CESAR DE ALENCAR, O MAIOR ANIMADOR DE
PROGRAMAS DE AUDITÓRIO DO RADIO
BRASILEIRO.
Neste 14 de
janeiro de 2018 completamos 28 anos sem o grande radialista, cantor,
compositor, locutor e apresentador CÉSAR DE ALENCAR cujo nome verdadeiro era Hermelindo César
Matos de Alencar, falecido em 1990.
Sábado, duas da tarde.
Auditório lotado. Vai entrar no ar o Programa César de Alencar!
Foto de 1943.
promessa de um rádio diferente.
Cesar de
Alencar nasceu em Fortaleza, Ceará. Com sua voz e estilo cativantes, foi
campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos, popularizando, no Brasil,
fórmulas que faziam sucesso nos Estados Unidos, como o gênero parada de sucessos, em Parada dos maiorais, e o programa de calouros, em Cantinho dos novos. Formado em Letras,
mudou-se de Fortaleza para o Rio de Janeiro em 1939 e no mesmo ano foi
trabalhar na Rádio Clube do Brasil.
1939
Era assim quando estreou na Rádio Clube do Brasil...
...empurrado pelo papa do rádio brasileiro: Renato Murce.
O empurrão
inicial foi dado por um radialista
pioneiro, que lançou inúmeros idolos : Renato Murce, que o convidou para fazer um programa diário como locutor.
Imprimindo sua instintiva marca, Cesar logo
iniciou uma carreira exitosa. Criou com enorme sucesso, o primeiro concurso de
músicas de carnaval em 1942, ao lado de Herivelto Martins, Benedito Lacerda e
Francisco Alves. O ano de 1945 foi decisivo para ele ao ser contratado pela Rádio Nacional , então a maior emissora
do Brasil.Passou a trabalhar em locuções comerciais e narrações, além de
participar de novelas radiofônicas,
tendo atuado em Feche a porta do destino e Uma sombra.
Em meados dos anos 40 criou
o Programa
César de Alencar, que se transformaria no maior programa de auditório de todos
os tempos,onde se apresentavam grandes astros e estrelas. Entre as inovações que trouxe para o
rádio brasileiro estava a entrevista ao vivo por telefone, recurso usado até
hoje. Em seu programa, além dos astros nacionais, apresentavam-se também
artistas mundiais, tais como Gregorio Barrios, Yvez Montand, Charles Trenet e
muitos outros .
Praça Mauá.
Edifício A Noite imperando nos anos 40.
O único arranha-céu do centro da cidade.
No topo do prédio, abaixo do terraço, o auditório onde imperaria César.
O programa
começava às 14 e ia até 19 horas de
todos os sábados. Conduzia o programa com talento. Possuia uma memória incrível.Sabia de
cor todos os textos comerciais. Anunciava as atrações sem recorrer aos scripts,
controlando o tempo e o ritmo do programa com maestria.
Mas não pensem vocês que era tudo improvisado. Nada disso! O programa possuia um roteiro e quem o escrevia era o famoso Hélio do Soveral, (Teatro de Mistério, Enquanto o Mundo Gira e Rádio Semana) . César contava ainda com a ajuda de um produtor musical e de Wilma, sua secretária durante muitos anos. A frente da orquestra estava geralmente o maestro Chiquinho, conhecido e admirado por seu talento e simpatia e também pela coleção de lenços que ostentava no bolso superior de seu paletó.
Hélio do Soveral, novelista e produtor de grande programas:
o roteirista de César
Francisco Duarte, o Maestro Chiquinho, o Maestro da Simpatia,
figura popular nos grandes programas no auditório da Nacional.
Maestro Chiquinho organizou o precioso Arquivo da Rádio Nacional.
Quando doado ao Museu da Imagem e do Som o maestro o fez em lágrimas.
Programa faz 12 anos. A esquerda a dedicada secretária Wilma. Atrás dela está Orlando Silva.
Ao lado de César, Floriano Faissal, diretor da Nacional segura uma bandeja.
Mas não pensem vocês que era tudo improvisado. Nada disso! O programa possuia um roteiro e quem o escrevia era o famoso Hélio do Soveral, (Teatro de Mistério, Enquanto o Mundo Gira e Rádio Semana) . César contava ainda com a ajuda de um produtor musical e de Wilma, sua secretária durante muitos anos. A frente da orquestra estava geralmente o maestro Chiquinho, conhecido e admirado por seu talento e simpatia e também pela coleção de lenços que ostentava no bolso superior de seu paletó.
Heleninha Costa, figura sempre presente no programa, gravou várias músicas com o animador
César e Heleninha Costa
Marlene já vinha de sucesso em cassinos e boates. Com o término do jogo em 46, foi para o rádio.Em 1948 era atração no Programa do César que anunciava: "Marlene,aquela que canta e samba diferente". Depois ela iria para o Programa de Manoel Barcelos.
Para evitar confusão com os fãs, a direção da Nacional determinou:
Marlene fica no programa Manoel Barcelos e Emilinha no César de Alencar.
