segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ERGUE-SE EM QUALQUER PONTO DA CIDADE MARAVILHOSA...


Roberto Salvador

...O EDIFICIO BALANÇA,  MAS NÃO CAI
Logo após a abertura da Avenida Presidente Vargas no final do governo  Getúlio, velhos cortiços e casas antigas começaram a dar espaço  à construção de arranha-céus. Na altura da Praça Onze de Junho, na esquina com rua de Santana, surgiu um grande prédio de salas e apartamentos. Mas o povo jurava que o prédio estava torto, o que os engenheiros construtores negavam. 

Avenida Presidente Vargas, anos 50:
 em primeiro plano, à direita, o edifício que inspirou o programa.

Avenida Presidente Vargas nos dias atuais: 
prédio firme até hoje

O caso é que o carioca começou logo a chamar o prédio de Balança,  mas não cai. Em 1951 quando o genial Max Nunes lançou um programa humorístico que marcou época no velho rádio o nome já estava escolhido: Edifício, balança mas, não cai, campeão de audiência às sextas-feiras às 20 e 35 pela Rádio Nacional do Rio.
Max Nunes, criador do programa lançado em 1951.

Paulo Gracindo e Brandão Filho: 
quadro imortalizado depois também na televisão

Brandão Filho:
 gênio do humor radiofônico e sucesso na televisão

Paulo Gracindo 
criou o quadro que Max Nunes imortalizou


E um dos quadros mais famosos do programa era o encontro do Primo Rico (Paulo Gracindo) com o primo pobre (Brandão Filho).

UM PRIMO RICO, RECEBE A VISITA DO PRIMO  POBRE.
Paulo Gracindo em depoimento ao programa Noturno na JB-AM de Luiz Carlos Saroldi conta como surgiu  o famoso quadro humorístico que foi  O  primo rico e o primo pobre.
Ele  relata que escrevia um programa na Nacional, chamado 24 horas da vida alheia e que nele havia um esquete intitulado Parente pobre e parente rico. Graças a um acordo com Max Nunes o quadro entrou no Balança. Max Nunes trocou o título para Primo rico e primo pobre e  Paulo Gracindo passou também a escrever o Balança.
Gracindo conta que a ideia surgiu de umas brincadeiras com seu sogro, um homem muito rico e que morava em uma bela casa no Leblon.  Recém-casado e com as dívidas de um pequeno apartamento que havia comprado, Gracindo  e o sogro ficavam de papo: _E ai, como vai a vida meu jovem? Perguntava o sogrão. Ao que Gracindo respondia desanimado: Mais ou menos, mais ou menos. Eu também tenho muitos problemas, dizia o sogro: Você está vendo aquelas  sancas pintadas a ouro aqui no teto da sala? Pois deu uma infiltração na parede e vou ter que pagar um restaurateur para refazer a pintura. Não é mesmo um problema?
Ao que Gracindo retrucava: Pois lá em casa um  pombo fez cocô na minha janela e ficou uma sujeirada!
-Vai chamar um restaurateur? Perguntava o sogro.
-Não, eu mesmo é que vou meter os peitos e limpar o cocô do desgraçado do pombo!
E o sogro arrematava: Você é que é feliz que não tem problemas com restaurater!
-Felicíssimo,  Felicíssimo! Respondia o genro.
E por ai seguia o papo. Sempre que Gracindo falava de um problema o sogro vinha com outro pior. Estava lançada a ideia para um dos mais famosos quadros de humor do rádio.
O  Balança reunia o que havia de melhor em termos de elenco humorístico do rádio e lançava mão também de vozes consagradas que faziam novela, já que os programas humorísticos da Nacional estavam subordinados ao  departamento de Radioteatro. Talentos  versáteis como Henriqueta Brieba, Paulo César, André Villon, João Fernandes, João Zacarias ou Arthur Costa Filho.
Mas havia também os exclusivos do humor, entre muitos podemos lembrar: Apolo Correa, que era um tipo que punha as mulheres em polvorosa, quando ao chegar exclamava: “Mulheres, cheguei”!
Nunca foi revelado o que ele tinha de tão importante, a ponto de provocar um “frisson” incontrolável entre as madames.
Havia,  claro, o Brandão Filho, que só fazia o primo pobre.
Os engraçadíssimos  irmãos Emma e Walter D’Ávila e o Wellington Botelho, que surgia no edifício resolvendo problemas incríveis e que terminava o quadro dizendo sempre: “Anão Zezinho, às suas ordens”!.
Havia também o engraçadíssimo Altivo Diniz, que fazia tipos angustiados e sofredores e João Fernandes, que provocava riso ao interpretar sempre personagens acabrunhados ou pacientes.
A confusão no prédio ia a extremos quando um animal misterioso  adentrava provocando pânico, até que surgisse Germano exclamando: “Calma, pessoal é a minha gambá que ficou presa  no elevador”!.
O  diretor e ensaiador era Floriano Faissal., que versátil como ninguém, também interpretava uns tipos.
O elenco feminino, além das atrizes citadas, contava também com Nylza Magrassi, Haydée Fernandes (esposa de João Fernandes), Therezinha Nascimento, Lizete Barros e outras.
O narrador, Afrânio Rodrigues ia anunciando os quadros e abria o programa lendo o texto que ficou famoso: “Cem por cento financiado pela perfumaria Myrta Sociedade Anônima, ergue-se em qualquer ponto da cidade o edifício: Balança” ...( exclamava três vezes seguido dos acordes da orquestra, fechando com a fala de Brandão Filho: ”Mas não cai”! Os locutores fixos eram Lucia Helena e Jorge Cury.
Lúcia Helena,  se tornou famosa ao anunciar o programa de  Francisco Alves, “Quando os ponteiros se encontram na metade do dia, é  hora dos ouvintes se encontrarem com Francisco Alves o rei da voz”!
Era a principal voz feminina da locução da PRE-8. Anunciava os produtos Colgate-Palmolive na novela das oito às segundas, quartas e sextas. Tinha dez minutos para descer do andar 22,onde ficava o estúdio de radioteatro para o auditório no 21, inteirar-se do texto e anunciar com Cury os produtos Eucalol, já que o “Balança” começava, pontualmente  às 20 e trinta e cinco.

