Por volta do ano de 1953, a Rádio
Mayrink Veiga produziu uma guinada no rádio carioca. Fazendo parte das
Organizações Vitor Costa ela contratou os maiores astros do humor no Rio de Janeiro. Para lá foram também
produtores já consagrados como Haroldo Barbosa e Antonio Maria e outros que
estava começando entre eles um jovem e talentoso produtor: Sérgio Porto, o
famoso Stanislau Ponte Preta. Pescou também atores e locutores de alto nível
entre eles um monstro sagrado chamado Luiz Jatobá.
E dois jovens locutores que
também surgiam: Carlos Henrique e Cid Moreira. Conseguiu patrocinadores para
todos os horários noturnos e lançou uma
linha de programas humorísticos que roubou audiência da Tupi e da Nacional numa
faixa de horário que ia de oito às dez da noite, de segunda a sexta –feira.
Dois humoristas se destacavam na
Mayrink Veiga nesse período: Zé Trindade e Chico Anísio, sendo que este passou
também a escrever quadros humorísticos. Foi na Mayrink que surgiu um quadro em
“A cidade se diverte”: a “Escolinha do professor Raimundo”.
Havia a boazuda dona Zezé, Nanci
Wanderley; um mineirinho meio caído vivido por Antonio Carlos, um aluno muito
burro com ares de sofredor interpretado João Fernandes e um espertalhão: Zé
Trindade.
Nancy Wanderley: versátil, tanto fazia drama quanto humor. Atração nos humorísticos da Tupi e Mayrink, foi a primeira esposa de Chico Anísio.
Quando “A cidade se diverte” foi
para a Mayrink Veiga, levou também “Cazuza,o calouro que já vem gongado”
juntamente com outros personagens e intérpretes.
Haroldo Barbosa, gênio do velho rádio e depois da televisão:
deu força ao humor da Mayrink no anos 50
Antonio Maria, vascaíno, aqui irradiando futebol no Maracanã dos anos 50.
Compositor de sucessos, escrevia para o humor da Mayrink e da Tupi.
Sergio Porto, elegeu Rose Rondelli, Miss Campeonato, como uma das Certinhas do Lalau.
SEGUNDAS-FEIRAS: DIA DE MISS CAMPEONATO, SÁTIRA AO FUTEBOL E QUE LEVAVA TORCIDAS AO AUDITÓRIO PARA ELEGER A MISS MAIS BONITA.
Quem assinava o programa era Sérgio Porto e
parece-me que foi daí que surgiriam
pouco depois as “Certinhas do Lalau” que tanto furor provocaram naqueles
dias.
Destaque em “Miss Campeonato” era
a vedete e mais tarde radioatriz
Rose Rondelli,que depois se casou com
Chico Anísio e tiveram dois filhos,Nizo Neto e Ricardo.
ROSE RONDELLI QUASE MORRE EM DESASTRE DE AVIÃO NA BAIA DE GUANABARA!
Mas, Rose, na ocasião, passou um
tremendo susto, quando o avião da Vasp
em que viajava com a mãe caiu nas águas
da Guanabara, logo após decolar.
Vamos relembrar o que a edição de
O Globo de 31 de dezembro de 1958.
publicou.
Irremediavelmente afetado pelo incêndio que lavrou num de seus motores,
um Scandia da Vasp mergulhou ontem na Baía de
Guanabara , pouco depois de ter decolado do aeroporto Santos Dumont rumo
a São Paulo, com 33 passageiros e quatro tripulantes a bordo, num dos mais
dramáticos desastres aéreos de que se tem notícia nesta capital. Ainda não se
sabe o número exato de mortes. Até o fechamento desta edição tinham sido
recolhidos cinco cadáveres ao necrotério do IML. Entre os sobreviventes estão a
vedete Rose Rondelli e sua mãe.
A tragédia, segundo relato das poucas pessoas que a testemunharam em
todos os lances, consumou-se de repente. O avião movimentava-se normalmente e,
quando já perdera contato com o solo, na altura dos 800 metros da pista,
notou-se a fumaceira que saia do motor esquerdo, logo seguida de grossas
línguas de fogo. Os que estavam no
Santos Dumont viveram instantes
profundamente dramáticos, pois já não acreditavam que o piloto, por mais
habilidoso que fosse, conseguisse chegar de volta à pista, como parecia ser o
seu propósito. E esses prognósticos infelizmente se confirmaram. A aeronave
girou em torno do próprio leme, tombou pesadamente para a esquerda e caiu no
mar.
Houve grande comoção quando se
noticiou que a Miss Campeonato estava entre os passageiros. Somente quando as
rádios esclareceram que Rose Rondelli
havia escapado com vida é que os admiradores ficaram aliviados.
Rose Rondelli também era muito
conhecida em São Paulo ,
onde estrelava Miss Campeonato para a TV Paulista.
Rose Rondelli escapou com vida do acidente do avião da Vasp
Mas voltando a Sérgio Porto.
Ele também assinava com Haroldo
Barbosa o sucesso que foi “Levertimentos”.
