EMISSORA PIONEIRA TEM MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR
Entrou no ar no dia primeiro de maio de 1936, com o nome de
Rádio Ministério da Educação. Mas sua história, realmente começou em 1923, quando um grupo
de jovens cientistas e intelectuais
fundou a primeira estação de rádio do
Brasil. Esse grupo tinha a frente Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize. Era
o dia 20 de abril. Recebeu o nome de Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
pelo fato de que os jovens se cotizaram e juntaram esforços para fundar uma
emissora de rádio. Era mesmo uma sociedade.
Roquette-Pinto:
antropólogo, médico, sanitarista, etnólogo,pesquisador e professor.
Um sábio.
O jovem Roquette-Pinto: viagem com Rondon. Fotografou, filmou,
conheceu e pesquisou os índios do Mato Grosso
Era presidente da Academia Brasileira de Ciências
quando introduziu o rádio no Brasil.
Henrique Morize, aliado de Roquette:
era o vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências.
Einstein (de bigode e com chapéu branco no colo)
esteve no Brasil e quis conhecer Morize, que está a sua esquerda
Mestre Roquette, no centro, cercado de companheiros:
reunião de produção da Rádio Sociedade
Se houvesse sido contado o tempo de
Rádio Sociedade, a emissora teria agora 93 anos. Mas as autoridades optaram por considerar o
tempo da Rádio MEC a partir de 1936. O que aconteceu, foi que em 1936,
Roquette-Pinto e seus companheiros não tinham mais recursos para prosseguir com
o projeto Rádio Sociedade e não viram outra alternativa senão a de doar tudo ao Ministério
da Educação e Saúde. Na ocasião mestre Roquette-Pinto declarou na solenidade de
doação: “sinto-me como aquele pai que
entrega sua filha ao noivo em frente ao altar”.As dificuldades financeiras
provinham do fato de que Roquette-Pinto
não via o rádio como um negócio e sim,como um instrumento de melhoria do nosso
povo.Como ele mesmo afirmou um dia:
“O rádio é o jornal de
quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento do
pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos
sãos, desde que o realizem com o espírito altruísta e elevado”.
Instalações da Rádio Sociedade
Recorte histórico:
inauguração da primeira estação de rádio do Brasil.
O documento de
doação apresentava, entre outros itens, a condição de que a emissora se
dedicasse a uma programação voltada para a melhoria de nosso povo, sob pena da
família do doador, retomar o canal da
emissora. Por isso, até hoje, a rádio MEC entra e sai do ar sempre com esta
frase do grande sábio brasileiro: “Pela cultura dos que vivem em nossa pátria,
pelo progresso do Brasil.”
Para cumprir seus objetivos, a emissora transmitia aulas
através de seu “Colégio do Ar”,”Ginástica pelo Rádio”, “Ópera Completa”(o
mais antigo programa do rádio brasileiro. Sessenta anos no ar),”Atendendo aos ouvintes” e música,muita música clássica e música brasileira de
qualidade.
Rádio MEC na praça da República 141, imita uma caixa de som.
Anteriormente era o necrotério da cidade
As primeiras mesas de áudio tinham apenas 4 canais
Eis que, com o surgimento do
radioteatro nas demais emissoras, aos poucos, este formato de programa foi
também sendo incluído na programação, sempre com a preocupação precípua de
educar e melhorar o nível de nosso povo.
Ginástica pelo rádio:
um dos primeiros programas da emissora.
Monumento na praça Saens Peña
Dia da inauguração do monumento, iniciativa de seus ouvintes.
Oswaldo Diniz no centro, cercado por radioginastas
Professor Oswaldo Diniz Magalhães, criador da Ginástica pelo rádio:
programas ao vivo todas as manhãs cedinho.
Ficou no ar mais de 51 anos!
Foi assim que em março de 1941, quando o grande Fernando
Tude de Souza,discípulo e um dos sucessores de Roquette-Pinto, era diretor
geral da emissora, tendo outra figura importante, René Cavé, como diretor artístico instituíram um
concurso para descobrir jovens talentos
para trabalharem no programa que seria lançado: “O Teatro da Mocidade”. Vejam como
as coisas iam evoluindo. Enquanto Vitor Costa,Floriano Faissal e Olavo de
Barros iam buscar atores de teatro para transformá-los em radioatores, eis que
a MEC abre um concurso para preparar radialistas desde a mais tenra idade. Um
desses valores foi Fernanda Montenegro, que nesta época tinha apenas 15 anos de idade, quando estreou numa peça de
Cláudio Fornari, autor importante na época, chamada “Sinhá Moça Chorou”.