Se apresentava sempre vestindo uns conjuntos de calça igual à camisa. Cor única, feitos do mesmo tecido.Era alto e magro. Pernas longas e um andar característico, que lhe valeu o apelido de Cavalete. Tinha também grandes e arrebitadas orelhas,que valiam o apelido de Orelha e Abano.Ele não se importava e assumia, tanto que gravou "Fale na orelhinha de cá" em dueto com Heleninha. Embora não se considerasse um cantor, gravou vários outros discos em discos
78 rpm . Podemos citar os seguintes: "A coisa", "Casadinhos"
com participação de Marlene, "Está fazendo um ano" com participação
de Heleninha Costa, "Há sinceridade nisso?", "Iaiá dos oio
grande", "Marcha da fofoca", "Me dá me dá" com
participação de Heleninha Costa e "O diabo é esquisito". Fez a
transição para a TV logo nos primeiros momentos da TV Tupi (1950), embora nunca
conseguisse alcançar o sucesso de seus programas de rádio.
Liderou também um jingle intitulado Show do Voto Livre com as músicas: "Vamos Jangar (lado A)" com a participação de Jorge Veiga, Dircinha Batista, Luiz Vieira, Altamiro Carrilho e "Vamos Jangar (lado B)" com a participação de Elizete Cardoso, Ivon Curi, Isaurinha Garcia, Conjunto Farropilha que o Brasil inteiro cantou em 1960 e foi responsável pela eleição de João Goulart à Vice-Presidência da República.
O samba Vamos Jangar muito contribuiu para a eleição do Vice João Goulart em 1960.
Liderou também um jingle intitulado Show do Voto Livre com as músicas: "Vamos Jangar (lado A)" com a participação de Jorge Veiga, Dircinha Batista, Luiz Vieira, Altamiro Carrilho e "Vamos Jangar (lado B)" com a participação de Elizete Cardoso, Ivon Curi, Isaurinha Garcia, Conjunto Farropilha que o Brasil inteiro cantou em 1960 e foi responsável pela eleição de João Goulart à Vice-Presidência da República.
Os versos do
animado sambinha diziam assim:
Na hora de votar
Toda moçada vai jangar
É Jango, é Jango,
É o Jango Goulart.
Pra vice-presidente todo mundo vai
votar:
É o Jango é o Jango!
É o Jango Goulart!
Embora
houvesse, com estas gravações, contribuido para a eleiçao de Jango, parece
ter trocado de lado, pois após o Golpe Militar de 1964, que destituiu o Presidente João
Goulart , foi acusado de denunciar colegas de profissão que se opunham ao governo militar. Testemunhas da época relatam
que seu objetivo era conquistar a direção da emissora e aliou-se por isso ao aos militares delatando os colegas que eram membros do Partido
Comunista, possuiam ideias esquerdistas ou não apoiavam a Revolução de 31 de
março. Não adiantou. Terminada essa fase os militares o descartaram solenemente
e Cesar caiu na rua da amargura. Afastou-se da Nacional logo em seguida. Em 1976, seria escolhido para assistente da superintendência
da Radiobrás, empresa criada para centralizar as emissoras oficiais, entre
elas, a própria Nacional.
Luiz Gonzaga era atraçao certa.
Cauby Peixoto, no inicio de carreira já arrebatava as fãs, no Programa de César.
As fanáticas o atacavam e rasgavam seus ternos com os bolsos previamente descosturados.
César e diversas cantoras: Neuza Maria, Dircinha, Linda, Heleninha e o locutor Afranio Rodrigues.
César vestindo seus tradicionais conjuntos,
Emilinha e Francisco Carlos,
conhecido como "El Broto".
César e a cantora que me parece ser a portuguesa Esther de Abreu com Floriano Faissal.
No final dos
anos 80 voltaria à Nacional com um programa de rádio já então
dentro dos novos padrões do
rádio, limitado a um pequeno estúdio, muito diferente do clima quente, vibrante
e barulhento dos velhos programas de auditório do final dos anos 40 que ele
consagrou e onde imperou.
Tive a
oportunidade de conhecer Cesar de Alencar pessoalmente nos tempos em que
trabalhei na Rádio Nacional nos anos 50 e 60. Era simpático e de bom trato com
os colegas. Eu era muito jovem nessa
época e ele sempre me tratou com atenção. Prestigiava especialmente os talentos
iniciantes . Em seu programa, além dos quadros citados, criou uma Rádio Revista e nela uma seção por ele denominada de a Página do Empurrão,
especialmente destinada a ajudar os que queriam começar no meio
artistico.
Morreu no
Rio de Janeiro em 1990 e, lamentavelmente, hoje vem sendo lembrado mais por sua
colaboração com os órgãos de repressão a partir do golpe militar, do que por
seus feitos no rádio.
Mas faço aqui justiça a este grande radialista, copiado no velho rádio à exaustão e
espelho de muitos programas de televisão dos tempos de hoje.
A PARTICIPAÇÃO DELE NO GOLPE DE 1964 FOI BEM CONTADA PELO MARIO LAGO NO SEU FAMOSO LIVRO "BAGAÇO DE BEIRA-ESTRADA".
ResponderExcluirNÃO HÁ COMO NÃO TOMAR NOJO DELE E DE TODA HISTÓRIA POIS É NA HORA DA CRISE QUE SE REVELAM OS CANALHAS,
Obrigado por seu comentário. Eu relato também com mais detalhes em meu livro A Era do Radioteatro. E conheci pessoalmente vários artistas que foram delatados. Foi tudo muito triste!
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