terça-feira, 6 de dezembro de 2016

CHEGOU O NATAL NO VELHO RADIO!

O RÁDIO E O NATAL.

VAMOS FALAR DA INFLUENCIA  DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA NAS GRANDES DATAS, INCLUSIVE O NATAL?
Antigamente, melhor dizendo, a partir dos anos 30 a música popular brasileira começava a conquistar o gosto do brasileiro. Era executada nas salas de cinema, nos musicais dos teatros, nos shows dos cassinos, em coretos na praça, nas rodas de música, nos saraus e nos bares da noite.Embora guardasse um perfume da canção parisiense, o sabor do fox-trote americano, a marchinha lisboeta ou  o ritmo do maxixe, contagiava os cariocas até que os primeiros sambas abrissem espaço para dizer que estava chegando.
Dançar o maxixe era contagiante. 
A dança chegou até a Europa.


Ernesto Nazareth: 
genialidade e loucura. Morreu perdido na floresta de Jacarepaguá




Chiquinha Gonzaga: avançada para a época.


E CHEGAM OS DISCOS!
Com o desenvolvimento da indústria fonográfica e a venda ao público dos velhos discos de 78 rotações, a musica brasileira era  ouvida em vitrolas nas casas de família.


Gramophone:
 tocava os primeiros discos de 78 rotações.



A vitrola que tinha que dar corda

Radiovitrola elétrica: avanço para a época.


 Também se consumia a música brasileira pela venda de partituras para piano ou outros instrumentos de corda.

A famosa Casa Edison,
 produzia, vendia discos e partituras.

É bem verdade que não apenas a música brasileira, mas, como dissemos anteriormente,  as valsas parisienses e as músicas norte-americanas que os musicais de cinema faziam chegar até nós. Na verdade, repetimos, o samba, ainda vitima de preconceito dividia espaço com as valsinhas brasileiras e  os chorinhos e os proibidos maxixes. 
O principiante e ainda tímido mercado brasileiro não havia descoberto a música nordestina e muito menos a sertaneja. Isso iria acontecer duas décadas depois, com a chegada dos retirantes vindos do norte e do nordeste para tentar a vida nas metrópoles do Rio e de São Paulo.

E CHEGA O RÁDIO!
Quando o rádio surge no panorama artístico-musical brasileiro, algumas mudanças se processam. Na proporção em que o novo veículo  se afirma e cai  no gosto popular em meados dos anos trinta com o surgimento das emissoras no Rio e em São Paulo, um novo mercado surge.
A família ouve rádio nos anos trinta


O produtor Ademar Casé foi um dos responsáveis ao promover o profissionalismo no rádio, criando a figura do contrato de trabalho seu famoso programa.


Ademar Casé: gênio do velho rádio

O  radialista e produtor Almirante (Henrique Foreis Domingues) com sua criatividade cria novos formatos de programas, até chegar aos chamados programas montados, ou seja, produções com elenco de radioteatro, orquestra e coro, geralmente noturnos e bancados por grandes patrocinadores.
As revistas musicais, encenadas no Rio de Janeiro, na praça Tiradentes e os shows dos cassinos no eixo  Rio-São Paulo, criam tipos de profissionais que são também absorvidos pelo rádio.
É nesse contexto que surgem os autores de músicas populares,
que não ficam restritos a produzir músicas simplesmente. Passam a produzir músicas temáticas para determinadas épocas do ano. Se as músicas de carnaval já existiam, surgem também as músicas para festas juninas e finalmente as músicas natalinas.
É sobre estas que vamos falar, não apenas das músicas, mas dos programas de rádio especialmente produzidos para o período natalino e que emendava com o Ano-Novo.


Assis Valente:
 gênio incompreendido e angustiado, atirou-se do alto do Corcovado em 1942. Salvo pelas árvores, ingeriu formicida um ano depois deixando carta de despedida.

Dorival Caimmy, Carmem Miranda e Assis Valente.
A cantora gravou grandes sucessos de Valente.



E CHEGAM OS COMPOSITORES DE NATAL!
Nos anos 30, Assis Valente compôs a música e a letra de:
BOAS FESTAS. 

Anoiteceu, o sino gemeu,
e a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade, pra você me dar.

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim, felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel.

Já faze tempo que pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.~


Manoel Bandeira: contribuição literária para o Natal

Villa-Lobos, parceiro de Manoel Bandeira em música natalina



Manoel Bandeira ( 1886-1968) e Heitor Villa-Lobos ( 1887- 1950) fizeram:

CANTO DE NATAL
para vozes mistas
Moças:
O nosso menino nasceu em Belém
Nasceu tão somente para nosso bem.
Nasceu sobre as palhas, o nosso Menino,
Mas a Mãe sabia que era divino

Rapazes:
Vem sofrer a morte na cruz
O nosso Menino, seu nome é Jesus
Por nós ele aceita o humilde destino
Louvemos a Glória do Jesus Menino




Almirante criou um programa chamado Curiosidades Musicais, levado ao ar pela Nacional no anos 40. No Natal desse ano produziu um exclusivamente destinado ao Natal.
Em 1942 iria ao ar também pela Nacional o famoso programa Um milhão de Melodias, patrocinado por Coca-Cola, marcando sua chegada ao Brasil. Em um Natal  dos anos quarenta, Paulo Tapajós produziu um belo programa com músicas natalinas.




Destaques da Nacional na programação noturna.Da esquerda para a direita:
Almirante, Rose Lee,Romeu Ghipsman,Celso Guimarães, Roxane e Joel.



