As
raízes do humor estão nos primórdios do rádio, quando da encenação de esquetes
rápidos, reunindo de 2 a três atores e sempre com um final engraçado.Muitos
esquetes eram como que anedotas radiofonizadas. Era uma maneira inteligente e
chamar a atenção do público para uma nova forma de interpretar, fugindo à
linguagem teatral.
Nos
anos trinta já havia programas que exploravam o humor compondo quadros que se
alternavam com números musicais. Era o cerne dos programas montados, que
surgiram mais tarde graças à criatividade de Almirante.
Começaram
a surgir redatores de programas humorísticos. A revista “Fon-Fon”, famosa
publicação dos anos trinta possuía uma
seção de página inteira, assinada por
Alziro Zarur, destacado radialista que se tornaria mais tarde o presidente da
Legião da Boa Vontade. A seção se intitulava PR-1 Fon-Fon e na página 27 do
número publicado em 7 de maio de 1938 se podia ler:
Lauro Borges na PRE-8
A Rádio Nacional ganhou um elemento de
primeiro plano em matéria de humorismo radiophonico: Lauro Borges, o “az” da
“Hora Sertaneja” e da “Hora Só ...rindo”
da Transmissora, que agora apresenta “A
Buzina”, seu impagável jornal falado, no Programma Palmolive”, uma das boas
coisas da PRE-8.
Lauro Borges, 8 anos mais tarde
estrearia na Nacional, juntamente com Castro Barbosa, um dos maiores programas
humorísticos do rádio: A PRK-30. Sobre este programa falaremos mais adiante.
Mas
voltemos à revista Fon-Fon.Também na mesma página, ainda na seção do Zarur:
Almirante na PRE-8, está irradiando as
suas famosas “Curiosidades Musicaes”, programas de meia-hora magnificamente
ensaiados e realizados com uma
apresentação humorística notável. Sem exaggero, póde-se dizer: as “curiosidades
musicaes” de Almirante constituem uma verdadeira sensação no “broadcasting” brasileiro.
Estamos
no final dos anos trinta e início da década de 1940.
Um
dos programas humorísticos pioneiros do rádio era escrito por Renato Murce e se
chamou “Piadas do manduca”. Era uma
escolinha de adultos e crianças . Ficou no ar durante 25 anos, obtendo os
primeiros lugares junto ao Ibope. Ia ao ar aos domingos às 8 e meia da noite,
perante o auditório lotado da Nacional. Mas antes de se chamar “Piadas do
Manduca” o programa se intitulava “Cenas
Escolares” e teve muitos problemas com a censura do Estado Novo de Getúlio
Vargas.
Transcrevo,
a seguir, trecho do excelente livro de Renato Murce “Bastidores do Rádio, já
esgotado e que é um excelente documento. Murce, uma das glórias do rádio
brasileiro, escreveu:
As “Cenas Cariocas” representavam uma
escola “bagunçada”. A professora Dona Teteca (Anamaria) sofria horrores com a
indisciplina e as travessuras dos alunos: Manduca (Lauro Borges) Fedoca e
Teleco, além do Coronel Fagundes (Juvenal Fontes) e Seu Ferramenta (Castro Barbosa). Aderiam às
aulas no desejo de “aprender” alguma coisa.
O programa era o mais hilariante
possível. Provocou uma onda enorme entre
os ouvintes. A maioria gostava. Uma minoria, onde se incluíam as verdadeiras “Tetecas”, sem força
moral junto a seus alunos, deu de protestar. Dirigiram-se à Associação dos Pais
de Família. Pediam sua intervenção para a retirada do programa do ar. Foram ao
DIP. No dia seguinte, recebíamos aviso de que “Cenas Escolares” estavam
proibidas. Obedecemos. Comunicamos, pelo microfone, o fato aos nossos ouvintes.
Recebemos mais de mil cartas e telegramas. Além de inúmeros telefonemas de
protesto.
Vários jornalistas escreveram sobre o
assunto: Paulo Roberto, Orestes Barbosa, Caio César Pinheiro e J. Caribe da Rocha. Todos defendiam o programa. Diziam
que era até educativo. Às respostas estapafúrdias e disparatadas, seguia-se a
necessária correção e a explicação
daquilo que fora arguido.
