domingo, 22 de outubro de 2017

LEMBRANÇAS DA ERA DO RÁDIO

VELHO RÁDIO: MARCO EM MUITAS VIDAS.

Rádio dos anos 40: companheiro das familias



O autor deste blog começou a trabalhar em rádio aos 14 anos de idade.

Roberto Salvador aos 14 anos.



 Eu era apaixonado pelo veículo. Minha mãe contava que quando tinha pouco mais de 4 anos, ficava atrás da porta da sala e " fazia"  meus programas de rádio. Repetia do meu jeito  os "slogans" dos locutores. Cantava os jingles que anunciavam os produtos. Entoava os prefixos musicais dos programas, imitava cantores e cantoras e tentava reproduzir os instrumentos das orquestras. Eu era tudo na minha estação de rádio de mentirinha.

 Não podia dar em outra coisa: ainda adolescente  me tornei radialista!
 Formado em professor dez anos mais tarde, dediquei-me ao rádio e à televisão educativa.
 Hoje 65 anos após minha estreia no Clube Juvenil Toddy da Rádio Nacional, aqui estou mantendo este blog, tentando contribuir para a preservação da memória desse extraordinário veículo, que dos anos 30 aos 60 dominou a comunicação de massa em nosso imenso  país.
Rádio dos anos 40: 
válvulas e transformadores: um mundo na ponta dos dedos


O velho rádio foi para muita gente um marco em suas vidas. Algo que se mantém na memória dessas pessoas de maneira viva, indelével, que toca o coração e alma.

Pois bem; por que falo dessas coisas? Porque recebi de uma leitora um texto muito interessante, com o qual muitos de vocês que nos acompanham, se identificarão.
Pedi licença à autora para incluí-lo no blog e ilustrá-lo com fotos da época que tive o carinho de pesquisar.

Vamos ao texto de Marice Prisco.

LEMBRANÇAS DA ERA DO RÁDIO
    

Resolvi arrumar o quartinho da bagunça, quando remexendo uma velha caixa com guardados antigos, encontrei um velho radinho de pilhas que foi de meu pai. 

Rádio-transistor Spica  movido a pilhas:
 liberdade para ouvir em qualquer lugar



Senti uma doce lembrança ao recordar de papai e o quanto ele gostava de ouvir rádio! Lembrei também do nosso velho " rabo quente", era assim que chamavam aquela caixa que unia sons e pessoas e esquentava muito após certo tempo ligado e era movido ás vezes a soco para voltar a funcionar. Isso nos irritava pois quando estava no melhor  da novela ou outro programa qualquer, o rádio parava! Isso acontecia quando  ouvíamos a PRK-30 na Nacional e depois na Tupi, que ele adorava escutar, ou quando estava assistindo  na Nacional o programa de Manuel Barcelos que exaltava a Rainha do Rádio e a queridinha do meu pai Marlene. E o rádio ficava mudo! 

Livro que conta a história da famosa PRK-30.



 Comentava-se que Marlene  tinha uma richa, dizem que de mentirinha, com Emilinha Borba, a Favorita da Marinha. Tudo fazia parte! 

Marlene rainha do Rádio graças ao Guaraná Antarctica,
 que comprou todos votos necessários  à sua eleição.



Emilinha perdeu o reinado para Marlene.
Surgiu  daí uma falsa rivalidade alimentada pela publicidade.




Para o público rivais. Nos bastidores, amigas.


Minha mamãe era fã do César de Alencar.  Ainda bem que os programas eram em dias diferentes e os fãs podiam assistir e se digladiarem a vontade. 

Cesar de Alencar recebia a Favorita da Marinha e outros astros como " El broto"  Francisco Carlos

Carlos Galhardo cantava valsas e canções românticas



Silvio Caldas era o "Caboclinho Querido".
 "Chão de Estrelas"  foi seu grande sucesso

Dalva de Oliveira cantava na Tupi e na Nacional.
Também foi Rainha do Rádio.

O rádio com seus chiados, não se conseguia ouvir mais nada, parecia que ele, o rádio , havia engolido uma gralha!  Mamãe e papai a torcerem por suas favoritas provocavam em minha casa, uma certa briguinha, depois voltava tudo ao normal!

Rádio: agregador das famílias.


Rádio-transístor nos anos 50: 
 mobilidade e  enorme avanço para os ouvintes

Bons tempos aqueles! Nós ficávamos  na sala, em frente ao rádio, que ficava em cima da cristaleira, o móvel mais alto da sala para ouvir as agruras de "mamãe Dolores", na novela " O Direito de Nascer", uma novela que é lembrada até hoje e ficou famosa com o personagem de Albertinho Limonta, vivido por Paulo Gracindo no rádio e por Amilton Fernandes, na versão televisiva nos anos 60. 
O galã Paulo Gracindo também interpretava personagens cômicos.
Lembram-se do Primo-Rico?