Quando acabou a Segunda Guerra, o René Cavé, de origem
francesa, criou um programa de radioteatro chamado “ Franceses nós cremos em vós”. Histórias ligadas à cultura
francesa. É bom lembrar que, nessa época, a influência francesa na nossa
cultura era muito grande. Era um programa de pós-guerra, que vislumbrava um
mundo melhor, pleno de esperança e liberdade.
Uma outra iniciativa da Rádio Ministério da Educação no
sentido de descobrir e aproveitar novos talentos para o rádio foi o programa “A
juventude cria” dirigido pelo professor Libânio Guedes do Colégio Pedro
II.
Allan Lima e Ieda Oliveira: vozes do radioteatro da MEC,anos 50.
A mesma dupla décadas depois, atuando em dublagem de filmes
Fernanda Montenegro aos 15 anos:
radioatriz da Rádio
MEC
O senador Arthur da Távola começou na rádio MEC ainda estudante.
Radioatriz Thereza Amayo:
inicio na MEC quando adolescente.
Depois fez teatro e televisão
Sadi Cabral ator e compositor, dirigiu o radioteatro da emissora.
Foi um celeiro de futuros grandes radialistas, tais como Allan Lima,
Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Arthur da Távola, Haroldo Costa, Edmundo
Lins, Thereza Amayo, Magalhães Graça e Chico Anísio, entre outros. Havia também
concurso para locutores e um deles emergiu nessa safra: José de Vasconcelos
que mais tarde se transformaria em
radioator, imitador, humorista e um dos maiores nome do nosso rádio e da
televisão.
Foi em 1945 que Geni
Marcondes chegou à rádio MEC. Graças ao seu talento começaram a surgir
programas de radioteatro para crianças.
Fez história “No reino da alegria”. Um elenco primoroso interpretava as alegres
radiofonizações de Geni, imitando vozes de bichos, plantas, tudo com muita
música, pois Geni era professora de música e casada com o maestro Kolreuter Do
elenco faziam parte, entre outros, Allan
Lima, Jaime Barcellos, Vitória Régia,
Álvaro Costa, Nanci do Nascimento, Ieda Oliveira,Orlando Prado e outros. Quem dirigia o radioteatro era Sadi
Cabral,parceiro de Mário Lago e que depois fez novela na Globo.
Allan Lima em depoimento ao
jornal da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC, SOARMEC em março
de 2003, nos conta:
“No reina da alegria” ia ao ar ao vivo das 17 e 30 às 18
horas. Às 16 e trinta nós chegávamos para ensaiar, não só o texto, como também
as músicas. E as crianças (cantavam num pequeno coral) eram ótimas! Uma vez
dona Geni disse para o Orlando Prado:
Orlando imagine que você é um peixe debaixo
d’água e fale com voz de peixe”.
Então ele falou com uma voz de peixe, uma voz borbulhante...
Ninguém sabe como ele conseguiu fazer aquilo, sem estar com um copo d’água! Mas
ele ficou olhando, olhando pensou e
conseguiu”
Fernando Tude de Souza sucedeu Roquette:
decisivo no seguimento da missão..
Violonista Garoto, autor da melodia de "Gente Humilde"
com Geni Marcondes e Fernando Tude de Souza
.
No “Reino da alegria’ transmitiu uma série chamada “O Rei
Pimpão” (Magalhães Graça) onde havia uma
certa “Rainha Finoca” interpretada por Fernanda Montenegro.
Fernanda Montenegro aos 17 anos: "a rainha Finoca"
Geni transformou em radioteatro o “Sitio do pica-pau amarelo que tinha Dylmo Elias como Pedrinho. Coube
a Silvia Regina radiofonizar toda a obra
infantil de Monteiro Lobato. Os programas iam ao ar no fim de tarde,
concorrendo com a programação infanto-juvenil da Nacional. Esta apresentava as
“Histórias do Tio Janjão” e “No meu
tempo de rapaz” escritos por Oranice Franco, que depois seria membro da
Academia Brasileira de Letras.
Mas o radioteatro da PRA-2 não era só para crianças. Havia
uma programação noturna, no então horário nobre que apresentava programas muito interessantes.
ABREM-SE NOVOS HORIZONTES!
