OUVINTES CURTEM AS RADIONOVELAS CADA VEZ MAIS.
No auge do gênero radionovela,
entre os anos 40 e 60, só a Nacional chegou a ter 20 no ar! Tudo isso além de 17 programas de radioteatro utilizando um elenco de 120 atores.
Acrescente-se à estrutura uma
equipe de sonoplastas e de contrarregras, além da orquestra de 120 músicos e 8
maestros que produziam e gravavam passagens musicais, vinhetas, efeitos sonoros
tanto para os musicais, quanto para o
radioteatro.
Segundo depoimento de Floriano
Faissal no Seminário sobre Rádio da UERJ em
22 de outubro de 1984, organizado pelo autor deste blog e Marlene Blois,
os programas de radioteatro eram o carro-chefe da Nacional. Tudo girava em
torno das novelas e dos programas
montados.
-Entre uma e outra novela, um e outro capítulo de um seriado, havia um
musical ou um noticiário. O restante era radioteatro. Disse o grande
Floriano.
Em 1945, a Revista Fon Fon realizou com a PRE-8 uma grande pesquisa popular
para escolher “Os melhores de 45”.
Claro, só deu Rádio Nacional e só
deu radioteatro.
A revista com grande alarde
publicou um convite que dizia assim:
Hoje, 16 de fevereiro, das 22 horas em diante, numa gentileza dos
Laboratórios Goulart a festa dos “Melhores
do Rádio” consagrados pelo público no Grande Concurso Radiofônico de Fon Fon !
Revista Fon Fon fez a pesquisa dos melhores do rádio em 1945
Floriano Faissal: expoente para o sucesso da Nacional
Entre os melhores estavam os
programas de radioteatro. E os
radioatores., claro.
Estes aqui eram todos da
Nacional.
-Amaral Gurgel, o melhor escritor
radioteatral.
-Almirante, o melhor autor de
programas.
-Radioteatro PRE-8 o melhor
elenco teatral.
-Paulo Gracindo, o melhor radioator.
-Ismênia dos Santos, a melhor
radioatriz.
-Lúcia Helena, melhor locutora.
-Celso Guimarães, melhor locutor
-Barbosa Junior, o melhor humorista.
-Teatro Seriado PRE8 ,o melhor
programa de novelas.
-Eucalol, o melhor patrocinador.
Almirante, melhor autor de programas
Paulo Gracindo:
melhor radioator se dividiu entre a Nacional e a Tupi
Ismênia dos Santos: voz bonita e grande intérprete.
Lucia Helena anunciava Francisco Alves aos domingos
Galã Celso Guimarães:
fundador e primeira voz da Nacional
Radamés Gnatalli com outros regentes:
afirmação da música popular brasileira pelas ondas da Nacional
Conjunto de Benedito Lacerda o melhor de 1945
Linda Batista no meio das fãs,melhor de 1945
Alziro Zarur e As Aventuras de Roberto Ricardo pela Mayrink Veiga.
Ari Barroso, melhor locutor esportivo de 1945.
Criou a gaitinha que anunciava os gols, precursora dos efeitos sonoros nas partidas de futebol.
Parte da Orquestra da Nacional em Um milhão de melodias.
Ao fundo a esquerda, percussionista Luciano Perrone, que gravou ao vibrafone o prefixo musical da Nacional Luar do Sertão em 1936, mantido até hoje.
Coca Cola chegou ao Brasil em 1941
marcando o patrocínio de Um milhão de melodias melhor programa de 1945
Sabonete que anunciava novela às 10 e meia da manhã na Nacional
Compositor Miguel Gustavo, sua mulher Sagramor Scuvero e a filha Ana Maria em 1954.
Sagramor escrevia o melhor programa feminino de 1945, O mundo não vale o seu lar, pela Rádio Mayrink Veiga.
-Radamés Gnattalli,(Nacional) o
melhor músico.
-Conjunto Benedito Lacerda (rádio
Tupi), o melhor regional.
-Linda Batista (rádio Tupi), a
melhor cantora.
-Alziro Zarur, (Aventuras de
Roberto Ricardo, Mayrink Veiga) melhor policial.