Renato
Murce prossegue seu relato, dizendo que
não desanimou e conhecendo bem a burrice
do DIP, como ele mesmo escreveu, teve uma ideia que acabou passando pela censura.
A ação não se passaria mais numa escola pública e sim na casa de uma professora
aposentada. Na primeira metade do programa acontecia um alegre bate-papo
pontilhado de piadas e situações engraçadas. Após o intervalo comercial, começa
a “aula” propriamente dita. O programa passou a chamar-se “Piadas do Manduca”.
Manduca era um menino sapeca e muito esperto que com tiradas hilariantes.
Coronel Fagundes, na Nacional era interpretado por Brandão Filho. Chegado do
interior, provocava risos com suas atitudes ora ingênuas, ora cheias da
conhecida malícia mineira. Seu
Ferramenta era um imigrante português, claro, torcedor do Vasco, que
levava Dona Teteca ao desespero com suas perguntas ingênuas e engraçadas. Havia o doutor Leão,
marido de Teteca. Doutor Leão era vivido pelo produtor do programa Renato
Murce. Ele ajudava a esposa a esclarecer dúvidas e procurava manter o controle
da situação quando a disciplina degringolava. Era sofisticado no falar, possuía
vasto conhecimento, ensinava coisas úteis, mas ficava encalacrado quando o
demônio Manduca se referia “a uma certa
francesa”. Mais tarde outros personagens foram incorporados, como um imigrante
turco, Seu Nagib , interpretado por
Alfredo Viviani e outros que eventualmente iam visitar Dona Teteca.
O
programa sempre se encerrava com uma boa piada de efeito que levava o auditório
às gargalhadas fundindo-se ao sufixo, especialmente produzido e executado pelo
conjunto regional de Dante Santoro.
Renato Murce, pioneiro no humor radiofônico e descobridor de talentos
Estamos
em agosto de 1942. Eis que Renato Murce
tem uma ideia criativa que lhe rendeu
imensa popularidade e respeito. Baseado
na peça de Júlio Dantas, A Ceia
dos Cardeais, Murce escreveu a série O
rega-bofe dos Vândalos, ridicularizando, a partir do humor,
Hitler, Mussolini e Tojo, o primeiro-ministro japonês.
Transmitido
na época em que nossos pracinhas lutavam na Itália, o sucesso de público foi
estrondoso. Várias emissoras em todo o país solicitavam a retransmissão e Murce passou a escrever uns folhetos com as
histórias do programa. O produto da venda das publicações foi doado à Cruz Vermelha Brasileira.
Mas
o que Murce alcançou com esse feito
quase lhe custa a vida, quando uns fanáticos seguidores da “quinta-coluna”, não satisfeitos em ver Hitler , Mussolini e
Tojo ridicularizados, tentou agredir o radialista, quando de madrugada voltava
para a casa.Ele defendeu-se com uma barra de ferro retirada de uma obra da
Light e por ser um desportista, conseguiu
botar os três bandidos para correr.
Renato
Murce possuía uma imensa capacidade de trabalho e na antiga Rádio Clube do
Brasil, PRA-2 chegou a produzir nove programas por semana, entre musicais e
humorísticos. Um deles foi “Sorrisos Colgate”. Tratava-se de uma emissora clandestina
cujo prefixo já despertava risos: Estação PRK-20 – Zoio d’água: 200 velocípede
na Antonio- 500 kilovate na onda.Contava
com, além do autor, Lauro Borges, Castro Barbosa, Jorge Murad e Del Mundo.
Depois
Murad saiu da Rádio Clube e foi fazer o humorístico “A pensão do Salomão”, que
ficou no ar durante muitos anos.
Como
Renato estava muito sobrecarregado,
confiou no talento de Lauro e Castro Barbosa. È que ambos eram
brilhantes imitadores. Faziam, cada um, pelo menos umas dez vozes
diferentes! Foi ai que surgiu a PRK-20.
Os primeiros programas ainda foram escritos por Murce, que depois deixou que a
dupla seguisse só.
O
sucesso foi tão grande, que logo outras emissoras atraíram a dupla com
contratos tentadores. E lá se foi a PRK-20 para a Rádio Mayrink Veiga.
No
entanto, Murce detinha o título de PRK-20. Lauro Borges e Castro Barbosa,não
pestanejaram: mudaram para PRK-30. O programa viria a se transformar num dos
maiores fenômenos do rádio humorístico brasileiro, a partir da idéia genial de
Renato Murce e do talento da famosa dupla.Da Mayrink Veiga foram para a Nacional.
