O GÊNERO VAI PARA O DISCO
ALEGRIA DOS AVÓS DE ONTEM E DOS NETINHOS
DE HOJE.
Nos anos quarenta, ainda dentro
do esquema da política da boa vizinhança estabelecida entre Brasil e Estados Unidos, os
filmes de Walt Disney chegavam ao Brasil representados por obras primas do
desenho animado. Quem não se lembrará de Pinóquio,
de Alice no país das maravilhas, de Branca de
Neve e os sete anões, de Voando
para o Rio e tantos outros?
Esses filmes chegavam ao Brasil e
aqui eram dublados por radioatores brasileiros. As músicas eram vertidas para o
português e recebiam primorosos arranjos orquestrais. Vários profissionais se
envolviam nesse trabalho de excelente qualidade artística. Os desenhos de longa
metragem acolhiam um público imenso, que fazia filas intermináveis de adultos e
crianças.
E um novo mercado abriu-se quando
as histórias se transformaram em discos, também avidamente adquiridos por crianças e apreciados pelos adultos de bom
gosto. No início, a tecnologia gravava discos em 78 rotações por minuto, de
maneira que, uma historinha de 15 a 18
minutos era vendida em lindos álbuns de capa grossa com 3 ou 4 discos daqueles
que quebravam. Somente nos anos 50 chegaria o long-play, hoje conhecido como
vinil. Mas antes do long-play
ou simplesmente LP, a etiqueta Carroussell colocou
na praça disquinhos de 5 polegadas, coloridos em 33 rotações nos quais cabia
uma historinha completa. De pronto
surgiu também a etiqueta Disquinho
com um acervo de mais de quarenta
títulos, que iam desde as historinhas extraídas dos desenhos de Disney até as
fábulas e os velhos contos para crianças.
Produtora Disquinho em 33 rpm:
sucedendo as coleções dos velhos 78 rpm
Produções caprichadas
Versão Disquinho
Maestro Guerra-Peixe fez os arranjos dessa gravação.
Em outra versão os arranjos foram de Radamés Gnatalli
Dalva de Oliveira era a voz de Branca de Neve cantando.
Carlos Galhardo era o príncipe cantando
História do Brasil cantada:
coleção em dois volumes
Compositores famosos se encarregavam das versões e adaptações,
entre eles João de Barro, o Braguinha, Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós, Fernando
Lobo e muitos outros. Maestros de alto nível como Panicalli, Vareto, Eduardo
Bergallo, Luis Almeida, Carlos Monteiro
de Souza e outros compunham arranjos de muito bom gosto executados por grandes
orquestras.
Haroldo Barbosa traduzia e adaptava canções para o português.
Braguinha conhecido também como João de Barro:
capacidade de compor novas letras retiradas do original inglês.
Fernando Lobo:
talento ao readaptar as letras das canções.
Almirante cantava e interpretava personagens com sua voz grave.
Maestro Carlos Monteiro de Souza:
bom gosto nos arranjos orquestrais.
Paulo Tapajós, Joubert de Carvalho e Leo Peracchi:
cantor,compositor e arranjador,
importantes na adaptação das velhas historias.
Nuno Roland e sua voz poderosa:
cantante de reis e sábios
Marília Batista, Bidu Reis e Salmé Cotelli, As Três Marias:
Vocal feminino de presença constante nas gravações.
Albertinho Fortuna:
bela voz para interpretar príncipes encantados
Maestros da Nacional:
Lirio Panicalli,Ercole Vareto, Alexandre e Radamés Gnatalli com Leo Peracchi
Maestro Lirio Panicalli
Altivo Diniz fazia vozes de animais
Lígia Sarmento: doce princesa ou temida madrasta.
Roberto Faissal herói épico ou príncipe encantado
Roberto Faissal e Domício Costa.Este imitava dezenas de vozes de animais.
Saint Clair Lopes, narrador das histórias ou rei bonachão.
Simone Moraes, radioatriz da Nacional:
Voz bonita e constante nas historinhas.
Castro Gonzaga nos anos 40...
... e na Tevê Globo dos anos 80':
Voz grave sempre presente nas historinhas.
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Havia o elenco de radioteatro. Em princípio os atores atuavam como dubladores nos filmes, mas depois migraram também para os disquinhos.
