segunda-feira, 11 de novembro de 2019

TV NACIONAL: BREVE HISTÓRIA DE UMA FRUSTRAÇÃO


 Roberto Salvador

 COMEÇA O DECLÍNIO DO VELHO RADIO.
Eis que a televisão inicia sua invasão aos lares brasileiros. O espaço da sala, antes ocupado pelo rádio, agora pertence à televisão. 



                     O rádio na sala de jantar das casas brasileiras ...


                  ...cede lugar para a telinha mágica que surgia,                                                                 encantando a todos.

  Os aparelhos receptores, até então muito caros, começam a ser vendidos por preços mais accessíveis. As lojas lançam uma novidade: a venda a crédito.


                Novidades nas vitrines: vendas a crédito nas lojas

 Os anunciantes, que derramavam suas verbas publicitárias no rádio, migram  para a tevê. O novo veículo, chegava aos poucos, mas com decisão. Parecia um dragão prestes a devorar tudo. Mas só mostrava a sua cauda. Sua cara ainda não fora revelada.

A RÁDIO NACIONAL E O SONHO DE TER SUA TV.
A direção da Rádio Nacional, como que pressentindo as mudanças, se movimenta no sentido de obter um canal de tevê. Naquele tempo, a tecnologia não oferecia opções. 
Os canais eram fechados  e poucos eram os  disponíveis.
O Canal 2, que  por lei era para  a fins educativos, estava destinado à Rádio Roquette-Pinto e chegaria às mãos da TV Educativa, hoje TV Brasil, em 1960. O 6 já pertencia à TV Tupi. O 9, da Continental e o 13  da TV Rio, já estavam no ar. Restava disponível apenas  o 4. A Rádio Nacional saiu em campo para obter do presidente da República o único canal restante.

1951:Assis Chateaubriand inaugura a TV Tupi Canal 6


Inicio dos anos 50: TV Rio no ar!

TV Continental também pioneira,pertencia a Rubens Berardo

COMEÇA A CORRIDA ATRÁS DO CANAL 4!
Meados dos anos cinquenta. Juscelino vence as eleições e promete durante a campanha conceder o canal 4 do Rio de Janeiro à Nacional. 

                         Juscelino e Jango vencem as eleições em 1955

Chateaubriand era dono de um vastíssimo império de emissoras de rádio e televisão, além de jornais e revistas, editoras, laboratórios farmacêuticos  e pesados investimentos agropecuários. 
Mas quando o Velho Capitão soube das promessas de Juscelino, ficou colérico.

Chateaubriand: "isso não vai ficar assim"!


Se o prometido se cumprisse a Rádio Nacional, que já liderava no rádio, certamente dominaria o mercado da televisão. Era preciso fazer alguma coisa e já! 
Transcrevo a seguir o que escreveu Mário Lago em seu livro Bagaço de beira-estrada.

O autor de Bagaço de beira de estrada



“Numa dessas tantas viagens Assis Chateaubriand, no avião, conseguiu ocupar o acento ao lado de Juscelino, e levou a viagem inteira procurando demovê-lo da loucura de dar o canal à Nacional.Entre sorrisos de clichê o presidente lhe fez ver que já tinha empenhado a palavra, não podia recuar agora. 

O velho guerreiro não teve papas na língua: “Se Vossa Excelência der o canal de televisão à Nacional, jogo toda a minha rede de rádio, imprensa e televisão contra seu governo”. Juscelino balançou. Mas como bom mineiro, ficou estrategicamente calado.

RESSACA E SOCO NO ESTÔMAGO.  O DRAGÃO MOSTRA A SUA CARA HORRENDA
Juscelino vence as eleições e toma posse. A Rádio Nacional seguiu liderando e parecia ter prestígio junto a Juscelino, noticiando as ações de seu governo, transmitindo trechos de discursos, não fosse a estação uma emissora pertencente ao Patrimônio da União. Tanto que deu apoio à montagem da Rádio Nacional e da TV Nacional de Brasília. A emissora de rádio foi montada em tempo recorde: quatro meses  e foi inaugurada em 1958, enquanto a de televisão foi ao ar no dia da fundação de Brasília: 21 de abril de 1960, mandando imagens da inauguração. No Rio, a direção da  Nacional imaginava  ter prestígio com JK.
 Não tinha.
Na ressaca das festanças da inauguração, o presidente bossa-nova mandou às favas o próprio despacho de 18 de julho de 1956 e entregou o canal 4 a Roberto Marinho, que rindo até as orelhas inauguraria em 1965 a televisão Globo, 
Canal 4!
Jornalista Roberto Marinho


Jornalista Assis Chateaubriand



                   
                             Edifício sede da Rádio Nacional:
                                decepção do 19 ao 22o. andar

Juscelino ficou bem  com Chateaubriand e com Marinho, duas respeitadas feras dos veículos de comunicação deste país, mas a decisão foi um soco no estômago da emissora da Praça Mauá. 
Apresentador Cesar de Alencar, cantora Ester de Abreu e
 Floriano Faissal. 
Este, diretor da Nacional, chegou a anunciar no famoso programa:  "a TV Nacional estará breve no ar"!

Entre diretores e funcionários o desalento foi total. Eu trabalhava lá nessa época e testemunhei os fatos. Houve uma enorme frustração. Um clima de velório nos corredores.  Finalmente o dragão mostrava a sua cara horrenda.
Mas a emissora reagiu, superou-se e seguiu na liderança, embora se notasse um progressivo desgaste em sua estrutura.
 A queda ocorreria anos depois, em 1964, após o movimento militar. Mas isto é outra história.

 Progressivamente a Nacional iniciou um processo de decadência.



           Enquanto, progressivamente, a Nacional iniciava um                                                    processo de decadência...
...ascendia a TV Globo com sua primeira logomarca no ar.


Mas isso é outra história.


E então, gostou desta postagem? Mande comentários. Meu  objetivo é preservar a memória do velho rádio!



Até breve!

Roberto Salvador


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