumaria Myrta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da cidade o edifício: Balança” ...( exclamava três vezes seguido dos acordes da orquestra, fechando com a fala de Brandão Filho:”Mas não cai”! Os locutores fixos eram Lucia Helena e Jorge Cury.
Lúcia Helena,  se tornou famosa ao anunciar o programa de  Francisco Alves, “Quando os ponteiros se encontram na metade do dia, é  hora dos ouvintes se encontrarem com Francisco Alves o rei da voz”!
Era a principal voz feminina da locução da PRE-8. Anunciava os produtos Colgate-Palmolive na novela das oito às segundas, quartas e sextas. Tinha dez minutos para descer do andar 22,onde ficava o estúdio de radioteatro para o auditório no 21, inteirar-se do texto e anunciar com Cury os produtos Eucalol, já que o “Balança” começava, pontualmente  às 20 e trinta e cinco.
Esse programa foi o primeiro do rádio carioca a ser reprisado em gravação no dia seguinte. Quem perdia a audição ao vivo de sexta-feira curtia a reprise no sábado , às duas da tarde.
Mais tarde o Grande Teatro Orniex  que ia ao ar às sextas às 22 e cinco, passou também a ser reprisado aos domingos às 9 da manhã. Era uma novidade numa época em que toda a programação  ia ao ar ao vivo.
Max Nunes escreveu o “Balança” até  1952, quando retornou à Tupi, de onde saíra em 1948. Mais adiante falaremos sobre seu trabalho naquela emissora.
O “Balança” conheceu outros produtores, como Dinarte Armando, Mário Brasini e Meira Guimarães.Mas sempre a quatro mãos com Paulo Gracindo



Mário Brasini: com a volta de Max Nunes para a Tupi, passou a escrever o Balança com Gracindo

Paulo Gracindo: além de atuar nas novelas, escrevia o Balança e animava programas de auditório.


 Em 1948, um jovem de apenas 26 anos deixou a rádio Tupi e foi para a Nacional: Max Nunes. Acadêmico de medicina, produziria  na emissora da praça Mauá, programas humorísticos que fizeram muito sucesso: “Rua 42”, ”Doutor Infezulino”(Oswaldo Elias),”Cine metro e meio” -uma referência aos cines Metro inaugurados no Rio-, e ”Show oito ou oitenta”. Havia aos domingos ao meio-dia e meio um movimentado e inteligente programa: “Enquanto o mundo gira”.Era comum em nossa casa, almoçarmos ouvindo este interessante programa, que mais tarde passaria a chamar-se “Rádio Semana”  Contava com um bom elenco de humor do qual faziam parte, Duarte de Moraes, Henriqueta Brieba, Ítala Ferreira e outros. O programa tinha números musicais, alegres, apropriados para o horário em meio a piadas e esquetes.

Humor dominical: Henriqueta  Brieba, Ítala Ferreira, Álvaro Aguiar e Roberto Faissal ao fundo.
Ellen de Lima, José Ricardo, Emilinha Borba, Daisy Lúcide, Bob Nelson e Jairo Aguiar: Alegria e música no auditório da Nacional.

Mas o que  pontificava  era a magistral participação de José de Vasconcelos e suas diversas vozes. Era um tipo de “jornalismo de humor”, uma vez que pegava fatos da semana  e dava-lhes  tratamento engraçado. Um texto criativa e dinâmico.
Imitando um narrador de cinema, Vasconcelos noticiava guerras e incidentes do mundo.
Com freqüência bradava, o que se  tornou uma expressão famosa na época e que, lamentavelmente,  hoje mais de sessenta anos depois continua atual : “E o pau continua comendo na Palestina”!
Certa vez Vasconcelos saiu-se com esta: “Um soldado nas selvas da Coréia, conseguiu disfarçar-se com ajuda de galhos de árvore. Ficou imóvel por 3 dias e acabou virando... um coqueiro”!
Havia um quadro que se chamava “O tempo marcha a ré” e que tinha como prefixo uma  orquestração muito vibrante, baseada na introdução da famosa marchinha “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo.
“Enquanto o mundo gira” ficou no ar por mais de vinte anos, fazendo parte do Programa Paulo Gracindo com a redação de Hélio do Soveral.(O mesmo que escrevia “O teatro de mistério)”. Sofreu modificações, afastando-se de sua característica original, mas nunca perdeu a graça.

