segunda-feira, 25 de julho de 2016

RADIOTEATRO: A PROVA DA ACEITAÇÃO DA LINGUAGEM DA RADIODRAMATURGIA


GÊNERO VAI PARA O DISCO
ALEGRIA DOS AVÓS DE ONTEM E DOS NETINHOS DE HOJE.

Nos anos quarenta, ainda dentro do esquema da política da boa vizinhança  estabelecida entre Brasil e Estados Unidos, os filmes de Walt Disney chegavam ao Brasil representados por obras primas do desenho animado. Quem não se lembrará de Pinóquio, de Alice no país das maravilhas, de Branca de  Neve e os sete anões, de Voando para o Rio e tantos outros?
Esses filmes chegavam ao Brasil e aqui eram dublados por radioatores brasileiros. As músicas eram vertidas para o português e recebiam primorosos arranjos orquestrais. Vários profissionais se envolviam nesse trabalho de excelente qualidade artística. Os desenhos de longa metragem acolhiam um público imenso, que fazia filas intermináveis de adultos e crianças.
E um novo mercado abriu-se quando as histórias se transformaram em discos, também avidamente adquiridos por  crianças e apreciados pelos adultos de bom gosto. No início, a tecnologia gravava discos em 78 rotações por minuto, de maneira que, uma historinha de  15 a 18 minutos era vendida em lindos álbuns de capa grossa com 3 ou 4 discos daqueles que quebravam. Somente nos anos 50 chegaria o long-play, hoje conhecido como  vinil. Mas antes do long-play ou simplesmente LP, a etiqueta Carroussell colocou na praça disquinhos de 5 polegadas, coloridos em 33 rotações nos quais cabia uma historinha completa. De pronto  surgiu também a etiqueta Disquinho com um acervo de  mais de quarenta títulos, que iam desde as historinhas extraídas dos desenhos de Disney até as fábulas e os velhos contos para crianças.
Produtora Disquinho em 33 rpm:
 sucedendo as coleções dos velhos 78 rpm

Produções caprichadas


Versão Disquinho

Maestro Guerra-Peixe fez os arranjos dessa gravação.
 Em outra versão os arranjos foram de Radamés Gnatalli

Dalva de Oliveira era a voz de Branca de Neve cantando.


Carlos Galhardo era o príncipe cantando




História do Brasil cantada:
 coleção em dois volumes

Compositores famosos  se encarregavam das versões e adaptações, entre eles João de Barro, o Braguinha, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós, Fernando Lobo e muitos outros. Maestros de alto nível como Panicalli, Vareto, Eduardo Bergallo,  Luis Almeida, Carlos Monteiro de Souza e outros compunham arranjos de muito bom gosto executados por grandes orquestras.
Haroldo Barbosa traduzia e adaptava canções para o português.

Braguinha conhecido também como João de Barro: 
capacidade de compor novas letras retiradas do original inglês.


Fernando Lobo: 
talento ao readaptar as letras das canções.


Almirante cantava e interpretava personagens com sua voz grave.


Maestro Carlos Monteiro de Souza:
 bom gosto nos arranjos orquestrais.


Paulo Tapajós, Joubert de Carvalho e Leo Peracchi:
 cantor,compositor e arranjador,
 importantes na adaptação das velhas historias.

Nuno Roland e sua voz poderosa:
 cantante de reis e sábios

Marília Batista, Bidu Reis e Salmé Cotelli, As Três Marias:
Vocal feminino de presença constante nas gravações.


Albertinho Fortuna:
 bela voz para interpretar  príncipes encantados

Maestros da Nacional:
 Lirio Panicalli,Ercole Vareto, Alexandre e Radamés Gnatalli com Leo Peracchi


Maestro Lirio Panicalli


Altivo Diniz fazia vozes de animais

Lígia Sarmento: doce princesa ou temida madrasta.

Roberto Faissal herói épico ou príncipe encantado


Roberto Faissal e Domício Costa.Este imitava dezenas de vozes de animais.



Saint Clair Lopes, narrador das histórias ou rei bonachão.



Simone Moraes, radioatriz da Nacional: 
Voz bonita e constante nas historinhas.

Castro Gonzaga nos anos 40...

