segunda-feira, 18 de setembro de 2017

NOVENTA E CINCO ANOS DA PRIMEIRA TRANSMISSÃO DE RÁDIO






Edgard Roquette-Pinto: sábio, idealista e grande brasileiro.



EDGARD ROQUETTE-PINTO,

UM SÁBIO. 

UM GRANDE BRASILEIRO.

Ao visitarmos 7 de Setembro de  1922, ano  da primeira transmissão radiofônica ,não podemos falar dos 95 anos do rádio no Brasil, sem lembrar a figura de seu fundador. Mestre Roquette não foi apenas o pioneiro que trouxe o rádio para o nosso país, mas também por ser quem percebeu o valor da nova tecnologia para desenvolver a cultura e a educação.
Tanto assim que, ao escrever: "pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil", estava lançando um lema que nortearia todas as suas ações ao lidar com o novo veículo. Era com esta frase que as transmissões da emissora que criou entravam e saiam do ar.

QUEM FOI ROQUETTE-PINTO

Foi  médico, antropólogo e educador,  nascido no Rio de Janeiro, fez de tudo. Porém o mais marcante foi ser o pioneiro da radiofonia e da televisão no Brasil. 
Era filho de Manuel Menelio Pinto e Josefina Roquette-Pinto Carneiro de Mendonça, graduou-se em medicina  em 1905 pela Faculdade Nacional de Medicina.
O jovem Roquette-Pinto aos 28 anos com os índios nhambiquaras.




 Rondon e sua expedição  em 1912. Foto feita por Roquette.




 Um de seus primeiros trabalhos, quando ainda muito jovem com 28 anos e 7 de formado, foi embrenhar-se pelo interior do Brasil e juntamente com outro grande pioneiro, o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon quando filmou os índios nhambiquaras. Seria a famosa Missão Rondon . Ainda hoje há registros de fotos e filmes desse importante trabalho cientifico.
 Também realizou estudos sobre os sambaquis, depósitos arqueológicos no litoral do Rio Grande do Sul e ensinou história natural na Escola Normal do Rio de Janeiro em 1916 e fisiologia na Universidade Nacional do Paraguai em 1920. Homem empreendedor e de múltiplas atividades, interessou-se pelo progresso tecnológico dos meios de comunicação de massa.

OLHA O RÁDIO NASCENDO NO BRASIL!

No ano em que se comemorou o I Centenário da Independência do Brasil, 1922, ocorreu no Rio de Janeiro, por ser, na época, a capital federal, uma grande feira internacional, que recebeu industriais e empreendedores do mundo inteiro. Foi no novo centro da cidade, no que hoje é a Esplanada do Castelo, parte aterrada da baia de Guanabara, produto do desmonte do morro do Castelo.



Instalações da Exposição do Centenário da Independência. Pela  posição do Pão de Açúcar, tente localizá-la nos dias de hoje no Centro da cidade.

                    Vista aérea do Centro do Rio de Janeiro em 1922.


 Veio gente do mundo todo, inclusive  visitas de empresários americanos trazendo uma nova tecnologia de radiodifusão para demonstrar na feira, que nesta época era o assunto principal nos Estados Unidos. Era o rádio tentando conquistar seu espaço. E assim o Brasil conheceu, em 1922, o rádio, no mesmo momento em que ele era apresentado ao mundo.



 Estação de telefonia no alto do Corcovado, ainda sem a estátua do Cristo Redentor, aproveitada para a primeira transmissão  de rádio em Setembro de 1922.


Obras de instalação da Rádio Sociedade: Mestre Roquette supervisiona.


Para testar esse   novo e extraordinário  meio de comunicação, os americanos instalaram uma antena no pico do morro do Corcovado (onde atualmente é o Cristo Redentor). Os equipamentos eram transmissores Westinghouse e General Electric . 

                         Presidente Epitácio Pessoa e Roquette.


A primeira transmissão radiofônica no Brasil foi um discurso do presidente Epitácio Pessoa, que foi captado em Niterói, Petrópolis e em toda a  serra fluminense, além  São Paulo, onde foram instalados aparelhos receptores. A reação de Roquette-Pinto a essa tecnologia foi: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo’.

Depois da primeira transmissão no Brasil,  Roquette-Pinto tentou convencer o Governo Federal a comprar os equipamentos apresentados na Feira Internacional.

Noticia na imprensa.
Academia Brasileira de Ciências: sede da Rádio Sociedade.





 Rádio Sociedade do Rio de Janeiro:
 reunião dos pioneiros da radiofonia brasileira.





O cientista Henrique Morize:  grande colaborador de Roquette-Pinto.


Para o bem da comunicação do Brasil ele  não desistiu, e conseguiu convencer a Academia Brasileira de Ciências a comprar os equipamentos. Foi  assim criada a primeira rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1922, e dirigida por Roquette-Pinto - atual Rádio MEC.
A esse empreendimento juntaram-se  outros colegas também cientistas, entre eles  Henrique Morize.
O nome Rádio Sociedade surgiu porque aqueles jovens se cotizavam e contribuíam mensalmente com recursos  para manter a emissora funcionando.
O grupo de professores, além do dinheiro que davam, fazia de tudo na programação da emissora. Convidados liam   poesias e se podiam ouvir recitais  de piano, violão e canto. Os discos tocados na programação    eram de propriedade dos próprios cientistas. Assim  realizavam o seu interessante e pioneiro trabalho.