A famosa coluna de rádio de O
GLOBO “O ouvinte desconhecido” assim publicou em 12 de abril de 1957:
‘A rádio Mayrink Veiga, na
próxima terça-feira, vai festejar o terceiro aniversário do programa
humorístico “Levertimentos” escrito por Haroldo Barbosa e Sérgio Porto e
interpretado pelo melhor cast cômico do rádio brasileiro”.
VAI DAR VALSA!
Não poderíamos deixar de falar de
um programa humorístico, que se não era capaz de arrancar gargalhadas dos
ouvintes e assistentes do auditório, fazia um tipo de humor inteligente,
criativo e eu diria fleumático.
Chamava-se, “Vai dar Valsa”. Com
um texto muito interessante Haroldo
Barbosa, pegava um tema ou uma história e em vinte e cinco minutos o analisava
sob diversos ângulos. Grande parte do programa recaia sobre a narração
a cargo do genial Luiz Jatobá. As
falas do narrador eram entremeadas com participações rápidas do elenco. Todas
as vezes que entrava o narrador, entrava junto um piano,ao vivo, tocando notas em ritmo de valsa. Lembro-me de um
programa em que Barbosa
focalizou o que pode acontecer com amadores que resolvem preparar uma pescaria
numa desabitada praia da Barra da Tijuca do início dos anos 50. Não se esquecem de nada, inclusive comida e
cachaça. “Na verdade o objetivo era
encher a cara e a pescaria era apenas um remoto detalhe” diz o narrador.
Num velho Chevrolet 39 eles partem para a aventura. Acendem o lampião,armam a
barraca de lona, mas começa a chover.E tome cachaça. È quando levam um grande
susto com um enorme siri, que se alojara na barraca. E tome cachaça...Após
expulsarem o siri aos berros, eles tentam se abrigar da chuva e do frio. Como a
chuva melhorasse, eles resolvem, já completamente tontos, retomar os molinetes
e reiniciar a pescaria. Mas quem está pescando com o molinete deles: o siri !
Mediante berros e ameaças o siri interrompe a pescaria
e se afasta displicentemente. E as vicissitudes prosseguem. Tudo que eles
decidissem fazer o siri tomava a frente.
Exaustos, tocados e sem pescar
nada, resolvem bater em retirada. Mas , para
desespero do grupo, o carro não pega de jeito nenhum. Não têm uma ferramenta,
uma chave de fenda que seja,
desesperados, sentam-se no chão, arrependidos do programa furado. Eis
que, para surpresa do grupo, quem aparece para consertar o carro? O siri!
Nesta história cheia de
surrealismo, o siri conserta o carro, vê o carro partir e ainda acena se
despedindo.
Após rápidas considerações sobre
o perigo de se promover certos programas,à semelhança da pescaria frustrada de
nossos heróis, o narrador adverte:
“ Você deve planejar tudo e pensar bem no que pretende fazer. Caso
contrário, certamente ...
Ao que um coro exclamava:
Vai dar valsa !
E ai a orquestra, que permanecera
silenciosa durante todo o programa, atacava uma valsa que era o sufixo do programa.
Haroldo Barbosa: humor fino e excelente texto.
Luiz Jatobá: atuação na CBS nos Estados Unidos. Quando retornou ao Brasil foi para a Mayrink.Era o narrador de Vai da Valsa.
Jatobá e Walter Dávila: atrações de Vai da Valsa
A graça de Zé Trindade: riso certo com os textos de Haroldo Barbosa e Antonio Maria.
Carlos Henrique: locutor dos programas noturnos da Mayrink nos anos 50.
A propósito desse programa assim
se expressou a Revista do Rádio de
abril de 1958.
O programa se fez popular em face dos temas que Haroldo Barbosa
escolhe.: todos quase sempre envolvendo o próprio ouvinte, participante
indireto das situações pitorescas que ali se fazem pródigas. A exemplo do que
aconteceu a um cidadão que levou a família para um ´piquenique na Ilha do
Governador. E sofreu como tambor em dia de parada. Francisco Anísio fez bem o
chefe da família (mulher e quatro filhos) que sofre com a esposa (Ema D’Àvila)
e a garotada (Nanci Vanderlei, Antonio José,Jaime Filho e Selma Lopes, todos em
ótimo nível) em meio às peripécias de quem enfrenta um domingo ensolarado, de
maiô e tudo, sem contar com o resto. Narração convincente de Sérgio de
Oliveira. Parte comercial coerente.
Observem que o rádio gozava de um
prestígio tão grande que havia até uma crítica
especializada. Todos os jornais ou
revistas tinham seus críticos de rádio. A crítica de hoje somente se ocupa da
televisão. Uma das colunas que se tornou famosa era a publicada em O
Globo , sob o título: O
ouvinte desconhecido, que se escondia no anonimato e que era identificado
apenas pela alta direção do jornal.
Criança ouvia os humoristicos da Radio Mayrink Veiga como o programa Vai da Valsa. Hilário.josedalmeida@globo.com
ResponderExcluirGrandes e lindas lembranças, José Nobre.
ResponderExcluirAinda cheguei a ouvir algumas reprises de Vai dar valsa na Rádio Nacional de São Paulo quando era criança. Muito, muito engraçado.
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