Vamos lá!
DUAS FAMOSAS DUPLAS DO VELHO
RÁDIO
ALVARENGA E RANCHINHO
JARARACA E RATINHO
Alvarenga e Ranchinho
Jararaca e Ratinho
Vamos começar por Alvarenga e
Ranchinho.
No final dos anos vinte, quando
Alvarenga e Ranchinho se conheceram, se apresentavam em circos, cantando
músicas sertanejas, uma novidade na época. Apresentavam-se pelo interior do
estado de São Paulo. Em 1934 foram contratados pelo maestro Breno Rossi, que
vendo neles um enorme potencial de trabalho, chamou a dupla para se apresentar
na Rádio São Paulo. Dois anos depois vieram para o Rio de Janeiro. Sempre
primaram por retratar com humorismo os acontecimentos mundiais e como estava
acontecendo a guerra da Abissínia, lançaram em 1936 a música Itália e
Abissínia, uma sátira ao conflito entre os dois países. Foram contratados pelo
Cassino da Urca, onde se apresentaram durante dez anos. Em 1935 participaram do
filme Fazendo fita. Foi o início de uma
série de participações em cerca de 30 filmes, graças a Ariovaldo Pires, o
Capitão Furtado. Mas foi em 1939 que chegaram ao rádio carioca, na Rádio
Mayrink Veiga a estrela da radiofonia no Rio.
Ranchinho e Alvarenga com amigos
A dupla se vestia bem, quando não estavam a caráter.
Cabelos bem penteados usando Glostora!
Esclarecimento: DIP era o famoso Departamento de Imprensa e Propaganda dos tempos do Estado Novo.
.
Alvarenga e Ranchinho já eram, portanto, bem conhecidos, quando a Nacional os
contratou. Passaram então a fazer um programa só deles que ia ao ar às terças-feiras às 20
horas,tendo como patrocinador o Rhum Creosotado, aquele medicamento que
anunciou nos velhos bondes durante décadas
e do qual os mais antigos, certamente,
se lembrarão:
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entretanto acredite:
Quase morreu de bronquite.
Salvou-o o Rhum Creosotado.
Com várias paródias sobre o bonde e o anúncio do Rhum Creosotado:
dupla sempre em evidência
A dupla fazia um humor fino,
muitas vezes sarcástico e irreverente. Eram críticos dos políticos, dos
costumes da época e fazendo paródias de tudo, não escapavam nem seus colegas do
rádio.
Além de fazerem piadas, entoavam
paródias ao som dos violões e arrancavam gargalhadas do público, problemas com a censura e a polícia política do Estado Novo de
Getúlio.
Presos por quatro vezes, passavam
a noite no xadrez e libertados na manhã seguinte depois de ouvirem longas repreensões dos agentes.
Uma vez o Filinto Muller, homem
forte de Getúlio e presidente do temido DIP, Departamento de Imprensa e
Propaganda telefonou para a dupla exigindo que seus scripts fossem submetidos previamente à censura.
Ao que Ranchinho argumentou:
-Mas doutor, além do texto, nós
também temos o improviso.
E veio a resposta do poderoso:
-Pois eu também quero censurar o
improviso!
Certa vez, Alzirinha Vargas, que
era filha do presidente e adorava a dupla, os convidou para uma apresentação
especial no Palácio do Catete. Era 19 de abril de 1939, aniversário do velho.
Os dois chegaram meio desconfiados, mas logo o lado artístico falou mais alto e
eles se soltaram. Cantaram sátiras, piadas, incluindo algumas contra o governo.
Getúlio com seu indefectível
charuto, ria de tudo. Ao final, colocando as mãos nos ombros dos dois disse:
“A partir der hoje, vocês podem
fazer a graça que quiserem. Ninguém mais vai incomodá-los”.
Se aquela atitude de Getúlio os
deixou aliviados, certamente perdeu-se um pouco do encanto: cadê a graça de fazer piada com o Getúlio sem
a maldita censura?