                                                     Vestidos a rigor,
             artistas que estrelaram o programa de lançamento no                                                            inicio de 1951.

Sexta-feira 20 e 35:
auditório lotado para assistir o programa

Lucia Helena locutora de voz famosa


Jorge Cury irradiava futebol, 
mas era o locutor do programa

Esse programa foi o primeiro do rádio carioca a ser reprisado em gravação no dia seguinte. Quem perdia a audição ao vivo de sexta-feira curtia a reprise no sábado  às duas da tarde.
Mais tarde o Grande Teatro Orniex  que ia ao ar às sextas às 22 e cinco, passou também a ser reprisado aos domingos às 9 da manhã. Era uma novidade numa época em que toda a programação  ia ao ar ao vivo.
Max Nunes escreveu o “Balança” até  1952, quando retornou à Tupi, de onde saíra em 1948. O Edifício Balança, mas não cai, conheceu outros produtores, como Dinarte Armando e Meira Guimarães.Mas sempre a quatro mãos com Paulo Gracindo.Nos anos 80 surgiu a versão televisiva, mantendo alguns quadros e surgindo outros. Mas os primos rico e pobre continuaram a se visitar a despertar o riso na audiência.


E então, gostaram da postagem de hoje? Mande seus comentários. Meu objetivo é preservar a memória do velho Rádio. 



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Modelo de rádio de 1935


Até breve!







3 comentários:

  1. Obrigado primo. Me fez voltar a (com crase) minha juventude. Eu, nessa época, estava noivo da minha primeira esposa e sempre ouvíamos o programa.

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  2. Muito bom! Não sabia de nada disso, aprender com quem sabe é muito bom. Parabéns e sucesso!

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  3. Olá, amigo querido! Não me lembro muito desta época, mas sua narrativa me remete a imagens muito interessantes... Uma viagem no tempo!Muito bom!Obrigada pela partilha. Grande abraço.

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