Outra foto da equipe que fundou a primeira estação de rádio do Brasil






                                  No ar, Beatriz Roquette-Pinto, a filha:
                      uma das primeiras locutoras de rádio do Brasil 


O próprio Roquette, líder do grupo, todas manhãs ia para o microfone e  lia os jornais do dia e comentava as notícias. Como era um homem de boa voz e profundos conhecimentos, sempre tinha algo interessante a acrescentar àquele fato do cotidiano carioca.


Mestre Roquette apresenta o Jornal da Manhã:
 noticias do cotidiano e comentários inteligentes.




                                            Foto histórica:
        grupo de cientistas na Academia Brasileira de Ciências funda a                               Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923.


 Chamava-se Jornal da Manhã. No radiojornalismo atual pode-se   facilmente perceber o toque de mestre Roquette-Pinto. Entre 1923 e 1936 as coisas se passavam assim. Mas o grupo de idealistas enfrentava sérias dificuldades financeiras para manter a Rádio Sociedade. Depois de muito relutar, o grupo sempre liderado por Roquette não teve alternativa se não legar a emissora ao governo.  A emissora foi  então doada ao governo federal e transformada na Rádio Ministério da Educação em 1936.  Em emocionante solenidade, no momento da entrega ao governo,  Edgard Roquette-Pinto declarou em seu discurso: “me sinto como o pai da noiva que a leva ao altar e a entrega ao noivo”.

Antes disso Roquette tornara-se diretor da Faculdade Nacional de Medicina em 1926 e seria eleito  para a cadeira de nº 17 da Academia Brasileira de Letras no ano seguinte, na sucessão de Osório Duque-Estrada e foi recebido no dia 3 de março de 1928 pelo acadêmico Aloísio de Castro.
 Roquette não parava. Dedicou-se também a Eugenia tanto que viria a presidir o I Congresso Brasileiro de Eugenia em 1929. Porém fato curiosamente importante foi que já  em 1929 participou  das primeiras demonstrações    televisivas no Brasil! 

Ele se mantinha antenado (sem trocadilhos) com os fatos científicos mundiais. O rádio surgiu no Brasil enquanto despontava  no resto do mundo.
Edgard Roquette-Pinto, educador nato, fundaria em 1934  a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, depois Rádio Roquette-Pinto. 


   Emissora fundada por Roquette como Rádio Escola do Rio de Janeiro      para fins educativos,  transmitindo em AM.  O AM foi desativado e hoje                         só funciona o FM com programação musical.


Deslumbrou as potencialidades educativas do cinema e fundou com outro pioneiro, Humberto Mauro, em 1937 o Instituto Nacional do Cinema Educativo, que dirigiu.

Humberto Mauro: pioneirismo no cinema brasileiro


Sempre viveu na cidade do Rio de Janeiro, cidade onde também faleceu Em meio a tudo o que fazia, ainda escrevia  e em sua obra  destacam-se Guia de antropologia em 1915, Ensaios de antropologia brasileira de 1933, Samambaia de 1934 e Rondonia.




Alguns livros escritos por Roquette-Pinto



Sempre conectado com cientistas de todo o mundo, recebeu a visita de Einstein no Rio de Janeiro



Roquete e intelectuais da época:Manuel Bandeira (terceiro da esquerda para a direita em pé).Alceu Amoroso Lima (quinta posição), Dom  Hélder Câmara (sétima posição),Sentados: Lourenço Filho, Roquette de branco e Gustavo Capanema.







Roquette-Pinto também foi radioamador e participou de várias associações da categoria, como a Liga dos Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (LABRE). Em 1937 sua estação detinha o indicativo SB1








Eis ai um pouco da história  deste grande brasileiro. O mês de Setembro é considerado o mês do Rádio. Se não vejamos: em  12 de Setembro de  1936 foi inaugurada a Rádio Nacional. Vinte e cinco  de Setembro de 1935 é a data de inauguração da Rádio Tupi do Rio.Ainda em 25 de Setembro se comemora o nascimento de Roquette-Pinto. São portanto 81 anos de Rádio Nacional, 82 de Tupi e 133 anos de mestre Roquette. Ele tinha 38 anos quando viu  a importância do invento de Marconi para o futuro da sociedade brasileira. Vislumbrou  o rádio não apenas como uma diversão, mas um poderoso instrumento em favor da educação e da cultura. E além de tudo, encarava o rádio de forma nobre e especial, como podemos constatar por esta sua afirmação.

“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com o espírito altruísta e elevado.” 

Obrigado, amigos! Mandem suas opiniões sobre este blog. Queremos divulgar a história do nosso rádio! Conto com vocês!


Quer saber mais? Leia o livro A Era do Radioteatro.




ATE BREVE!







Um comentário:

  1. Bravo!!!
    Sou estudante de Jornalismo. Minha primeira faculdade aos 64 anos.
    Muito agradecida por encontrar estas preciosas informações, do pai do radio brasileiro, o genial Roquette Pinto.
    Abraços,
    Rita Valente.

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