A dupla assina contrato milionário com a Nacional.
Mas
Murce e a dupla continuaram amigos. Tanto assim que fariam, mais tarde com Murce, aos domingos, Piadas do Manduca.
Mas,PRK 30 era
uma estação de rádio além de pirata, pirada. Por ela eram narradas partidas de
futebol e corridas de cavalos com um locutor gago! Ele começava a transmitir
com o verbo no presente e mudava o tempo para o passado,pois tudo o que tentava
contar já havia acontecido havia muito tempo.
O âncora da programação era (pasme!) um locutor
português, que anunciava as atrações ao “microinfame”. Havia uma fadista
famosa, Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa
e “um locutor de voz lantejoulada”, Megatério Nababo de Alicerce, que ao
som do “rabo da mula” de Lizt , declamava versos apaixonados
para suas “queridas fanzocas”.
As
passagens musicais e vinhetas eram a cargo de uma orquestra completamente
desafinada e as mudanças de assunto pelas falas do “apresentadores” era marcada por batidas de um prato da bateria,
quando então Megatério gritava: “E passemos a outro pograma”!
A dupla atuou com sucesso nas rádios, Clube do Brasil, Nacional, Tupi
Depois migrou para televisão.
O
PRK-30 carregava uma enorme audiência e sempre contou com bons patrocinadores.
Depois de permanecer na Nacional por vários anos, recebe uma proposta tentadora
da Rádio Tupi e da Cervejaria Brahma. E mais uma vez mudam de estação, uma vez
que a Nacional não conseguiu cobrir a proposta.
Foi
tudo muito rápido. A tal ponto, que na sexta-feira seguinte a emissora da praça
Mauá viu-se na contingência de não ter o que colocar no ar !
EIS
QUE NUMA NOITE DE SEXTA-FEIRA...
A voz poderosa do locutor Afrânio Rodrigues anuncia: Sob o patrocínio da Perfumaria Mirta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da Cidade Maravilhosa o edifício Balança ... Balança... Balança... Ao que Brandão Filho exclama: mas não cai!
O excelente locutor Afrânio Rodrigues: seu apelido entre os colegas era chão de garagem, por causa dos cabelos cheios de Gumex, moda na época.
Explicando melhor a história: quando
a PRK-30 foi para a Rádio Tupi, a Nacional ficou de calças curtas. O que
colocar no ar na sexta-feira seguinte às 8 e meia da noite?
Tinha
que ser um programa humorístico! E isto porque, antes da PRK-30, quem ocupava
aquele horário era a dupla Jararaca e Ratinho. Não havia cabimento vir com
outro gênero de programa. A alta direção
da Nacional chamou então o jovem médico cardiologista que também escrevia
programas de humor, Max Nunes, para por em prática um velho projeto seu que
estava engavetado, tantas vezes recusado. Eram piadas e esquetes, que não obedeciam a uma linha, nem
contavam uma história. Fatos independentes que
se passavam dentro de um edifício de apartamentos muito do louco...
Na
avenida Presidente Vargas, esquina com rua de Santana, havia e há um prédio de
apartamentos, que por estar levemente inclinado, recebeu o nome de “Mula
manca”, título de uma marchinha de carnaval gravada por Jorge Veiga nos anos
quarenta. Estava ai a inspiração para o título do programa, graças à
criatividade de Max Nunes: Edifício
Balança, mas não cai. Estava cortada a fita inaugural de um dos maiores
lançamentos do rádio de humor em todos os tempos.
Vestido a rigor, o elenco na estreia do Balança: da esquerda para a direita: Germano, Floriano, Brandão, Alfredo Viviani, e Gracindo.Também da esquerda para a direita as atrizes Itala Ferreira, Nilza Magrassi e Ema D'Avila.
Max
Nunes sempre foi um exímio criador de chavões, gírias, bordões e gagues.
Ficaram, assim, famosas, expressões que
permanecem até hoje, décadas depois do programa ter saído do ar:
“Primo,
você é que é feliz”!
“Felicíssimo”!
E
o fato de que foi no Balança que
surgiu a expressão :”Mengo, tu é o maior”. Pela primeira vez o nome do clube
foi reduzido a “Mengo”.
