terça-feira, 28 de março de 2017

A MULHER E O RÁDIO

Roberto Salvador

MULHERES E  RÁDIO
 Que tal recordar   alguns  personagens femininos nas novelas? Vamos esquecer as   mulheres  boazinhas  como  a Irmã Sóror Helena da   Caridade , vivida por Isis de Oliveira em O Direito de Nascer. Vamos falar das mulheres más. Aquelas megeras que os  ouvintes  odiavam e que propiciaram  fatos curiosos que entraram para o folclore do rádio e que eu agora divido com vocês.

                                        Isis de Oliveira: 
                     grandes emoções apenas pela voz

MULHERES MÁS DAS RADIONOVELAS QUE O PUBLICO ODIOU.

Falaremos agora de Henriqueta Brieba. Ela fez uma peça de teatro com enorme sucesso chamada   Por falta de roupa nova passei o ferro na velha quando já estava com quase  90 anos!  Pois bem, no final dos anos 40 no rádio,  interpreta uma mulher muito má. De tantas  maldades que fez com  a personagem vivida por  Ismênia dos Santos, acaba, no derradeiro capítulo, louca, vagando pelas ruas e servindo de galhofa para os moleques e júbilo dos ouvintes.

Henriqueta Brieba: 
inicio como atriz de teatro, emocionou no rádio e na televisão.

Henrique Brieba:
 atuação  na tevê até seus últimos dias


Pois uma tarde, Henriqueta recebe recado para retirar no serviço de correspondência da Nacional uma enorme caixa de papelão que havia chegado pelo correio.Feliz da vida, imaginando um presente que uma ardorosa fã lhe havia mandado.Ao abrir a caixa, na frente dos funcionários, o que viu foi uma grossa corda de uns 2 metros, e um bilhete que dizia:
“Esta corda é para você se enforcar, para pagar as maldades que fez na novela, sua megera”!
Esta história me foi contada por Daisy Lúcidi.

Daisy Lúcide  inicio na Nacional ...



...onde atua até hoje com o mesmo brilho.


QUERENDO QUEBRAR A CARA DOS ATORES!
Certa vez a excelente atriz Elza Gomes, que vivia um papel de megera numa novela da Nacional, quase foi agredida numa feira por uma fã revoltada com suas maldades.


QUAL DE VOCÊS É A GENOVEVA? QUERO ACABAR COM ELA!
Carmem Sheila começou na Nacional  menina. 
Hoje grande dubladora



A grande  Elza Gomes: inicio no teatro...




...vitoriosa no teatro e cinema...




...brilho no rádio e na televisão...
.
... era casada com o ator André Villon. Felizes por mais de 40 anos.


Carmen Sheila me contou a seguinte história. Houve nos anos 50 uma novela na Nacional escrita por Amaral Gurgel. Chamava-se a Menina da saudade e se passava no interior de uma fazenda no tempo da escravidão. O senhor do engenho, homem rico e poderoso,amiúde escolhia uma negrinha filha de escravos para transar. Eis que uma delas engravida.Nasce, então, uma menina que cresce e se transforma numa linda mulata, de feições finas e olhos esverdeados. Por outro lado, o dono da fazenda tem também uma filha com a esposa. Sendo a filha branca um pouco mais nova que a mulatinha. A fim de manter esta sempre por perto da casa grande, o dono reserva à negrinha a missão de ajudar a tomar conta da filha legítima. As duas crescem e brincam juntas. Ocorre que a branca, Genoveva era seu nome, era feia que nem a necessidade, contrastando com a beleza da mulatinha. Por inveja e despeito Genoveva está sempre fazendo maldades com a mulatinha, sem que esta possa se defender dada a enorme distância social. Os ouvintes tomam as dores da mulatinha e passam a ter ódio de morte por Genoveva.  Cartas e cartas chegam à emissora condenando a jovem megera e assumindo as dores da indefesa mulatinha. A novela seguia outras vertentes, mas a história das duas meninas, que fora concebida por Gurgel para ser uma história  secundária, repercutiu tanto, que superou o interesse da linha mestra da radionovela.
Numa tarde, uma ouvinte revoltada,  invade a sala de ensaios com a intenção de  agredir  a jovem atriz que interpretava a Genoveva. E dirigindo-se para as duas jovens atrizes, que estavam sentadas lada a lado segurando seus roteiros exclama: Qual de vocês é a Genoveva? Quero quebrar a cara dela!.Sorte das duas, que a ouvinte não pode concretizar o ato, impedida que foi por outros artistas.

OUTRA TENTATIVA DE AGRESSÃO!

Rodolfo Mayer :
 ódios e amores onde atuou, quer fosse no cinema, teatro,rádio ou televisão



                                     Saint Clair Lopes: 
                       odiado em O Direito de Nascer.

Certa vez Rodolfo Mayer quase foi agredido por um grupo de ouvintes. Elas não aceitavam ver o personagem interpretado por ele,um homem sem escrúpulos,que engravidara uma jovem (Iara Sales), omitindo que era casado com uma senhora decente (Zezé Fonseca). O pequeno grupo ludibriou a segurança e partiu para cima do Rodolfo ofendendo-o. Eu e outros companheiros entramos no meio e tiramos o Rodolfo do sufoco. Contou Floriano Faissal em depoimento ao Museu da Imagem e do Som.
Saint-Clair Lopes foi outro que recebeu ameaças por carta e pessoalmente, ao interpretar uma peste chamada Manuel Justino na novela Renúncia,sucesso que ia ao ar às 9 da noite nos anos 40.