-Ari Barroso (rádio Tupi) o
melhor locutor esportivo.
-Universidade do Ar (rádio MEC),
o melhor programa instrutivo.
-O pensamento do Presidente
Vargas (Nacional) o melhor programa patriótico.
-Comentários (Nacional), o melhor
programa radiojornalístico.
-Um milhão de melodia (Nacional),
o melhor programa musical.
-Programa Luís Vassalo (Nacional)
o melhor programa de variedades.
-Teatro pelos ares (Mayrink
Veiga), o melhor programa de peças completas.
-Boletim de Guerra (Nacional), o
melhor programa de notícias sobre a Guerra.
-Cine-Radiojornal (Globo), o
melhor programa de cinema.
-O mundo não vale o seu lar
(Mayrink Veiga), melhor programa de
educação moral.
Quando a Sidney Ross no final dos
anos 40 e início dos 50, elegeu a Nacional para ser a anunciante preferencial de seus produtos,
sabia o que estava fazendo. Tecnologicamente a emissora estava muito mais bem
preparada para veicular novelas e
programas de radioteatro de qualidade.
E a audiência respondia com
níveis significativos.
A maioria da preferência do
público pela emissora da praça Mauá era
esmagadora.
Por muitos anos ela liderou as
pesquisas de audiência.
Mas um fato significativo foi revelado pelas pesquisas da
segunda metade dos anos 50.
O então florescente IBOPE dos
anos cinquenta, dava em julho de 1956, para a Nacional 14,4% . A segunda colocada,
a Tupi registrava 3,2% com a Mayrink Veiga em seus calcanhares com 3,0%. A Mauá
vinha em quarto lugar com apenas 2,0%.
As rádios Jornal do Brasil,Tamoio, Globo,Guanabara,Continental,
Eldorado, Mundial e Metropolitana estavam todas mais ou menos no mesmo nível na
casa de 1,8 ou 1,9%.
A Rádio Ministério da Educação
liderava as que tinham menos de um por
cento. Ou sejam: Copacabana, Relógio
Federal, Roquette-Pinto e Vera Cruz.
Era o fantasma da televisão que
já começava a rondar o rádio de onda-média, ou AM como se diz hoje. Tanto assim
que a mesma pesquisa indicava 63,2% de aparelhos desligados!
A Sidney Ross era um dos maiores,
se não o maior anunciante de novelas e
programas de radioteatro a partir do final da década de 40.
A programação diária era tão
intensa e com tamanha variedade de horários, incluindo sábados e domingos, que
os anunciantes contratavam locutores exclusivos. Este fato não só aliviava a
escala dos locutores, como marcava mais os produtos com as vozes exclusivas que anunciavam do Talco Ross, às Pílulas de Vida
do Doutor Ross. De Astringosol a Glostora. De Melhoral ao Leite de Magnésia de
Philips.
Patrocinador de 3 novelas diárias na Nacional
Glostora anunciava a dupla de humoristas Alvarenga e Ranchinho
Patrocinadora de Tancredo e Trancado,
domingos 19:30 na Nacional
Alguns desses excelentes locutores foram William Mendonça,
José de Assis e Waldemar Galvão. William Mendonça se tornaria mais tarde a voz
oficial da Rádio Jornal do Brasil FM. José de Assis, destacado funcionário do
Consulado Americano, pois era fluente no inglês. Waldemar Galvão dedicou-se à
publicidade.
AMARAL GURGEL, NASCEU PARA ESCREVER NOVELAS.
Muito jovem, em 1940,
teatros paulistanos já exibiam cartazes de duas peças escritas por ele.Foi
por essa época que com o surgimento da radionovela, recebeu convite para
escrever para a Rádio Nacional. Era o que faltava para se projetar no
Brasil inteiro. Amaral diria mais tarde nas
palestras e cursos que ministrava,
que possuía uma técnica para escrever novelas e peças: criava um
personagem-chave e fazia surgir conflitos. “Sem conflito não há história”.
