"EU SOU O CANTOR DO RÁDIO. O
CANTOR QUE NUNCA VISTES E QUE NÃO VERÁS
JAMAIS" !
A MAGIA DO RÁDIO.
Dizia a letra:
Eu sou o cantor do rádio.
O cantor que nunca vistes e que não verás,
Jamais.
Sou a melodia triste,
Pulsante, sentimental.
O blues o samba-canção,
Que vem através do espaço,
A grande verdade é que milhares de ouvintes ficavam obcecados em ver como eram os artistas que eles conheciam única e exclusivamente pela voz.
E
tudo porque, como sabemos, quando ouvimos a voz de alguém que não
conhecemos, através do telefone ou do rádio, logo se desenha em nossa mente a
imagem do interlocutor. Como será fulano? Que tipo físico tem o autor ou a
autora dessa voz?
Havia uma curiosidade imensa por
parte do público ouvinte em conhecer o dono da voz.
Esses artistas, portanto,
recebiam pedidos de fotografias que eram enviadas autografadas, desde que os
ouvintes mandassem junto ao pedido, envelope selado e sobrescritado.
OS FILMES NACIONAIS, ESTRELADOS
POR ARTISTAS DE RÁDIO, FAZEM ENORME SUCESSO!
Aos poucos, com o surgimento dos filmes nacionais, uma parte dessa
frustração passou a ser atendida. Já no final dos anos trinta e início dos quarenta, artistas de rádio estrelavam filmes e filas imensas se
faziam junto às salas de projeção.
“Gente Honesta”, “É proibido sonhar”
e muitos outros.
Em “O
jovem tataravô” um jovem apresenta
uma caixa que “transmitia teatro,
música e anúncios” ao avô estupefato.
Na revista “Fon-Fon, número de 27 de abril de 1940, seção Cantinho dos fãs se poderia ler a
seguinte nota : “Heloísa Helena, que se
vê na foto acima, está noiva de Paulo Magalhães. Ela é uma das attracções de “Pega ladrão”, da Sonofilmes, ao lado de
Jorge Murad, Armando Louzada e outras figuras do rádio”.
“Asas do Brasil” também dos anos quarenta tinha em seu elenco, além
do galã de radionovelas da Nacional, Celso Guimarães, uma plêiade de estrelas do rádio.
“O segredo das asas” tinha a participação, além de Lygia Sarmento,
de inúmeros outros radioatores.
No final dos anos 40 “O homem que passa” tinha o galã da
radio Tupi, Paulo Porto liderando um elenco de radialistas.
Lígia Sarmento
Aliás, Paulo Porto também protagonizou o primeiro filme brasileiro
essencialmente policial: “O dominó
Negro”,no qual ele interpretava um papel de mocinho, que num final
surpreendente é desmascarado, pois ele era o verdadeiro assassino. Este filme,
rodado em 1950, foi roteirizado por um homem de rádio: Hélio do Soveral e tinha
Elvira Pagã como “mocinha”, acompanhada de Paulo Porto, Milton Carneiro, Álvaro Aguiar e o cantor Ciro Monteiro. E Moacyr Fenelon na direção.
No final da década de 40 e por
todo o decorrer dos anos 50 imperaram as famosas chanchadas da Atlântida. Tais
filmes eram, na verdade, um desfilar de artistas de rádio tendo um fio de
história. Trapalhadas de Oscarito, Grande Otelo, Ivon Curi, Zé Trindade e
muitos e muitos outros.Eram comédias
musicais do inteiro agrado do grande público, que formava imensas filas nas
matinês, tudo para conhecer os artistas do rádio. As chanchadas, dirigidas por
Watson Macedo, José Carlos Burle e Moacyr Fenelon.