Peladinho, o sofredor rubro-negro, interpretado por Germano,
chamava de burro! o ponta-esquerda Esquerdinha e assim também se dirigia aos
técnicos de futebol que erravam. Chamar, portanto, o técnico de Burro!, vem do
velho “Balança, mas não cai”.
Max Nunes, que viera da Tupi para a Nacional colocou em prática, em clima de emergência, um velho projeto de programa humorístico.
Paulo
Gracindo em depoimento ao programa Noturno
na JB-AM de Luiz Carlos Saroldi conta como surgiu o famoso quadro humorístico que foi O primo rico e o primo pobre.
Ele relata que escrevia um programa na Nacional,
chamado 24 horas da vida alheia e que nele havia um esquete intitulado Parente pobre e parente rico.Graças a um
acordo com Max Nunes o quadro entrou
no Balança. Max Nunes trocou o título para
Primo rico e primo pobre e Paulo
Gracindo passou também a escrever o
Balança.
Gracindo
conta que a ideia surgiu de umas brincadeiras com seu sogro, um homem muito
rico e que morava em uma bela casa no Leblon.
Recém- casado e com as dívidas de um pequeno apartamento que havia
comprado, Gracindo e o sogro ficavam de
papo: _E ai, como vai a vida meu jovem? Perguntava o sogrão. Ao que Gracindo
respondia desanimado -Mais ou menos, mais ou menos.
- Eu também tenho muitos problemas, dizia o sogro: Você está vendo aquelas sancas
pintadas a ouro aqui no teto da sala? Pois deu uma infiltração na parede e vou
ter que pagar um restaurateur para refazer a pintura. Não é mesmo um problema?
Ao
que Gracindo retrucava: -“Pois lá em casa
um pombo fez cocô na minha janela e
ficou uma sujeirada!
-Vai chamar um restaurateur? Perguntava o sogro.
-Não, eu mesmo é que vou meter os peitos
e limpar o cocô do desgraçado do pombo!
E
o sogro arrematava: -Você é que é feliz
que não tem problemas com restaurater!
-Felicíssimo, Felicíssimo!
E
por ai seguia o papo. Sempre que Gracindo falava de um problema o sogro vinha
com outro pior. Estava lançada a ideia para um dos mais famosos quadros de
humor do rádio.
Paulo Gracindo e Brandão Filho: Primo Rico e Primo Pobre.
Um clássico do humor radiofônico que também iria para a televisão.
O Balança reunia o que havia de melhor em termos de elenco
humorístico do rádio e lançava mão também de vozes consagradas que faziam
novela, já que os programas humorísticos da Nacional estavam subordinados
ao departamento de Radioteatro. Talentos
como versáteis como Henriqueta Brieba, Paulo César, André Villon, João
Fernandes, João Zacarias ou Arthur Costa Filho.
Ema D'Avila, Floriano Faissal (diretor do Balança) Altivo Diniz e Brandão Filho.
Mas
havia também os exclusivos do humor, entre muitos podemos lembrar: Apolo
Correa, que era um tipo que punha as mulheres em polvorosa, quando ao chegar
exclamava: “Mulheres, cheguei”!
Nunca
foi revelado o que ele tinha de tão importante, a ponto de provocar um
“frisson” incontrolável entre as madames.
Havia,
claro, o Brandão Filho, que só fazia o primo pobre.
Os
engraçadíssimos irmãos Emma e Walter
D’Ávila e o Wellington Botelho, que surgia no edifício resolvendo problemas
incríveis e que terminava o quadro dizendo sempre: “Anão Zezinho, às suas
ordens”!.
Havia
também o engraçadíssimo Altivo Diniz, que fazia tipos angustiados e sofredores
e João Fernandes, que provocava riso ao interpretar sempre personagens
acabrunhados ou pacientes.
Nadia Maria e Altivo Diniz, na foto já veteranos,eram astros do humor.
Nadia Maria: estrela do humor no rádio, era assim nos anos 50
A
confusão no prédio ia a extremos quando um animal misterioso adentrava provocando pânico, até que surgisse
Germano exclamando: “Calma, pessoal é a minha gambá que ficou presa no elevador”!.
O diretor e ensaiador era Floriano Faissal.,
que versátil como ninguém, também interpretava uns tipos.