... e na Tevê Globo dos anos 80': 
Voz grave sempre presente nas historinhas.
\
Havia o elenco de radioteatro. Em princípio os atores  atuavam como dubladores nos filmes, mas  depois migraram também para os disquinhos. Atores famosos eram facilmente identificados pelo público que já  conhecia suas vozes do rádio: Olga Nobre, Roberto Faissal, Altivo Diniz, Castro Gonzaga, Simone Moraes, Paulo Roberto, Saint-Clair Lopes, Almirante e uma dezena de outros mais.
Os cantores também participavam. Os que mais se envolveram nesse trabalho foram Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Nuno Roland, Dalva de Oliveira, Neuza Maria, Gilda de Barros, além dos conjuntos e grupos como Trio Madrigal, As Três  Marias, Os Irmãos Tapajós e inúmeros outros.
O sucesso desses disquinhos foi tão grande junto ao público infantil que outras gravadoras também aderiram com seus projetos. O que estava restrito às etiquetas Carroussell e Disquinho foi estendido também à Polygram, à RCA, à Continental e à própria Philips.
No final dos anos sessenta, quando o radioteatro estava em processo de decadência e as emissoras de rádio partiam para a dissolução de seus elencos, a Polygram resolveu investir no gênero e editar coleções de discos infantis. Convidou o talentoso Allan Lima, ao qual me referi quando falei do radioteatro da Rádio Ministério da Educação, para adaptar e radiofonizar contos tradicionais. Assim, entre outros, foram lançados, A bela adormecida, O soldadinho de Chumbo de Hans Christian Andersen, João e Maria de Grimm e os clássicos Estória da baratinha, Chapeuzinho vermelho e outros títulos.
Allan também fazia a narração e dirigia o elenco, constituído por nomes tradicionais do radioteatro.
Maestros do nível de Luis Almeida e Carlos Monteiro de Souza se encarregavam dos arranjos. As letras e as músicas eram adaptadas pelos consagrados Fernando Lobo e João Melo.



 Allan Lima conduziu elenco de radioteatro com apoio da gravadora Polygram.

Mais recentemente Maurício de Souza também aderiu ao gênero e hoje podemos encontrar seus famosos personagens, no início  em disquinhos e  atualmente em CDs.
Eis o velho radioteatro, rejuvenescido e atual como nunca.


AS BALAS PR ERAM BALAS QUE VINHAM EMBRULHADAS EM FOTOS DE ARTISTAS DE RÁDIO DOS ANOS QUARENTA.
OBSESSIVA BUSCA PELAS  FIGURINHAS FÁCEIS E DIFÍCEIS.

Na crista da onda do sucesso do rádio e em especial das radionovelas, dos cantores, dos músicos  enfim dos artistas que atuavam no rádio surgiram, por volta de 1947, 1948 as famosas Balas PR. Eram balas que se compravam nos bares, confeitarias e botequins  e embrulhando-as vinha uma figurinha que era a foto de um astro de nossas emissoras. Eram baratas  Tão ruins que se jogava fora a bala, afinal o objetivo era a figurinha. Depois se comprava um álbum e as crianças iam colando as figurinhas montando o álbum. Mas sei que muitos adultos apreciavam a coleção, pois além de ajudarem os jovens na compra das balinhas ainda curtiam as fotos de seus artistas preferidos. Eu cheguei a juntar um álbum desses com meu primo Luis.  Mas depois vinha o subproduto da coleção que consistia em trocar figurinhas. Mas havia algumas que não saiam de jeito nenhum e eram disputadas, por que raras.  Eram as figurinhas difíceis, expressão que ficou cunhada na gíria carioca. As balas eram PR porque o prefixo das emissoras de rádio começa sempre por PR.  Nos dias de hoje é ZY, mas na época era tudo PR. A primeira emissora de rádio, a Ministério da Educação recebeu o primeiro prefixo: PRA-2. A Mayrink Veiga era a PRA-9. Depois foram surgindo as demais, sempre  obedecendo a uma certa ordem alfabética e numérica. A Tamoio, antiga Educadora era PRB-7. A Roquette-Pinto era a PRD-5.Já a   Nacional era a PRE-8, enquanto a Tupi era a PRG-3. Isso servia para o Brasil todo e não poderia haver outra emissora com um mesmo prefixo. Era igual placa de automóvel, CPF ou impressão digital.

O sucesso das Balas PR  era mais uma consequência do poder de penetração e da  popularidade do rádio. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário