terça-feira, 31 de maio de 2016

O RADIOTEATRO EM OUTRAS EMISSORAS NOS ANOS 40 e 50



Mas vamos  voltar mais uma vez ao início dos anos quarenta para contar o que acontecia nas outras emissoras em termos de radioteatro.
Após o sucesso de “Em Busca da  Felicidade” as radionovelas entraram em sua fase áurea. Destaque para  “O direito de nascer” famosa novela de Félix Cagné que a Nacional  levou ao ar no famoso horário do  Radioteatro Colgate-Palmolive das segundas, quartas e sextas das 20 horas.
Paralelamente, outras emissoras mantinham horários de novelas, tanto durante o dia quanto à noite.
A rádio que mais competia com a PRE-8 era a Tupi, a PRG-3, a qual tinha horários de novela às 13, às 14 e às 16 horas – o famoso Teatro das Quatro.

O TEATRO DAS QUATRO

 Consistia em peças completas e diárias com  trinta minutos de duração sob o patrocínio dos produtos da Anderson Clayton: margarina e óleo vegetal  Saúde.
Patrocinadores do Teatro das Quatro

 Vários autores escreviam para o Teatro das Quatro, entre os quais Sarita Campos, Castro Gonzaga e Walter Foster.
    
Walter Foster era radioator e escrevia novelas

Castro Gonzaga e Ioná Magalhães.
 Ele escrevia e atuava em novelas da Tupi.Ela começou adolescente no radioteatro da Tupi, TV Tupi e brilhou na Globo. Morreu aos 80 anos.


Eram sempre dramas, amores sofridos e impossíveis. O elenco era pequeno. Nunca mais do que cinco personagens, pois numa dramatização de trinta minutos, maior número desses poderia confundir a cabeça do ouvinte.

O diretor de radioteatro era Olavo de Barros, um pioneiro no radioteatro no Rio e na Tupi. Não me lembro de vê-lo atuando em outra emissora.

No dia  14 de março de 1952, em pleno auge do sucesso do Teatro das Quatro foi levada ao ar uma história escrita por Castro Gonzaga. O drama se passa nas florestas da Malásia  e começa com a cena de um homem branco, Jack, caçador profissional, (Paulo Maurício) muito doente, atacado de malária, sendo transportado de canoa por seu fiel criado,Kong,vivido por Avalone Filho. Como não houvesse socorro por perto eles foram dar em uma ilha fluvial. Lá  são acolhidos pelo dono da fazenda, Norman (Castro Gonzaga), casado com  Mirthes, (Amélia Simone). Ela se dedica  a tratar de Jack e entre dois surge uma amizade, o que a leva  a revelar sua história. A partir daí a trama se desenrola em flash-back. Mirthes, moça inexperiente e em busca de proteção, se casara com Norman, homem rude e rico,mais velho do que ela e ambos foram viver naquela ilha, uma imensa fazenda de sua propriedade. Um dia recebem a visita de um viajante, Tony, amigo de Norman.  Mirthes e Tony se apaixonam loucamente à primeira vista.
Norman descobre tudo e mata Tony. O marido, então, que exercia forte  domínio  sobre a esposa a convence a dizer às autoridades  que fora um acidente. Como Norman era muito  poderoso na região, o caso é abafado. A moça não teve outra alternativa, senão compactuar com o marido, embora amasse muito . Se ela revelasse a verdade às autoridades, não só não  lhe dariam ouvidos, como  ela teria que pagar caro pela ousadia de falar a verdade. Se resolvesse fugir, certamente se perderia na floresta, atacada pelos animais ou pela malária. Mirthes então opta por se submeter à vontade do marido e fica assim condenada a viver em sua companhia para o resto de sua vida, embora o odiando.
Jack, ouve toda a triste história da moça e já recuperado resolve partir. Norman  e  Mirthes vão se despedir de Jack e Kong na entrada da fazenda e ambos partem. Enquanto a canoa desce o rio, Jack não esconde sua tristeza por ver aquela moça tão jovem e bonita com sua vida destruída pela fatalidade. E sem esconder sua tristeza apenas se volta para Kong, dizendo:  Amigo...isso é o que se chama de “destroços de uma vida”; Isso tudo é muito triste! Ao que o criado responde:
-Isso patrão! Tem razão patrão.!  E como que mudando de assunto, exclama:                   -A caminho de Singapura !
E o ruído da canoa cortando as águas se funde com  uma melodia triste e compassada marcando o final da história.
Eram histórias desse tipo que o Teatro das Quatro mostrava todas as tardes por  quase duas décadas.
Orlando Drumond, contraregra no Teatro das Quatro.
 Depois brilhou na TV. Quem se lembra de "Seu Peru"? É  também um um grande dublador