E durante todo este período e até hoje ... “O pau continuou comendo na Palestina”!
E o pau continua comendo na Palestina!:José de Vasconcelos foi um gênio do humor radiofônico, que depois foi para a televisão e o teatro.




As noites de domingo na Nacional contavam com uma faixa de programas humorísticos que começavam às 7 da noite com um quadro famoso, que durava 12 minutos. Era intitulado “Neguinho e Juracy”.Segundo o texto de José Mauro, um  casal que desempenhava um tipo de humor romântico, vivido por Floriano Faissal e Ismênia dos Santos passavam por problemas hilariantes, que, no final eram resolvidos com a entrada de um amigo, o Mister Jones. Este, com seu sotaque carregado  e desempenhado  por Osvaldo Elias entrava em cena e ajeitava tudo.
O quadro fazia parte de um programa maior chamado “No tabuleiro da baiana”
Logo após o “Tabuleiro”, chegavam “Tancredo e Trancado”. Depois vinha um musical com um grande cantor, e “As Piadas do Manduca” para as 21 horas soar o gongo para a entrada de “Nada além de dois minutos” de Paulo Roberto.
Seguia-se o “Papel Carbono” de Renato Murce. Finalmente a faixa se encerrava com o “Teatro Psicodélico”.

No centro da foto: Marion, Gerdal dos Santos e Abelardo Santos.Nos anos 50 atuavam na programação do auditório da Nacional aos domingos.
Mas voltando para as sete e meia. O locutor anunciava pontualmente:

“Sob  o patrocínio das Pílulas de Vida do Doutor Ross, laxativas e anti-biliosas Rádio Nacional passa a apresentar”... (dizia o locutor exclusivo da Sidney Ross, Valdemar Galvão) todos os domingos às 7 e meia da noite, perante um auditório lotado.
“Tancredo e Trancado!”
Exclamavam a sua vez Brandão Filho e Apolo Correia. O riso começava a partir daí.
O gênio criativo de Ghiaroni, capaz de escrever novelas de sucesso,além de “A vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”, e  de radiofonizar a Bíblia no final dos anos 50, fazia rir com as peripécias de Tancredo e Trancado.
“Brandão Tancredo Filho” e “Trancado Apolo Correia” arvorando-se em detetives se metiam em confusões que Ema D’Ávila, cuja personagem era a mulher de Tancredo, não tinha condições de evitar.

