quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O RÁDIO QUE FAZIA RIR: OS PROGRAMAS HUMORÍSTICOS.



As raízes do humor estão nos primórdios do rádio, quando da encenação de esquetes rápidos, reunindo de 2 a três atores e sempre com um final engraçado.Muitos esquetes eram como que anedotas radiofonizadas. Era uma maneira inteligente e chamar a atenção do público para uma nova forma de interpretar, fugindo à linguagem teatral.
Nos anos trinta já havia programas que exploravam o humor compondo quadros que se alternavam com números musicais. Era o cerne dos programas montados, que surgiram mais tarde graças à criatividade de Almirante.
Começaram a surgir redatores de programas humorísticos. A revista “Fon-Fon”, famosa publicação dos anos trinta  possuía uma seção  de página inteira, assinada por Alziro Zarur, destacado radialista que se tornaria mais tarde o presidente da Legião da Boa Vontade. A seção se intitulava PR-1 Fon-Fon e na página 27 do número publicado em 7 de maio de 1938 se podia ler:
Lauro Borges na PRE-8
A Rádio Nacional ganhou um elemento de primeiro plano em matéria de humorismo radiophonico: Lauro Borges, o “az” da “Hora Sertaneja” e da  “Hora Só ...rindo” da Transmissora, que agora apresenta  “A Buzina”, seu impagável jornal falado, no Programma Palmolive”, uma das boas coisas da PRE-8.
Lauro Borges, 8 anos mais tarde estrearia na Nacional, juntamente com Castro Barbosa, um dos maiores programas humorísticos do rádio: A PRK-30. Sobre este programa falaremos mais adiante.

Mas voltemos à revista Fon-Fon.Também na mesma página, ainda na seção do Zarur:
Almirante na PRE-8, está irradiando as suas famosas “Curiosidades Musicaes”, programas de meia-hora magnificamente ensaiados e  realizados com uma apresentação humorística notável. Sem exaggero, póde-se dizer: as “curiosidades musicaes” de Almirante constituem uma verdadeira sensação no “broadcasting” brasileiro.
Estamos no final dos anos trinta e início da década de 1940.
Um dos programas humorísticos pioneiros do rádio era escrito por Renato Murce e se chamou  “Piadas do manduca”. Era uma escolinha de adultos e crianças . Ficou no ar durante 25 anos, obtendo os primeiros lugares junto ao Ibope. Ia ao ar aos domingos às 8 e meia da noite, perante o auditório lotado da Nacional. Mas antes de se chamar “Piadas do Manduca” o programa se intitulava  “Cenas Escolares” e teve muitos problemas com a censura do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Transcrevo, a seguir, trecho do excelente livro de Renato Murce “Bastidores do Rádio, já esgotado e que é um excelente documento. Murce, uma das glórias do rádio brasileiro, escreveu:
As “Cenas Cariocas” representavam uma escola “bagunçada”. A professora Dona Teteca (Anamaria) sofria horrores com a indisciplina e as travessuras dos alunos: Manduca (Lauro Borges) Fedoca e Teleco, além do Coronel Fagundes (Juvenal Fontes) e  Seu Ferramenta (Castro Barbosa). Aderiam às aulas no desejo de “aprender” alguma coisa.
O programa era o mais hilariante possível. Provocou uma onda  enorme entre os ouvintes. A maioria gostava. Uma minoria, onde se  incluíam as verdadeiras “Tetecas”, sem força moral junto a seus alunos, deu de protestar. Dirigiram-se à Associação dos Pais de Família. Pediam sua intervenção para a retirada do programa do ar. Foram ao DIP. No dia seguinte, recebíamos aviso de que “Cenas Escolares” estavam proibidas. Obedecemos. Comunicamos, pelo microfone, o fato aos nossos ouvintes. Recebemos mais de mil cartas e telegramas. Além de inúmeros telefonemas de protesto.
Vários jornalistas escreveram sobre o assunto: Paulo Roberto, Orestes Barbosa, Caio César Pinheiro e J. Caribe  da Rocha. Todos defendiam o programa. Diziam que era até educativo. Às respostas estapafúrdias e disparatadas, seguia-se a necessária  correção e a explicação daquilo que fora arguido.
Renato Murce prossegue  seu relato, dizendo que não desanimou e  conhecendo bem a burrice do DIP, como ele mesmo escreveu, teve uma ideia que acabou passando pela censura. A ação não se passaria mais numa escola pública e sim na casa de uma professora aposentada. Na primeira metade do programa acontecia um alegre bate-papo pontilhado de piadas e situações engraçadas. Após o intervalo comercial, começa a “aula” propriamente dita. O programa passou a chamar-se “Piadas do Manduca”. Manduca era um menino sapeca e muito esperto que com tiradas hilariantes. Coronel Fagundes, na Nacional era interpretado por Brandão Filho. Chegado do interior, provocava risos com suas atitudes ora ingênuas, ora cheias da conhecida malícia mineira. Seu  Ferramenta era um imigrante português, claro, torcedor do Vasco, que levava Dona Teteca ao desespero com suas perguntas  ingênuas e engraçadas. Havia o doutor Leão, marido de Teteca. Doutor Leão era vivido pelo produtor do programa Renato Murce. Ele ajudava a esposa a esclarecer dúvidas e procurava manter o controle da situação quando a disciplina degringolava. Era sofisticado no falar, possuía vasto conhecimento, ensinava coisas úteis, mas ficava encalacrado quando o demônio Manduca se referia  “a uma certa francesa”. Mais tarde outros personagens foram incorporados, como um imigrante turco, Seu  Nagib , interpretado por Alfredo Viviani e outros que eventualmente iam visitar Dona Teteca.
O programa sempre se encerrava com uma boa piada de efeito que levava o auditório às gargalhadas fundindo-se ao sufixo, especialmente produzido e executado pelo conjunto regional de Dante Santoro.
Renato Murce, pioneiro no humor radiofônico e descobridor de talentos