Os recursos do estúdio de radioteatro da Tupi, não se comparavam aos da Nacional. A sonoplastia e os efeitos sonoros eram mais discretos. Como que sabendo das limitações técnicas, os autores, ao escreverem suas histórias, optavam por uma linha mais discreta.
A sonofonia era  mais linear, sem grande arroubos. Digamos assim: numa dramatização de 25 minutos na Nacional a sonofonia  chegava a utilizar cerca de trinta discos. Na Tupi não chegava a dez. Os ruídos de contra-regra também não  eram muito incluídos nos scripts e quando existiam eram triviais, facilmente executáveis .
Em suma, os autores escreviam  histórias calcadas na criatividade da trama, na inteligência dos roteiros e na excelência do  pequeno, mas eficiente elenco de radioteatro da Tupi. A redução do elenco forçava os  radioatores a serem   bastante ecléticos. Era comum atuarem num drama durante a tarde e viveram papéis humorísticos à noite. Não quero dizer que o mesmo não poderia acontecer  com os componentes do elenco da Nacional, mas eram casos mais raros. Paulo Gracindo atuava como galã na novela das oito da noite e dez minutos depois era o Primo Rico no “Balança mas não cai”. O mesmo acontecia com Floriano Faissal, que vivia papéis dramáticos durante a semana e humorísticos  aos domingos à tarde no “Tabuleiro da Baiana”.
Mas voltando ao radioteatro da Tupi. Havia um  excelente ator, chamado Germano. Na Tupi fazia papéis cômicos e dramáticos. Atuava muito no “Incrível, Fantástico, Extraordinário” de Almirante . Pois Germano se consagrou depois na Nacional, no “Balança”, vivendo o personagem “Peladinho”, criado por Max Nunes, em que ele sofria e vibrava com o rubro-negro todas as sextas-feiras, criando o bordão que ficou famoso: “Mengo, tu é o maior”!

Germano na Rádio Tupi, brilhou também na Nacional

Nádia Maria: 
brilhante no rádio e na televisão


Nádia, era assim quando começou na Tupi nos anos 50.


Hamilton Ferreira: talento e  versatilidade. 
Dirigiu o radioteatro da Tupi e atuou no cinema

                        Ida Gomes, mulher má nas radionovelas dos anos 50.
                            Lembram-se Doroteia, uma das irmãs Cajazeiras em O Bem amado?

Abel Pera (no alto), Castro Gonzaga, Otávio França (de óculos) e João Fernandes de terno escuro: versatilidade no radioteatro da Tupi nos anos 40 e 50.

Citando esses atores versáteis da Tupi eu lembraria de Edelzia dos Santos, Leda Maria, Hamilton Ferreira e Duarte de Moraes.

Nancy Wanderley, que foi uma das primeiras esposas de Chico Anísio, era uma excelente atriz dramática das novelas da Tupi e que depois se afirmou também como atriz cômica na mesma Tupi e depois nos famosos programas humorísticos da Mayrink Veiga.
E quem não se lembra de Nádia Maria, Terezinha Moreira e Octávio França? De dia drama, de noite humor.

