Mas
vamos voltar mais uma vez ao início dos
anos quarenta para contar o que acontecia nas outras emissoras em termos de
radioteatro.
Após o sucesso de “Em Busca
da Felicidade” as radionovelas entraram
em sua fase áurea. Destaque para “O
direito de nascer” famosa novela de Félix Cagné que a Nacional levou ao ar no famoso horário do Radioteatro Colgate-Palmolive das segundas,
quartas e sextas das 20 horas.
Paralelamente, outras emissoras
mantinham horários de novelas, tanto durante o dia quanto à noite.
A rádio que mais competia com a
PRE-8 era a Tupi, a PRG-3, a qual tinha horários de novela às 13, às 14 e às 16 horas – o
famoso Teatro das Quatro.
O TEATRO DAS QUATRO
Consistia em peças completas e diárias com trinta minutos de duração sob o patrocínio
dos produtos da Anderson Clayton: margarina e óleo vegetal Saúde.
Patrocinadores do Teatro das Quatro
Vários autores escreviam para o Teatro
das Quatro, entre os quais Sarita Campos, Castro Gonzaga e Walter Foster.
Walter Foster era radioator e escrevia novelas
Castro Gonzaga e Ioná Magalhães.
Ele escrevia e atuava em novelas da Tupi.Ela começou adolescente no radioteatro da Tupi, TV Tupi e brilhou na Globo. Morreu aos 80 anos.
Eram sempre dramas, amores
sofridos e impossíveis. O elenco era pequeno. Nunca mais do que cinco
personagens, pois numa dramatização de trinta minutos, maior número desses
poderia confundir a cabeça do ouvinte.
O diretor de radioteatro era Olavo de Barros, um pioneiro no radioteatro no Rio e na Tupi. Não me lembro de vê-lo atuando em outra emissora.
No dia 14 de março de 1952, em pleno auge do sucesso
do Teatro das Quatro foi levada ao ar uma história escrita por Castro Gonzaga.
O drama se passa nas florestas da Malásia
e começa com a cena de um homem branco, Jack, caçador profissional,
(Paulo Maurício) muito doente, atacado de malária, sendo transportado de canoa
por seu fiel criado,Kong,vivido por Avalone Filho. Como não houvesse socorro
por perto eles foram dar em uma ilha fluvial. Lá são acolhidos pelo dono da fazenda, Norman
(Castro Gonzaga), casado com Mirthes,
(Amélia Simone). Ela se dedica a tratar
de Jack e entre dois surge uma amizade, o que a leva a revelar sua
história. A partir daí a trama se desenrola em flash-back. Mirthes , moça inexperiente e em busca
de proteção, se casara com Norman, homem rude e rico,mais velho do que ela e
ambos foram viver naquela ilha, uma imensa fazenda de sua propriedade. Um dia
recebem a visita de um viajante, Tony, amigo de Norman. Mirthes e Tony se apaixonam loucamente à
primeira vista.
Norman descobre tudo e mata Tony.
O marido, então, que exercia forte
domínio sobre a esposa a convence
a dizer às autoridades que fora um
acidente. Como Norman era muito poderoso
na região, o caso é abafado. A moça não teve outra alternativa, senão
compactuar com o marido, embora amasse muito . Se ela revelasse a verdade às
autoridades, não só não lhe dariam
ouvidos, como ela teria que pagar caro
pela ousadia de falar a verdade. Se resolvesse fugir, certamente se perderia na
floresta, atacada pelos animais ou pela malária. Mirthes então opta por se
submeter à vontade do marido e fica assim condenada a viver em sua companhia
para o resto de sua vida, embora o odiando.