Poster do filme: desfile de artistas de rádio
Ciro Monteiro, cantor de fama no rádio:
atuação como ator em Dominó Negro
Em 1954 coube a
Watson Macedo, dirigir o enorme sucesso de público que foi “O petróleo é
nosso”, tema que acompanhava a onda de nacionalismo em torno da criação da
Petrobrás. À frente de um elenco de radialistas, estava Nanci Wanderley, destaque nas novelas e
programas de humor da Tupi e depois da Mayrink Veiga. No ano seguinte Nanci
faria “O primo do cangaceiro” de Mário Brasini que tinha no elenco outro
radialista de sucesso: Chico Anísio, que depois se casaria com Nanci,sua primeira mulher.
O cinema aproveitava também
argumentos de novelas de sucesso no rádio. Uma prova disso foi a novela “Mãe”
de autoria de Giuseppe Ghiaroni que fez
sucesso na Nacional cuja história foi aproveitada no filme do mesmo nome.
O Jovem Tataravô:
abordava a grande atracão da época: o rádio
Filme Asas do Brasil:
elenco de atores emprestados do rádio
Watson Macedo dirigiu grandes chanchadas da Atlântida.
Zezé Macedo: sucesso no rádio, depois cinema e televisão
Um fio de história e um desfile de cantores e astros radiofônicos.
Filas quilométricas dobravam quarteirões para ver os artistas de rádio no cinema
Filme de 1949
Uma sátira ao sucesso do premiado O Cangaceiro.
ARTISTAS DE RÁDIO FAZEM SUCESSO
NO TEATRO
O próprio teatro também
satisfazia o desejo do público de ver seus artistas em “carne e osso”.
O teatro havia contribuído
enormemente fornecendo atores que se transformaram em radioatores, como já
vimos anteriormente. Agora era a vez de radioatores encenarem peças de teatro e
o faziam com enorme sucesso.
A Revista do Rádio de 21 de novembro de 1959 noticiava:
Liderados por Paulo Gracindo, os radioatores da Nacional fundaram um
grupo teatral (Comédia das segundas-feiras), que vem se apresentando nesse dia
no Teatro Jardel.
Mário Lago, Rodolfo Mayer, Daisy
Lúcidi, Mario Brasini são outros
exemplos de radioatores que também encenavam peças. E todas recebiam excelente
público, não apenas pela qualidade do espetáculo, como também pela curiosidade
do público em ver seus os astros em
carne e osso..
Havia também os shows e
apresentações em circos e caravanas de artistas que percorriam um Brasil rural, ávido em ver seus ídolos
radiofônicos.
Rodolfo Maier, Procópio Ferreira e outros.
REVISTAS IMPRESSAS DEDICAM ESPAÇO AO RÁDIO.
Paralelo a tudo isso, surgem as revistas especializadas que cobriam
a vida radiofônica. Uma das mais bem feitas, segundo Renato Murce em seu livro Bastidores do rádio foi A voz do rádio. Antes disso, revistas
como o Cruzeiro,Carioca e Fon-Fon mantinham seções dedicadas ao rádio. Jornais como Diário da Noite, Diário de Notícias, Correio
da Manhã e o Globo, mantinham
também colunas dedicadas ao rádio. No
Diário de Notícias havia uma
senhora que reunia seriedade, conhecimento do veículo rádio e crítica mordaz: Magdala da Gama Oliveira, a
famosa Mag. No Diário da Noite quem
escrevia era José Fernandes,que mais tarde foi jurado dos programas de Flávio
Cavalcanti na televisão Tupi. Uma coluna também famosa que o Globo publicava
diariamente era “O ouvinte desconhecido”
de cujo autor somente a alta direção do jornal
conhecia a identidade.
Outras revistas eram Cine Arte,
Cine-rádio jornal até o surgimento de Cinelândia e a mais famosa de todas: a
Revista do rádio.
Com muitas fotos de artistas,
falando de sua vida particular e fofocas tais publicações matavam a curiosidade
do grande público.
Artistas de rádio na capa: sucesso de vendas.
