quinta-feira, 4 de maio de 2017

A MULHER RADIALISTA NOS PRIMEIROS VINTE ANOS DO RÁDIO

HISTÓRIA DAS MULHERES PIONEIRAS.

EM UM RÁDIO TAMBÉM PIONEIRO.


Roberto Salvador
Ao se estudar os vinte primeiros anos do Rádio (1923 a 1943), a impressão que se tem é que, à primeira vista apenas os homens povoavam esse universo. Contudo, ao pesquisarmos um pouco mais  esse período, percebemos que as mulheres tiveram uma participação significativa, sim. As mulheres do velho rádio eram cantoras, radioatrizes e locutoras. Comandavam programas, falavam de suas dificuldades com seriedade. Conheciam o papel que desempenhavam na vida de suas ouvintes, numa época em que a submissão era total e o mundo da mulher girava apenas em torno do lar.



Maria Beatriz Roquette-Pinto no estúdio da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro:
primeira radialista brasileira  da história 


Mestre Roquette-Pinto: pioneiro do rádio brasileiro

AS QUE SE DESTACARAM.

Maria Beatriz Roquette-Pinto, foi a primeira locutora do rádio brasileiro, tendo atuado na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro - PRA-2, fundada por seu pai, o Professor Edgard Roquette Pinto, em 1923. Não se trata, absolutamente, de nepotismo, mestre Roquette indicar a própria filha. A moça realmente possuía talento para falar ao microfone pioneiro e acompanhava o pai em todas as suas demandas em prol do desenvolvimento daquele que viria a ser o maior veiculo de comunicação de todos os tempos no Brasil de então. A voz feminina de Beatriz Roquette-Pinto era uma curiosidade a mais, destoando do maior número de vozes masculinas, então.
Em São Paulo, a primeira mulher a abraçar a carreira de speaker foi Zenaide Andrea, na Rádio Record de São Paulo - PRB-9, no início dos anos 30. Em 1931, na mesma emissora, surgiu Natália Peres, que iria consagrar-se com o pseudônimo de Elizabeth Darcy, progenitora do narrador esportivo Sylvio Luiz e da atriz Verinha Darcy.

Elizabeth Darcy ou Natália Perez:
 pioneirismo feminino no velho rádio



Sylvio Luiz, narrador esportivo de sucesso.
 Criador de bordões ao narrar futebol: "Olho no lance"!. 


Verinha Darcy, atriz falecida em 1979:
 filha de Elizabeth Darcy e irmã de Sylvio Luiz




MELHORANDO OS PROGRAMAS

No início dos anos 30, as emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro já começavam a se preocupar,  de fato, com uma programação radiofônica  mais elaborada. Não eram transmitidos apenas  trechos de música ou discursos. O público foi ficando mais exigente. Alguns críticos na imprensa escrita protestavam: “O rádio tem que sair do acabamos de ouvir e passamos a apresentar”. Foi quando começaram a aparecer os produtores de rádio. Profissionais que escreviam para o veiculo e levavam assim  novidades. Surgiram, nessa época, programas de vários gêneros. E  entre  eles estavam os dedicados ao público mais assíduo do Rádio: o feminino. Foi a vez de as mulheres se revelarem como produtoras e apresentadoras.
A Rádio Cruzeiro do Sul- PRB-6, em 1932, promoveu um concurso buscando encontrar uma voz feminina que desse um colorido às suas transmissões, especialmente para o programa "Hora das Donas de Casa"; a vencedora do concurso foi Maria de Lourdes Souza Andrade, a terceira mulher em São Paulo a desempenhar as funções de locutora.
No Rio de Janeiro, um dos pioneiros foi o programa "Hora do lar", comandado por Aspásia, na PRC-8, Rádio Guanabara. Compreendia ensinamentos domésticos, aulas de teoria musical e conselhos de beleza. Recebia, em média, 250 cartas por mês um marco na época.. Conforme matéria na Revista
Carioca, a locutora pretendia ficar incógnita. "Resolvi ser speaker depois que me convenci que trabalhando com paciência  conseguiria ampliar as finalidades do meu programa interessando satisfatoriamente aos ouvintes."
Um programa feminino de muita repercussão nos anos 30 era "A Voz da Beleza", da PRA-3, Rádio Clube do Rio de Janeiro. No comando estava a locutora Léa Silva. Ia ao ar diariamente das 13 às 14 horas. A Revista Walkyrias, de Julho de 1936, comenta: "o mundo feminino segue atentamente seus conselhos. Um programa original e atraente. Consigna um justo orgulho à direção de uma mulher".
                          Revista O Malho:
                 crítica radiofônica de respeito na                      época.

