O RÁDIO E O NATAL.
VAMOS FALAR DA INFLUENCIA DA
MUSICA POPULAR BRASILEIRA NAS GRANDES DATAS, INCLUSIVE O NATAL?
Antigamente, melhor dizendo, a partir dos anos 30 a música
popular brasileira começava a conquistar o gosto do brasileiro. Era executada nas
salas de cinema, nos musicais dos teatros, nos shows dos cassinos, em coretos
na praça, nas rodas de música, nos saraus e nos bares da noite.Embora guardasse um perfume da canção parisiense, o sabor do fox-trote americano, a marchinha lisboeta ou o ritmo do maxixe, contagiava os cariocas até que os primeiros sambas abrissem espaço para dizer que estava chegando.
Dançar o maxixe era contagiante.
A dança chegou até a Europa.
Ernesto Nazareth:
genialidade e loucura. Morreu perdido na floresta de Jacarepaguá
Chiquinha Gonzaga: avançada para a época.
E CHEGAM OS DISCOS!
Com o
desenvolvimento da indústria fonográfica e a venda ao público dos velhos discos
de 78 rotações, a musica brasileira era ouvida em vitrolas nas casas de família.
Gramophone:
tocava os primeiros discos de 78 rotações.
A vitrola que tinha que dar corda
Radiovitrola elétrica: avanço para a época.
Também se consumia a
música brasileira pela venda de partituras para piano ou outros instrumentos de
corda.
A famosa Casa Edison,
produzia, vendia discos e partituras.
É bem verdade que não apenas a música brasileira, mas, como dissemos anteriormente, as valsas
parisienses e as músicas norte-americanas que os musicais de cinema faziam
chegar até nós. Na verdade, repetimos, o samba, ainda vitima de preconceito dividia espaço
com as valsinhas brasileiras e os
chorinhos e os proibidos maxixes.
O principiante e ainda tímido mercado brasileiro não havia descoberto
a música nordestina e muito menos a sertaneja. Isso iria acontecer duas décadas
depois, com a chegada dos retirantes vindos do norte e do nordeste para tentar
a vida nas metrópoles do Rio e de São Paulo.
E CHEGA O RÁDIO!
Quando o rádio surge no panorama artístico-musical
brasileiro, algumas mudanças se processam. Na proporção em que o novo veículo se afirma e cai no gosto popular em meados dos anos trinta com
o surgimento das emissoras no Rio e em São Paulo, um novo mercado surge.
A família ouve rádio nos anos trinta
O produtor Ademar Casé foi um dos responsáveis ao promover o
profissionalismo no rádio, criando a figura do contrato de trabalho seu famoso programa.
Ademar Casé: gênio do velho rádio
O radialista e
produtor Almirante (Henrique Foreis Domingues) com sua criatividade cria novos
formatos de programas, até chegar aos chamados programas montados, ou seja, produções com elenco de radioteatro,
orquestra e coro, geralmente noturnos e bancados por grandes patrocinadores.
As revistas musicais, encenadas no Rio de Janeiro, na praça
Tiradentes e os shows dos cassinos no eixo Rio-São Paulo, criam tipos de profissionais
que são também absorvidos pelo rádio.
É nesse contexto que surgem os autores de músicas populares,
que não ficam restritos a produzir músicas simplesmente. Passam a produzir músicas
temáticas para determinadas épocas do ano. Se as músicas de carnaval já
existiam, surgem também as músicas para festas juninas e finalmente as músicas
natalinas.
É sobre estas que vamos falar, não apenas das músicas, mas
dos programas de rádio especialmente produzidos para o período natalino e que
emendava com o Ano-Novo.
Assis Valente:
gênio incompreendido e angustiado, atirou-se do alto do Corcovado em 1942. Salvo pelas árvores, ingeriu formicida um ano depois deixando carta de despedida.
Dorival Caimmy, Carmem Miranda e Assis Valente.
A cantora gravou grandes sucessos de Valente.
E CHEGAM OS COMPOSITORES DE NATAL!
Nos anos 30, Assis Valente compôs a
música e a letra de:
BOAS
FESTAS.
Anoiteceu,
o sino gemeu,
e a
gente ficou feliz a rezar
Papai
Noel, vê se você tem
A felicidade,
pra você me dar.
Eu
pensei que todo mundo
Fosse
filho de Papai Noel
Bem
assim, felicidade
Eu
pensei que fosse uma
Brincadeira
de papel.
Já faze
tempo que pedi
Mas o
meu Papai Noel não vem
Com
certeza já morreu
Ou então
felicidade
É brinquedo que não tem.~
Manoel Bandeira: contribuição literária para o Natal
Villa-Lobos, parceiro de Manoel Bandeira em música natalina
Manoel Bandeira ( 1886-1968) e Heitor
Villa-Lobos ( 1887- 1950) fizeram:
CANTO DE
NATAL
para vozes mistas
Moças:
O nosso
menino nasceu em Belém
Nasceu
tão somente para nosso bem.
Nasceu
sobre as palhas, o nosso Menino,
Mas a
Mãe sabia que era divino
Rapazes:
Vem
sofrer a morte na cruz
O nosso
Menino, seu nome é Jesus
Por nós
ele aceita o humilde destino
Louvemos a Glória do Jesus Menino
Almirante criou um programa chamado Curiosidades Musicais,
levado ao ar pela Nacional no anos 40. No Natal desse ano produziu um
exclusivamente destinado ao Natal.
Em 1942 iria ao ar também pela Nacional o famoso programa Um
milhão de Melodias, patrocinado por Coca-Cola, marcando sua chegada ao Brasil.
Em um Natal dos anos quarenta, Paulo
Tapajós produziu um belo programa com músicas natalinas.