O dr. Miécio era
médico e gostava muito de ouvir a MEC. Certa ocasião fez uma viagem a serviço,
à Amazônia. Ao voltar resolveu escrever um programa dramatizado sobre o que
viu, numa época em que a Amazônia era
muito pouco conhecida pelos brasileiros. Com a cara e a coragem levou seus
escritos ao diretor René Cave, que mesmo sem conhecer o médico, aceitou colocar o material no ar. Daí surgiu a série
“Viagem Maravilhosa”, que narrava a história de um jovem médico descendo um rio
da Amazônia. Houve desdobramentos e surgiu depois outra série que se chamou
“Esse mundo maravilhoso”.
Esta série contou também com os textos de Pascoal Longo,
outro que escreveu programas lindos de radioteatro na MEC.
Mas voltando a Miécio
Hônkis, ele escrevia dois programas
muito inteligentes para o radioteatro da MEC: “Novos Horizontes” e “No tribunal
da história”. O primeiro ia ao ar às sextas à noite. Paulo Santos, a voz padrão
da emissora, anunciava com voz solene: No ar: Novos Horizontes.
E entrava uma melodia muito bonita e vibrante, que depois
descobri era a “Sinfonia do Novo Mundo”. A música baixava e Santos lia o texto
de abertura:
Paulo Santos, locutor padrão da MEC.
Fazia também sonoplastia do radioteatro.
Se há uma classe de
homens que merece a nossa admiração e o nosso respeito, é esta, sem dúvida, a
dos cientistas. Aqueles que no seu labor perene e constante, fazem surgir da penumbra dos laboratórios a
luz de um futuro melhor. A luz que abre novos horizontes ao porvir da
humanidade.
O programa
dramatizava a vida de cientistas e suas descobertas.
“No tribunal da história” tinha um formato muito criativo.
Era realmente um júri em que eram julgadas figuras importantes da história.
Havia um Relator e um Juiz. O Meirinho anunciava: -“Está aberta a seção. Em
pauta o julgamento de Maria Antonieta. Tem a palavra o Relator para a leitura
do processo.”
O Relator era o narrador do programa que ia contando os
fatos, entremeados com os diálogos dos atores.
Em determinado momento o Juiz dizia: “Tem a palavra o senhor
Promotor para a acusação”.
O Promotor fundamentava sua acusação. Depois entrava o
advogado de defesa. E assim seguia o julgamento. Os ouvintes, por carta, condenavam ou absolviam o réu. O veredicto
era dado na semana seguinte. Um programa inteligente.
O dr. Miécio foi
fundador do Planetário da Gávea e com isto estava sempre a par das novidades no
mundo da Astronomia e da Astrofísica. Foi quando “Novos Horizontes” deu uma
guinada para a ciência do espaço, na onda da corrida espacial dos anos 50 e 60.
Grande visão tinha esse misto de cientista e radialista.
A PRA-2 nunca fez novelas. Quando muito levou ao ar “histórias sequenciadas” segundo nos conta
Allan Lima:
Fiz Fogo Morto
uma história emendava na outra, continuando no dia seguinte, mas
não terminava num ponto de suspense
(gancho) como um novela.
A MEC lançou também o “Clube dos 13”. Em meados dos anos
50.Uma ideia de Pascoal Longo que consistiu em reunir 13 escritores importantes
na época, tais como Dinah Silveira de Queiroz, José Conde, Marques Rebello e
outros. Havia uma promoção para o ouvintes descobrir quem seria o 13º.
Escritor. Quem escrevesse e acertasse ganhava um livro.
Dinah Silveira de Queiroz, escrevia programas para a emissora.
Por sinal os programas da rádio distribuíam muitos livros
entre os ouvintes. Quase todos os programas tinham promoções nesse sentido.
Isso era importante sob o ponto de vista cultural e também aferia a audiência
da emissora. Num tempo em que o telefone no Rio de Janeiro era objeto raro,
restava o correio. E como o correio era importante.
Sergio Viotti: sucessos do teatro, no rádio
O TEATRO SERGIO VIOTTI
Viotti era um homem de teatro que veio para a MEC. Nos anos
60 e a convite do diretor Avelino Henrique
eram dramatizadas peças de
teatro.Contudo, era mais teatro do que rádio. Bem verdade que havia efeitos
sonoros e sonoplastia e a criteriosa seleção de Viotti que buscava peças de
teatro que tivessem boa aceitação no
rádio. Já então os programas eram gravados em fita de rolo, pois os primeiros
gravadores chegavam ao Brasil.
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