terça-feira, 26 de junho de 2018

TREM DA ALEGRIA: O SUCESSO DE UM PROGRAMA DE RÁDIO


Roberto Salvador

O TREM DA ALEGRIA.
Esta expressão popular, atualmente é muito utilizada para denominar os escândalos da administração pública que representam as nomeações de hordas de funcionários públicos sem concurso. Trem da alegria denomina também aqueles  projetos de lei que beneficiam determinados grupos, aprovados silenciosamente pelo nosso Legislativo.
Trem da Alegria: campeão de audiência todas as manhãs.

 A expressão foi cunhada a partir do nome do programa, não resta dúvida. Trem da alegria foi  o título de um famoso programa de auditório comandado por três grandes nomes do radio brasileiro. Héber de Bôscoli, Yara Salles (marido e mulher) e Lamartine  Babo. Eles compunham o Trio de Osso, uma paródia ao Trio de Ouro,  composto por Herivelto Martins, Nilo Chagas e  cuja estrela era Dalva de Oliveira.
Yara Salles ao microfone. O último à direita é Lamartine Babo.


 Isso porque  os componentes  eram muito magrinhos e eles mesmos batizaram o trio com este nome, que de imediato caiu no gosto popular.  



Yara e Hêber: casal feliz no rádio e na vida real.

O casamento de Héber e Yara. Lamartine foi um dos padrinhos

Lamartine, compositor de sucesso, fazia de tudo no programa.



O Trem da alegria era um  matinal desfile de artistas que cantavam e interpretavam esquetes alegres. Todos os grandes cantores da época queriam se apresentar no Trem da Alegria
Isis de Oliveira, Vitinho, Neuza Maria, Nelson Gonçalves, Emilinha e Carlos Galhardo: astros da época.


                       Cauby Peixoto, fazia de tudo para entrar no Trem.


O Trem passou pelas rádios  Cruzeiro do Sul, Nacional  e Mayrink Veiga entre os anos 40 e 50. Mas depois os auditórios das emissoras ficaram pequenos para abrigar as hordas de espectadores que queriam ver o programa. O jeito foi fazer as transmissões diretamente de teatros do Rio de Janeiro.  Um sucesso na época, que entrava no ar todas as manhãs ao som de uma canção que o próprio  Lamartine compôs e  que dizia assim:

Russo, russo, russo.
Lá vem o Trem da alegria.
Vamos todos viajar.
Russo, russo, russo, vamos lá pra Freguesia
Que esse trem é bom lugar.
Olha o trem, seu maquinista.
Olha o fogo, seu foguista.
Botafogo na caldeira.
Que é pro trem não se atrasar.
Julieta está me esperando.
Não posso me demorar.
Quando o trem chega na curva, faz favor de apitar.
Russo, russo, russo ...

Cada componente que fazia parte da tripulação do trem,  tinha uma função. Assim, Héber de Boscoli era o maquinista, Yara, a foguista e Lamartine, o guarda-freios. Era uma locomotiva a vapor, a Maria Fumaça, como se dizia na época e essas funções existiam em um trem de verdade.



A nostálgica Maria Fumaça: 
inspiração para o nome do programa



Charge de jornal da época

Trem da Alegria na Rádio Mayrink Veiga:
Teatro Carlos Gomes, pois no auditório da rádio não cabia todo mundo.


Héber é tio de Ronaldo Bôscoli.


Héber produzia também  para o teatro de revistas. Aqui, esta peça contava, entre outros, com Yara, Dercy Gonçalves e Oscarito. Casa cheia no Teatro João Caetano.



Héber  foi um grande radialista. Empreendedor, fez  fortuna atuando na área publicitária angariando anúncios para o rádio e promovendo projetos de shows e musicais para o teatro de revista. Foi dele a ideia de chamar Lamartine Babo para compor os hinos dos  clubes cariocas de futebol. 
                                   Cada um mais bonito do que o outro.


                          O grande compositor fez um hino para cada clube
                                      e são os hinos que escutamos até hoje.


                                      Cada um mais bonito do que o outro. 
           Lamartine era torcedor do América. Dizem que é o mais bonito dos hinos.

As marchinhas do Lalá, como também era conhecido...


... embalaram muitos carnavais.


Yara, excelente radioatriz dramática...

...fez muitas novelas na Nacional.

Foi a Mamãe Dolores de O direito de nascer.

Ensaio de O direito de nascer:
Paulo Gracindo, Talita de Miranda, Dulce Martins, Yara, e Darcy Cazarré.  Eurico Silva, último a direita traduziu, adaptou e dirigiu a famosa novela dos anos 50.


Yara era também uma excelente radioatriz dramática. Atuou na Nacional por muitos anos, porém ficou famosa ao interpretar a preta-velha Mamãe Dolores, a mãe adotiva de Alberto Limonta na  novela O direito de nascer

Yara teve um filho natural, Vitor Binot, enteado de Héber de Boscoli. Mas nos anos 40 adotou um menino que veio a ser o ator Perry Salles, que casado com Vera Fischer, morreria de câncer em 2009.

Perry e Vera Fischer

Yara e Vitinho. Ele morreria de leucemia em 1980

Yara e Héber com Vitinho, enteado de Héber.


Vitor Binot, ou Vitinho foi radioator mirim da Nacional nos anos 50. Viajou  para o Tibet e se transformou em monge budista. Retornando ao Brasil no final dos anos 60 como professor de Yoga, morreu  de  leucemia em 1980.

 Heber, o maquinista do Trem  morreu  em 1955 em pleno sucesso.
Lamartine Babo desembarcou em 1963, enquanto que Yara Salles partiu em 1986. Mas o Trem da alegria parou de funcionar antes do final dos anos 50. Cada um dos tripulantes foi seguir pelos trilhos de carreiras solo. Afinal todos tinham talento para isso.
Mas a morte prematura de Héber de Boscoli pegou todos de surpresa, pois ele estava em pleno auge da carreira. Um enfarte interrompeu seu percurso e ele não parou na próxima estação.


Um decreto do então prefeito Negrão de Lima o transformou em nome de rua

Aerton Perlingeiro, seu grande amigo.
Rua Héber de Bôscoli: por aqui o Trem da Alegria não passou.

O Trio de Osso e uma cantora não identificada.

Roberto Salvador, autor do blog


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Até breve!








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