Roberto Salvador
MULHERES E RÁDIO
Que tal recordar alguns
personagens femininos nas novelas?
Vamos esquecer as mulheres boazinhas
como a Irmã Sóror Helena da Caridade , vivida por Isis de Oliveira em O
Direito de Nascer. Vamos falar das mulheres más. Aquelas megeras que os ouvintes
odiavam e que propiciaram fatos
curiosos que entraram para o folclore do rádio e que eu agora divido com vocês.
Isis de Oliveira:
grandes emoções apenas pela voz
grandes emoções apenas pela voz
MULHERES MÁS DAS RADIONOVELAS QUE O PUBLICO ODIOU.
Falaremos agora de Henriqueta
Brieba. Ela fez uma peça de teatro com enorme sucesso chamada Por falta de roupa nova passei o ferro na
velha quando já estava com quase 90
anos! Pois bem, no final dos anos 40 no
rádio, interpreta uma mulher muito má.
De tantas maldades que fez com a personagem vivida por Ismênia dos Santos, acaba, no derradeiro
capítulo, louca, vagando pelas ruas e servindo de galhofa para os moleques e júbilo
dos ouvintes.
Henriqueta Brieba:
inicio como atriz de teatro, emocionou no rádio e na televisão.
Henrique Brieba:
atuação na tevê até seus últimos dias
Pois uma tarde, Henriqueta recebe recado para retirar no
serviço de correspondência da Nacional uma enorme caixa de papelão que havia
chegado pelo correio.Feliz da vida, imaginando um presente que uma ardorosa fã
lhe havia mandado.Ao abrir a caixa, na frente dos funcionários, o que viu foi
uma grossa corda de uns 2 metros, e um bilhete que dizia:
“Esta corda é para você se enforcar, para pagar as maldades
que fez na novela, sua megera”!
Esta história me foi contada por Daisy Lúcidi.
Daisy Lúcide inicio na Nacional ...
...onde atua até hoje com o mesmo brilho.
QUERENDO QUEBRAR A CARA DOS ATORES!
Certa vez a excelente atriz Elza Gomes, que vivia um papel
de megera numa novela da Nacional, quase foi agredida numa feira por uma fã
revoltada com suas maldades.
QUAL DE VOCÊS É A GENOVEVA? QUERO ACABAR COM ELA!
Carmem Sheila começou na Nacional menina.
Hoje grande dubladora
A grande Elza Gomes: inicio no teatro...
...vitoriosa no teatro e cinema...
...brilho no rádio e na televisão...
.
... era casada com o ator André Villon. Felizes por mais de 40 anos.
Carmen Sheila me contou a seguinte história. Houve nos anos
50 uma novela na Nacional escrita por Amaral Gurgel. Chamava-se a Menina da
saudade e se passava no interior de uma fazenda no tempo da escravidão. O
senhor do engenho, homem rico e poderoso,amiúde escolhia uma negrinha filha de escravos
para transar. Eis que uma delas engravida.Nasce, então, uma menina que cresce e
se transforma numa linda mulata, de feições finas e olhos esverdeados. Por
outro lado, o dono da fazenda tem também uma filha com a esposa. Sendo a filha
branca um pouco mais nova que a mulatinha. A fim de manter esta sempre por
perto da casa grande, o dono reserva à negrinha a missão de ajudar a tomar
conta da filha legítima. As duas crescem e brincam juntas. Ocorre que a branca,
Genoveva era seu nome, era feia que nem a necessidade, contrastando com a
beleza da mulatinha. Por inveja e despeito Genoveva está sempre fazendo
maldades com a mulatinha, sem que esta possa se defender dada a enorme
distância social. Os ouvintes tomam as dores da mulatinha e passam a ter ódio de
morte por Genoveva. Cartas e cartas
chegam à emissora condenando a jovem megera e assumindo as dores da indefesa
mulatinha. A novela seguia outras vertentes, mas a história das duas meninas,
que fora concebida por Gurgel para ser uma história secundária, repercutiu tanto, que superou o
interesse da linha mestra da radionovela.
Numa tarde, uma ouvinte revoltada, invade a sala de ensaios com a intenção
de agredir a jovem atriz que interpretava a Genoveva. E
dirigindo-se para as duas jovens atrizes, que estavam sentadas lada a lado
segurando seus roteiros exclama: Qual de vocês é a Genoveva? Quero quebrar a
cara dela!.Sorte das duas, que a ouvinte não pode concretizar o ato, impedida
que foi por outros artistas.
OUTRA TENTATIVA DE AGRESSÃO!
Rodolfo Mayer :
ódios e amores onde atuou, quer fosse no cinema, teatro,rádio ou televisão
Saint Clair Lopes:
odiado em O Direito de Nascer.
odiado em O Direito de Nascer.
Certa vez Rodolfo Mayer quase foi agredido por um grupo de
ouvintes. Elas não aceitavam ver o personagem interpretado por ele,um homem sem
escrúpulos,que engravidara uma jovem (Iara Sales), omitindo que era casado com
uma senhora decente (Zezé Fonseca). O pequeno grupo ludibriou a segurança e
partiu para cima do Rodolfo ofendendo-o. Eu e outros companheiros entramos no
meio e tiramos o Rodolfo do sufoco. Contou Floriano Faissal em depoimento ao
Museu da Imagem e do Som.
