sábado, 17 de março de 2018

O RÁDIO E O ESTADO NOVO DE GETULIO: A NACIONAL AVANÇA!


GETÚLIO VARGAS USAVA O RÁDIO COMO PROPAGANDA DO ESTADO NOVO.


                                       Vargas transforma a Nacional em
                               Empresa Incorporada ao Patrimônio da União


Quando Getúlio Vargas passou a Rádio Nacional para o governo em 1940  em  pleno Estado Novo, chamou o superintendente Gilberto de Andrade ao Palácio do Catete e lhe disse o seguinte:  “o governo não quer tirar lucros da Nacional. O lucro, se houver, será reinvestido em sua melhoria técnica e profissional.”
Gilberto de Andrade entendia de rádio.

1936,inauguração da Nacional:
 Langoni, Celso Guimarães,Gilberto de Andrade, Cauby Araujo e Medeiros Neto.


Getulio ao microfone do DIP:
 Departamento de Imprensa e Propaganda

O que Getúlio queria era utilizar a força do rádio para fortalecer sua imagem junto ao grande público. O rádio era o veículo da época, uma novidade que o país  inteiro sintonizava. O Brasil teria, portanto, uma voz levando alegria, música, entretenimento e as mensagens do governo, claro.
Gilberto de Andrade seguiu à risca as ordens de Getúlio e os mais diversos setores da emissora não faziam economia quando o objetivo era a qualidade técnica e artística.
Para pôr em prática as inovações, Gilberto de Andrade contava com um grupo de profissionais altamente qualificados. Pertenciam aos quadros da Nacional profissionais como Henrique Foreis Domingues, o Almirante, Paulo Tapajós e José Mauro, aos quais vieram se somar outros como Lírio Panicali e Léo Peracchi.
Paulo Tapajós...

...José Mauro e Almirante um trio competente, decisivo na expansão da emissora.


Uma das primeiras medidas tomadas por Gilberto de Andrade foi a de instalar um setor de estatística para medir a popularidade dos programas e dos artistas da emissora. Os resultados obtidos pelo setor serviam de forte argumento na conquista de novos anunciantes. A política financeira do novo diretor era a de que o conjunto do faturamento deveria sustentar a emissora como um todo. Tal política permitia a produção de alguns programas de alta qualidade, que traziam fama e reconhecimento público para a emissora, ainda que se mantivessem financeiramente deficitários, pois esses desequilíbrios seriam compensados pelo restante da programação.

O ano de 1941 foi um ano de grandes realizações. Em 5 de junho  foi ao ar a primeira radionovela brasileira: Em busca da felicidade, uma adaptação do original cubano de Leandro Blanco por Gilberto Martins, com a interpretação de Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo Mayer, Ísis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint-Clair Lopes e Brandão Filho, entre outros. Os capítulos eram apresentados três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã, às 10 e meia, sob o patrocínio do creme dental Colgate. A novela ficou em cartaz até 1943 e foi substituída por O romance de Glória Marivel, um original também de Leandro Blanco.

Álbum de lançamento da novela pioneira.


Aproveitando o sucesso de Em busca da felicidade, a Nacional lançou, em seguida, as radionovelas noturnas Predestinada, Fatalidade e Maldição, todas de Oduvaldo Viana. As radionovelas obtiveram grande aceitação popular e logo passaram a ocupar diversos horários da programação da emissora.  

Fabuloso elenco de radioteatro dos anos 40 e 50.Vitor Costa é o ultimo à direita.
Foto tirada no palco do auditório recém inaugurado. Por trás da cortina e de uma gigantesca vidraça ficava o estúdio sinfônico. Quando era necessário o vidro descia como um vidro de automóvel e o estúdio se  abria para o auditório. Alta tecnologia!