O
elenco feminino, além das atrizes citadas, contava também com Nylza Magrassi,
Haydée Fernandes (esposa de João Fernandes), Therezinha Nascimento, Lizete
Barros e outras.
Haydée Fernandes, atriz e Vera Lúcia, cantora.
O
narrador, Afrânio Rodrigues ia anunciando os quadros e abria o programa lendo o
texto que ficou famoso: “Cem por cento financiado pela perfumaria Myrta
Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da cidade o edifício: Balança”
...( exclamava três vezes seguido dos acordes da orquestra, fechando com a fala
de Brandão Filho:”Mas não cai”! Os locutores fixos eram Lucia Helena e Jorge
Cury.
Lúcia
Helena, se tornou famosa ao anunciar o
programa de Francisco Alves, “Quando os
ponteiros se encontram na metade do dia, é
hora dos ouvintes se encontrarem com Francisco Alves o rei da voz”!
Era
a principal voz feminina da locução da PRE-8. Anunciava os produtos
Colgate-Palmolive na novela das oito às segundas, quartas e sextas. Tinha dez
minutos para descer do andar 22,onde ficava o estúdio de radioteatro para o
auditório no 21, inteirar-se do texto e anunciar com Cury os produtos Eucalol,
já que o “Balança” começava, pontualmente
às 20 e trinta e cinco.
Esse
programa foi o primeiro do rádio carioca a ser reprisado em gravação no dia
seguinte. Quem perdia a audição ao vivo de sexta-feira curtia a reprise no
sábado , às duas da tarde.
Mais
tarde o Grande Teatro Orniex que ia ao
ar às sextas às 22 e cinco, passou também a ser reprisado aos domingos às 9 da
manhã. Era uma novidade numa época em que toda a programação ia ao ar ao vivo.
Max
Nunes escreveu o “Balança” até 1952,
quando retornou à Tupi, de onde saíra em 1948. Mais adiante falaremos sobre seu
trabalho naquela emissora.
O
“Balança” conheceu outros produtores, como Dinarte Armando, Mário Brasini e Meira
Guimarães.Mas sempre a quatro mãos com Paulo Gracindo
Mário Brasini: com a volta de Max Nunes para a Tupi, passou a escrever o Balança com Gracindo
Paulo Gracindo: além de atuar nas novelas, escrevia o Balança e animava programas de auditório.
Em
1948, um jovem de apenas 26 anos deixou a rádio Tupi e foi para a Nacional: Max
Nunes. Acadêmico de medicina, produziria
na emissora da praça Mauá, programas humorísticos que fizeram muito
sucesso: “Rua 42”, ”Doutor Infezulino”(Oswaldo Elias),”Cine metro e meio” -uma
referência aos cines Metro inaugurados no Rio-, e ”Show oito ou oitenta”. Havia
aos domingos ao meio-dia e meio um movimentado e inteligente programa:
“Enquanto o mundo gira”.Era comum em nossa casa, almoçarmos ouvindo este
interessante programa, que mais tarde passaria a chamar-se “Rádio Semana” Contava com um bom elenco de humor do qual
faziam parte, Duarte de Moraes, Henriqueta Brieba, Ítala Ferreira e outros. O programa tinha números musicais, alegres, apropriados para o horário em meio a piadas e esquetes.
Humor dominical: Henriqueta Brieba, Ítala Ferreira, Álvaro Aguiar e Roberto Faissal ao fundo.
Ellen de Lima, José Ricardo, Emilinha Borba, Daisy Lúcide, Bob Nelson e Jairo Aguiar: Alegria e música no auditório da Nacional.
Mas o que pontificava
era a magistral participação de José de Vasconcelos e suas diversas
vozes. Era um tipo de “jornalismo de humor”, uma vez que pegava fatos da semana e dava-lhes
tratamento engraçado. Um texto criativa e dinâmico.
Imitando
um narrador de cinema, Vasconcelos noticiava guerras e incidentes do mundo.
Com
freqüência bradava, o que se tornou uma
expressão famosa na época e que, lamentavelmente, hoje mais de sessenta anos depois continua
atual : “E o pau continua comendo na Palestina”!
Certa
vez Vasconcelos saiu-se com esta: “Um soldado nas selvas da Coréia, conseguiu
disfarçar-se com ajuda de galhos de árvore. Ficou imóvel por 3 dias e acabou
virando... um coqueiro”!