Jack, ouve toda a triste história
da moça e já recuperado resolve partir. Norman
e Mirthes vão se despedir de Jack e Kong na entrada da fazenda e ambos
partem. Enquanto a canoa desce o rio, Jack não esconde sua tristeza por ver
aquela moça tão jovem e bonita com sua vida destruída pela fatalidade. E sem
esconder sua tristeza apenas se volta para Kong, dizendo: Amigo...isso é o que se chama de “destroços
de uma vida”; Isso tudo é muito triste! Ao que o criado responde:
-Isso patrão! Tem razão
patrão.! E como que mudando de assunto,
exclama: -A caminho de
Singapura !
E o ruído da canoa cortando as
águas se funde com uma melodia triste e
compassada marcando o final da história.
Eram histórias desse tipo que o
Teatro das Quatro mostrava todas as tardes por
quase duas décadas.
Orlando Drumond, contraregra no Teatro das Quatro.
Depois brilhou na TV. Quem se lembra de "Seu Peru"? É também um um grande dublador
Os recursos do estúdio de
radioteatro da Tupi, não se comparavam aos da Nacional. A sonoplastia e os
efeitos sonoros eram mais discretos. Como que sabendo das limitações técnicas,
os autores, ao escreverem suas histórias, optavam por uma linha mais discreta.
A sonofonia era mais linear, sem grande arroubos. Digamos
assim: numa dramatização de 25 minutos na Nacional a sonofonia chegava a utilizar cerca de trinta discos. Na
Tupi não chegava a dez. Os ruídos de contra-regra também não eram muito incluídos nos scripts e quando
existiam eram triviais, facilmente executáveis .
Em suma, os autores
escreviam histórias calcadas na
criatividade da trama, na inteligência dos roteiros e na excelência do pequeno, mas eficiente elenco de radioteatro
da Tupi. A redução do elenco forçava os
radioatores a serem bastante
ecléticos. Era comum atuarem num drama durante a tarde e viveram papéis
humorísticos à noite. Não quero dizer que o mesmo não poderia acontecer com os componentes do elenco da Nacional, mas
eram casos mais raros. Paulo Gracindo atuava como galã na novela das oito da noite
e dez minutos depois era o Primo Rico no “Balança mas não cai”. O mesmo
acontecia com Floriano Faissal, que vivia papéis dramáticos durante a semana e
humorísticos aos domingos à tarde no
“Tabuleiro da Baiana”.
Mas voltando ao radioteatro da
Tupi. Havia um excelente ator, chamado
Germano. Na Tupi fazia papéis cômicos e dramáticos. Atuava muito no “Incrível,
Fantástico, Extraordinário” de Almirante . Pois
Germano se consagrou depois na Nacional, no “Balança”, vivendo o personagem
“Peladinho”, criado por Max Nunes, em que ele sofria e vibrava com o
rubro-negro todas as sextas-feiras, criando o bordão que ficou famoso: “Mengo,
tu é o maior”!
Germano na Rádio Tupi, brilhou também na Nacional
Nádia Maria:
brilhante no rádio e na televisão
Nádia, era assim quando começou na Tupi nos anos 50.
Hamilton Ferreira: talento e versatilidade.
Dirigiu o radioteatro da Tupi e atuou no cinema
Ida Gomes, mulher má nas radionovelas dos anos 50.
Lembram-se Doroteia, uma das irmãs Cajazeiras em O Bem amado?
Abel Pera (no alto), Castro Gonzaga, Otávio França (de óculos) e João Fernandes de terno escuro: versatilidade no radioteatro da Tupi nos anos 40 e 50.
Citando esses atores versáteis da
Tupi eu lembraria de Edelzia dos Santos, Leda Maria, Hamilton Ferreira e Duarte
de Moraes.
Nancy Wanderley, que foi uma das
primeiras esposas de Chico Anísio, era uma excelente atriz dramática das
novelas da Tupi e que depois se afirmou também como atriz cômica na mesma Tupi
e depois nos famosos programas humorísticos da Mayrink Veiga.
E quem não se lembra de Nádia
Maria, Terezinha Moreira e Octávio França? De dia drama, de noite humor.