Personagens da versão televisiva de O direito de nascer



Isaura Bruno (Mamãe Dolores) Amilton Fernandes (Alberto Limonta)

 Sempre que chegava em casa depois do trabalho, papai ligava o rádio para ouvir a novela ¨Jeronimo, o Herói do Sertão"às 18 e trinta e cinco. Antes, às 18 e 25 entrava no ar As aventuras do Anjo com Álvaro Aguiar. Depois vinha a Hora do Brasil, para saber o que se passava no governo, Brasil a fora. 
Campeão de audiência,Jerônimo foi a primeira novela para homens,escrita por Moisés Weltman

Virou também revista em quadrinhos


Milton Rangel era o Jerônimo.


Cahué Filho era o negrinho Moleque Saci, auxiliar de Jerônimo.


Dulce Martins era Aninha, a noiva de Jerônimo.
 Mas nunca se casaram. 
A seu lado o ator Álvaro Aguiar que interpretava O detetive Anjo  outro seriado.

Álvaro Aguiar: O detetive Anjo

Presidente Vargas criou a Hora do Brasil, 
durante a ditadura do Estado Novo

Depois veio a Voz do Brasil :
 desespero dos donos das emissoras e alegria da classe política.


Também era gostoso de ver as pessoas acompanharem os jogos de futebol, mesmo depois do advento da TV, onde se via a imagem e ouvia a narração pela rádio.
 A Rádio Globo era famosa por seus narradores esportivos. 
Jorge Curi e Waldir Amaral, 
narradores esportivos da Globo



Oduvaldo Cozzi:
talento para narrar com elegância e lirismo partidas de futebol


Ary Barroso, além de grande compositor,(Aquarela do Brasil),
 narrava futebol e animava programa de calouros



Papai acompanhava o jogo dessa maneira, era América doente, e ficava torcendo feito louco quando seu time jogava!
Escudo do América Futebol Clube

   Depois, quando veio o radinho de pilha, ele ficava comentando
 o quanto seria bom, ouvir as notícias, os jogos e principalmente as corridas de cavalos do Jockey Club que ele tanto apreciava e fazia uma fezinha vez em quando, andando pela casa ou no quintal sem ninguém perturbando!
Teófilo de Vasconcelos:
 a grande velocidade, narrava corrida dos cavalos pela Rádio Jornal dos Brasil

Então eu e o mano, que a essas alturas já trabalhávamos, presenteamos ele com um radinho, esse que encontrei na caixa dos guardados e que me trouxe tantas recordações! Vocês não imaginam a alegria dele quando recebeu o radinho. Andava para lá e para cá com o radinho colado ao ouvido ouvindo o futebol ou outras notícias.    
  Quando o rádio anunciava pelas manhãs " Radio Globooooo", que ele ouvia no " rabo quente" e adorava, isso já mais para os anos oitenta., ele curtia. Meu pai  era fã do programa do José Carlos Araújo, O Garotinho, apresentando futebol,  notícias e variedades. E  nós tínhamos que querendo ou não, acompanhar, mas era interessante!
José Carlos Araujo


Narrando a Copa do Mundo no México em 1970



O Garotinho hoje.


Hoje existe a TV, as rádios FM  e outras mídias, dando notícias a cada minuto e música variada. 

Mas ainda existe um programa que gosto de ouvir do amigo Gerdal dos Santos que tanto divulga a Cultura, as Academias, seus escritores, cantores e artistas plásticos e permanece no ar há mais de 20 anos. 

O autor do blog com Gerdal dos Santos em seu programa na Nacional.
Ao centro Eládio Nunes.

Tem também a querida amiga Arleni Batista, com seu programa "Encontro Marcado com a Cultura", na BAND, onde entrevista Poetas, Escritores, Cantores e Artistas Plásticos, dando visibilidade às Artes em geral.  E não posso esquecer do jornalista  Carlos Alberto,  que também dá a maior força aos artistas em geral, divulgando seus trabalhos e suas artes em seu programa. 

Roberto, o autor do blog, Osmar Frazão e outros colegas no programa de Carlos Alberto ao centro de camisa vermelha.


Bem, eu poderia citar aqui outros tantos programas de rádio que eu e meu pai ouvíamos e admirávamos mas se tornaria um livro, portanto, termino dizendo  que hoje o radinho de pilha parece  ultrapassado, porém  muitos ouvintes se utilizam dele. 

Vivemos os tempos do  Iphone, do rádio no celular, das rádios Web  na Internet e aplicativos  onde você baixa músicas e ouve os programas que, quando quer e em qualquer lugar do planeta. 
 O rádio de válvulas, o velho " rabo quente" ficou para trás. 
Mas ficou  um gostinho de " dejá vu" desse tempo.
Ou será saudades de papai?

Marice Prisco


Gostou de nosso blog? Mande perguntas e sugestões.


Quero preservar a memória do velho rádio


Quer saber mais? Leia nosso livro!
Abraços e até a próxima!








2 comentários:

  1. Eu me lembramos de quando criança meu pai tinha um radio marca sempre que funcionava com uma pilha grande que durava 6 meses, tinha uma tomada na pilha. Será que alguém tem a foto da tal pilha?

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  2. Lindas recordações! Obrigado pelo comentário!

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