EM PLENA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, ABRE-SE UMA TRINCHEIRA DE HUMOR PARA COMBATER O NAZI-FASCISMO.
 Estamos em agosto de 1942. Eis que  Renato Murce tem uma ideia criativa  que lhe rendeu imensa popularidade e respeito. Baseado  na peça de Júlio Dantas, A Ceia dos Cardeais, Murce escreveu a série O rega-bofe dos Vândalos, ridicularizando, a partir do humor, Hitler, Mussolini e Tojo, o primeiro-ministro japonês.
Transmitido na época em que nossos pracinhas lutavam na Itália, o sucesso de público foi estrondoso. Várias emissoras em todo o país solicitavam a retransmissão  e Murce passou a escrever uns folhetos com as histórias do programa. O produto da venda das publicações  foi doado à Cruz Vermelha Brasileira.
Mas o  que Murce alcançou com esse feito quase lhe custa a vida, quando uns fanáticos seguidores da “quinta-coluna”, não satisfeitos em ver Hitler, Mussolini e Tojo ridicularizados, tentou agredir o radialista, quando de madrugada voltava para a casa.Ele defendeu-se com uma barra de ferro retirada de uma obra da Light e por ser um desportista, conseguiu  botar os três bandidos para correr.
Renato Murce possuía uma imensa capacidade de trabalho e na antiga Rádio Clube do Brasil, PRA-2 chegou a produzir nove programas por semana, entre musicais e humorísticos. Um deles foi “Sorrisos Colgate”. Tratava-se de uma emissora clandestina cujo prefixo  já despertava risos: Estação PRK-20 – Zoio d’água: 200 velocípede na Antonio- 500 kilovate na onda.Contava com, além do autor, Lauro Borges, Castro Barbosa, Jorge Murad e Del Mundo.
Depois Murad saiu da Rádio Clube e foi fazer o humorístico “A pensão do Salomão”, que ficou no ar durante muitos anos.
Como Renato estava muito sobrecarregado,  confiou no talento de Lauro e Castro Barbosa. È que ambos eram brilhantes imitadores. Faziam, cada um, pelo menos umas dez vozes diferentes!  Foi ai que surgiu a PRK-20. Os primeiros programas ainda foram escritos por Murce, que depois deixou que a dupla seguisse só.
O sucesso foi tão grande, que logo outras emissoras atraíram a dupla com contratos tentadores. E lá se foi a PRK-20 para a Rádio Mayrink Veiga.