A Revista "O Malho" de 11 de Junho de 1935 destaca que entre os programas do gênero, "A Voz da Beleza" era considerado o melhor do gênero .. "Através do espírito de Léa, torna-se o Rádio um objeto de primeira necessidade para a mulher que quer ser elegante e sedutora."
Num tom de crítica, a revista completa: "um programa dedicado às mulheres e naturalmente pouco ouvido pelos cronistas de Rádio".


Revista A Cena Muda

A Revista A Cena Muda de 26 de Fevereiro de 1946, comentava que a locutora parecia ter compreendido o verdadeiro sentido da radiodifusão, pois parou de ler as cartas elogiosas que recebia dos ouvintes e melhorou o nível do programa.
"Hoje, Léa mudou. Efeito do tempo? Seu programa para o sexo frágil merece ser ouvido. Além de seus conselhos, toca músicas ... é alguma coisa que se recomenda no Rádio carioca."
Lea Silva criou um creme para o corpo que foi muito popular na época, usado amplamente pelo público feminino. Era o Creme Marsilea, que parece, existe ainda hoje, embora com outros donos, certamente. Na verdade o nome verdadeiro de Lea Silva era Marsilia Marinari. Lea Silva era casada com o músico Antenógenes Silva. 
Atenógenes Silva e sua sanfona de 8 baixos: importante músico e compositor.
Assina também a polêmica parceria de Saudades do Matão.

"A Voz da Beleza" fez escola em diversas cidades do interior. Em Santos, havia um programa, com o mesmo nome, comandado por Adelina Pereira da Silva. Ao fazer uma visita ao Rio de Janeiro ouviu programa na Rádio Clube e se encantou. Assim que voltou a Santos, Adelina procurou a Rádio Atlântica e iniciou, em 1937, um programa parecido e que ia ao ar diariamente das 15,30 às 16,30; adotou então o pseudônimo de Una Léa, certamente pegando carona em Lea Silva. Ela usava esse horário para falar sobre formas de beleza, noções de tratamento de pele, cabelos e ginástica.
Foram ao todo 26 anos de atividade, sendo seis na Atlântica, 14 na Rádio Clube de Santos e seis anos na Cacique.
A Rádio Transmissora do Rio de Janeiro apresentava, em 1937, "De Mulher Para Mulher", comandado por Irma Gama. Um programa que promovia uma troca de conhecimento entre todas as mulheres, servindo ao mesmo tempo de guia e conselheiro. ''Trabalhando e notando o trabalho de outras criaturas, lembrei-me um dia de organizar um programa radiofônico  que trouxesse à mulher alguma utilidade", declarou Irma para a revista Carioca de 30 de Janeiro de 1937. Havia, também, uma preocupação com a culinária, com a literatura, orientação psicológica pelo microfone ou particularmente para o endereço das ouvintes. 


Revista Carioca da época
O CRÉDITO
Voce pode saber mais sobre este assunto se ler o livro da pesquisadora e jornalista Tereza Cristina Tesser autora do livro"De passagem pelos nossos estúdios- A Presença Feminina no Início
do Rádio no Rio de Janeiro e São Paulo. 1923-1943". Fruto de sua dissertação de Mestrado, Editora Universitária Leopoldianum da UniSantos, com prefácio do grande pesquisador das coisas do nosso rádio, professor Luiz Artur Ferraretto. Vale a pena ler esse excelente trabalho. Dele  extrai boa parte das informações contidas nesta minha postagem.

                                                O autor do blog

Fico feliz em divulgar assuntos ligados a história de nosso querido Rádio. E gostaria que você me ajudasse com suas ideias e sugestões.
Um grande abraço e até a próxima postagem!

Leia meu livro A ERA DO RADIOTEATRO!



E assista nosso canal no Youtube A Historia do Rádio!





9 comentários:

  1. estou pesquisando e preciso falar com o autor do livro urgente

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  2. Olá Vannia Barbosa Silva, estou ao seu dispor em meu e-mail pessoal:
    robsalvador33@gmail.com

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  3. Olá Roberto, tudo bem?! Li a matéria e gostaria de saber se tens informações sobre a presença feminina no Radio da década de 1940 até 1980. Eu estou pesquisando sobre os conteúdos das rádios tendo à frente mulheres radialistas. Abraço

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    1. Olá Regina, desculpe não ter te respondido logo. Contudo as informações que possuo sobre o tema são apenas as que constam do blog. Um grande abraço e obrigado pelo contato.

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  4. Minha mãe trabalhou no rádio Marabá em Mogi das Cruzes em 1952. Tenho mais informações e fotos para passar

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  5. Como pesquisador do tema, claro que me interessa receber estas fotos e as informações que terei muito prazer em acrescentar ao meu blog. Ai vai meu e-mail pessoal: robsalvador33@gmail.com Grande abraço!

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  6. queria saber se foi dificil para as mulheres participar desse meio na radio? se elas sofriam preconceitos..?

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  7. Um espetáculo!😃👏👏👏👏👏

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