domingo, 19 de junho de 2016

RADIO MEC: UMA SENHORA DE RESPEITO, FAZ 80 ANOS!




  EMISSORA PIONEIRA TEM MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR
Entrou no ar no dia primeiro de maio de 1936, com o nome de Rádio Ministério da Educação. Mas sua história, realmente começou em 1923, quando um grupo de jovens  cientistas e intelectuais fundou a  primeira estação de rádio do Brasil. Esse grupo tinha a frente Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize. Era o dia  20 de abril. Recebeu  o nome de Rádio Sociedade do Rio de Janeiro pelo fato de que os jovens se cotizaram e juntaram esforços para fundar uma emissora  de rádio. Era mesmo uma  sociedade.
Roquette-Pinto: 
 antropólogo, médico, sanitarista, etnólogo,pesquisador e professor. 
Um sábio.

O jovem Roquette-Pinto: viagem com Rondon. Fotografou, filmou, 
conheceu e pesquisou os índios do Mato Grosso

Era presidente da Academia Brasileira de Ciências
 quando introduziu o rádio no Brasil.



Henrique Morize,  aliado de Roquette:
 era o vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências. 


Einstein (de bigode e com chapéu branco no colo) 
esteve no Brasil e quis conhecer Morize, que está a sua esquerda


Mestre Roquette, no centro, cercado de companheiros:
  reunião de produção da Rádio Sociedade

Se houvesse sido contado o tempo de Rádio Sociedade, a emissora teria agora 93 anos.  Mas as autoridades optaram por considerar o tempo da Rádio MEC a partir de 1936. O que aconteceu, foi que em 1936, Roquette-Pinto e seus companheiros não tinham mais recursos para prosseguir com o projeto Rádio Sociedade e não viram outra  alternativa senão a de doar tudo ao Ministério da Educação e Saúde. Na ocasião mestre Roquette-Pinto declarou na solenidade de doação: “sinto-me  como aquele pai que entrega sua filha ao noivo em frente ao altar”.As dificuldades financeiras provinham do fato de que   Roquette-Pinto não via o rádio como um negócio e sim,como um instrumento de melhoria do nosso povo.Como ele mesmo  afirmou  um dia: 
“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com o espírito altruísta e elevado”. 

Instalações da Rádio Sociedade 



Recorte histórico: 
 inauguração da primeira estação de rádio do Brasil.

O documento de doação apresentava, entre outros itens, a condição de que a emissora se dedicasse a uma programação voltada para a melhoria de nosso povo, sob pena da família do doador, retomar o  canal da emissora. Por isso, até hoje, a rádio MEC entra e sai do ar sempre com esta frase do grande sábio brasileiro: “Pela cultura dos que vivem em nossa pátria, pelo progresso do Brasil.”
Para cumprir seus objetivos, a emissora transmitia aulas através de seu “Colégio do Ar”,”Ginástica pelo Rádio”, “Ópera Completa”(o mais antigo programa do rádio brasileiro. Sessenta anos no ar),”Atendendo aos ouvintes” e música,muita música clássica e música brasileira de qualidade.
Rádio MEC na praça da República 141, imita uma caixa de som.
Anteriormente era o necrotério da cidade

As primeiras mesas de áudio tinham apenas 4 canais


 Eis que, com o  surgimento do radioteatro nas demais emissoras, aos poucos, este formato de programa foi também sendo incluído na programação, sempre com a preocupação precípua de educar e melhorar o nível de nosso povo.

 Ginástica pelo rádio: 
 um dos primeiros programas da emissora.
Monumento na praça Saens Peña 

Dia da inauguração do monumento, iniciativa de seus ouvintes.
 Oswaldo Diniz no centro, cercado por radioginastas


Professor Oswaldo Diniz Magalhães, criador da Ginástica pelo rádio:
 programas ao vivo todas as manhãs cedinho.
Ficou no ar mais de 51 anos!