No entanto, Murce detinha o título de PRK-20. Lauro Borges e Castro Barbosa,não pestanejaram: mudaram para PRK-30. O programa viria a se transformar num dos maiores fenômenos do rádio humorístico brasileiro, a partir da idéia genial de Renato Murce e do talento da famosa dupla.Da Mayrink Veiga foram para a Nacional.
A dupla assina contrato milionário com a Nacional.

Mas Murce e a dupla continuaram amigos. Tanto assim que fariam, mais tarde com Murce, aos domingos, Piadas do Manduca. 
Mas,PRK 30 era uma estação de rádio além de pirata, pirada. Por ela eram narradas partidas de futebol e corridas de cavalos com um locutor gago! Ele começava a transmitir com o verbo no presente e mudava o tempo para o passado,pois tudo o que tentava contar já havia acontecido havia muito tempo.
O  âncora da programação era (pasme!) um locutor português, que anunciava as atrações ao “microinfame”. Havia uma fadista famosa, Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa  e “um locutor de voz lantejoulada”, Megatério Nababo de Alicerce, que ao som do “rabo da mula” de Lizt , declamava versos apaixonados para  suas “queridas fanzocas”.
As passagens musicais e vinhetas eram a cargo de uma orquestra completamente desafinada e as mudanças de assunto pelas falas do   “apresentadores” era   marcada por batidas de um prato da bateria, quando então Megatério gritava: “E passemos a outro pograma”!
A dupla atuou com sucesso nas rádios, Clube do Brasil, Nacional, Tupi
 Depois migrou para televisão.
O PRK-30 carregava uma enorme audiência e sempre contou com bons patrocinadores. Depois de permanecer na Nacional por vários anos, recebe uma proposta tentadora da Rádio Tupi e da Cervejaria Brahma. E mais uma vez mudam de estação, uma vez que a Nacional não conseguiu cobrir a proposta.
Foi tudo muito rápido. A tal ponto, que na sexta-feira seguinte a emissora da praça Mauá viu-se na contingência de não ter o que colocar no ar !

EIS QUE NUMA NOITE DE SEXTA-FEIRA...
A voz poderosa do locutor Afrânio Rodrigues anuncia: Sob o patrocínio da Perfumaria Mirta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da Cidade Maravilhosa o edifício Balança ... Balança... Balança... Ao que Brandão Filho exclama:  mas não cai! 
O excelente locutor Afrânio Rodrigues: seu apelido entre os colegas era chão de garagem, por causa dos cabelos cheios de Gumex, moda na época.
Explicando melhor a história: quando a PRK-30 foi para a Rádio Tupi, a Nacional ficou de calças curtas. O que colocar no ar na sexta-feira seguinte às 8 e meia da noite?
Tinha que ser um programa humorístico!  E isto porque, antes da PRK-30, quem ocupava aquele horário era a dupla Jararaca e Ratinho. Não havia cabimento vir com outro  gênero de programa. A alta direção da Nacional chamou então o jovem médico cardiologista que também escrevia programas de humor, Max Nunes, para por em prática um velho projeto seu que estava engavetado, tantas vezes recusado. Eram piadas e  esquetes, que não obedeciam a uma linha, nem contavam uma história. Fatos independentes que  se passavam dentro de um edifício de apartamentos muito do louco...
Na avenida Presidente Vargas, esquina com rua de Santana, havia e há um prédio de apartamentos, que por estar levemente inclinado, recebeu o nome de “Mula manca”, título de uma marchinha de carnaval gravada por Jorge Veiga nos anos quarenta. Estava ai a inspiração para o título do programa, graças à criatividade de Max Nunes: Edifício Balança, mas não cai. Estava cortada a fita inaugural de um dos maiores lançamentos do rádio de humor em todos os tempos.
Vestido a rigor, o elenco na estreia do Balança: da esquerda para a direita: Germano, Floriano, Brandão, Alfredo Viviani, e Gracindo.Também da esquerda para a direita as atrizes Itala Ferreira, Nilza Magrassi e Ema D'Avila.
Max Nunes sempre foi um exímio criador de chavões, gírias, bordões e gagues. Ficaram, assim, famosas,  expressões que permanecem até hoje, décadas depois do programa ter saído do ar:
“Primo, você é que é feliz”!
“Felicíssimo”!
E o fato de que foi no Balança que surgiu a expressão :”Mengo, tu é o maior”. Pela primeira vez o nome do clube foi reduzido a “Mengo”.
Peladinho, o sofredor rubro-negro, interpretado por Germano, chamava de burro! o ponta-esquerda Esquerdinha e assim também se dirigia aos técnicos de futebol que erravam. Chamar, portanto, o técnico de Burro!, vem do velho “Balança, mas não cai”.
Max Nunes, que viera da Tupi para a Nacional colocou em prática, em clima de emergência, um velho projeto de programa humorístico.