Destaques da Nacional na programação noturna.Da esquerda para a direita:
Almirante, Rose Lee,Romeu Ghipsman,Celso Guimarães, Roxane e Joel.
Outros astros dos programas montados:Linda Batista, Francisco Alves,Marília Batista, Vitor Costa e Silvinha Mello
Coral que acompanhava canções natalinas
Nas noites nobres da
Nacional, ainda nos anos quarenta, os maiores produtores da emissora se
revezavam para produzir o Rádio Almanaque Kolynos, no qual um tema era abordado
e apresentado pelo elenco de atores, intercalado de melodias executadas pela
orquestra e coro na PRE-8.
José Mauro e Almirante produziam Radio Almanaque Kolynos e dezenas de outros importantes programas nas rádios Nacional e Tupi.
Paulo Roberto, era médico e radialista. No seriado "Obrigado Doutor", sob o patrocínio do Lei te Magnésia de Philips, escreveu um especial de Natal.
Um programa de alto nível. Passaram por esse
programa produtores como Haroldo Barbosa, Paulo Roberto, José Mauro e
finalmente Lourival Marques.
Outro programa musical que se ocupou do Natal com muita
freqüência foi A canção da lembrança,
patrocinado por Phimatosan e escrito por Lourival Marques.
Lourival Marques:
produziu também "Seu criado, Obrigado" e Calendário Kolynos.
Em diversos desses
programas foram ouvidas composições norte-americanas que os filmes de Hollywood
traziam até nos. Foi assim que o programa ajudou a divulgar compositores como
George Gershwin, Inving Berlin, Cole
Porter, Jerome Kern e outros. As letras em inglês eram vertidas para o
português pelo próprio Lourival Marques
ou por Haroldo Barbosa com lindos arranjos dos maestros da Nacional.
Paulo
Tapajós, além de cantar solo, juntamente com o Trio Melodia ou na dupla Irmãos Tapajós, se encarregava da direção musical da
emissora.
Paulo e Haroldo Tapajós
Trio Melodia: Tapajós, Nuno Roland e Albertinho Fortuna
Roberto Salvador, autor do blog e divas da Nacional:
Ellen de Lima, a filha de Ademilde Fonseca e Adelaide Chiozzo.
Roberto Salvador e Ellen de Lima.
Cantora foi destaque nos grandes musicais da Nacional
Havia todas as tarde as 17 horas, na Nacional, um programa
chamado A alma das coisas em que os objetos criavam vida e narravam suas
aventuras interpretadas pelos radioatores. Em alguns programas o Natal foi contemplado, quando o autor José
Roberto Penteado, deu alma a uma árvore de Natal ou a uma velha roupa de Papai
Noel. O programa era patrocinado pela fita celulose marca Scoth.
Também o programa Festivais GE, se ocupou do Natal com
magníficos arranjos da Orquestra Melódica da Nacional sob a regência de Lirio
Panicali.
Orquestra Rádio Nacional
Auditório da Nacional:
Papai Noel chegou!
Programa Paulo Gracindo no Natal: Fred, Carequinha e Ângela Maria
Blecaute, de origem humilde, não se esquecia das crianças . Sua composição é quase um hino de Natal
NATAL
DAS CRIANÇAS
Blecaute
Natal,
Natal das crianças
Natal da
noite de Luz
Natal da
estrela-guia
Natal do
menino Jesus
Blim
blão, blim blão, Blim blão...
Bate o
sino da Matriz
Papai,
mamãe rezando
Para o
mundo ser feliz
Blim
blão, blim blão, blim blão...
O Papai
Noel chegou
Também
trazendo presente
Para vovó e vovô
E ADONIRAM BARBOSA TAMBÉM ENTROU NESSA.
Com a licença poética de imaginar uma chaminé no bairro do Bexiga, Adoniran
Barbosa também criou sua canção natalina. Na letra, o compositor conta a
história do pai de família que, pra agradar esposa e filhos , que não tem
grande ceia para comemorar o Natal, resolve se fantasiar de Papai Noel. Veja o
que aprontou o poeta: “Falei com minha nega de lado/eu vou subir no telhado/e
descer na chaminé/enquanto isso você/pega a criançada e ensaia o dingo-bel/Ai
meu Deus que sacrifício/o orifício da chaminé era pequeno/pra me tirar de
lá/foi preciso chamar os bombeiros”.
A dupla que compôs, entre outros clássicos, “A volta da Asa Branca ” e “Cintura
fina”, Luiz Gonzaga e Zé Dantas também passou pelos festejos natalinos em seu repertório. Longe do ritmo
do baião, Gonzaga e Dantas fazem em forma de oração a canção “Cartão de Natal”,
que pede felicidades também para o ano que se aproxima: “Um ano novo
afortunado/venturoso e abençoado/tão ditosa oração do além/seja ouvida por
Deus/e que os anjos digam amém/blem, blem, blem”.
Luiz Gonzaga
Zé Dantas e seu parceiro.
O programa do Clube Juvenil Toddy, que a professora Maria de
Lourdes Alves dirigia todas as quintas feiras as 4 e meia da tarde, por vários
natais se ocupou do tema, com radiofonizações de contos de Natal, interpretados
pelo elenco de radio teatro.
A esse programa seguiu-se outro: Programa dos Estudantes, também dirigido pela professora Maria de Lourdes e patrocinado pelo Biotônico Fontoura, que na semana do Natal sempre radiofonizava um conto.
Elenco do Programa dos Estudantes: Francisco Nunes, Roberto Salvador, Maria de Lourdes Alves, Renato Matos e Edson Schetini de Aguiar no estúdio de radioteatro, anos 60.
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