E os lançamentos de novos programas prosseguia. Em 28 de agosto de 1941 surgiu o Repórter Esso, “o primeiro a dar as últimas”, inicialmente nas rádios Nacional do Rio de Janeiro e Record de São Paulo e, posteriormente, nas rádios Inconfidência de Belo Horizonte, Farroupilha de Porto Alegre e Rádio Clube de Pernambuco. 
Alô, alô Repórter Esso! Alô!

O locutor Heron Domingues, começou em 1941.
Em 24 de agosto de 1954 caberia a ele anunciar o suicídio de Vargas em edição extraordinária.


Conforme dissemos antes, o lucro obtido no faturamento era  aplicado na compra de novos equipamentos, desde microfones, a mesas de som,  de transmissores a instalações de estúdio. Isso sem falar em seu elenco de atores, músicos, cantores e corpo técnico.  E assim cresceu vertiginosamente a Rádio Nacional!

No ano de 1942 a emissora continuou a sofrer grandes transformações. Em 19 de abril desse ano  a Nacional inaugurou os novos estúdios e um auditório de 486 lugares. Realizando uma programação especial durante todo o dia a  Nacional se colocava entre as emissoras mais bem equipadas do mundo.
Coronel Costa Neto e Gilberto de Andrade 
na inauguração do auditório...

...que por 3 décadas receberia grande público que ia ver os programas


Ainda em 1942, ocorreram mais inovações técnicas  Em 15 de novembro os transmissores foram transferidos para modernas instalações  no bairro de Parada de Lucas, às margens da Avenida Brasil, o que significou uma melhora imediata na qualidade das transmissões. Em 31 de dezembro a emissora inaugurou um transmissor de ondas curtas RCA Victor de 50 kw e um sistema de cinco antenas direcionais, que deveriam transmitir para a América, Ásia, África e Europa e para todo o território brasileiro. Na cerimônia de inauguração se encontravam presentes nos estúdios da Nacional diversas autoridades, entre eles os ministros Osvaldo Aranha, Mendonça Lima e Barros Barreto, o interventor Amaral Peixoto e o capitão Osvaldo Pamplona, representando o presidente da República.

O setor de emissões para o estrangeiro em ondas curtas funcionava como uma emissora à parte, com alguns departamentos especiais. O departamento cultural contava com a colaboração de Roquete-Pinto, Silvio Fróis de Abreu, Venâncio Filho, Raul Machado, Andrade Murici, Gastão Cruls e Manuel Bandeira. O responsável pelo  departamento político foi, inicialmente, João Neves da Fontoura, logo substituído por Cassiano Ricardo. Havia ainda o departamento econômico-financeiro, a cargo de Valentim Bouças.

As transmissões internacionais tinham início à tarde. Em janeiro de 1943, o programa para Portugal ia ao ar às 16 e 30, seguido pelo da Inglaterra, às 17 e 30, o hispano-americano, às 18 e 40, e no final do dia, o dos Estados Unidos e Canadá, às 23 horas.

                                          Rádio Nacional: 
                 a  voz do Brasil levando prestígio ao governo de                                       Getúlio Vargas além fronteiras e além mar.
                                           
O progresso vinha também na área musical: a emissora  passou a ter sob contrato os melhores regentes e os melhores músicos. Possuía  uma mini sinfônica, com  cerca de 40 professores que executavam os mais sofisticados arranjos em programas musicais de altíssimo nível, como por exemplo Um milhão de melodias ou Quando os maestros se encontram, Festivais GE e outros.
Havia ainda os chamados   programas montados, que reuniam grande orquestra, cantores, coro, efeitos de contrarregra e elenco de radioteatro.


Maestro Leo Peracchi, arranjos sinfônicos

Lyrio Panicali, arranjos de categoria


Aida Gnattali e Radamés Gnattali,(piano), 
José Meneses,violão, Luciano Perrone Bateria, Chiquinho do Acordeão, Vidal no contra-baixo. Tratamento nobre à música brasileira.