Tancredo era auto-suficiente e dono de uma arrogância que despertava risos. Trancado, como o nome já diz tudo, era dominado pelo sócio e sempre levava as sobras.Era uma aventura completa, muito bem engendrada, coadjuvada sempre por elementos do
radioteatro.  Os mais assíduos eram Álvaro Aguiar, André Villon, Hemilcio Froes, Paulo Cesar, Henriqueta Brieba, Elza Gomes, Nylza Magrassi, Nelma Costa e outros.
Por sinal, esta excelente radioatriz, contou-me um incidente curioso. Nelma ensaiava o Tancredo de um domingo do qual ela participava, além da dupla Apolo e Brandão Filho,  Elza Gomes. Durante o ensaio, o diretor do programa, cujo nome ela não se lembra, exigiu que Nelma dançasse  em determinado ponto da ação. Nelma protestou dizendo que era  radioatriz e não bailarina. Brandão Filho solidarizou-se com a atitude de Nelma, mas a veterana Elza Gomes defendeu o ensaiador. Houve um grande mal estar e Nelma, revoltada, abandonou o ensaio e retirou-se da rádio, ignorando quem a substituiria à ultima hora. Na segunda-feira, imaginou Nelma: “Floriano (Faissal) vai me despedir!
De cabeça fria, foi ter com Floriano esperando pelo pior. Mas, para sua surpresa, o diretor geral do Radioteatro não apenas solidarizou-se com ela, como pediu-lhe desculpas!
-Você é uma profissional séria e não pode se submeter aos caprichos de um diretor, disse Floriano.
Floriano e Nelma seriam,mais tarde, diretores da Casa dos Artistas e lutariam para melhorar as condições de trabalho dos artistas de teatro, que após muita luta conseguiram que  nas segundas-feiras os teatros deveriam se manter fechados para “descanso  da companhia”.
Nelma Costa, protagonista do episódio narrado acima, esteve presente ao lançamento do livro A Era do Radioteatro. Aqui com seu neto, cumprimenta o autor Roberto Salvador.
Mas voltando ao programa dos domingos,no auge da história e das confusões, Trancado, com ar de desconfiado, como que prevendo que algo muito sério estava prestes a acontecer bradava:
“Tancredo, ai tem jacutinga”!
“E eu já estou sentindo catinga”!
Este bordão se popularizou, caiu na boca do povo e acabou virando expressão popular.



Em meados dos anos 50, a Rádio Tupi, fez uma proposta milionária a Max Nunes. Ele, então, volta mais uma vez para a emissora Associada, levando vários projetos de programas humorístico. Um deles deu origem a “Uma pulga na camisola”. Dentro de seu velho estilo: quadros rápidos com piadas independentes, alternando com quadros de personagens fixos. Havia crítica à sociedade de costumes e charges de políticos. Em pleno período da construção de Brasília, no governo Juscelino, com ascendente inflação o Brasil crescia a olhos vistos sob a égide do desenvolvimento industrial. Na visão do povo, parecia que o Brasil caminhava para a frente em algumas coisas e andava para trás em outros setores.
Foi daí que o talento de Max Nunes criou a figura de dois índios. Um contava um fato positivo e outro contrapunha um aspecto negativo. O fato positivo impulsionava o Brasil para a frente e o negativo para trás.
Um dos índios era Orlando Drumond e o outro Hamilton Ferreira. Fazendo voz grave e falando um  português atravessado eles dialogavam:
-Amigo, que governo bom esse. Brasília está crescendo, crescendo...
Ao que o outro retrucava:
-E o dinheiro do povo, sumindo, sumindo ...
E entrava o refrão, entoado por eles:
- Pezinho pra frente !
-Pezinho pra trás!
E saiam repedindo, para voltar minutos depois com outra situação, levando à conclusão que o Brasil, definitivamente não saia do lugar.
“Pezinho pra frente”!

“Pezinho pra trás “!
Orlando Drumond era um dos índios de Max Nunes

Hamilton Ferreira e Vagareza: artistas do humor radiofônico. Vagareza também se chamava Hamilton Ferreira e trocou de nome para não confundir.