MAIS ÓDIO NA VIDA REAL.

Fui encontrar no número  484 da Revista do Rádio de 27.12.1958 uma curiosa reportagem sobre a excelente atriz  Ida Gomes  tendo como título “Por que você não morre”?
Ida Gomes foi para a Tupi ainda mocinha, com um contrato provisório fazer o papel de Lucrecia  Bórgia . A atuação de Ida Gomes despertou nos ouvintes um ódio tão grande  pela célebre envenenadora italiana que Olavo de Barros contratou-a imediatamente, pois a considerou “uma cínica perfeita”.
            Ida Gomes: "por que você não morre"?




Ida Gomes, foi um das Irmãs Cajazeiras.
 Lembra-se?


-A partir de então  dediquei-me a este tipo de papel,  declara Ida à Revista do Rádio.
Ela faria depois dezenas de outras novelas na rádio Tupi, sempre encarnando o papel de vilã.
“Maria e outras mulheres”, como Maria Olímpia;  “Uma consciência atormentada”,como Branca.
Em “Corações amargurados”, Ida  era Eva, uma espiã nazista.
-Uma vez, quando fazia  “A Ciganinha” em que eu martirizava a mocinha, terminado o capítulo uma ouvinte telefonou-me indignada e disse: ‘Por que você não morre’? E desligou  imediatamente.”
Ida Gomes conclui sorrindo:
-Como vê, sei perfeitamente que o público não morre de amores por mim, quando interpreto esses tipos, mas eu não me importo com isso. Sinto-me feliz por poder dar às personagens o realismo que elas exigem.

NAIR AMORIM, ATRIZ SANTA.
Na Rádio Tupi havia uma jovem atriz de voz meiga e suave que só fazia papéis de boazinha. Era Nair Amorim que me confessou em depoimento:
Meu grande sonho é era um dia fazer papel de megera numa novela. Mas jamais consegui.
Com efeito Nair foi a maior intérprete de Nossa Senhora e santas que o rádio conheceu na série Novela Religiosa da Rádio Tamoio nos anos 50... Atua em rádio e dublagem até hoje.



ATRIZ MORRE CARBONIZADA EM CASA:
 A VIDA IMITA A NOVELA.

Uma excelente radioatriz que  costumava também fazer papéis de malvada foi Zezé Fonseca, atuando com grande brilho tanto na Tupi quanto na Nacional.
Infelizmente a partir de um determinado momento de sua vida Zezé começou a beber exageradamente, entrando num lamentável processo de autodestruição.

Luís Manuel me contou que nos anos 50, quando muito menino  participava de uma novela às três horas da tarde escrita por Mário Lago intitulada O amor conhece os caminhos. Na trama ele era órfão e tinha como madrasta uma  megera interpretada por Zezé Fonseca. Os ouvintes se condoíam das maldades que o pobre menino sofria da madrasta. No último capítulo, uma tragédia e a malvada recebe seu castigo ao morrer queimada em um incêndio em sua própria casa. Os atores ensaiaram o capítulo sem que Zezé chegasse. Faltavam minutos para a novela entrar no ar e aparece a atriz, cambaleando pelo corredor que dava acesso ao estúdio.Já havia uma atriz substituta pronta para assumir o papel de Zezé, mas esta, arrancando o script de suas mãos e disse categórica: deixa que eu faço!


    O cantor Orlando Silva e a atriz Zezé Fonseca eram                 casados na vida real: vida conturbada.


Vejamos o relato do próprio Luís Manuel:
Ela nem havia ensaiado. Tomou o papel com todas as marcações e a novela entrou no ar.Quando olhei para a Técnica (onde ficavam os operadores atrás do vidro),vi alguns atores que se esgueiravam, só para ver o que iria sair dali.Pois Zezé deu um show de interpretação,sem vacilo, sem erro. Na cena final eu contracenava com a madrasta e após umas peripécias há um incêndio na casa e a megera morre queimada, para gáudio dos ouvintes.Ai vem a ironia da vida. Dia seguinte, não é que há um incêndio no apartamento de Zezé e ela morre carbonizada?
Zezé Fonseca só era má nas novelas. Na vida real era uma grande pessoa e boa colega.Mas a bebida levou-a a um fim trágico. Talvez tenha adormecido com o cigarro aceso.
 Muito culta, possuía bastantes livros colecionava jornais e revistas. Tudo material que alimentou o incêndio não dando chance  à grande artista.

Zezé Fonseca: lindo sorriso na vida real, mas só fazia papel de malévola

Certa parcela do  público costuma confundir a figura humana do ator com o personagem que ele interpreta. Assim como cria empatia ou simpatia por uns, antipatiza com outros. Confunde, em última analise, personagem com  persona
Eis  a magia da arte, capaz de difundir alegria ou tristeza, amor ou ódio.
ROBERTO SALVADOR

Amigo que me acompanha neste blog: Preciso ouvir você. Mande sugestões  e opiniões. Este trabalho de pesquisa que faço sobre o nosso rádio será mais importante se contar com sua participação. Grande abraço!

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