segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

AVE CÉSAR !

CESAR DE ALENCAR, O MAIOR ANIMADOR DE PROGRAMAS  DE AUDITÓRIO DO RADIO BRASILEIRO.

Neste 14 de janeiro de 2018 completamos 28 anos sem o grande radialista, cantor, compositor, locutor e apresentador CÉSAR DE ALENCAR  cujo nome verdadeiro era Hermelindo César Matos de Alencar,  falecido em 1990.


Sábado, duas da tarde.
 Auditório lotado. Vai entrar no ar o Programa César de Alencar!



Foto de 1943.
promessa de um rádio diferente.



Cesar de Alencar nasceu em Fortaleza, Ceará. Com sua voz e estilo cativantes, foi campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos, popularizando, no Brasil, fórmulas que faziam sucesso nos Estados Unidos, como o gênero  parada de sucessos, em Parada dos maiorais, e o programa de calouros, em Cantinho dos novos. Formado em Letras, mudou-se de Fortaleza para o Rio de Janeiro em 1939 e no mesmo ano foi trabalhar na Rádio Clube do Brasil.


1939
Era assim quando estreou na Rádio Clube do Brasil...




...empurrado pelo papa do rádio brasileiro: Renato Murce.


O empurrão inicial foi dado  por um radialista pioneiro, que lançou inúmeros  idolos :  Renato Murce, que o convidou  para fazer um programa diário como locutor. Imprimindo sua instintiva marca,  Cesar logo iniciou uma carreira exitosa. Criou com enorme sucesso, o primeiro concurso de músicas de carnaval em 1942, ao lado de Herivelto Martins, Benedito Lacerda e Francisco Alves. O ano de 1945 foi decisivo para ele ao ser contratado  pela Rádio Nacional , então a maior emissora do Brasil.Passou a trabalhar em locuções comerciais e narrações, além de participar de  novelas radiofônicas, tendo atuado em Feche a porta do destino e Uma sombra.



Praça Mauá. 
Edifício A Noite imperando nos anos 40.
 O único arranha-céu do centro da cidade.

No topo do prédio, abaixo do terraço, o auditório onde imperaria César.

 Em meados dos anos 40 criou o  Programa César de Alencar, que se transformaria no maior programa de auditório de todos os tempos,onde se apresentavam grandes astros e  estrelas. Entre as inovações que trouxe para o rádio brasileiro estava a entrevista ao vivo por telefone, recurso usado até hoje. Em seu programa, além dos astros nacionais, apresentavam-se também artistas mundiais, tais como Gregorio Barrios, Yvez Montand, Charles Trenet e muitos outros .

O programa começava às 14  e ia até 19 horas de todos os sábados. Conduzia o programa com  talento. Possuia uma memória incrível.Sabia de cor todos os textos comerciais. Anunciava as atrações sem recorrer aos scripts, controlando o tempo e o ritmo do programa com maestria.
Hélio do Soveral, novelista e produtor de grande programas: 
o roteirista de César




Francisco Duarte, o Maestro Chiquinho, o Maestro da Simpatia, 
figura popular  nos grandes programas no auditório da Nacional.


Maestro Chiquinho organizou  o precioso Arquivo da Rádio  Nacional. 
Quando doado  ao Museu da Imagem e do Som o maestro o fez em lágrimas.

Programa faz 12 anos. A esquerda a dedicada secretária Wilma. Atrás dela está Orlando Silva.
Ao lado de César, Floriano Faissal, diretor da Nacional segura uma bandeja.

Mas não pensem vocês que era tudo improvisado. Nada disso!  O programa possuia um roteiro e quem o escrevia era o famoso Hélio do Soveral, (Teatro de Mistério,  Enquanto o Mundo Gira e Rádio Semana) . César contava ainda com a ajuda de um produtor musical e de Wilma, sua secretária durante muitos anos. A frente da orquestra estava geralmente o maestro Chiquinho, conhecido e admirado por seu talento e  simpatia e também  pela coleção de lenços que ostentava no bolso superior de seu paletó.

Heleninha Costa, figura sempre presente no programa, gravou várias músicas com o animador



César e Heleninha Costa


Marlene já vinha de sucesso em cassinos e boates. Com o término do jogo em 46, foi para o rádio.Em 1948 era atração no  Programa do César que anunciava: "Marlene,aquela que canta e samba diferente". Depois ela iria para o Programa de Manoel Barcelos.



Para evitar confusão com os fãs, a direção da Nacional determinou:
Marlene fica no programa Manoel Barcelos e Emilinha no César de Alencar.