terça-feira, 26 de novembro de 2013

HUMOR NO VELHO RÁDIO: UMA CRONICA DO COTIDIANO BRASILEIRO

Os programas humorísticos do rádio eram todos apresentados ao vivo. Embora alguns fossem transmitidos de um estúdio a maioria o era  de um auditório com a presença de público, que vibrava, ria e aplaudia. Os atores não faziam teatro e sim radioteatro. Quem, hoje em dia, imaginar que os intérpretes  transformavam o palco-auditório em um palco de teatro, se engana.
 Os radioatores atuavam para o país todo, pensando mais no   ouvinte de casa. Havia, certamente, este ou aquele gesto, mas o objetivo principal era o uso da voz e fazer dela o instrumento de interpretação, tirando o máximo partido do texto.
Havia atores, como Nanci Wanderley que ignoravam, solenemente, o público que lotava o auditório. Ela chegava a cobrir o rosto com o script enquanto lia seu papel. Mas, mesmo assim, os presentes riam e riam, pois sua voz, que ecoava pelo ambiente  e sua interpretação  transportavam toda a graça.
O máximo que o ator fazia eram  caras e bocas e, quando  possível, alguns trejeitos.
Até porque, o radioator corria o sério risco de, ao tentar gesticular ou se movimentar,, fugir do raio de ação do microfone, ou pior, perder-se no texto.
A única exceção estava por conta de um programa que ia ao ar às sextas-feiras às 22 horas. Chamava-se Marlene, meu bem, interpretado por dois radioatores que também faziam teatro: a dublê de cantora e atriz Marlene e  Luiz Delfino com a participação de Nelma Costa. Nelma fazia novelas e também teatro. Por isso era escalada para o programa. O script não era lido e sim decorado. Era rádio feito para o auditório, uma vez que os atores atuavam sem papel nas mãos. O auditório vibrava e o público em casa também, em sintonia com as reações do auditório.
Nos programas humorísticos transmitidos do auditório não havia claque, nem risos gravados, como a televisão faz hoje com frequência. Era tudo muito espontâneo. Se a piada era boa, o público do auditório gostava e ria e o ouvinte em casa se contagiava e ria também.
Havia, porém, um fato curioso. Em alguns programas realizados em estúdio fechado, era comum que os outros artistas presentes, inclusive  os músicos da orquestra , rissem pois estavam autorizados a isso.Mas não era uma claque. Era tudo espontâneo e era  divertido !
Na verdade o público se identificava com as situações criadas, porque eram todas elas extraídas do dia-a-dia do público ouvinte..
Hoje, lançando um olhar sobre o que rolava no humor do rádio daquele tempo, podemos constatar que eram todos uma espécie de crônica do cotidiano da vida brasileira como uma  espécie de crítica da  sociedade e dos costumes.
As questões da fome, da miséria ou  da pobreza Da humilhação, da arrogância ou da soberba. Da malícia, da conquista, da sedução ou do sexo. Da desonestidade ou da corrupção, tudo  estava nos programas de humor.
E isto não foi apanágio do velho rádio. Veio de muito longe, quando o homem aprendeu a rir do insólito, do grotesco, do ridículo ou do burlesco.

Auditório da Tupi: maestro Cipó á frente da Orquestra com radioatores 
e Paulo Gracindo, de branco, e Ary Barrozo.


Eis uma das mais famosas duplas do rádio humorístico brasileiro. os dois se conheceram em 1919 e viajavam pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Em 1930 se separaram. È em 1937 que Jararaca compõe com Vicente Paiva a marchinha que correria o mundo e que é até hoje, uma das músicas brasileiras mais conhecidas: “Mamãe eu quero”.
A dupla se  reconciliou  no final dos anos 30 e fazia muito sucesso no Cassino da Urca.
O rádio só veio a conhecê-los em 1941, quando contratados pela Nacional, inauguraram o famoso horário humorístico das sextas-feiras às 8 e 35, sob o patrocínio do sabonete Eucalol.
Só para recordar: depois de Jararaca e Ratinho, o horário seria ocupado pela PRK-30 em 1946 e depois pelo  Edifício Balança mas não cai.
Ratinho era um clarinetista fantástico, com um fôlego impressionante, sustentava uma nota por mais de um minuto, sob os comentários hilários do  Jararaca. Por fim, concluía a música sob os aplausos frenéticos do auditório.
Contavam piadas e fatos engraçados, tudo recheado com música alegre e agitada.
A partir de 1955, Jararaca também se consagraria como o famoso Mestre Filó, criação de Paulo Roberto para o programa Lira de Xopotó que homenageava as bandas de música de todo o Brasil e que ia ao ar todos os sábados às 20 e trinta e cinco.
Ronaldo Conde Aguiar em seu interessante Almanaque da Rádio Nacional ao referir-se à  famosa dupla acrescenta:
Em 1964, Jararaca, que pertencia ao Partido Comunista  Brasileiro foi demitido da emissora, denunciado pelo apresentador Cesar de Alencar . A punição não atingiu Ratinho, que fez, na época, um comentário melancólico: O que será do Ratinho, sem  o Jararaca?  Me  digam.
Ratinho morreu em Duque de Caxias em 8 de setembro de 1972. Jararaca faleceu em 11 de outubro de 1977, no Rio .Ambos morreram pobres.