Foi assim que em março de 1941, quando o grande Fernando Tude de Souza,discípulo e um dos sucessores de Roquette-Pinto, era diretor geral da emissora, tendo outra figura importante, René Cavé,  como diretor artístico instituíram um concurso para descobrir  jovens talentos para trabalharem no programa que seria lançado: “O Teatro da Mocidade”. Vejam como as coisas iam evoluindo. Enquanto Vitor Costa,Floriano Faissal e Olavo de Barros iam buscar atores de teatro para transformá-los em radioatores, eis que a MEC abre um concurso para preparar radialistas desde a mais tenra idade. Um desses valores foi Fernanda Montenegro, que nesta época tinha apenas  15 anos de idade, quando estreou numa peça de Cláudio Fornari, autor importante na época, chamada “Sinhá Moça Chorou”.
Quando acabou a Segunda Guerra, o René Cavé, de origem francesa, criou um programa de radioteatro chamado “ Franceses nós cremos em vós”. Histórias ligadas à cultura francesa. É bom lembrar que, nessa época, a influência francesa na nossa cultura era muito grande. Era um programa de pós-guerra, que vislumbrava um mundo melhor, pleno de esperança e liberdade.
Uma outra iniciativa da Rádio Ministério da Educação no sentido de descobrir e aproveitar novos talentos para o rádio foi o programa “A juventude cria” dirigido pelo professor Libânio Guedes do Colégio Pedro II. 
Allan Lima e Ieda Oliveira: vozes do radioteatro da MEC,anos 50.

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A mesma dupla décadas depois, atuando em dublagem de filmes


Fernanda Montenegro aos 15 anos: 
radioatriz da Rádio
 MEC



O senador Arthur da Távola começou na rádio MEC ainda estudante.

Radioatriz Thereza Amayo:
 inicio na MEC quando adolescente.
Depois fez teatro e televisão 



Sadi Cabral ator e compositor, dirigiu o radioteatro da emissora.

 Foi um celeiro de futuros  grandes radialistas, tais como Allan Lima, Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Arthur da Távola, Haroldo Costa, Edmundo Lins, Thereza Amayo, Magalhães Graça e Chico Anísio, entre outros. Havia também concurso para locutores e um deles emergiu nessa safra: José de Vasconcelos que  mais tarde se transformaria em radioator, imitador, humorista e um dos maiores nome do nosso rádio e da televisão.


Foi   em 1945 que Geni Marcondes chegou à rádio MEC. Graças ao seu talento começaram a surgir programas de radioteatro  para crianças. Fez história “No reino da alegria”. Um elenco primoroso interpretava as alegres radiofonizações de Geni, imitando vozes de bichos, plantas, tudo com muita música, pois Geni era professora de música e casada com o maestro Kolreuter Do elenco faziam parte, entre outros,  Allan Lima,  Jaime Barcellos, Vitória Régia, Álvaro Costa, Nanci do Nascimento, Ieda Oliveira,Orlando Prado  e outros. Quem dirigia o radioteatro era Sadi Cabral,parceiro de Mário Lago e que depois fez novela na Globo.
Allan Lima em depoimento ao  jornal da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC, SOARMEC em março de 2003, nos conta:
“No reina da alegria” ia ao ar ao vivo das 17 e 30 às 18 horas. Às 16 e trinta nós chegávamos para ensaiar, não só o texto, como também as músicas. E as crianças (cantavam num pequeno coral) eram ótimas! Uma vez dona Geni disse  para o Orlando Prado: Orlando imagine que você é um peixe debaixo  d’água e fale com voz de peixe”.
Então ele falou com uma voz de peixe, uma voz borbulhante... Ninguém sabe como ele conseguiu fazer aquilo, sem estar com um copo d’água! Mas ele ficou olhando, olhando  pensou e conseguiu”
Fernando Tude de Souza sucedeu Roquette: 
decisivo no seguimento da missão..


Violonista Garoto, autor da melodia de "Gente Humilde"
com Geni Marcondes e Fernando Tude de Souza
.
No “Reino da alegria’ transmitiu uma série chamada “O Rei Pimpão” (Magalhães Graça) onde havia uma   certa “Rainha Finoca” interpretada por Fernanda Montenegro.

Fernanda Montenegro aos 17 anos: "a rainha Finoca"

Geni transformou em radioteatro o  “Sitio do pica-pau amarelo  que tinha Dylmo Elias como Pedrinho. Coube a  Silvia Regina radiofonizar toda a obra infantil de Monteiro Lobato. Os programas iam ao ar no fim de tarde, concorrendo com a programação infanto-juvenil da Nacional. Esta apresentava as “Histórias do Tio Janjão” e  “No meu tempo de rapaz” escritos por Oranice Franco, que depois seria membro da Academia Brasileira de Letras.
Mas o radioteatro da PRA-2 não era só para crianças. Havia uma programação noturna, no então horário nobre que apresentava programas  muito interessantes.

ABREM-SE NOVOS HORIZONTES!