 Paulo Gracindo em depoimento ao programa Noturno na JB-AM de Luiz Carlos Saroldi conta como surgiu  o famoso quadro humorístico que foi  O  primo rico e o primo pobre.
Ele  relata que escrevia um programa na Nacional, chamado 24 horas da vida alheia e que nele havia um esquete intitulado Parente pobre e parente rico.Graças a um acordo com Max Nunes o quadro entrou no Balança. Max Nunes trocou o título para Primo rico e primo pobre e  Paulo Gracindo passou também a escrever o Balança.
Gracindo conta que a ideia surgiu de umas brincadeiras com seu sogro, um homem muito rico e que morava em uma bela casa no Leblon.  Recém- casado e com as dívidas de um pequeno apartamento que havia comprado, Gracindo  e o sogro ficavam de papo: _E ai, como vai a vida meu jovem? Perguntava o sogrão. Ao que Gracindo respondia desanimado     -Mais ou menos, mais ou menos.                                                                               - Eu também tenho muitos problemas, dizia o sogro: Você está vendo aquelas  sancas pintadas a ouro aqui no teto da sala? Pois deu uma infiltração na parede e vou ter que pagar um restaurateur para refazer a pintura. Não é mesmo um problema?
Ao que Gracindo retrucava: -“Pois lá em casa um  pombo fez cocô na minha janela e ficou uma sujeirada!
-Vai chamar um restaurateur? Perguntava o sogro.
-Não, eu mesmo é que vou meter os peitos e limpar o cocô do desgraçado do pombo!
E o sogro arrematava: -Você é que é feliz que não tem problemas com restaurater!
-Felicíssimo, Felicíssimo!
E por ai seguia o papo. Sempre que Gracindo falava de um problema o sogro vinha com outro pior. Estava lançada a ideia para um dos mais famosos quadros de humor do rádio.

Paulo Gracindo e Brandão Filho: Primo Rico e Primo Pobre.
 Um clássico do humor radiofônico que também iria para a televisão.

O Balança reunia o que havia de melhor em termos de elenco humorístico do rádio e lançava mão também de vozes consagradas que faziam novela, já que os programas humorísticos da Nacional estavam subordinados ao  departamento de Radioteatro. Talentos como versáteis como Henriqueta Brieba, Paulo César, André Villon, João Fernandes, João Zacarias ou Arthur Costa Filho.
Ema D'Avila, Floriano Faissal (diretor do Balança) Altivo Diniz e Brandão Filho.

Mas havia também os exclusivos do humor, entre muitos podemos lembrar: Apolo Correa, que era um tipo que punha as mulheres em polvorosa, quando ao chegar exclamava: “Mulheres, cheguei”!
Nunca foi revelado o que ele tinha de tão importante, a ponto de provocar um “frisson” incontrolável entre as madames.
Havia, claro, o Brandão Filho, que só fazia o primo pobre.
Os engraçadíssimos  irmãos Emma e Walter D’Ávila e o Wellington Botelho, que surgia no edifício resolvendo problemas incríveis e que terminava o quadro dizendo sempre: “Anão Zezinho, às suas ordens”!.
Havia também o engraçadíssimo Altivo Diniz, que fazia tipos angustiados e sofredores e João Fernandes, que provocava riso ao interpretar sempre personagens acabrunhados ou pacientes.
Nadia Maria e Altivo Diniz, na foto já veteranos,eram astros do humor.
Nadia Maria: estrela do humor no rádio, era assim nos anos 50


A confusão no prédio ia a extremos quando um animal misterioso  adentrava provocando pânico, até que surgisse Germano exclamando: “Calma, pessoal é a minha gambá que ficou presa  no elevador”!.
O  diretor e ensaiador era Floriano Faissal., que versátil como ninguém, também interpretava uns tipos.
O elenco feminino, além das atrizes citadas, contava também com Nylza Magrassi, Haydée Fernandes (esposa de João Fernandes), Therezinha Nascimento, Lizete Barros e outras.
Haydée Fernandes, atriz e Vera Lúcia, cantora.