Orquestra da Nacional

Para se ter uma ideia dos requintes da produção, em um desses programas, escrito por José Mauro, o texto pedia um instrumento musical que faria o contraponto da voz de um animal numa história infantil.
O autor do  roteiro pedia um contra fagote.  Como a orquestra da Nacional não contasse com esse instrumento a direção geral autorizou Paulo Tapajós, que era o diretor musical, a contratar o músico e seu contra fagote na Sinfônica Brasileira.
O  script  não poderia ser sacrificado. Nem a qualidade.
E assim a rádio pagou o que o músico pediu e o programa foi ao ar.

LUCROS E PERDAS: UMA POLÍTICA QUE FUNCIONOU.
Os programas  montados davam prejuízo, porque embora os anunciantes  pagassem preços bastante salgados, as despesas de produção  eram muito altas.
Porém, para compensar, havia programas de produção barata e que eram vendidos caro e que davam um retorno excelente à rádio.
Era o caso de “PRK 30” ou “Alvarenga e Ranchinho” ou “Jararaca e Ratinho” ou “Silvino Neto e a pensão do Pimpinela”.
Muito humor com pouco gasto: grande audiência

Alvarenga e Ranchinho humor mordaz que Getúlio curtia.

Silvino Neto:
 sozinho e com várias vozes fazia um show de risos.

Por sinal, o nascente IBOPE, nos anos quarenta já apontava o programa de “Jararaca e Ratinho” com 70% de audiência no Rio de Janeiro.
Esses programas eram feitos por duplas ou por um único artista, caso de Silvino Neto, de custo muito baixo, grande audiência, cujo retorno servia para o Departamento Comercial estabelecer uma média no faturamento mensal.
Eram lucros e perdas, sim. Mas quem saia ganhando, na verdade, eram os ouvintes.

AS DEMAIS EMISSORAS REAGEM, MAS NÃO HAVIA COMO.
As Emissoras Associadas Tupi e Tamoio no Rio de Janeiro não tinham outra  alternativa,  se não, competir com o poderio da Nacional. Assis Chateaubriand  o dono do império das Emissoras e Diários Associados tentava competir, quase que heroicamente, fazendo também rádio de qualidade, chegando a ameaçar o poderio da PRE-8  em alguns horários. O mesmo acontecia com a Mayrink Veiga e outras emissoras menores, como A Rádio Clube do Brasil e a então noviça Rádio Globo de Roberto Marinho. Conseguiam audiência, porém sem ameaçar o gigante da Praça Mauá.
Edifício A Noite:
 dominando o centro da cidade nos anos 40 e 50

Praça Mauá 7: 
Nacional ocupava os 4 últimos andares.



GETÚLIO NÃO FAZIA PROPAGANDA NA NACIONAL.
 O CASO DELE ERA PRESTIGIO.

Getulio cercado de artistas da Nacional: da esquerda para a direita, Braguinha,Carmem Barbosa, Almirante, Canhoto, Leonel Azevedo, Dircinha Batista, Odir Odilon, Osvaldo Santiago, Eratóstenes Frazão, Lamartine Babo,Antonio Almeida, Silvino Neto, Carlos Galhardo, Dona Darcy Vargas, Benedito Lacerda, Paulo Tapajós,Hoche Ponte, Orlando Silva, Haroldo Tapajós e Alcyr Pires Vermelho.

Embora a linha política da emissora fosse, obviamente, de apoio ao governo, não havia uma propaganda explícita das obras desse governo. Assim, todo Primeiro de Maio, dia do Trabalho, havia transmissão direta do Estádio do Vasco em São Januário, quando Getúlio Vargas falava ao povo trabalhador.


                          Desfile de Primeiro de Maio no Campo do Vasco: 
                                        discurso para os trabalhadores

 O que Getúlio queria era que a emissora mostrasse uma visão positiva do país. A divulgação das obras do Estado Novo ficava por conta de uma  outra estratégia: o programa A Hora do Brasil, hoje, A Voz do Brasil, do qual falaremos em uma outra postagem.

Vargas apreciava e respeitava o rádio

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