Havia
um quadro que se chamava “O tempo marcha a ré” e que tinha como prefixo
uma orquestração muito vibrante, baseada
na introdução da famosa marchinha “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo.
“Enquanto
o mundo gira” ficou no ar por mais de vinte anos, fazendo parte do Programa
Paulo Gracindo com a redação de Hélio do Soveral.(O mesmo que escrevia “O
teatro de mistério)”. Sofreu modificações, afastando-se de sua característica
original, mas nunca perdeu a graça.
E
durante todo este período e até hoje ... “O pau continuou comendo na
Palestina”!
E o pau continua comendo na Palestina!:José de Vasconcelos foi um gênio do humor radiofônico, que depois foi para a televisão e o teatro.
As
noites de domingo na Nacional contavam com uma faixa de programas humorísticos
que começavam às 7 da noite com um quadro famoso, que durava 12 minutos. Era
intitulado “Neguinho e Juracy”.Segundo o texto de José Mauro, um casal que desempenhava um tipo de humor
romântico, vivido por Floriano Faissal e Ismênia dos Santos passavam por
problemas hilariantes, que, no final eram resolvidos com a entrada de um amigo,
o Mister Jones. Este, com seu sotaque carregado
e desempenhado por Osvaldo Elias
entrava em cena e ajeitava tudo.
O
quadro fazia parte de um programa maior chamado “No tabuleiro da baiana”
Logo
após o “Tabuleiro”, chegavam “Tancredo e Trancado”. Depois vinha um musical com
um grande cantor, e “As Piadas do Manduca” para as 21 horas soar o gongo para a
entrada de “Nada além de dois minutos” de Paulo Roberto.
Seguia-se
o “Papel Carbono” de Renato Murce. Finalmente a faixa se encerrava com o
“Teatro Psicodélico”.
No centro da foto: Marion, Gerdal dos Santos e Abelardo Santos.Nos anos 50 atuavam na programação do auditório da Nacional aos domingos.
Mas
voltando para as sete e meia. O locutor anunciava pontualmente:
“Sob o patrocínio das Pílulas de Vida do Doutor
Ross, laxativas e anti-biliosas Rádio Nacional passa a apresentar”... (dizia o
locutor exclusivo da Sidney Ross, Valdemar Galvão) todos os domingos às 7 e
meia da noite, perante um auditório lotado.
“Tancredo
e Trancado!”
Exclamavam
a sua vez Brandão Filho e Apolo Correia. O riso começava a partir daí.
O
gênio criativo de Ghiaroni, capaz de escrever novelas de sucesso,além de “A
vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”, e de
radiofonizar a Bíblia no final dos anos 50, fazia rir com as peripécias de
Tancredo e Trancado.
“Brandão
Tancredo Filho” e “Trancado Apolo Correia” arvorando-se em detetives se metiam
em confusões que Ema D’Ávila, cuja personagem era a mulher de Tancredo, não
tinha condições de evitar.
Tancredo
era auto-suficiente e dono de uma arrogância que despertava risos. Trancado,
como o nome já diz tudo, era dominado pelo sócio e sempre levava as sobras.Era
uma aventura completa, muito bem engendrada, coadjuvada sempre por elementos do
radioteatro. Os mais assíduos eram Álvaro Aguiar, André
Villon, Hemilcio Froes, Paulo Cesar, Henriqueta Brieba, Elza Gomes, Nylza
Magrassi, Nelma Costa e outros.
Por
sinal, esta excelente radioatriz, contou-me um incidente curioso. Nelma
ensaiava o Tancredo de um domingo do
qual ela participava, além da dupla Apolo e Brandão Filho, Elza Gomes. Durante o ensaio, o diretor do
programa, cujo nome ela não se lembra, exigiu que Nelma dançasse em determinado ponto da ação. Nelma protestou
dizendo que era radioatriz e não
bailarina. Brandão Filho solidarizou-se com a atitude de Nelma, mas a veterana
Elza Gomes defendeu o ensaiador. Houve um grande mal estar e Nelma, revoltada,
abandonou o ensaio e retirou-se da rádio, ignorando quem a substituiria à
ultima hora. Na segunda-feira, imaginou Nelma: “Floriano (Faissal) vai me
despedir!
De
cabeça fria, foi ter com Floriano esperando pelo pior. Mas, para sua surpresa,
o diretor geral do Radioteatro não apenas solidarizou-se com ela, como
pediu-lhe desculpas!