Outros astros dos programas montados:Linda Batista, Francisco Alves,Marília Batista, Vitor Costa e Silvinha Mello




Coral que acompanhava canções natalinas


Nas noites  nobres da Nacional, ainda nos anos quarenta, os maiores produtores da emissora se revezavam para produzir o Rádio Almanaque Kolynos, no qual um tema era abordado e apresentado pelo elenco de atores, intercalado de melodias executadas pela orquestra e coro na PRE-8.


José Mauro e Almirante produziam Radio Almanaque Kolynos e dezenas de outros importantes programas nas rádios Nacional e Tupi.


Paulo Roberto, era médico e radialista. No seriado "Obrigado Doutor", sob o patrocínio do Lei te Magnésia de Philips, escreveu um especial de Natal.


Um programa de alto nível. Passaram por esse programa produtores como Haroldo Barbosa, Paulo Roberto, José Mauro e finalmente Lourival Marques.
Outro programa musical que se ocupou do Natal com muita freqüência foi  A canção da lembrança, patrocinado por Phimatosan e escrito por Lourival Marques. 
Lourival Marques:
 produziu também "Seu criado, Obrigado" e Calendário Kolynos.

Em diversos desses programas foram ouvidas composições norte-americanas que os filmes de Hollywood traziam até nos. Foi assim que o programa ajudou a divulgar compositores como George Gershwin, Inving Berlin,  Cole Porter, Jerome Kern e outros. As letras em inglês eram vertidas para o português  pelo próprio Lourival Marques ou por Haroldo Barbosa com lindos arranjos dos maestros da Nacional. 
Paulo Tapajós, além de cantar solo, juntamente com o Trio  Melodia ou na dupla Irmãos Tapajós, se encarregava da direção musical da emissora.
Paulo e Haroldo Tapajós


Trio Melodia: Tapajós, Nuno Roland e Albertinho Fortuna

Roberto Salvador, autor do blog e divas da Nacional:
Ellen de Lima, a filha de Ademilde Fonseca e Adelaide Chiozzo.


Roberto Salvador e Ellen de Lima.
Cantora foi destaque nos grandes musicais da Nacional



Havia todas as tarde as 17 horas, na Nacional, um programa chamado A alma das coisas em que os objetos criavam vida e narravam suas aventuras interpretadas pelos radioatores. Em alguns programas  o Natal foi contemplado, quando o autor José Roberto Penteado, deu alma a uma árvore de Natal ou a uma velha roupa de Papai Noel. O programa era patrocinado pela fita celulose marca Scoth.

Também o programa Festivais GE, se ocupou do Natal com magníficos arranjos da Orquestra Melódica da Nacional sob a regência de Lirio Panicali.

Orquestra Rádio Nacional


Auditório da Nacional:
 Papai Noel chegou!




Programa Paulo Gracindo no Natal: Fred, Carequinha e Ângela Maria





Blecaute, de origem humilde, não se esquecia das crianças  . Sua composição é quase um hino de Natal



NATAL DAS CRIANÇAS
                                                           Blecaute

Natal, Natal das crianças
Natal da noite de Luz
Natal da estrela-guia
Natal do menino Jesus

Blim blão, blim blão, Blim blão...
Bate o sino da Matriz
Papai, mamãe rezando
Para o mundo ser feliz
Blim blão, blim blão, blim blão...
O Papai Noel chegou
Também trazendo presente
Para vovó e vovô


E ADONIRAM BARBOSA TAMBÉM ENTROU NESSA.


Com a licença poética de imaginar uma chaminé no bairro do Bexiga, Adoniran Barbosa também criou sua canção natalina. Na letra, o compositor conta a história do pai de família que, pra agradar esposa e filhos , que não tem grande ceia para comemorar o Natal, resolve se fantasiar de Papai Noel. Veja o que aprontou o poeta: “Falei com minha nega de lado/eu vou subir no telhado/e descer na chaminé/enquanto isso você/pega a criançada e ensaia o dingo-bel/Ai meu Deus que sacrifício/o orifício da chaminé era pequeno/pra me tirar de lá/foi preciso chamar os bombeiros”.


A dupla que compôs, entre outros clássicos, “A volta da Asa Branca ” e “Cintura fina”, Luiz Gonzaga e Zé Dantas também passou pelos festejos natalinos em seu repertório. Longe do ritmo do baião, Gonzaga e Dantas fazem em forma de oração a canção “Cartão de Natal”, que pede felicidades também para o ano que se aproxima: “Um ano novo afortunado/venturoso e abençoado/tão ditosa oração do além/seja ouvida por Deus/e que os anjos digam amém/blem, blem, blem”.


Luiz Gonzaga


Zé Dantas e seu parceiro.



O programa do Clube Juvenil Toddy, que a professora Maria de Lourdes Alves dirigia todas as quintas feiras as 4 e meia da tarde, por vários natais se ocupou do tema, com radiofonizações de contos de Natal, interpretados pelo elenco de radio teatro.
A esse programa seguiu-se outro: Programa dos Estudantes, também dirigido pela professora Maria de Lourdes e patrocinado pelo Biotônico Fontoura, que na semana do Natal sempre radiofonizava um conto.

Elenco do Programa dos Estudantes: Francisco Nunes, Roberto Salvador, Maria de Lourdes Alves, Renato Matos e Edson Schetini de Aguiar no estúdio de radioteatro, anos 60.



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