Jararaca, músico, compositor e humorista e seu famoso violão Jararaca

                          BARCA DA CANTAREIRA: TRANSPORTANDO HUMOR E MÚSICA.

No dia 12 de setembro a programação noturna da Nacional lançou um novo humorístico para comemorar o  seu décimo nono aniversário. O título era Barca da Cantareira. A ação se passava durante uma viagem imaginária entre  Rio e Niterói. Tudo acontecia no decorrer da viagem: piadas, esquetes e quadros humorísticos entremeados  por números musicais  alegres e movimentados. A estrutura era muito parecida com a do Balança, mas não cai, ou seja um narrador que conduzia a apresentação dos quadros. A única diferença para o Balança era a existência dos números musicais.
O programa inaugural reuniu o que havia de melhor em termos artísticos. O locutor era Aurélio de Andrade, um dos fundadores da emissora. O narrador era Milton Rangel, o mesmo que fazia o Jerônimo e mais os radioatores do primeiro time de humoristas: Brandão Filho (lembram-se do Primo pobre)? Além de Nilza Magrassi ( secretária de Seu Criado Obrigado), Ema D’Ávila e Walter D’Ávila,Consuelo Leandro, Altivo Diniz e outros. Os números musicais da noite ficaram a cargo dos cantores: Jorge Veiga, cantando o sucesso de Miguel Gustavo Café Soçaite, Black-out interpretando Minha senhora, espirituoso samba de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti e finalmente Ademilde Fonseca que interpretou o chorinho Saliente de Altamiro Carrilho e Armando Nunes.
A orquestra da Nacional era regida pelo maestro Hércole Vareto e o programa, patrocinado pelo famoso Guaraná Antártica, era produzido por Mário Meira Guimarães.Perante um auditório lotado o programa foi muito bem recebido,mercê de sua produção esmerada, mas não fez história, pois não permaneceu muito tempo no ar.

Black Out:  sucesso nos carnavais com Pedreiro Valdemar, Maria Candelária, Minha Senhora e outros,se apresentou na estreia de Barca da Cantareira.
  

Silvino Neto,  criou o Teatro Pulgueiro e depois inaugurou uma pensão:a Pensão do Pimpinela ou Hotel do Pimpinela. O grande humorista sacou o seguinte: se o rádio é som eu posso fazer imitar diversas vozes que o ouvinte não vai perceber que é uma pessoa só. E ele estava certo. Quem começou a fazer isto foi  Nhô Totico em São Paulo.  Coube a Silvino Neto  idealizar no Rio, uma pensão, depois um hotel em que tudo acontecia. Silvino fazia um radioteatro no qual ele era o único ator. Trocava de vozes com tanta habilidade e rapidez que o ouvinte pensava realmente que eram vários atores. A pensão era freqüentada por vários personagens nascidos de sua  cabeça. Doutor Januário, seu Acácio,  Anestesio, Waldemar e o Pimpinela. Ele imitava  também políticos, como Adhemar de Barros  e os presidentes da República Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra. Mais tarde outros talentosos radialistas seguiram as pegadas de Silvino, entre eles José de Vasconcelos e Chico Anísio.
Silvino Neto, atraído pela política consagrou-se como um dos  mais votados da capital da República para a Câmara de Vereadores.
Possivelmente sua carreira poderia ter tomado em novo rumo se ele não tivesse ouvido o Oduvaldo Cozzi. È que ao apresentar-se a Cozzi, que era diretor artístico da Nacional, ele, que queria ser cantor, foi dissuadido pelo grande radialista  a tentar a carreira de humorista para não ter que concorrer com os monstros sagrados da época: Francisco Alves, Carlos Galhardo, Silvio Caldas ou Orlando Silva.
Foi assim que o rádio perdeu um cantor, mas ganhou um dos maiores humoristas de todos os tempos.
Com  talento para a música compôs  “Adeus, cinco letras que choram”  sucesso de Francisco Alves.