-Você
é uma profissional séria e não pode se submeter aos caprichos de um diretor,
disse Floriano.
Floriano
e Nelma seriam,mais tarde, diretores da Casa
dos Artistas e lutariam para melhorar as condições de trabalho dos artistas
de teatro, que após muita luta conseguiram que
nas segundas-feiras os teatros deveriam se manter fechados para
“descanso da companhia”.
Nelma Costa, protagonista do episódio narrado acima, esteve presente ao lançamento do livro A Era do Radioteatro. Aqui com seu neto, cumprimenta o autor Roberto Salvador.
Mas
voltando ao programa dos domingos,no auge da história e das confusões,
Trancado, com ar de desconfiado, como que prevendo que algo muito sério estava
prestes a acontecer bradava:
“Tancredo,
ai tem jacutinga”!
“E
eu já estou sentindo catinga”!
Este
bordão se popularizou, caiu na boca do povo e acabou virando expressão popular.
Em meados dos anos 50, a Rádio Tupi, fez uma proposta milionária a Max Nunes. Ele, então, volta mais uma vez para a emissora Associada, levando vários projetos de programas humorístico. Um deles deu origem a “Uma pulga na camisola”. Dentro de seu velho estilo:
quadros rápidos com piadas independentes, alternando com quadros de personagens
fixos. Havia crítica à sociedade de costumes e charges de políticos. Em pleno
período da construção de Brasília, no governo Juscelino, com ascendente
inflação o Brasil crescia a olhos vistos sob a égide do desenvolvimento
industrial. Na visão do povo, parecia que o Brasil caminhava para a frente em
algumas coisas e andava para trás em outros setores.
Foi
daí que o talento de Max Nunes criou a figura de dois índios. Um contava um
fato positivo e outro contrapunha um aspecto negativo. O fato positivo
impulsionava o Brasil para a frente e o negativo para trás.
Um
dos índios era Orlando Drumond e o outro Hamilton Ferreira. Fazendo voz grave e
falando um português atravessado eles
dialogavam:
-Amigo,
que governo bom esse. Brasília está crescendo, crescendo...
Ao
que o outro retrucava:
-E
o dinheiro do povo, sumindo, sumindo ...
E
entrava o refrão, entoado por eles:
-
Pezinho pra frente !
-Pezinho
pra trás!
E
saiam repedindo, para voltar minutos depois com outra situação, levando à
conclusão que o Brasil, definitivamente não saia do lugar.
“Pezinho
pra frente”!
Obrigada pelo importante resgate e registro.
ResponderExcluirNossa que texto maravilhoso , apesar de não viver essa época eu amo o Humor , Principalmente o Humor Rdaiofonico.
ResponderExcluirParabéns pela Belíssima Matéria . . .
Obrigado, Theo! Fico feliz com seu incentivo!
ExcluirFantastico, texto fala sozinho, parabéns, enquanto lia, via as imagens em minha mente; além das fotos, poderia ter conseguido fragmento de alguns áudios, aí sim, daria um best´seller!
ResponderExcluirObrigado! Vamos tentar os áudios!
ExcluirUm mergulho no tempo, da radiofonia brasileira.
ResponderExcluirParabens pelo excelente ramalho!
Olá Paulo Ricardo, muito obrigado por seu comentário!Fico feliz com suas palavras!Já visitou outras postagens que fiz? Escreva sempre! ROBERTO SALVADOR
ExcluirFantástico. Belíssima exposição e rica reflexão sobre o humor no Rádio Brasileiro.
ResponderExcluirObrigado Isnard pelas palavras!
ExcluirRealmente, Isnard o humor foi uma das mais notáveis contribuições que o velho rádio proporcionou ao imenso público brasileiro que praticamente parava o país para rir a vontade
ResponderExcluirTem um jovem que publica áudios inteiros do programa da rádio tupi, Incrível! Fantástico! Extraordinário! Teatro de Morte. Alguns Balança mas Não Cai. Matheus Rangel é o nome do youtuber.
ResponderExcluirHamilton Ferreira fez também o impagável camarada Karamazov no filme O Homem do Sputnik, de Carlos Manga em 1959. Ou seja, brilhou no rádio, mas também marcou pontos no cinema e até na televisão.
ResponderExcluir