quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CONHEÇA ALGUNS MESTRES DO RISO RADIOFONICO.

   
ALVARENGA & RANCHINHO DERAM  TRABALHO AO DIP, MAS ACABARAM CONQUISTANDO GETÚLIO.

No final dos anos vinte, quando Alvarenga e Ranchinho se conheceram, se apresentavam em circos, cantando músicas sertanejas, uma novidade na época.
Ao chegarem ao Rio já eram conhecidos, até que a Nacional os  contratou. Passaram então a fazer um programa  só deles que ia ao ar às terças-feiras às 20 horas,tendo como patrocinador o Rhum Creosotado, aquele medicamento que anunciou nos velhos bondes durante décadas  e do qual os mais antigos, certamente,  se lembrarão:

O  belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no  entretanto acredite:
Quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhum Creosotado.

A dupla fazia um humor fino, muitas vezes sarcástico e irreverente. Eram críticos dos políticos, dos costumes da época e fazendo paródias de tudo, não escapavam nem seus colegas do rádio.
Além de fazerem piadas, entoavam paródias ao som dos violões e arrancavam gargalhadas do público e problemas com a censura  e a polícia política do Estado Novo de Getúlio.
Presos por quatro vezes, passavam a noite no xadrez e libertados na manhã seguinte depois de ouvirem longas  repreensões dos agentes.
Uma vez o Filinto Muller, homem forte de Getúlio e presidente do temido DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda telefonou para a dupla exigindo que seus scripts fossem  submetidos previamente à censura.
Ao que Ranchinho argumentou:
-Mas doutor, além do texto, nós também temos o improviso.
E veio a resposta do poderoso:
-Pois eu também quero censurar o improviso!
A dupla fazia crítica bem humorada ao Estado Novo.

Certa vez, Alzirinha Vargas, que era filha do presidente e adorava a dupla, os convidou para uma apresentação especial no Palácio do Catete. Era 19 de abril de 1939, aniversário do velho. Os dois chegaram meio desconfiados, mas logo o lado artístico falou mais alto e eles se soltaram. Cantaram sátiras, piadas, incluindo algumas contra o governo.
Getúlio com seu indefectível charuto, ria de tudo. Ao final, colocando as mãos nos ombros dos dois  disse:
“A partir der hoje, vocês podem fazer a graça que quiserem. Ninguém mais vai incomodá-los”.

Se aquela atitude de Getúlio os deixou aliviados, certamente perdeu-se um pouco do encanto:  cadê a graça de fazer piada com o Getúlio sem a maldita censura?
Alvarenga e Ranchinho: sátira musical inteligente,
  humor sagaz e problemas com a censura do Estado Novo
   





Chegando ao Rio, vindo de sua Recife, não levou boa vida. Lutou muito para conseguir um lugar num navio que o levou  para os Estados Unidos onde viveu quatro anos. Voltou ao Brasil pagando a passagem tocando violino a bordo. Incorporou-se à grande novidade da época, o rádio e depois de muita luta chegou a diretor artístico da Tamoio para, finalmente, parar na Nacional onde fez carreira  como produtor de programas.
“Pelas estradas do mundo”, “Este mundo é uma bola”, “Caricaturas” e muitos outros. Dono de um texto admirável foi também um compositor de sucesso. Quem se lembra de “Chuvas de Verão”? Sem dúvida alguma o filhão Edu teve a quem sair.
O humor de Fernando Lobo não era para o público gargalhar, era para ouvir sorrindo, Possuía a capacidade de contar uma história de forma direta, simples, jocosa e criativa.
Mas a vida nem sempre sorriu para Fernando Lobo. Pelo contrário, fez cara feia, na madrugada de 2 de abril de 1959 quando a Kombi que dirigia chocou-se violentamente com outro, na esquina de avenida Atlântica com Paula Freitas. Os jornais da época deram bastante  destaque pois Lobo era figura muito conhecida na época. O número 501 da Revista do Rádio editado em 25 de abril de 1959 assim noticiou:

Aconteceu na madrugada do último dia 2. Fernando Lobo, compositor de sucesso e produtor da Rádio Nacional, estava em seu carro, (uma caminhoneta Wolksvagen)junto de amigos, quando o seu veículo chocou-se violentamente com outro na esquina da avenida Atlântica com Paula Freitas. O auto do radialista ficou bastante danificado, saindo feridos os seus ocupantes. O outro  veículo chegou a capotar , matando quem o dirigia, o corretor Feliciano da Costa Pereira, e também o seu filho de sete meses Marco Aurélio. Fernando Lobo, que não dirigia o seu carro (seu amigo Raul Ferreira Ribeiro estava no volante) foi internado no Hospital dos Acidentados , com diversos ferimentos, inclusive fratura de algumas costelas.
Lobo gozava de muito prestígio na época e seu acidente teve grande repercussão.



