CAROS OUVINTES: O RADIOTEATRO VAI AO TEATRO

Roberto Salvador

CAROS OUVINTES ... 

OLÁ PESSOAL! E OUTRAS SAUDAÇÕES.

No velho   rádio, os locutores costumavam saudar seus ouvintes usando expressões como: alô radiouvintes, senhores ouvintes, prezados ouvintes, amigos ouvintes e finalmente,caros ouvintes. A audiência   era tratada carinhosamente e com  um pouco de cerimônia, ao contrário de hoje, muito informal, em que locutores de algumas emissoras cumprimentam seus ouvintes com expressões tais como: gente boa! Olá pessoal! Vocês ai! E outras mais, dependendo, é claro, do tipo de emissora e do público receptor. 

A saudação de certos apresentadores era uma espécie de marca registrada.

Cesar de Alencar, por exemplo, saudava seus ouvintes dizendo três vezes:

alô... alô... alô...

Paulo Roberto:

 médico e radialista, cunhou a expressão"amigos ouvintes"

Novos tempos, novos estilos, muita coisa mudou no rádio. 

O rádio mudou. O Brasil mudou. A sociedade mudou. Nós mudamos.

Anos 30 a 50: 

rádio no centro da família

Anos 60: 

rádio começa a ser desbancado pela tevê

CAROS OUVINTES: SAUDAÇÃO DO VELHO RADIO VIRA NOME DE PEÇA DE TEATRO.

 O consagrado ator, diretor e autor paulista Otávio Martins queria escrever sobre essas mudanças testemunhadas pelo velho rádio. Observador sensível do mundo e da vida, Otávio percebeu que tudo isso poderia gerar uma bela trama e foi pesquisar em livros que falam da história do rádio. Foi quando descobriu  A Era do Radioteatro. "Este livro tem tudo que preciso para escrever a peça"! E assim Otávio produziu o roteiro de uma obra teatral imperdível: Caros Ouvintes.

Otávio Martins: 25 anos de carreira com trabalhos em cinema, teatro e televisão.

Ambientada no ano de 1968 na capital paulista, entre outros aspectos, mostra a transição da radionovela para a telenovela, sob o ponto de vista dos artistas que viam sua profissão ser substituída por outro veículo.Era a televisão que se firmava perante o público e vinha para  desbancar o rádio do  lugar que ocupava na sala e na cozinha dos lares brasileiros desde os anos trinta.

O RADIOTEATRO VAI AO TEATRO

“A peça é uma comédia sobre as grandes mudanças culturais e estruturais que ocorreram no Brasil na década de 1960, que forjaram a identidade de toda uma nação até nos transformar no que somos hoje”, declara Otávio Martins no livro homônimo que escreveu, lançado juntamente com a peça teatral.

Lançamento na estreia da peça.

Algumas fotos deste blog foram extraídas do livro.

Revista distribuída aos espectadores: 

tributo às saudosas fotonovelas

Caros Ouvintes, e a emissora de rádio em estado terminal, que leva ao ar o último capitulo de uma famosa novela: 

atores com futuro incerto

Sonoplasta em ação:

Efeitos sonoros imitam a realidade

 "Espelhos da Paixão":

 a magia da radionovela, no ar! 

Na encenação um elenco talentoso

UM ESPETÁCULO IMPERDÍVEL!

Para quem curtiu o rádio do tempo das radionovelas é uma emoção especial. Fui ver a peça pela segunda vez pois já havia assistido a montagem de 2014 no Teatro Masp na Avenida Paulista. Em cartaz no Teatro Renascense,ainda em São Paulo, a montagem atual se esmera, do cenário ao trabalho de um elenco coeso e magistral. Não vou contar a história, evidentemente, apenas dar uma palinha, dizendo que a ação se passa em 1968, às vésperas do AI-5. Em meio a revoltas de estudantes, greves e repressão, mostra o drama vivido por radioatores que iriam encenar o último capítulo da novela Os Espelhos da Paixão e seu desespero diante da perspectiva de desemprego com a chegada da televisão desbancando o rádio, como já dissemos.Mas a trama não se restringe apenas a este aspecto, há também os dramas individuais dos personagens, os conflitos,  tudo isso somado à ação dos radioatores diante do microfone interpretando a novela, com seus efeitos sonoros, a sonoplastia, a música, tudo levado por um texto que nos transporta do riso às lágrimas, facilmente.

O AUTOR DA PEÇA E O AUTOR DO  BLOG.

Quando conheci Otávio Martins pessoalmente, já sabia   dos trabalhos que ele  havia realizado para o teatro, cinema e televisão. Numa manhã de domingo ele estava no Rio e me ligou. Havia obtido meu telefone através da Editora Gramma onde eu havia publicado A Era do Radioteatro. Queria   me conhecer, pois encontrara em meu livro, farto material que consubstanciara o roteiro que havia escrito para Caros Ouvintes. “Achei teu livro tão completo que comprei um exemplar para cada participante do elenco e determinei que todos deveriam ler A Era do Radioteatro”, me declarou Otávio, enquanto tomávamos um café no bar do Hotel Windsor Barra no Rio de Janeiro. Vi a primeira montagem de 2014 agora esta de 2019. Ambas imperdíveis. Dai minha decisão de incluir Caros Ouvintes como um dos temas das postagens deste blog, que fala justamente da História do Rádio.

Ao escolher a famosa saudação dos locutores do velho rádio, para título de sua obra teatral, Otávio Martins presta também uma homenagem à época das radionovelas e outros gêneros e formatos radiofônicos, que mobilizaram o Brasil entre os anos 30 e 60. Retrata fielmente uma realidade vivida por inúmeros profissionais de rádio que não tiveram condições de se adaptar ao novo veículo que surgia, a televisão. 

E então, gostaram desta postagem? Quero ouvir seus comentários!

O autor do blog visita o cenário de Caros Ouvintes

Meu objetivo é preservar a memória do nosso Rádio.

Quer saber mais? Leia nosso livro, A Era do Radioteatro

Até breve!