Maria Muniz escrevia novelas para o galã Telmo de Avelar
Telmo de Avelar, hoje. A bela voz não muda.
Luiz Quirino e Olavo de Barros.
O primeiro, novelista, o segundo ator e diretor
Embora reduzido, belo, versátil e
excelente “cast” do radioteatro da velha rádio Tupi.
A Tupi tinha, portanto, horário de novelas
durante a tarde, tentando competir com as novelas da Nacional, nos mesmos
horários.
Radioatores em ação!
Os patrocinadores, entre outros,
eram o creme Dental Odol, o Biotônico Fontoura e a Margarina Saúde.
"Biotônico Fontoura, o mais completo fortificante".
Lourdes Mayer, talento no rádio e depois na televisão
Lourdes era assim, quando começou a fazer radionovelas.
Era filha da radioatriz Maria do Carmo
Dava gosto acompanhar as novelas
de Walter Foster, Sarita Campos e Castro Gonzaga.
E o elenco era muito bom. Paulo
Porto, Ribeiro Fortes, o próprio Walter Foster, Antonio Leite, Telmo de Avelar,
Paulo Maurício, Paulo Moreno, ora eram galãs ora eram vilões.
As estrelas femininas eram
Lourdes Mayer, Nancy Wanderley, Terezinha Nascimento, Mildred dos Santos ou
Norka Smith. A maior estrela, porém do radioteatro da Tupi e que mais atuava
era Amélia Simone. Pontificavam em sua atuação papéis sofridos e
amores impossíveis.
Paulo Gracindo, enquanto atuou na
Tupi, antes de ir, definitivamente, para a Nacional no início dos anos 50 para
ser Albertinho Limonta em “O Direito de Nascer”, era certamente, a maior
estrela da Tupi.
Nancy Wanderley: brilhante no drama e na comédia.
O diretor de radioteatro era
Olavo de Barros, um pioneiro no radioteatro no Rio e na Tupi. Não me lembro de
vê-lo atuando em outra emissora.
PAULO PORTO: GALÃ E PROFESSOR AJUDA SEUS ALUNOS
Outro que sempre foi fiel ao
“Cacique do Ar” foi Paulo Porto. Seu nome verdadeiro era Paulo Ventania Porto,
que pelas manhãs dava aula de Português no tradicional Instituto Rabelo, em frente ao Colégio Militar Militar na rua São Francisco Xavier, Zona Norte do Rio de Janeiro. Paulo era um
excelente professor, admirado por seus alunos, especialmente as alunas, pois
era um homem muito educado, culto e bonito. Um galã, que depois foi ser
pioneiro nos teleteatros da TV Tupi e sempre se dedicando ao cinema sério,
atuando e dirigindo vários filmes.
Paulo Porto, brilhante no radio, televisão, teatro e cinema. Dirigiu e interpretou filmes retirados das obras de Nelson Rodrigues.
Paulo Porto encerrou sua carreira nas novelas da Globo
Tenho um amigo que hoje é
empresário no Rio de Janeiro que me contou foi aluno de Paulo Porto no Rabelo.
Meu amigo era levemente gago e carregava
um enorme fardo emocional por isso. Outros alunos do colégio também sofriam do
problema. Naquela época não havia os recursos
que existem hoje. Pois o professor, se reunia com esse grupo de alunos e
fazia com eles exercícios e passava
técnicas de fonoaudiologia que aprendera
em cursos de teatro. Nem sei se naquele tempo já existia essa ciência. O fato é
que Paulo Porto ajudava os alunos com problemas de dicção e fala e isto sem cobrar um centavo!
Ajudou, assim, muitos rapazes e moças a superarem suas
dificuldades. Paulo Porto nunca citou esse fato em nenhuma de suas numerosas
entrevistas. Só tomei conhecimento disso por força do relato de meu amigo Mário Miceli, um de seus alunos na época.
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