Silvino Neto, grande nome do rádio, pai de Paulo Silvino.

Uma pensão que também obteve sucesso no rádio foi a Pensão do Salomão, de Jorge Murad.
Conforme podemos observar, os programas humorísticos não  fugiam muito de um formato básico. Ora eram programas com piadas soltas e personagens fixos, ora eram histórias completas que aconteciam em 25 minutos. O segredo não estava propriamente no formato, mas na criatividade e riqueza do texto e na capacidade interpretativa do elenco.
Uma barca carregada de humor, escrita por Mário Meira Guimarães. Era a Barca da Cantareira que enquanto ia ao ar pela Nacional fazia todo mundo rir.
Em um programa escrito por Nestor de Holanda chamado Boite Tonelux  os freqüentadores viviam peripécias que divertiam os ouvintes.
Não importando se a ação acontecia numa casa, numa rua, num edifício, num hotel ou numa barca. O essencial era  eleger como tema, um local que juntasse piadas dentro de um contexto familiar e urbano.
Era ai que a cidade se divertia.
  
ALVARENGA & RANCHINHO DERAM  TRABALHO AO DIP, MAS ACABARAM CONQUISTANDO GETÚLIO.

No final dos anos vinte, quando Alvarenga e Ranchinho se conheceram, se apresentavam em circos, cantando músicas sertanejas, uma novidade na época.
Ao chegarem ao Rio já eram conhecidos, até que a Nacional os  contratou. Passaram então a fazer um programa  só deles que ia ao ar às terças-feiras às 20 horas,tendo como patrocinador o Rhum Creosotado, aquele medicamento que anunciou nos velhos bondes durante décadas  e do qual os mais antigos, certamente,  se lembrarão:

O  belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no  entretanto acredite:
Quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhum Creosotado.

A dupla fazia um humor fino, muitas vezes sarcástico e irreverente. Eram críticos dos políticos, dos costumes da época e fazendo paródias de tudo, não escapavam nem seus colegas do rádio.
Além de fazerem piadas, entoavam paródias ao som dos violões e arrancavam gargalhadas do público e problemas com a censura  e a polícia política do Estado Novo de Getúlio.
Presos por quatro vezes, passavam a noite no xadrez e libertados na manhã seguinte depois de ouvirem longas  repreensões dos agentes.
Uma vez o Filinto Muller, homem forte de Getúlio e presidente do temido DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda telefonou para a dupla exigindo que seus scripts fossem  submetidos previamente à censura.
Ao que Ranchinho argumentou:
-Mas doutor, além do texto, nós também temos o improviso.
E veio a resposta do poderoso:
-Pois eu também quero censurar o improviso!
Certa vez, Alzirinha Vargas, que era filha do presidente e adorava a dupla, os convidou para uma apresentação especial no Palácio do Catete. Era 19 de abril de 1939, aniversário do velho. Os dois chegaram meio desconfiados, mas logo o lado artístico falou mais alto e eles se soltaram. Cantaram sátiras, piadas, incluindo algumas contra o governo.
Getúlio com seu indefectível charuto, ria de tudo. Ao final, colocando as mãos nos ombros dos dois  disse:
“A partir der hoje, vocês podem fazer a graça que quiserem. Ninguém mais vai incomodá-los”.
Se aquela atitude de Getúlio os deixou aliviados, certamente perdeu-se um pouco do encanto:  cadê a graça de fazer piada com o Getúlio sem a maldita censura?