terça-feira, 24 de dezembro de 2013

ANOS 50: HUMOR DE SUCESSO NA MAYRINK VEIGA.



Por volta do ano de 1953, a Rádio Mayrink Veiga produziu uma guinada no rádio carioca. Fazendo parte das Organizações Vitor Costa ela contratou os maiores astros do humor  no Rio de Janeiro. Para lá foram também produtores já consagrados como Haroldo Barbosa e Antonio Maria e outros que estava começando entre eles um jovem e talentoso produtor: Sérgio Porto, o famoso Stanislau Ponte Preta. Pescou também atores e locutores de alto nível entre eles um monstro sagrado chamado Luiz Jatobá.
E dois jovens locutores que também surgiam: Carlos Henrique e Cid Moreira. Conseguiu patrocinadores para todos os horários noturnos e  lançou uma linha de programas humorísticos que roubou audiência da Tupi e da Nacional numa faixa de horário que ia de oito às dez da noite, de segunda a sexta –feira.
Dois humoristas se destacavam na Mayrink Veiga nesse período: Zé Trindade e Chico Anísio, sendo que este passou também a escrever quadros humorísticos. Foi na Mayrink que surgiu um quadro em “A cidade se diverte”: a “Escolinha do professor Raimundo”.
Havia a boazuda dona Zezé, Nanci Wanderley; um mineirinho meio caído vivido por Antonio Carlos, um aluno muito burro com ares de sofredor interpretado João Fernandes e um espertalhão: Zé Trindade.


Nancy Wanderley: versátil, tanto fazia drama quanto humor. Atração nos humorísticos da Tupi e Mayrink, foi a primeira esposa de Chico Anísio.

Quando “A cidade se diverte” foi para a Mayrink Veiga, levou também “Cazuza,o calouro que já vem gongado” juntamente com outros personagens e intérpretes.
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Haroldo Barbosa, gênio do velho rádio e depois da televisão:  
deu força ao humor da Mayrink no anos 50

Antonio Maria, vascaíno, aqui irradiando futebol no Maracanã dos anos 50.
Compositor de sucessos, escrevia para o humor da Mayrink e da Tupi.

Sergio Porto, elegeu Rose Rondelli, Miss Campeonato, como uma das Certinhas do Lalau.

 SEGUNDAS-FEIRAS:  DIA DE MISS CAMPEONATO, SÁTIRA AO FUTEBOL E QUE LEVAVA TORCIDAS AO AUDITÓRIO PARA ELEGER A MISS MAIS BONITA.

Quem assinava o programa era Sérgio Porto e parece-me que foi daí  que surgiriam pouco depois as “Certinhas do Lalau” que tanto furor provocaram naqueles dias.
Destaque em “Miss Campeonato” era a vedete e  mais tarde radioatriz Rose  Rondelli,que depois se casou com Chico Anísio e tiveram dois filhos,Nizo Neto e Ricardo.

ROSE RONDELLI QUASE MORRE EM DESASTRE DE AVIÃO NA BAIA DE  GUANABARA!

Mas, Rose, na ocasião, passou um tremendo susto, quando o avião  da Vasp em que  viajava com a mãe caiu nas águas da Guanabara, logo após decolar.
Vamos relembrar o que a edição de O Globo de  31 de dezembro de 1958. publicou.

Irremediavelmente afetado pelo incêndio que lavrou num de seus motores, um Scandia da Vasp mergulhou ontem na Baía de  Guanabara , pouco depois de ter decolado do aeroporto Santos Dumont rumo a São Paulo, com 33 passageiros e quatro tripulantes a bordo, num dos mais dramáticos desastres aéreos de que se tem notícia nesta capital. Ainda não se sabe o número exato de mortes. Até o fechamento desta edição tinham sido recolhidos cinco cadáveres ao necrotério do IML. Entre os sobreviventes estão a vedete Rose Rondelli e sua mãe.
A tragédia, segundo relato das poucas pessoas que a testemunharam em todos os lances, consumou-se de repente. O avião movimentava-se normalmente e, quando já perdera contato com o solo, na altura dos 800 metros da pista, notou-se a fumaceira que saia do motor esquerdo, logo seguida de grossas línguas de fogo. Os que  estavam no Santos Dumont  viveram instantes profundamente dramáticos, pois já não acreditavam que o piloto, por mais habilidoso que fosse, conseguisse chegar de volta à pista, como parecia ser o seu propósito. E esses prognósticos infelizmente se confirmaram. A aeronave girou em torno do próprio leme, tombou pesadamente para a esquerda e caiu no mar.

Houve grande comoção quando se noticiou que a Miss Campeonato estava entre os passageiros. Somente quando as rádios  esclareceram que Rose Rondelli havia escapado com vida é que os admiradores ficaram aliviados.
Rose Rondelli também era muito conhecida em São Paulo, onde estrelava Miss Campeonato para a TV Paulista.
Rose Rondelli escapou com vida do acidente do avião da Vasp


Mas voltando a Sérgio Porto.
Ele também assinava com Haroldo Barbosa o sucesso que foi “Levertimentos”.
A famosa coluna de rádio de O GLOBO “O ouvinte desconhecido” assim publicou em 12 de abril de 1957:
‘A  rádio Mayrink Veiga, na próxima terça-feira, vai festejar o terceiro aniversário do programa humorístico “Levertimentos” escrito por Haroldo Barbosa e Sérgio Porto e interpretado pelo melhor cast cômico do rádio brasileiro”.