 Se apresentava sempre vestindo uns conjuntos de calça igual à camisa. Cor única, feitos do mesmo tecido.Era alto e magro. Pernas longas e um andar característico, que lhe valeu o apelido de Cavalete. Tinha também grandes e arrebitadas orelhas,que valiam o apelido de Orelha e Abano.Ele não se importava e assumia, tanto que gravou "Fale na orelhinha de cá"  em dueto com Heleninha. Embora não se considerasse um cantor, gravou vários outros discos em discos 78 rpm . Podemos citar os seguintes: "A coisa", "Casadinhos" com participação de Marlene, "Está fazendo um ano" com participação de Heleninha Costa, "Há sinceridade nisso?", "Iaiá dos oio grande", "Marcha da fofoca", "Me dá me dá" com participação de Heleninha Costa e "O diabo é esquisito". Fez a transição para a TV logo nos primeiros momentos da TV Tupi (1950), embora nunca conseguisse alcançar o sucesso de seus programas de rádio.


O samba Vamos Jangar muito contribuiu para a eleição do Vice João Goulart em 1960.


 Liderou também um jingle intitulado Show do Voto Livre com as músicas: "Vamos Jangar (lado A)" com a participação de Jorge Veiga, Dircinha Batista, Luiz Vieira, Altamiro Carrilho e "Vamos Jangar (lado B)" com a participação de Elizete Cardoso, Ivon Curi, Isaurinha Garcia, Conjunto Farropilha que o Brasil inteiro cantou em 1960 e foi responsável pela eleição de João Goulart à Vice-Presidência da República.
Os versos do animado sambinha diziam assim:

Na hora de votar
Toda moçada vai jangar
É Jango, é Jango,
 É o Jango Goulart.
Pra vice-presidente todo mundo vai votar:
É o Jango é o Jango!
É o Jango Goulart!

Embora houvesse, com estas gravações, contribuido para a eleiçao de Jango,   parece ter trocado de lado, pois   após o Golpe Militar  de 1964, que destituiu o Presidente João Goulart , foi acusado de denunciar colegas de profissão que se opunham ao  governo militar. Testemunhas da época relatam que seu objetivo era conquistar a direção da emissora e aliou-se  por isso ao aos militares delatando  os colegas que eram membros do Partido Comunista, possuiam ideias esquerdistas ou não apoiavam a Revolução de 31 de março. Não adiantou. Terminada essa fase os militares o descartaram solenemente e Cesar caiu na rua da amargura.  Afastou-se da Nacional  logo em seguida. Em 1976, seria  escolhido para assistente da superintendência da Radiobrás, empresa criada para centralizar as emissoras oficiais, entre elas, a própria Nacional.




Luiz Gonzaga era atraçao certa.





Cauby Peixoto, no inicio de carreira já arrebatava as fãs, no Programa de César.
 As fanáticas  o atacavam e rasgavam seus ternos com os bolsos previamente descosturados.


César e diversas cantoras: Neuza Maria, Dircinha, Linda, Heleninha e o locutor Afranio Rodrigues.



César vestindo seus tradicionais conjuntos,
 Emilinha e Francisco Carlos,
 conhecido como "El Broto".



César e a cantora que me parece ser a portuguesa Esther de Abreu com Floriano Faissal.


No final dos anos 80 voltaria à Nacional com um programa de rádio  já então  dentro dos novos  padrões do rádio, limitado a um pequeno estúdio, muito diferente do clima quente, vibrante e barulhento dos velhos programas de auditório do final dos anos 40 que ele consagrou e onde imperou.
Tive a oportunidade de conhecer Cesar de Alencar pessoalmente nos tempos em que trabalhei na Rádio Nacional nos anos 50 e 60. Era simpático e de bom trato com os  colegas. Eu era muito jovem nessa época e ele sempre me tratou com atenção. Prestigiava especialmente os talentos iniciantes . Em seu programa, além dos quadros citados, criou uma Rádio Revista e nela uma seção por  ele denominada de a Página do Empurrão,  especialmente destinada a ajudar os que queriam começar no meio artistico.
Morreu no Rio de Janeiro em 1990 e, lamentavelmente, hoje vem sendo lembrado mais por sua colaboração com os órgãos de repressão a partir do golpe militar, do que por seus feitos no rádio.

Mas faço aqui justiça a este grande radialista, copiado no velho rádio à exaustão e espelho de muitos programas de televisão dos tempos de hoje.
Ave Cesar!



AVE CÉSAR!






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Meu prazer é preservar a história do Rádio.Conto com você!







2 comentários:

  1. A PARTICIPAÇÃO DELE NO GOLPE DE 1964 FOI BEM CONTADA PELO MARIO LAGO NO SEU FAMOSO LIVRO "BAGAÇO DE BEIRA-ESTRADA".
    NÃO HÁ COMO NÃO TOMAR NOJO DELE E DE TODA HISTÓRIA POIS É NA HORA DA CRISE QUE SE REVELAM OS CANALHAS,

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  2. Obrigado por seu comentário. Eu relato também com mais detalhes em meu livro A Era do Radioteatro. E conheci pessoalmente vários artistas que foram delatados. Foi tudo muito triste!

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