ALVARENGA & RANCHINHO
DERAM TRABALHO AO DIP, MAS ACABARAM
CONQUISTANDO GETÚLIO.
No final dos anos vinte, quando
Alvarenga e Ranchinho se conheceram, se apresentavam em circos, cantando
músicas sertanejas, uma novidade na época.
Ao chegarem ao Rio já eram
conhecidos, até que a Nacional os
contratou. Passaram então a fazer um programa só deles que ia ao ar às terças-feiras às 20
horas,tendo como patrocinador o Rhum Creosotado, aquele medicamento que
anunciou nos velhos bondes durante décadas
e do qual os mais antigos, certamente,
se lembrarão:
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entretanto acredite:
Quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhum Creosotado.
A dupla fazia um humor fino,
muitas vezes sarcástico e irreverente. Eram críticos dos políticos, dos
costumes da época e fazendo paródias de tudo, não escapavam nem seus colegas do
rádio.
Além de fazerem piadas, entoavam
paródias ao som dos violões e arrancavam gargalhadas do público e problemas com
a censura e a polícia política do Estado
Novo de Getúlio.
Presos por quatro vezes, passavam
a noite no xadrez e libertados na manhã seguinte depois de ouvirem longas repreensões dos agentes.
Uma vez o Filinto Muller, homem
forte de Getúlio e presidente do temido DIP, Departamento de Imprensa e
Propaganda telefonou para a dupla exigindo que seus scripts fossem submetidos previamente à censura.
Ao que Ranchinho argumentou:
-Mas doutor, além do texto, nós
também temos o improviso.
E veio a resposta do poderoso:
-Pois eu também quero censurar o
improviso!
A dupla fazia crítica bem humorada ao Estado Novo.
Certa vez, Alzirinha Vargas, que
era filha do presidente e adorava a dupla, os convidou para uma apresentação
especial no Palácio do Catete. Era 19 de abril de 1939, aniversário do velho.
Os dois chegaram meio desconfiados, mas logo o lado artístico falou mais alto e
eles se soltaram. Cantaram sátiras, piadas, incluindo algumas contra o governo.
Getúlio com seu indefectível
charuto, ria de tudo. Ao final, colocando as mãos nos ombros dos dois disse:
“A partir der hoje, vocês podem
fazer a graça que quiserem. Ninguém mais vai incomodá-los”.
Se aquela atitude de Getúlio os
deixou aliviados, certamente perdeu-se um pouco do encanto: cadê a graça de fazer piada com o Getúlio sem
a maldita censura?
Alvarenga e Ranchinho: sátira musical inteligente,
humor sagaz e problemas com a censura do Estado Novo
Chegando ao Rio, vindo de sua
Recife, não levou boa vida. Lutou muito para conseguir um lugar num navio que o
levou para os Estados Unidos onde viveu
quatro anos. Voltou ao Brasil pagando a passagem tocando violino a bordo.
Incorporou-se à grande novidade da época, o rádio e depois de muita luta chegou
a diretor artístico da Tamoio para, finalmente, parar na Nacional onde fez
carreira como produtor de programas.
“Pelas estradas do mundo”, “Este
mundo é uma bola”, “Caricaturas” e muitos outros. Dono de um texto admirável
foi também um compositor de sucesso. Quem se lembra de “Chuvas de Verão”? Sem
dúvida alguma o filhão Edu teve a quem sair.
O humor de Fernando Lobo não era
para o público gargalhar, era para ouvir sorrindo, Possuía a capacidade de
contar uma história de forma direta, simples, jocosa e criativa.
Mas a vida nem sempre sorriu para
Fernando Lobo. Pelo contrário, fez cara feia, na madrugada de 2 de abril de
1959 quando a Kombi que dirigia chocou-se violentamente com outro, na esquina
de avenida Atlântica com Paula Freitas. Os jornais da época deram bastante destaque pois Lobo era figura muito conhecida
na época. O número 501 da Revista do Rádio editado em 25 de abril de 1959 assim
noticiou:
Aconteceu na madrugada do último dia 2. Fernando Lobo, compositor de
sucesso e produtor da Rádio Nacional, estava em seu carro, (uma caminhoneta
Wolksvagen)junto de amigos, quando o seu veículo chocou-se violentamente com
outro na esquina da avenida Atlântica com Paula Freitas. O auto do radialista
ficou bastante danificado, saindo feridos os seus ocupantes. O outro veículo chegou a capotar , matando quem o
dirigia, o corretor Feliciano da Costa Pereira, e também o seu filho de sete
meses Marco Aurélio. Fernando Lobo, que não dirigia o seu carro (seu amigo Raul
Ferreira Ribeiro estava no volante) foi internado no Hospital dos Acidentados ,
com diversos ferimentos, inclusive fratura de algumas costelas.