VAI DAR VALSA! 

Não poderíamos deixar de falar de um programa humorístico, que se não era capaz de arrancar gargalhadas dos ouvintes e assistentes do auditório, fazia um tipo de humor inteligente, criativo e eu diria fleumático.
Chamava-se, “Vai dar Valsa”. Com um texto muito interessante  Haroldo Barbosa, pegava um tema ou uma história e em vinte e cinco minutos o analisava sob diversos ângulos. Grande parte do programa recaia sobre a  narração  a cargo do genial Luiz Jatobá.  As falas do narrador eram entremeadas com participações rápidas do elenco. Todas as vezes que entrava o narrador, entrava junto um piano,ao vivo, tocando  notas em ritmo de valsa. Lembro-me de um programa em que Barbosa focalizou o que pode acontecer com amadores que resolvem preparar uma pescaria numa desabitada praia da Barra da Tijuca do início dos anos 50.  Não se esquecem de nada, inclusive comida e cachaça. “Na verdade o objetivo era encher a cara e a pescaria era apenas um remoto detalhe” diz o narrador. Num velho Chevrolet 39 eles partem para a aventura. Acendem o lampião,armam a barraca de lona, mas começa a chover.E tome cachaça. È quando levam um grande susto com um enorme siri, que se alojara na barraca. E tome cachaça...Após expulsarem o siri aos berros, eles tentam se abrigar da chuva e do frio. Como a chuva melhorasse, eles resolvem, já completamente tontos, retomar os molinetes e reiniciar a pescaria. Mas quem está pescando com o molinete deles: o siri !
Mediante  berros e ameaças o siri interrompe a pescaria e se afasta displicentemente. E as vicissitudes prosseguem. Tudo que eles decidissem fazer o siri tomava a frente.
Exaustos, tocados e sem pescar nada, resolvem bater  em retirada. Mas, para desespero do grupo, o carro não pega de jeito nenhum. Não têm uma ferramenta, uma chave de fenda que seja,  desesperados, sentam-se no chão, arrependidos do programa furado. Eis que, para surpresa do grupo, quem aparece para consertar o carro? O siri!
Nesta história cheia de surrealismo, o siri conserta o carro, vê o carro partir e ainda acena se despedindo.
Após rápidas considerações sobre o perigo de se promover certos programas,à semelhança da pescaria frustrada de nossos heróis, o narrador adverte:
“ Você deve planejar tudo e pensar bem no que pretende fazer. Caso contrário, certamente ...
Ao que um coro exclamava:
Vai dar valsa !
E ai a orquestra, que permanecera silenciosa durante todo o programa, atacava uma valsa que era o  sufixo do programa.
Haroldo Barbosa: humor fino e excelente texto.
Luiz Jatobá: atuação na CBS nos Estados Unidos.  Quando retornou ao Brasil foi para a Mayrink.Era o narrador de Vai da Valsa.
Jatobá e Walter Dávila: atrações de Vai da Valsa

A graça de Zé Trindade:  riso certo com os textos de Haroldo Barbosa e Antonio Maria.
Carlos Henrique:  locutor dos programas noturnos da Mayrink nos anos 50.




A propósito desse programa assim se expressou a Revista do Rádio de abril de 1958.

O programa se fez popular em face dos temas que Haroldo Barbosa escolhe.: todos quase sempre envolvendo o próprio ouvinte, participante indireto das situações pitorescas que ali se fazem pródigas. A exemplo do que aconteceu a um cidadão que levou a família para um ´piquenique na Ilha do Governador. E sofreu como tambor em dia de parada. Francisco Anísio fez bem o chefe da família (mulher e quatro filhos) que sofre com a esposa (Ema D’Àvila) e a garotada (Nanci Vanderlei, Antonio José,Jaime Filho e Selma Lopes, todos em ótimo nível) em meio às peripécias de quem enfrenta um domingo ensolarado, de maiô e tudo, sem contar com o resto. Narração convincente de Sérgio de Oliveira. Parte comercial coerente.


Observem que o rádio gozava de um prestígio tão grande que havia até uma crítica especializada. Todos os jornais ou revistas tinham seus críticos de rádio. A crítica de hoje somente se ocupa da televisão. Uma das colunas que se tornou famosa era a publicada em O Globo, sob o título: O ouvinte desconhecido, que se escondia no anonimato e que era identificado apenas pela alta direção do jornal.

3 comentários:

  1. Criança ouvia os humoristicos da Radio Mayrink Veiga como o programa Vai da Valsa. Hilário.josedalmeida@globo.com

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  2. Ainda cheguei a ouvir algumas reprises de Vai dar valsa na Rádio Nacional de São Paulo quando era criança. Muito, muito engraçado.

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