Enquanto escrevia e mandava seus textos para a emissora,
queria saber se a história estava agradando, mesmo antes da audiência se
manifestar. Sabia através da reação de sua secretária. Se ela perguntasse se
ele estava trazendo mais capítulos a serem datilografados, era porque a
novela estava agradando. Mas se por
acaso ele indagasse dela o que estava sendo datilografado e ela respondesse
displicentemente: ah! É um capitulo de novela! Era porque a história não estava
agradando a ela. Certamente não cativaria os ouvintes.
Declarou certa vez que não sabe ao certo quantas novelas
escreveu, “só sei que tenho meia tonelada de scripts em meu arquivo”.
Patrocinava "Atire a primeira pedra"escrito por Amaral Gurgel
Patrocinador da novela das 21 horas, Nacional,
escrita, ora por Amaral Gurgel,ora por Oduvaldo Viana
Amaral Gurgel e Gerdal dos Santos:
estúdio de radioteatro da Nacional em 1953
Amaral Gurgel e sua incursão pelo cinema brasileiro
‘Alguns lembretes para quem pretende fazer rádio:
E dizia Amaral:
Procure ser sempre brasileiro, escrevendo sobre nossa terra e nossa gente. Não será
deturpando um teatro grego, com peças em moldes americanas, francesas ou
inglesas que iremos criar uma linguagem radiofônica nacional. Há excelentes
autores brasileiros em que se possa inspirar. Ao selecionar músicas prefira
também os autores nacionais populares ou eruditos mesmo que seja para uma simples passagem musical.
Sempre que houver
possibilidade procure ser local. Busque exemplos dentro do
ambiente do ouvinte. Retire das coisas que os cercam os elementos do seu
trabalho radiofônico.
Utilize o ouvinte. Faça-o
participar de seu trabalho. Ele deve ficar inserido no trabalho, pois assim seu
entusiasmo será maior e o proveito também.
Ao fazer seus “scripts” não se
esqueça de que tendo alguma coisa a dizer, diga-a logo. È um erro guardar
uma situação para mais tarde. Arrisca-se a perder tempo e a perder o interesse
do ouvinte. Esse interesse deve começar no primeiro minuto e é necessário
realimenta-lo constantemente.
Respeite os autores que
adaptar quando escrever para rádio. Não cometa o crime de contar em suas
próprias palavras o que foi narrado por um mestre. Conte uma história sua, ou
diga que inspirou-se em tal romance.
Seja natural ao escrever ou
representar. A frase bonita é nota falsa. O que vale é a verdade e a vida, em
palavras simples e frases comuns e diretas. A ordem inversa não é o melhor
caminho.
Não seja grosseiro nem
indelicado. Há uma enorme responsabilidade para quem produz, escreve ou dirige
programas de rádio. Mesmo quando não se imagina pode-se correr o risco de ferir
a audiência nas coisas mais inocentes. Por isso seja bem crítico ou peça a
opinião de companheiros.
Respeite o trabalho em equipe. Em rádio, quem quiser fazer tudo
sozinho vai se atrapalhar todo nos próximos dois minutos. Reúna a equipe com frequência
para avaliar o trabalho. Exija a participação de todos, desde a simples escolha do título do programa, ao
seu formato e conteúdo.
Seja original em seus trabalhos.
Dentro dos modelos e padrões estabelecidos sempre existe lugar para a
criatividade. Se isso lhe parece fácil, parabéns e se conseguir, você pode se
considerar um mestre.
Em rádio não há golpes de
sorte e nem se faz nada ao acaso. Tudo deve ser planejado e com objetivos bem
fundamentados dentro dos recursos que se
tem a mão.
Sábias palavras de Amaral Gurgel.
Nos anos setenta coordenei um curso para produtores de radio educativo na Secretaria de Educação do Estado do Rio de
Janeiro.
Fui então buscar o mestre em sua
casa. Ele morava numa bela casa na rua Amaral no bairro do Grajaú, Zona Norte
do Rio de Janeiro. Já estava bem velhinho, mas a cabeça sempre jovem. Ministrou um
curso brilhante e me senti honrado em resgatar aquele radialista para contar
para os mais jovens de sua técnica e experiência.
Pouco depois ele morreu, deixando
uma grande saudade e muitas lições.
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