A matéria, que ocupa duas páginas da revista, mostra várias fotos
do radialista no leito do hospital. Um fato curioso, porém, aconteceu nesse
acidente. È que o radialista Paulo Roberto, muito amigo de Fernando e seu
colega da Nacional, que também é médico, passava coincidentemente pelo local,
pois morava em Copacabana e foi o primeiro a prestar socorro às vítimas. Paulo,
em vão, com ajuda de populares, tentou salvar a vida dos feridos mais graves,
que infelizmente vieram a morrer no local.
Lobo gozava de muito prestígio na época e seu acidente teve grande repercussão.
Notícia nos jornais e destaque na Revista do Rádio em 1959.
Fernando Lobo, que ficou longo
tempo afastado do rádio, viu a morte de perto. Mas segundo o apurado na época,
o motorista que conduzia seu carro, não teve culpa no acidente. A avenida Atlântica era a via preferencial e o
outro veículo cruzou seu caminho.
O médico Paulo Roberto produzia na Nacional um programa de rádio chamado Obrigado Doutor.
Ao passar pelo local do acidente, prestou socorro ás vítimas.
O pai de Edu Lobo, já recuperado, certamente disse ao colega que o socorreu naquela madrugada:
Obrigado doutor!.
Começou no Programa Cazé em 1933, como tantos outros
expoentes da época. Fez de tudo em rádio. Foi contra-regra, discotecário, secretário
particular de Francisco Alves, chegando a diretor artístico das maiores
emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Também traduzia e adaptava letras de
músicas para o Português e que facilmente se transformavam em sucesso. Escreveu
programas montados famosos, como “Rádio Almanaque Kolynos” “Um milhão de
melodias”, “Rádio Semana” “Dona Música” e outros. Entre os humorísticos, além
dos citado em outro trecho deste livro, produziu: “Casa da sogra”,”Nossa
família” “Cidade alegre” “Da boca pra fora” de parceria com Sérgio Porto.
Depois migrou para a televisão onde continuou
dedicado a programas musicais e humorísticos.
Foi também grande compositor.
Quem não se lembra desses sucessos?: “De
conversa em conversa”, “Bar da noite”,
“Joãozinho boa pinta”, “ Tim-tim por tim-tim”, “Nossos momentos” “Cara de
palhaço” e uma dezena de músicas de carnaval e sambas imortais.
DOUTOR MAX
NUNES DE PLANTÃO : MARIPOSA VISITA HOSPITAL
E BOTA CARDIOLOGISTA PARA CORRER.
Bastante citado neste livro por
seu trabalho no rádio humorístico, gostaríamos de acrescentar que Max nos anos 40 já era responsável pelo texto de
programas pioneiros do humor carioca. Criou na rádio Tupi “Ninguém rasga” e “Palácio dos Vereneadores” onde revelava
sua veia imbatível para a crítica política e humorística.
Em 1948 deixou a Tupi e foi para
a Nacional onde produziu vários programas já citados, até lançar o fenômeno
“Balança mas não cai”.
Em 1952 voltou a Tupi com vários
projetos de programas de humor debaixo do braço também já citados. Mas
gostaríamos de enumerar outros, como “O mundo de tanga” “Marmelândia”,o pais
das maravilhas” e a “Boate do Ali-Babá” com destaque para o famoso “Deputado Baiano” personagem que depois foi
para a televisão e virou marchinha de carnaval.
Max Nunes foi para a TV Excelsior
e finalmente a TV Globo, escrevendo, com Haroldo Barbosa e outros produtores,
para a telinha, grandes programas de
humor, alguns ainda forjados no velho rádio.
Mas o talentoso radialista e médico cardiologista tinha um
enorme trauma: um medo doentio por mariposas. Uma mariposa que adentrasse ao
local onde estava ele, fazia-o sentir um
pânico incontrolável.
Ele mesmo contou esta história
para Luis Carlos Saroldi no programa Noturno da JB-AM que agora repito para
vocês.
Uma madrugada estava ele de plantão no hospital quando uma
imensa mariposa apareceu no corredor. Rápido, entrou no primeiro quarto que
viu. Lá, estava um internado, na cama. Não era grave o seu estado. Mas para
fugir da mariposa Max ficou lá dentro com o paciente. Mediu pressão,
temperatura, examinou... examinou... E a mariposa lá, na parede corredor. O paciente começou a desconfiar que o estado
dele era grave, tendo em vista o
interesse do médico apavorado. Depois de um longo tempo a mariposa,
finalmente, foi embora ele pode sair do
quarto.
-Já fiz de tudo para perder esse pavor, até terapia.
Mas não adiantou nada. Disse Max Nunes.
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