A dupla e seu humor sarcástico:
prisões e problemas com a censura
A irreverência estava presente
também nas músicas que gravavam, como esta famosa composição Romance de duas
caveiras. Apreciem a letra:
Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam
Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia
Ao longe uma coruja cantava alegre
De ver os dois caveiros assim felizes
E quando se beijavam em tons fúnebres
A coruja batendo as asas, pedia bis
Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira pra ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou
E o caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam
Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia
Ao longe uma coruja cantava alegre
De ver os dois caveiros assim felizes
E quando se beijavam em tons fúnebres
A coruja batendo as asas, pedia bis
Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira pra ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou
E o caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco
A dupla original se desfez em
1965 quando Diésis dos Anjos Gaia abandonou a dupla. Quem o substituiu foi
Delamare de Abreu e depois Homero de Souza Campos. Nos anos 70 continuavam em atividade pelo
interior do estado de São Paulo, havendo gravado um LP ao vivo pela RCA em
1973. Quando Alvarenga morreu, pouco depois, encerrou-se a dupla e os Milionários
do Riso passaram a fazer graça apenas através dos registros que deixaram e na
memória daqueles que curtiram suas músicas e suas sátiras imperdíveis.
Eis outra dupla famosa do rádio humorístico brasileiro. José Luis
Rodrigues Calazans, o Jararaca e Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho. Os dois se conheceram
em 1919 e viajavam pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Em 1930 se separaram. Em
1937 Jararaca compõe com Vicente Paiva a
marchinha que correria o mundo e que é até hoje, uma das músicas brasileiras
mais conhecidas: “Mamãe eu quero”.
A dupla se reconciliou
no final dos anos 30 e fazia muito sucesso no Cassino da Urca.
Jararaca com seu violão imitando uma cobra e Ratinho com seu saxofone:
folego de um minuto sustentando uma nota!
O rádio só veio a conhecê-los em
1941, quando contratados pela Nacional, inauguraram o famoso horário
humorístico das sextas-feiras às 8 e 35, sob o patrocínio do sabonete Eucalol.
Só para recordar: depois de
Jararaca e Ratinho, o horário seria ocupado pela PRK-30 em 1946 e depois
pelo Edifício Balança mas não cai.
Em 1946 participaram do filme No
trampolim da vida. Em 1950 atuariam em Loucos por música.
Ratinho era um clarinetista
fantástico, com um fôlego impressionante, sustentava uma nota por mais de um
minuto, sob os comentários hilários do Jararaca. Por fim, concluía a música sob os
aplausos frenéticos do auditório.
Contavam piadas e fatos
engraçados, tudo recheado com música alegre e agitada.
Jararaca e Ratinho, aqui com seu clarinete:
grandes músicos, ágeis e criativos.
Entre um número musical e outro
entravam com diálogos humorísticos, como este:
JARARACA- Que calor, compadre!
RATINHO – Calor demais!
JARARACA – Imagina você esse
calor na casa das minhas primas. São oito solteironas querendo casar!
RATINHO – Oito solteironas
querendo casar! Com esse calor!
JARARACA – É um problema! É um
tal de toma banho Judite! Se lava Maria! Acabou a água Joana! ...
RISOS DO AUDITÓRIO
JARARACA – Mas compadre me diz
uma coisa, você que sabe tudo: Qual a diferença que há entre uma mão e uma
vaca?
RATINHO – Diferença entre uma mão
e uma vaca? Sei não!
JARARACA – É que com uma mão você
tira leite de uma vaca. E com uma vaca não se tira leite do mamão.
RISOS DO AUDITÓRIO
78 rotações da dupla nos anos quarenta.
Long-Play produzido por Almirante: registro importante e histórico
Este era o humor das duplas da
época. Simples, direto, carregado de malícia, extraindo fatos do cotidiano
urbano e levando para o imenso pais rural que era aquele Brasil, carente de lazer e que encontrava no
rádio seu grande companheiro.
A partir de 1955, Jararaca também
se consagraria como o famoso Mestre Filó, criação de Paulo Roberto para o
programa Lira de Xopotó que homenageava as bandas de música de todo o Brasil e
que ia ao ar todos os sábados às 20 e trinta e cinco.
A dupla atuou ainda em programas de televisão . Jararaca em Chico City na Rede Globo. Era o
cangaceiro Sucuri.