Saint-Clair Lopes foi outro que recebeu ameaças por carta e
pessoalmente, ao interpretar uma peste chamada Manuel Justino na novela
Renúncia,sucesso que ia ao ar às 9 da noite nos anos 40.
MAIS ÓDIO NA VIDA REAL.
Fui encontrar no número
484 da Revista do Rádio de 27.12.1958 uma curiosa reportagem sobre a
excelente atriz Ida Gomes tendo como título “Por que você não morre”?
Ida Gomes foi para a Tupi ainda mocinha, com um contrato
provisório fazer o papel de Lucrecia
Bórgia . A atuação de Ida Gomes despertou nos ouvintes um ódio tão
grande pela célebre envenenadora
italiana que Olavo de Barros contratou-a imediatamente, pois a considerou “uma
cínica perfeita”.
Ida Gomes: "por que você não morre"?
Ida Gomes, foi um das Irmãs Cajazeiras.
Lembra-se?
-A partir de então
dediquei-me a este tipo de papel,
declara Ida à Revista do Rádio.
Ela faria depois dezenas de outras novelas na rádio Tupi,
sempre encarnando o papel de vilã.
“Maria e outras mulheres”, como Maria Olímpia; “Uma consciência atormentada”,como Branca.
Em “Corações amargurados”, Ida era Eva, uma espiã nazista.
-Uma vez, quando fazia
“A Ciganinha” em que eu martirizava a mocinha, terminado o capítulo uma
ouvinte telefonou-me indignada e disse: ‘Por que você não morre’? E
desligou imediatamente.”
Ida Gomes conclui sorrindo:
-Como vê, sei perfeitamente que o público não morre de
amores por mim, quando interpreto esses tipos, mas eu não me importo com isso.
Sinto-me feliz por poder dar às personagens o realismo que elas exigem.
NAIR AMORIM, ATRIZ SANTA.
Na Rádio Tupi havia uma jovem atriz de voz meiga e suave que
só fazia papéis de boazinha. Era Nair Amorim que me confessou em depoimento:
Meu grande sonho é era um dia fazer papel de megera numa
novela. Mas jamais consegui.
Com efeito Nair foi a maior intérprete de Nossa Senhora e
santas que o rádio conheceu na série Novela Religiosa da Rádio Tamoio nos anos 50... Atua em rádio e dublagem até hoje.
ATRIZ MORRE CARBONIZADA EM CASA:
A VIDA IMITA A NOVELA.
A VIDA IMITA A NOVELA.
Uma excelente radioatriz que
costumava também fazer papéis de malvada foi Zezé Fonseca, atuando com
grande brilho tanto na Tupi quanto na Nacional.
Infelizmente a partir de um determinado momento de sua vida
Zezé começou a beber exageradamente, entrando num lamentável processo de
autodestruição.
Luís Manuel me contou que nos anos 50, quando muito
menino participava de uma novela às três
horas da tarde escrita por Mário Lago intitulada O amor conhece os caminhos. Na
trama ele era órfão e tinha como madrasta uma
megera interpretada por Zezé Fonseca. Os ouvintes se condoíam das
maldades que o pobre menino sofria da madrasta. No último capítulo, uma
tragédia e a malvada recebe seu castigo ao morrer queimada em um incêndio em
sua própria casa. Os atores ensaiaram o capítulo sem que Zezé chegasse.
Faltavam minutos para a novela entrar no ar e aparece a atriz, cambaleando pelo
corredor que dava acesso ao estúdio.Já havia uma atriz substituta pronta para
assumir o papel de Zezé, mas esta, arrancando o script de suas mãos e disse
categórica: deixa que eu faço!
O cantor Orlando Silva e a atriz Zezé Fonseca eram casados na vida real: vida conturbada.
Vejamos o relato do próprio Luís Manuel:
Ela nem havia ensaiado. Tomou o papel com todas as marcações
e a novela entrou no ar.Quando olhei para a Técnica (onde ficavam os operadores
atrás do vidro),vi alguns atores que se esgueiravam, só para ver o que iria
sair dali.Pois Zezé deu um show de interpretação,sem vacilo, sem erro. Na cena
final eu contracenava com a madrasta e após umas peripécias há um incêndio na
casa e a megera morre queimada, para gáudio dos ouvintes.Ai vem a ironia da
vida. Dia seguinte, não é que há um incêndio no apartamento de Zezé e ela morre
carbonizada?
Zezé Fonseca só era má nas novelas. Na vida real era uma
grande pessoa e boa colega.Mas a bebida levou-a a um fim trágico. Talvez tenha
adormecido com o cigarro aceso.
Muito culta, possuía
bastantes livros colecionava jornais e revistas. Tudo material que alimentou o
incêndio não dando chance à grande
artista.
Zezé Fonseca: lindo sorriso na vida real, mas só fazia papel de malévola
Eis a magia da arte, capaz de difundir alegria ou tristeza, amor ou ódio.
ROBERTO SALVADOR
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