Notícia nos jornais e destaque na Revista do Rádio em 1959.

A matéria, que ocupa  duas páginas da revista, mostra várias fotos do radialista no leito do hospital. Um fato curioso, porém, aconteceu nesse acidente. È que o radialista Paulo Roberto, muito amigo de Fernando e seu colega da Nacional, que também é médico, passava coincidentemente pelo local, pois morava em Copacabana e foi o primeiro a prestar socorro às vítimas. Paulo, em vão, com ajuda de populares, tentou salvar a vida dos feridos mais graves, que infelizmente vieram a morrer no local.
Fernando Lobo, que ficou longo tempo afastado do rádio, viu a morte de perto. Mas segundo o apurado na época, o motorista que conduzia seu carro, não teve culpa no acidente. A  avenida Atlântica era a via preferencial e o outro veículo cruzou seu caminho.
O médico Paulo Roberto produzia na Nacional um programa de rádio chamado Obrigado Doutor.
Ao passar pelo local do acidente, prestou socorro ás vítimas.

O pai de Edu Lobo, já recuperado, certamente disse ao colega que o socorreu naquela madrugada:
Obrigado doutor!.



Começou no  Programa Cazé em 1933, como tantos outros expoentes da época. Fez de tudo em rádio. Foi contra-regra, discotecário, secretário particular de Francisco Alves, chegando a diretor artístico das maiores emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Também traduzia e adaptava letras de músicas para o Português e que facilmente se transformavam em sucesso. Escreveu programas montados famosos, como “Rádio Almanaque Kolynos” “Um milhão de melodias”, “Rádio Semana” “Dona Música” e outros. Entre os humorísticos, além dos citado em outro trecho deste livro, produziu: “Casa da sogra”,”Nossa família” “Cidade alegre” “Da boca pra fora” de parceria com Sérgio Porto.
Depois  migrou para a televisão onde continuou dedicado a programas musicais e humorísticos.
Foi também grande compositor. Quem não se lembra desses sucessos?:  “De conversa em conversa”,  “Bar da noite”, “Joãozinho boa pinta”, “ Tim-tim por tim-tim”, “Nossos momentos” “Cara de palhaço” e uma dezena de músicas de carnaval e sambas  imortais.

DOUTOR MAX NUNES DE PLANTÃO : MARIPOSA VISITA HOSPITAL E BOTA CARDIOLOGISTA PARA CORRER.

Bastante citado neste livro por seu trabalho no rádio humorístico, gostaríamos de acrescentar que Max  nos anos 40 já era responsável pelo texto de programas pioneiros do humor carioca. Criou na rádio Tupi “Ninguém rasga”  e “Palácio dos Vereneadores” onde revelava sua veia imbatível para a crítica política e humorística.
Em 1948 deixou a Tupi e foi para a Nacional onde produziu vários programas já citados, até lançar o fenômeno “Balança mas não cai”.
Em 1952 voltou a Tupi com vários projetos de programas de humor debaixo do braço também já citados. Mas gostaríamos de enumerar outros, como “O mundo de tanga” “Marmelândia”,o pais das maravilhas” e a “Boate do Ali-Babá” com destaque para o famoso  “Deputado Baiano” personagem que depois foi para a televisão e virou marchinha de carnaval.
Max Nunes foi para a TV Excelsior e finalmente a TV Globo, escrevendo, com Haroldo Barbosa e outros produtores, para a telinha,   grandes programas de humor, alguns ainda forjados no velho rádio.
Mas o talentoso  radialista e médico cardiologista tinha um enorme trauma: um medo doentio por mariposas. Uma mariposa que adentrasse ao local onde estava ele, fazia-o sentir  um pânico incontrolável.
Ele mesmo contou esta história para Luis Carlos Saroldi no programa Noturno da JB-AM que agora repito para vocês.
Uma madrugada   estava ele de plantão no hospital quando uma imensa mariposa apareceu no corredor. Rápido, entrou no primeiro quarto que viu. Lá, estava um internado, na cama. Não era grave o seu estado. Mas para fugir da mariposa Max ficou lá dentro com o paciente. Mediu pressão, temperatura, examinou... examinou... E a mariposa lá, na parede corredor.  O paciente começou a desconfiar que o estado dele era grave, tendo em vista o  interesse do médico apavorado. Depois de um longo tempo a mariposa, finalmente, foi embora  ele pode sair do quarto.
-Já fiz  de tudo para perder esse pavor, até terapia. Mas não adiantou nada. Disse Max Nunes. 



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