Maria Muniz escrevia novelas para o galã Telmo de Avelar

Telmo de Avelar, hoje. A bela voz não muda.

Luiz Quirino e Olavo de Barros. 
O primeiro, novelista, o segundo ator e diretor

Embora reduzido, belo, versátil e excelente “cast” do radioteatro da velha rádio Tupi.
A Tupi tinha, portanto, horário de novelas durante a tarde, tentando competir com as novelas da Nacional, nos mesmos horários.
Radioatores  em ação!

Os patrocinadores, entre outros, eram o creme Dental Odol, o Biotônico Fontoura e a Margarina Saúde.
"Biotônico Fontoura, o mais completo fortificante".

Lourdes Mayer, talento no rádio e depois na televisão

Lourdes era assim, quando começou a fazer radionovelas. 
Era filha da radioatriz Maria do Carmo

Dava gosto acompanhar as novelas de Walter Foster, Sarita Campos e Castro Gonzaga.
E o elenco era muito bom. Paulo Porto, Ribeiro Fortes, o próprio Walter Foster, Antonio Leite, Telmo de Avelar, Paulo Maurício, Paulo Moreno, ora eram galãs ora eram vilões.
As estrelas femininas eram Lourdes Mayer, Nancy Wanderley, Terezinha Nascimento, Mildred dos Santos ou Norka Smith. A maior estrela, porém do radioteatro da Tupi e que mais atuava era Amélia Simone.  Pontificavam em sua atuação  papéis sofridos e amores impossíveis.
Paulo Gracindo, enquanto atuou na Tupi, antes de ir, definitivamente, para a Nacional no início dos anos 50 para ser Albertinho Limonta em “O Direito de Nascer”, era certamente, a maior estrela da Tupi.
Nancy Wanderley: brilhante no drama e na comédia.

O diretor de radioteatro era Olavo de Barros, um pioneiro no radioteatro no Rio e na Tupi. Não me lembro de vê-lo atuando em outra emissora.


PAULO PORTO:  GALÃ  E PROFESSOR AJUDA SEUS ALUNOS

Outro que sempre foi fiel ao “Cacique do Ar” foi Paulo Porto. Seu nome verdadeiro era Paulo Ventania Porto, que pelas manhãs dava aula de Português no tradicional Instituto Rabelo, em frente ao Colégio Militar Militar na rua São Francisco Xavier, Zona Norte do Rio de Janeiro. Paulo era um excelente professor, admirado por seus alunos, especialmente as alunas, pois era um homem muito educado, culto e bonito. Um galã, que depois foi ser pioneiro nos teleteatros da TV Tupi e sempre se dedicando ao cinema sério, atuando e dirigindo  vários filmes.

Paulo Porto, brilhante no radio, televisão, teatro e cinema. Dirigiu e interpretou filmes retirados das obras de Nelson Rodrigues.


Paulo Porto encerrou sua carreira nas novelas da Globo

Tenho um amigo que hoje é empresário no Rio de Janeiro que me contou foi aluno de Paulo Porto no Rabelo. Meu amigo  era levemente gago e carregava um enorme fardo emocional por isso. Outros alunos do colégio também sofriam do problema. Naquela época não havia os recursos  que existem hoje. Pois o professor, se reunia com esse grupo de alunos e fazia com eles exercícios e passava  técnicas  de  fonoaudiologia que aprendera em cursos de teatro. Nem sei se naquele tempo já existia essa ciência. O fato é que Paulo Porto ajudava os alunos com problemas de dicção e fala e  isto sem cobrar um centavo!
Ajudou, assim, muitos  rapazes e moças a superarem suas dificuldades. Paulo Porto nunca citou esse fato em nenhuma de suas numerosas entrevistas. Só tomei conhecimento disso por força do relato de meu amigo  Mário Miceli, um de seus alunos na época.



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