Marlene e Cesar de Alencar
O primeiro número de O Cruzeiro, 1928
Dalva de Oliveira e Jorge Veiga
A TELEVISÃO BUSCA VALORES NO
RÁDIO.
Quando a televisão surgiu no
Brasil em 1950 grande parte do elenco era formado por radialistas. E os poucos
aparelhos de tevê recebiam uma audiência
que procurava satisfazer duas coisas: a curiosidade em torno do novo veículo e
ver a cara de seus ídolos radiofônicos.
No principio a televisão era um rádio com imagens
A TV Tupi se abastecia do elenco
da rádio Tupi, mas a segunda emissora de televisão a ir ao ar na cidade, a TV
Rio foi beber na fonte da Rádio Nacional.
Flávio Cavalcanti:
da Mayrink Veiga para a Nacional.Mas a TV Tupi o fisgou.
Famosas que migraram do rádio para a televisão:
TV Rio dos anos 50
A Revista do Rádio publicava em
seu número de 29 de novembro de 1958 uma reportagem de duas páginas de texto e fotos do lançamento do Grande
Teatro Orniex pela TV Rio.
Dizia o texto:
Um teatro de emoção com artistas de rádio.
Enquanto sua estação de televisão não entra em funcionamento, a Rádio
Nacional vai movimentando seus artistas pela TV Rio apresentando em combinação
com o canal 13, às 5ª.s feiras o Grande Teatro Orniex. Na estréia , o grande elenco dirigido por
Floriano Faissal , encenou a peça do autor húngaro Lajos Zilahy, em adaptação
especial de Dias Gomes. Daisy Lúcidi ,
Rodolfo Mayer, Álvaro Aguiar e Mário Lago estiveram nos principais papéis,
cabendo também um desempenho de destaque
a Denise Faissal, filha de Floriano, que reapareceu na televisão,
confirmando suas qualidades de excelente atriz, já demonstradas no tempo em que
atuava na Rádio Nacional. Preparando seus atores e atrizes, dando-lhes a
experiência do vídeo, visando o tão esperado funcionamento de seu Canal de televisão, a Nacional proporciona aos sintonizadores do canal 13, nas noites de
quinta-feira um dos melhores tele-teatros do Rio. Outros cartazes que se
tornaram famosos por suas atuações através dos microfones da PRE-8
(Roberto Faissal, Domingos Martins etc.) serão também mostrados aos
tele-espectadores no Grande Teatro
Orniex, que apresenta cenários de Pernambuco de Oliveira e sonoplastia de
Lourival Faissal.
O sucesso no rádio garantia o sucesso na televisão.
Aqui a Orquestra Continental na TV Tupi anos 50
O sucesso do teleteatro foi
impulsionado, entre outros motivos, pela grande curiosidade dos
tradicionais radiouvintes por conhecer
os rostos de seus ídolos.
Mais tarde, quando surgiu a TV
Excelsior muitos artistas da Nacional
dividiam seu trabalho entre o rádio e a televisão. E aqueles que se
adaptaram bem ao novo veículo fizeram sucesso, porque, naturalmente já levavam
a popularidade conquistada no rádio.
Tanto assim que, Floriano Faissal
me disse certa vez: “As duas coisas mais
ouvidas atualmente na televisão carioca, são: pena que nossa
televisão não seja a cores”” por uma
deferência especial da Rádio Nacional”.
Se o prestígio dos animadores de
auditório e dos cantores do rádio era grande, o dos radioatores não ficava para
trás.
As revistas o O Cruzeiro, Carioca
e as especializadas Radiolândia e Revista do Rádio reservavam colunas e colunas
com notícias e mexericos envolvendo os astros das novelas.
Para ilustrar vai ai uma pequena
amostra.
Os comediantes Tutuca e Altivo
Diniz renovaram contrato com a rede Tupi-Mayriink Veiga.