Atores famosos eram facilmente identificados pelo público que já conhecia suas vozes do rádio: Olga Nobre, Roberto
Faissal, Altivo Diniz, Castro Gonzaga, Simone Moraes, Paulo Roberto,
Saint-Clair Lopes, Almirante e uma dezena de outros mais.
Os cantores também participavam.
Os que mais se envolveram nesse trabalho foram Paulo Tapajós, Albertinho
Fortuna, Nuno Roland, Dalva de Oliveira, Neuza Maria, Gilda de Barros, além dos
conjuntos e grupos como Trio Madrigal, As Três Marias, Os Irmãos Tapajós e inúmeros outros.
O sucesso desses disquinhos foi
tão grande junto ao público infantil que outras gravadoras também aderiram com
seus projetos. O que estava restrito às etiquetas Carroussell e Disquinho foi
estendido também à Polygram, à RCA, à Continental e à própria Philips.
No final dos anos sessenta,
quando o radioteatro estava em processo de decadência e as emissoras de rádio
partiam para a dissolução de seus elencos, a Polygram resolveu investir no
gênero e editar coleções de discos infantis. Convidou o talentoso Allan Lima,
ao qual me referi quando falei do radioteatro da Rádio Ministério da Educação,
para adaptar e radiofonizar contos tradicionais. Assim, entre outros, foram
lançados, A bela adormecida, O soldadinho
de Chumbo de Hans Christian Andersen,
João e Maria de Grimm e os clássicos Estória
da baratinha, Chapeuzinho vermelho e outros títulos.
Allan também fazia a narração e
dirigia o elenco, constituído por nomes tradicionais do radioteatro.
Maestros do nível de Luis Almeida
e Carlos Monteiro de Souza se encarregavam dos arranjos. As letras e as músicas
eram adaptadas pelos consagrados Fernando Lobo e João Melo.
Allan Lima conduziu elenco de radioteatro com apoio da gravadora Polygram.
Mais recentemente Maurício de
Souza também aderiu ao gênero e hoje podemos encontrar seus famosos
personagens, no início em disquinhos
e atualmente em CDs.
Eis o velho radioteatro,
rejuvenescido e atual como nunca.
AS BALAS PR ERAM BALAS QUE VINHAM EMBRULHADAS EM FOTOS DE ARTISTAS DE RÁDIO DOS ANOS QUARENTA.
A OBSESSIVA BUSCA PELAS FIGURINHAS FÁCEIS E DIFÍCEIS.
Na crista da onda do sucesso do
rádio e em especial das radionovelas, dos cantores, dos músicos enfim dos artistas que atuavam no rádio
surgiram, por volta de 1947, 1948 as famosas Balas PR. Eram balas que se compravam nos bares, confeitarias e
botequins e embrulhando-as vinha uma
figurinha que era a foto de um astro de nossas emissoras. Eram baratas Tão ruins que se jogava fora a bala, afinal o
objetivo era a figurinha. Depois se
comprava um álbum e as crianças iam colando as figurinhas montando o álbum. Mas
sei que muitos adultos apreciavam a coleção, pois além de ajudarem os jovens na
compra das balinhas ainda curtiam as fotos de seus artistas preferidos. Eu
cheguei a juntar um álbum desses com meu primo Luis. Mas depois vinha o subproduto da coleção que
consistia em trocar figurinhas. Mas
havia algumas que não saiam de jeito nenhum e eram disputadas, por que raras. Eram as figurinhas
difíceis, expressão que ficou cunhada na gíria carioca. As balas eram PR
porque o prefixo das emissoras de rádio começa sempre por PR. Nos dias de hoje é ZY, mas na época era tudo
PR. A primeira emissora de rádio, a Ministério da Educação recebeu o primeiro
prefixo: PRA-2. A Mayrink Veiga era a PRA-9. Depois foram surgindo as demais,
sempre obedecendo a uma certa ordem
alfabética e numérica. A Tamoio, antiga Educadora era PRB-7. A Roquette-Pinto
era a PRD-5.Já a Nacional era a PRE-8,
enquanto a Tupi era a PRG-3. Isso servia para o Brasil todo e não poderia haver
outra emissora com um mesmo prefixo. Era igual placa de automóvel, CPF ou
impressão digital.
O sucesso das Balas PR
era mais uma consequência do poder de penetração e da popularidade do rádio.
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