O narrador, Afrânio Rodrigues ia anunciando os quadros e abria o programa lendo o texto que ficou famoso: “Cem por cento financiado pela perfumaria Myrta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da cidade o edifício: Balança” ...( exclamava três vezes seguido dos acordes da orquestra, fechando com a fala de Brandão Filho:”Mas não cai”! Os locutores fixos eram Lucia Helena e Jorge Cury.
Lúcia Helena,  se tornou famosa ao anunciar o programa de  Francisco Alves, “Quando os ponteiros se encontram na metade do dia, é  hora dos ouvintes se encontrarem com Francisco Alves o rei da voz”!
Era a principal voz feminina da locução da PRE-8. Anunciava os produtos Colgate-Palmolive na novela das oito às segundas, quartas e sextas. Tinha dez minutos para descer do andar 22,onde ficava o estúdio de radioteatro para o auditório no 21, inteirar-se do texto e anunciar com Cury os produtos Eucalol, já que o “Balança” começava, pontualmente  às 20 e trinta e cinco.
Esse programa foi o primeiro do rádio carioca a ser reprisado em gravação no dia seguinte. Quem perdia a audição ao vivo de sexta-feira curtia a reprise no sábado , às duas da tarde.
Mais tarde o Grande Teatro Orniex  que ia ao ar às sextas às 22 e cinco, passou também a ser reprisado aos domingos às 9 da manhã. Era uma novidade numa época em que toda a programação  ia ao ar ao vivo.
Max Nunes escreveu o “Balança” até  1952, quando retornou à Tupi, de onde saíra em 1948. Mais adiante falaremos sobre seu trabalho naquela emissora.
O “Balança” conheceu outros produtores, como Dinarte Armando, Mário Brasini e Meira Guimarães.Mas sempre a quatro mãos com Paulo Gracindo



Mário Brasini: com a volta de Max Nunes para a Tupi, passou a escrever o Balança com Gracindo

Paulo Gracindo: além de atuar nas novelas, escrevia o Balança e animava programas de auditório.


 Em 1948, um jovem de apenas 26 anos deixou a rádio Tupi e foi para a Nacional: Max Nunes. Acadêmico de medicina, produziria  na emissora da praça Mauá, programas humorísticos que fizeram muito sucesso: “Rua 42”, ”Doutor Infezulino”(Oswaldo Elias),”Cine metro e meio” -uma referência aos cines Metro inaugurados no Rio-, e ”Show oito ou oitenta”. Havia aos domingos ao meio-dia e meio um movimentado e inteligente programa: “Enquanto o mundo gira”.Era comum em nossa casa, almoçarmos ouvindo este interessante programa, que mais tarde passaria a chamar-se “Rádio Semana”  Contava com um bom elenco de humor do qual faziam parte, Duarte de Moraes, Henriqueta Brieba, Ítala Ferreira e outros. O programa tinha números musicais, alegres, apropriados para o horário em meio a piadas e esquetes.

Humor dominical: Henriqueta  Brieba, Ítala Ferreira, Álvaro Aguiar e Roberto Faissal ao fundo.
Ellen de Lima, José Ricardo, Emilinha Borba, Daisy Lúcide, Bob Nelson e Jairo Aguiar: Alegria e música no auditório da Nacional.

Mas o que  pontificava  era a magistral participação de José de Vasconcelos e suas diversas vozes. Era um tipo de “jornalismo de humor”, uma vez que pegava fatos da semana  e dava-lhes  tratamento engraçado. Um texto criativa e dinâmico.
Imitando um narrador de cinema, Vasconcelos noticiava guerras e incidentes do mundo.
Com freqüência bradava, o que se  tornou uma expressão famosa na época e que, lamentavelmente,  hoje mais de sessenta anos depois continua atual : “E o pau continua comendo na Palestina”!
Certa vez Vasconcelos saiu-se com esta: “Um soldado nas selvas da Coréia, conseguiu disfarçar-se com ajuda de galhos de árvore. Ficou imóvel por 3 dias e acabou virando... um coqueiro”!
Havia um quadro que se chamava “O tempo marcha a ré” e que tinha como prefixo uma  orquestração muito vibrante, baseada na introdução da famosa marchinha “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo.
“Enquanto o mundo gira” ficou no ar por mais de vinte anos, fazendo parte do Programa Paulo Gracindo com a redação de Hélio do Soveral.(O mesmo que escrevia “O teatro de mistério)”. Sofreu modificações, afastando-se de sua característica original, mas nunca perdeu a graça.

E durante todo este período e até hoje ... “O pau continuou comendo na Palestina”!
E o pau continua comendo na Palestina!:José de Vasconcelos foi um gênio do humor radiofônico, que depois foi para a televisão e o teatro.




As noites de domingo na Nacional contavam com uma faixa de programas humorísticos que começavam às 7 da noite com um quadro famoso, que durava 12 minutos. Era intitulado “Neguinho e Juracy”.Segundo o texto de José Mauro, um  casal que desempenhava um tipo de humor romântico, vivido por Floriano Faissal e Ismênia dos Santos passavam por problemas hilariantes, que, no final eram resolvidos com a entrada de um amigo, o Mister Jones. Este, com seu sotaque carregado  e desempenhado  por Osvaldo Elias entrava em cena e ajeitava tudo.
O quadro fazia parte de um programa maior chamado “No tabuleiro da baiana”
Logo após o “Tabuleiro”, chegavam “Tancredo e Trancado”. Depois vinha um musical com um grande cantor, e “As Piadas do Manduca” para as 21 horas soar o gongo para a entrada de “Nada além de dois minutos” de Paulo Roberto.
Seguia-se o “Papel Carbono” de Renato Murce. Finalmente a faixa se encerrava com o “Teatro Psicodélico”.

No centro da foto: Marion, Gerdal dos Santos e Abelardo Santos.Nos anos 50 atuavam na programação do auditório da Nacional aos domingos.
Mas voltando para as sete e meia. O locutor anunciava pontualmente:

“Sob  o patrocínio das Pílulas de Vida do Doutor Ross, laxativas e anti-biliosas Rádio Nacional passa a apresentar”... (dizia o locutor exclusivo da Sidney Ross, Valdemar Galvão) todos os domingos às 7 e meia da noite, perante um auditório lotado.
“Tancredo e Trancado!”
Exclamavam a sua vez Brandão Filho e Apolo Correia. O riso começava a partir daí.
O gênio criativo de Ghiaroni, capaz de escrever novelas de sucesso,além de “A vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”, e  de radiofonizar a Bíblia no final dos anos 50, fazia rir com as peripécias de Tancredo e Trancado.
“Brandão Tancredo Filho” e “Trancado Apolo Correia” arvorando-se em detetives se metiam em confusões que Ema D’Ávila, cuja personagem era a mulher de Tancredo, não tinha condições de evitar.

Tancredo era auto-suficiente e dono de uma arrogância que despertava risos. Trancado, como o nome já diz tudo, era dominado pelo sócio e sempre levava as sobras.Era uma aventura completa, muito bem engendrada, coadjuvada sempre por elementos do
radioteatro.  Os mais assíduos eram Álvaro Aguiar, André Villon, Hemilcio Froes, Paulo Cesar, Henriqueta Brieba, Elza Gomes, Nylza Magrassi, Nelma Costa e outros.
Por sinal, esta excelente radioatriz, contou-me um incidente curioso. Nelma ensaiava o Tancredo de um domingo do qual ela participava, além da dupla Apolo e Brandão Filho,  Elza Gomes. Durante o ensaio, o diretor do programa, cujo nome ela não se lembra, exigiu que Nelma dançasse  em determinado ponto da ação. Nelma protestou dizendo que era  radioatriz e não bailarina. Brandão Filho solidarizou-se com a atitude de Nelma, mas a veterana Elza Gomes defendeu o ensaiador. Houve um grande mal estar e Nelma, revoltada, abandonou o ensaio e retirou-se da rádio, ignorando quem a substituiria à ultima hora. Na segunda-feira, imaginou Nelma: “Floriano (Faissal) vai me despedir!
De cabeça fria, foi ter com Floriano esperando pelo pior. Mas, para sua surpresa, o diretor geral do Radioteatro não apenas solidarizou-se com ela, como pediu-lhe desculpas!
-Você é uma profissional séria e não pode se submeter aos caprichos de um diretor, disse Floriano.
Floriano e Nelma seriam,mais tarde, diretores da Casa dos Artistas e lutariam para melhorar as condições de trabalho dos artistas de teatro, que após muita luta conseguiram que  nas segundas-feiras os teatros deveriam se manter fechados para “descanso  da companhia”.
Nelma Costa, protagonista do episódio narrado acima, esteve presente ao lançamento do livro A Era do Radioteatro. Aqui com seu neto, cumprimenta o autor Roberto Salvador.
Mas voltando ao programa dos domingos,no auge da história e das confusões, Trancado, com ar de desconfiado, como que prevendo que algo muito sério estava prestes a acontecer bradava:
“Tancredo, ai tem jacutinga”!
“E eu já estou sentindo catinga”!
Este bordão se popularizou, caiu na boca do povo e acabou virando expressão popular.



Em meados dos anos 50, a Rádio Tupi, fez uma proposta milionária a Max Nunes. Ele, então, volta mais uma vez para a emissora Associada, levando vários projetos de programas humorístico. Um deles deu origem a “Uma pulga na camisola”. Dentro de seu velho estilo: quadros rápidos com piadas independentes, alternando com quadros de personagens fixos. Havia crítica à sociedade de costumes e charges de políticos. Em pleno período da construção de Brasília, no governo Juscelino, com ascendente inflação o Brasil crescia a olhos vistos sob a égide do desenvolvimento industrial. Na visão do povo, parecia que o Brasil caminhava para a frente em algumas coisas e andava para trás em outros setores.
Foi daí que o talento de Max Nunes criou a figura de dois índios. Um contava um fato positivo e outro contrapunha um aspecto negativo. O fato positivo impulsionava o Brasil para a frente e o negativo para trás.
Um dos índios era Orlando Drumond e o outro Hamilton Ferreira. Fazendo voz grave e falando um  português atravessado eles dialogavam:
-Amigo, que governo bom esse. Brasília está crescendo, crescendo...
Ao que o outro retrucava:
-E o dinheiro do povo, sumindo, sumindo ...
E entrava o refrão, entoado por eles:
- Pezinho pra frente !
-Pezinho pra trás!
E saiam repedindo, para voltar minutos depois com outra situação, levando à conclusão que o Brasil, definitivamente não saia do lugar.
“Pezinho pra frente”!

“Pezinho pra trás “!
Orlando Drumond era um dos índios de Max Nunes

Hamilton Ferreira e Vagareza: artistas do humor radiofônico. Vagareza também se chamava Hamilton Ferreira e trocou de nome para não confundir.



12 comentários:

  1. Obrigada pelo importante resgate e registro.

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  2. Nossa que texto maravilhoso , apesar de não viver essa época eu amo o Humor , Principalmente o Humor Rdaiofonico.
    Parabéns pela Belíssima Matéria . . .

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  3. Fantastico, texto fala sozinho, parabéns, enquanto lia, via as imagens em minha mente; além das fotos, poderia ter conseguido fragmento de alguns áudios, aí sim, daria um best´seller!

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  4. Um mergulho no tempo, da radiofonia brasileira.
    Parabens pelo excelente ramalho!

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    1. Olá Paulo Ricardo, muito obrigado por seu comentário!Fico feliz com suas palavras!Já visitou outras postagens que fiz? Escreva sempre! ROBERTO SALVADOR

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  5. Fantástico. Belíssima exposição e rica reflexão sobre o humor no Rádio Brasileiro.

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  6. Realmente, Isnard o humor foi uma das mais notáveis contribuições que o velho rádio proporcionou ao imenso público brasileiro que praticamente parava o país para rir a vontade

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  7. Tem um jovem que publica áudios inteiros do programa da rádio tupi, Incrível! Fantástico! Extraordinário! Teatro de Morte. Alguns Balança mas Não Cai. Matheus Rangel é o nome do youtuber.

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  8. Hamilton Ferreira fez também o impagável camarada Karamazov no filme O Homem do Sputnik, de Carlos Manga em 1959. Ou seja, brilhou no rádio, mas também marcou pontos no cinema e até na televisão.

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