Uma curiosidade: fato embora
pouco divulgado, a música O boto é
uma parceria do maestro Tom Jobim com Jararaca.
É que Jobim utilizou o refrão de autoria de Jararaca “Inda ontem vim de lá do
Pilá” gravado em 1979 por Ellis Regina. Esse refrão consta da composição No Pilá, gravada lá em 1936 por Augusto Calheiros e Zé do
Bambo.
Augusto Calheiros gravou No Pilá em 1936.
Tom Jobim aproveitou o refrão. Fez outra composição e parceria com Jararaca...
...Que Ellis gravou nos anos 70.
Ronaldo Conde Aguiar em seu
interessante Almanaque da Rádio Nacional ao
referir-se à famosa dupla acrescenta:
Em 1964, Jararaca, que pertencia ao Partido Comunista Brasileiro foi demitido da emissora,
denunciado pelo apresentador Cesar de Alencar . A punição não atingiu Ratinho,
que fez, na época, um comentário melancólico: " O que será do Ratinho, sem o Jararaca?
Me digam".
Mas a dupla superou a demissão de
Jararaca e seguiu se apresentando. Apesar das constantes brigas eram muito
amigos. Tanto assim que foram morar em Duque de Caxias município do Estado do Rio
de Janeiro, em casas geminadas. Mandaram abrir uma porta pela qual se podia ir
de uma casa para a outra.
Ratinho morreu lá em 8 de setembro de 1972. Jararaca faleceu
em 11 de outubro de 1977, no Rio.
Jararaca jovem nos tempos do Cassino da Urca.
Os cinco anos em que Jararaca viveu sem a figura de Ratinho
foram difíceis para ele. Afinal eram mais de 5 décadas levando alegria e
diversão para o público. Jararaca se abateu e era difícil para ele fazer graça.
Mas mesmo assim seguiu em frente.
A mais famosa dupla do rádio
brasileiro, morreu pobre, terminando seus dias na casa da Duque de Caxias.
Jararaca, como dissemos, era também compositor e várias de suas músicas foram
sucesso.
Carmem Miranda canta Mamãe eu quero: estouro nos Estados Unidos
Bing Crosby cantava Mamãe eu quero no estilo americano:
gringos amavam a marchinha vertida para o inglês.
Mas apesar de Mamãe eu quero,
haver sido gravada por Carmem Miranda e Bing Crosby nos Estados Unidos e constar de diversos
musicais de Hollywood, sendo considerada uma das músicas brasileiras mais
conhecidas no mundo inteiro, páreo duro com Garota de Ipanema, parece que os
direitos autorais não chegaram ao bolso de Jararaca, parceiro de Vicente Paiva
nessa composição.
Vamos recordar a letra?
Mamãe eu quero, mamãe eu quero,
Mamãe eu quero mamar!
Dá a chupeta! Dá a chupeta!
Dá a chupeta pro bebê não chorar!
Dorme filhinho do meu coração!
Pega a mamadeira e entra no meu cordão.
Eu tenho uma irmã que se chama Ana:
De piscar o olho já ficou sem a pestana.
Eu olho as pequenas, mas daquele jeito
E tenho muita pena não ser criança de peito!...
Eu tenho uma irmã que é fenomenal:
Ela é da bossa e o marido é um boçal!
Mamãe eu quero mamar!
Dá a chupeta! Dá a chupeta!
Dá a chupeta pro bebê não chorar!
Dorme filhinho do meu coração!
Pega a mamadeira e entra no meu cordão.
Eu tenho uma irmã que se chama Ana:
De piscar o olho já ficou sem a pestana.
Eu olho as pequenas, mas daquele jeito
E tenho muita pena não ser criança de peito!...
Eu tenho uma irmã que é fenomenal:
Ela é da bossa e o marido é um boçal!
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Grande abraço!
Infelizmente o humor atualmente é impróprio para menores de 90 anos. A maioria é sem-graça
ResponderExcluirGostei, nasci 1953, então não curti muito esses artistas, mas lembro de ter visto algumas vezes na tv apresentações de Alvarenga e ranchinho.
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