ÍSIS DE OLIVEIRA, A MUSA DAS NOVELAS DA NACIONAL

Roberto Salvador.

QUEM FOI ÍSIS DE OLIVEIRA?
Naturalmente os mais jovens irão pensar que estou falando da homônima, irmã de Luma de Oliveira e que nos anos 80 atuava nos programas humoristicos da TV Globo. A segunda Isis nunca trabalhou em rádio.

                                                        Isis de Oliveira: 
               talento que deu vida a personagens usando apenas a voz


Vamos falar neste blog sobre a grande estrela das radionovelas da Nacional e que em final de carreira também atuou na Rádio Tupi.

Olhar suave e voz única no velho rádio

Ela foi uma das grandes estrelas do velho rádio e sua linda voz viveu personagens memoráveis. Tinha apenas 19 anos, quando aprovada em um teste, foi imediatamente contratada e viveu o papel da jovem Alice Medina na famosa novela pioneira Em busca da Felicidade. Atuando ao lado de Rodolfo e Lourdes Mayer, Saint-Clair Lopes, Floriano Faissal, Zezé Fonseca, Luis Tito, além de um jovem que despontava: Brandão Filho e muitos outros atores, adquiriu enorme experiência, numa novela que ficou dois anos no ar com mais de 56% de audiência em todo o Brasil.

            Brasil inteiro parado para ouvir a famosa novela:  
                                                         2 anos no ar

Programação da Nacional publicada nos jornais da época

Isis e Altivo Diniz fizeram teste juntos em 1941.

Ela tinha 19 anos

Altivo Diniz:

 versátil, interpretava animais nas Histórias do Tio Janjão e cômico no Balança mas não vai.

Estúdio de radioteatro da Nacional:

 aqui reinou Isis de Oliveira

Isis de Oliveira ao lado de Henriqueta Brieba. 

Ao fundo Victor Costa e Aurélio de Andrade

Isis nasceu em Niterói no dia 18 de março de 1922 e seu nome verdadeiro era Ivete Saveli. Mas alguém disse à jovem pretendente a radioatriz que seu nome não era radiofônico. Era comum na época os artistas adotarem nomes diferentes.
Fez centenas de novelas, inclusive a famosa O Direito de Nascer entre 1951 e 1952.

Elenco de O Direito de Nascer.

No terraço da Nacional: Paulo Gracindo, Isis, Roberto Faissal, Eurico Silva, Iara Sales e Floriano Faissal.

Gracindo, Isis e Félix Caignet:

o autor de O Direito de Nascer fez questão de conhecer o elenco

Pessoa simples, delicada, Isis era muito querida pelos admiradores e por todos os seus colegas. Foi minha contemporânea na Rádio Nacional e contou histórias deliciosas que constam de meu livro A Era do Radioteatro.

EMOÇÃO A UMA DA TARDE:

ÍSIS DE OLIVEIRA APLAUDIDA NO AR EM PLENA TRANSMISSÃO DA NOVELA!

Isis emocionando os ouvintes e os atores no estúdio

Ai vai uma dessas histórias. Certa vez em uma novela da  uma hora  da tarde, Isis de Oliveira que  fazia um papel muito difícil, leu  um monólogo de cerca de três minutos.Era um lindo texto de Eurico Silva, em que Isis chorava a perda de seu pai no velório. E o fez com uma interpretação impecável, emocionando os atores que se  encontravam no estúdio e certamente os ouvintes em casa. O trabalho de Isis foi tão marcante, que mal acabou de ler, arrancou aplausos de Floriano Faissal,o diretor da novela que se encontrava no estúdio..Não que Floriano desejasse que os ouvintes escutassem suas palmas, mas aconteceu que  o operador não fechou o microfone após a cena.

Certamente os ouvintes ficaram um pouco sem entender o por quê das palmas.                                                                                                                                   Esse fato foi divulgado na imprensa e  Flávio Cavalcanti conseguiu, não se sabe como, pois o capítulo fora ao vivo, uma gravação do acontecido, apresentando-a em seu programa Discos Impossíveis.

A radioatriz, pontificava fazendo papéis de mocinha ingênua e provando suspiros, risos e lágrimas vivendo intensamente seus personagens.

Eu chegava à rádio pela manhã e só saia após fazer a novela das oito. Em meio a ensaios,gravações e transmissões ao vivo, eu fazia as refeições na própria emissora e não tinha tempo para ir até a rua do Ouvidor comprar um par de meias! Eu não me lembro mais dos títulos das novelas que fazia. Eu, na véspera olhava a tabela  e anotava: estou nestes, nestes e nestes horários. Eu ia pelos horários e não pelos títulos. Rapidamente, durante os ensaios eu identificava a personagem e ia para o ar.

Era como ir ao camarim e trocar a roupa para viver outro personagem.E fora as novelas, fazíamos ainda o Grande Teatro.Tínhamos muita sensibilidade, prática e profissionalismo!Era muita dedicação e muito... mas muito trabalho!Era um trabalho gostoso!  Revelou-me Isis em depoimento.

ÍSIS AJUDA A MANTER A FLAMA DO RADIOTEATRO ACESA NO FINAL DOS ANOS SETENTA.

É ainda a própria Isis que nos conta:  em 1972 aposentou-se da Nacional, após interpretar novelas por 31 anos. Concluiu o curso de Direito. Pretendia dar adeus ao radioteatro e abrir um escritório de advocacia junto com uma colega. Assim ficou dois anos, até que um dia, o veterano homem de rádio Odair Marzzano,veio de São Paulo para dirigir o radioteatro da Tupi e convenceu Isis a retornar ao rádio, "apenas para fazer uma novela"disse ele.

A eterna estrela foi então contratada pela  Tupi e lá ficou até 1979 com a mesma linda voz jovial e o talento que a projetara em 1941 com Em busca da felicidade.

O carisma da radionovela buscava se manter.

Odair Marzano: 

diretor da Radio Tupi, apresentador de tevê e ator

 A querida atriz, Odair e a  Rádio Tupi tentavam conservar a flama do radioteatro acesa. Mas os tempos mudaram. O rádio também. E sete anos depois Isis afastou-se definitivamente dos microfones.

Isis, viúva do excelente e saudoso locutor Jairo Argileu, viveu seus últimos dias  em seu  confortável apartamento em Icaraí.

Casamento de Dulce Martins (Aninha, eterna noiva de Jerônimo,o herói do sertão),

Isis de Oliveira e seu marido, locutor Jairo Argileu.

Na manhã do domingo de Páscoa de 2013, Isis me telefonou para desejar Feliz Páscoa. Sua linda voz, que emocionou o Brasil pelas ondas do rádio, permanecia imutável. Ao desligar o telefone mal podia imaginar que era a última vez que nos falávamos. Semanas depois Isis nos deixou, exatamente no dia sete de maio de 2013.

 Isis de Oliveira em 1950.

E então, gostou desta postagem sobre a saudosa Isis de Oliveira?

Mande seus comentários. 

Quer saber mais? Leia meu livro. Meu objetivo é preservar a memoria do velho rádio.

Até breve!