A Nacional licenciou Brandão Filho, o Primo pobre, para tratamento de
saúde.
Antonio Maria passou a escrever novo programa para a Mayrink Veiga.
Trata-se de “Uma nova comédia” ,cartaz que vem sendo apresentado às
sextas-feiras às 21 horas.
(Revista do Rádio, novembro de 1959).
A mesma Revista do Rádio chegou a
criar uma seção sob o título Notícias do
Radio-Teatro. Eis algumas notas publicadas em abril de 1959.
Eurico Silva, diretor de radio-teatro
da Nacional, traduziu “Uma voz ao longe” que a PRE-8 vem transmitindo às
20 horas. A novela tem 150 capítulos e nos principais papéis estão Paulo
Gracindo, Ísis de Oliveira e Elza Gomes.
Roberto Faissal está atualmente interpretando os seguintes papéis nas
novelas da Nacional:José, o chanceler do Egito,Marcelo em Nunca mais
felicidade, Gilberto, em Uma escada para o céu, de Janete Clair e o Cavalheiro
em O cavalheiro da noite.
Tem 130 capítulos a novela de Edgard G. Alves, intitulada A moça e a
rosa, que a PRE-8 transmite às segundas,
quartas e sextas- feiras às 13,05 horas
com Isis de Oliveira e Celso Guimarães nos principais papéis.
Rescindindo seu contrato com as Associadas e ingressando logo na
Nacional o radio ator Newton Valério que já está vivendo papéis importante na PRE-8.
Terminou a novela Mea culpa de Ciro Bassini que a Rádio Nacional
transmitia diariamente às 8,05 horas com
Roberto Faissal (Fábio) e Neida
Rodrigues (Lídia) nos principais papéis.
Em seu lugar já foi lançada “ Meu sonho é o infinito, de Carlos Gutemberg, cujos papéis principais estão confiados a Darcy Pedrosa e Nelma
Costa.
O produtor Hélio Tys está escrevendo uma novela baseada nos costumes e
hábitos ciganos Para tanto, freqüentou durante uma semana um acampamento cigano
em Olinda, Estado do Rio.
AS EXPERIENCIAS DO AUTOR DESTE
BLOG.
Eu, particularmente, vivi uma
experiência muito interessante quando comecei a trabalhar no Clube Juvenil
Toddy na Rádio Nacional em setembro de 1952. Quando chegava para os ensaios e
entrava no elevador lotado de artistas, ficava atento, ouvindo as vozes das
pessoas conversando durante o percurso que ia do térreo ao 22º. andar do edifício “A Noite”. E pensava: esta voz é do Saint-Clair Lopes. Esta é do
Apolo Correa. Ah! Este é o locutor
Afrânio Rodrigues. Esta é a Isis de Oliveira! E lá ia eu, com meus 13 anos
curtindo uma de tiete. Era um jogo curioso este, o de ligar, não o nome às pessoas, mas as
pessoas às vozes.
Vivi o outro lado da história
quando ao atuar no microfone, passei também a receber cartas de meninas que
queriam receber uma foto minha. Isso não era só comigo, era com todos os demais
jovens que trabalhavam no Clube Juvenil Toddy.
Tanto que a professora Maria de
Lourdes Alves, produtora do programa, determinou que fôssemos a um bom
fotógrafo e preparássemos uma foto bem
bonita, para mandarmos para nossos ouvintes.
Era, afinal, um fato corriqueiro
no meio artístico, esse de mandar fotos autografadas e cumpríamos a tarefa com
um prazer muito especial.
Roberto Salvador, autor do blog aos 12 anos:
ingresso na Nacional
Eis a magia do rádio. O
sortilégio capaz de conduzir multidões
às matinês de domingo, lotar os circos dos bairros, como aconteceu com “Jerônimo”,
acorrer aos teatros e devorar as revistas especializadas.
A magia “que vai através do espaço pelas asas da amplidão”.
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