   O dr. Miécio era médico e gostava muito de ouvir a MEC. Certa ocasião fez uma viagem a serviço, à Amazônia. Ao voltar resolveu escrever um programa dramatizado sobre o que viu, numa época em que a Amazônia  era muito pouco conhecida pelos brasileiros. Com a cara e a coragem levou seus escritos ao diretor René Cave, que mesmo sem conhecer o médico, aceitou  colocar o material no ar. Daí surgiu a série “Viagem Maravilhosa”, que narrava a história de um jovem médico descendo um rio da Amazônia. Houve desdobramentos e surgiu depois outra série que se chamou “Esse mundo maravilhoso”.
Esta série contou também com os textos de Pascoal Longo, outro que escreveu programas lindos de radioteatro na MEC.
Mas voltando a  Miécio Hônkis, ele  escrevia dois programas muito inteligentes para o radioteatro da MEC: “Novos Horizontes” e “No tribunal da história”. O primeiro ia ao ar às sextas à noite. Paulo Santos, a voz padrão da emissora, anunciava com voz solene: No ar: Novos Horizontes.
E entrava uma melodia muito bonita e vibrante, que depois descobri era a “Sinfonia do Novo Mundo”. A música baixava e Santos lia o texto de abertura:

Paulo Santos, locutor padrão da MEC. 
Fazia também sonoplastia do radioteatro.


Se há uma classe de homens que merece a nossa admiração e o nosso respeito, é esta, sem dúvida, a dos cientistas. Aqueles que no seu labor perene e constante,  fazem surgir da penumbra dos laboratórios a luz de um futuro melhor. A luz que abre novos horizontes ao porvir da humanidade.

   O programa dramatizava a vida de cientistas e suas descobertas.
“No tribunal da história” tinha um formato muito criativo. Era realmente um júri em que eram julgadas figuras importantes da história. Havia um Relator e um Juiz. O Meirinho anunciava: -“Está aberta a seção. Em pauta o julgamento de Maria Antonieta. Tem a palavra o Relator para a leitura do processo.”
O Relator era o narrador do programa que ia contando os fatos, entremeados com os diálogos dos atores.
Em determinado momento o Juiz dizia: “Tem a palavra o senhor Promotor para a acusação”.
O Promotor fundamentava sua acusação. Depois entrava o advogado de defesa. E assim seguia o julgamento. Os ouvintes, por carta,  condenavam ou absolviam o réu. O veredicto era dado na semana seguinte. Um programa inteligente.
O dr. Miécio  foi fundador do Planetário da Gávea e com isto estava sempre a par das novidades no mundo da Astronomia e da Astrofísica. Foi quando “Novos Horizontes” deu uma guinada para a ciência do espaço, na onda da corrida espacial dos anos 50 e 60. Grande visão tinha esse misto de cientista e radialista.
A PRA-2 nunca fez novelas. Quando muito levou ao ar  “histórias sequenciadas” segundo nos conta Allan Lima:
Fiz  Fogo Morto  uma história emendava na outra, continuando no dia seguinte, mas não  terminava num ponto de suspense (gancho) como um novela.
A MEC lançou também o “Clube dos 13”. Em meados dos anos 50.Uma ideia de Pascoal Longo que consistiu em reunir 13 escritores importantes na época, tais como Dinah Silveira de Queiroz, José Conde, Marques Rebello e outros. Havia uma promoção para o ouvintes descobrir quem seria o 13º. Escritor. Quem escrevesse e acertasse ganhava um livro.
Dinah Silveira de Queiroz, escrevia programas para a emissora.

Por sinal os programas da rádio distribuíam muitos livros entre os ouvintes. Quase todos os programas tinham promoções nesse sentido. Isso era importante sob o ponto de vista cultural e também aferia a audiência da emissora. Num tempo em que o telefone no Rio de Janeiro era objeto raro, restava o correio. E como o correio era importante.
Sergio Viotti: sucessos do teatro, no rádio

O TEATRO SERGIO VIOTTI

Viotti era um homem de teatro que veio para a MEC. Nos anos 60 e a convite do diretor Avelino Henrique  eram  dramatizadas peças de teatro.Contudo, era mais teatro do que rádio. Bem verdade que havia efeitos sonoros e sonoplastia e a criteriosa seleção de Viotti que buscava peças de teatro  que tivessem boa aceitação no rádio. Já então os programas eram gravados em fita de rolo, pois os primeiros gravadores chegavam ao Brasil.

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