As emissoras de hoje, tanto AM como FM tem como prefixo as letras ZY. Mas antigamente era PR. A Nacional era PRE-8. A Tupi PRG-3. A Tamoio era PRB-7, a Mayrink Veiga era PRA-9 e assim por diante. A Ministério da Educação, pioneira, foi logo assumindo A2. Vamos ver agora como era o estúdio onde a emissora fundada por Roquette-Pinto fazia seus programas de radioteatro.
Os programas de radioteatro da rádio Ministério da Educação
eram feitos num estúdio de porte médio no terceiro andar do prédio da praça da República 141-A. Era um bom estúdio.
Havia um microfone para os efeitos do contrarregra, um microfone fixo e
dois “girafas”. Era o que poderia ser
instalado na mesa valvulada de 4 canais
da época. Havia uma ampla técnica com dois pick-ups, uma parede de vidro
que a separava do estúdio.
Uma das primeiras mesas: possuía apenas 4 canais
Roberto Monteiro operador de áudio:
muitos anos na modernas mesas.
No estúdio ficava também um piano de cauda, um
quadrado de pedrinhas e areia para imitar passos externos e uma taboa de
madeira por onde caminhava o contrarregra para produzir passos dentro de casa.
Havia uma estrutura de madeira com uma porta e uma maçaneta. Tinas com água,
papel celofane para “produzir
incêndios”, vidros para serem quebrados e outras quinquilharias que o contrarregra
levava para o estúdio de onde extraia os mais estranhos ruídos. Era isso que se fazia também na Tupi
e na Mayrink, já que na Nacional era outra história, (estúdio Victor Costa do qual já falamos).
Mas desse estúdio saíram grandes programas.
A sonoplastia era eficiente e de muito profissionalismo. A
rádio MEC tinha grandes sonoplastas. Curiosamente todos os sonoplastas
executavam outras funções na emissora.
Paulo Santos: voz bonita e elegante
Me lembro de Paulo Santos dublê de sonoplasta e
locutor. Hamilton Santos, ator e sonoplasta, Jefferson Duarte; esse fazia de
tudo, ator, locutor e um dos primeiros dubladores dos filmes nos anos 50.
A sonoplastia ou sonofonia na MEC seguia uma linha voltada
para a utilização de músicas clássicas em seu radioteatro. Ao contrário da
Nacional que seguia uma linha eclética,
utilizando de tudo, desde concertos e sinfonias a trilhas sonoras e músicas de
filmes. Certamente devido ao fato de que a MEC possuía uma discoteca invejável
de música clássica, possibilitando aos sonoplastas uma gama maior de opções sem
necessidade de recorrer às trilhas de filmes.
Um aspecto curioso que rolava em todas as sonoplastias das
rádios é que não era de bom tom um sonoplasta
usar uma obra que já estava sendo
aproveitada por outra emissora. Isso era inadmissível e denotava uma autêntica
falta de criatividade e conhecimento musical.
Assim como jamais a sonofonia da Nacional utilizou uma obra
de Otorino Respighi, a MEC não
aproveitava nem 30 segundos de uma das quilométricas obras de Gustav Mahaler.
A Tupi utilizava à exaustão os discos de Otto Cezana em
todas as suas novelas. Jamais a Nacional ou a MEC tocaram Cezana.
Havia também um
extremo cuidado com a disseminação das gravações. Se um sonoplasta “descobria” uma frase musical num poema
sinfônico e a gravava num disco acetato para aproveitar só um pequeno trecho,
esse disco não podia sair dos limites do setor de sonofonia. Era o medo do material cair nas mãos de profissional de outra rádio.
O material de cada um era coisa sagrada e preservada.
Tive essa experiência, quando uma vez eu ia encenar uma peça
de teatro com colegas de colégio e pedi ao Lourival Faissal, chefe da sonofonia
da Nacional para me copiar um pequeno trecho da obra “Manfred” de Tchaycoviski
em acetato e ele, dando uma tragada no seu cachimbo, me fitou nos olhos e disse: Não!
Mas voltando à rádio MEC.
O radioteatro da rádio Ministério da Educação era muito bom. Pontificavam atores
excelentes.
Magalhães Graça em caricatura de Sergio Vioti
Magalhães Graça: do radioteatro da MEC para sucesso na dublagem
Atores se preparam!
Sergio Viotti e atores de rádio
Cito apenas alguns: Pedro Paulo Colin Gil, Telmo D. Avelar, Lauro
Fabiano, Dylmo Elias, Allan Lima, Ieda
Oliveira, Jefferson Duarte, Francisco José,Magalhães Graça, Sadi Cabral, Garcia
Xavier, Fernanda Montenegro,Tereza Amayo, Mário Jorge, Agnes Fontoura... estou
falando dos anos 40, 50 e 60.
Cid Moreira no inicio de carreira
Cid nos tempos da MEC e do JN
Sergio Chapelin anos 70: acumulou o JN com radio MEC
Chapelin:
começo na rádio JB e atuou na MEC
Em meados de 64, quando o radioteatro da
Nacional sofreu as consequências do movimento militar, muitos radioatores foram transferidos para a
PRA-2, inclusive Floriano Faissal. Todos passaram a trabalhar no Projeto
Minerva, que utilizava muito radioteatro em sua programação educativo-cultural.
Produtores como Paulo Tapajós e Paulo Roberto, locutores como Jairo Argileu
(marido de Ísis de Oliveira), Cid Moreira, Sergio Chapelin ou radioatores como Rodney Gomes.
Rodney Gomes fazia o personagem "Gandula"no Projeto Minerva
Rodney começo na Nacional:
cassado, foi para a MEC
Médico e Radialista Paulo Roberto:
cassado pela revolução de 64...
... foi para o Projeto Minerva da MEC
Paulo Tapajós produzia o "Nosso Domingo Musical"
Telmo de Avelar;
astro da Rádio MEC.
OS RECADOS DE MESTRE ROQUETE
Não posso deixar de render minhas homenagens ao elenco de
radioteatro da rádio Ministério da Educação. Não era numeroso, mas dedicado,
eclético e que amava o que fazia. O elenco trabalhava em equipe com muito
profissionalismo. A programação de radioteatro não era muito grande, e nem
poderia ser, dadas as limitações
técnico-estruturais. Mas o que a rádio se propunha a fazer o fazia bem e
utilizando a linguagem do radioteatro conseguia
levar de forma eficiente
conteúdos educativo-culturais enormemente aceitos por um público seleto que
apreciava o que era bom.
Roquette-Pinto, mesmo que se retirou da direção da rádio que
ele havia criado, jamais se afastou dela. Ouvia a MEC o tempo todo e quando não
concordava com o que ouvia, mandava uns bilhetinhos para o diretor.
Criticava os locutores que, inadvertidamente, soltavam uma gíria.
Joaquim Ferreira dos Santos
Fernanda Montenegro:
inicio aos 15 anos no radioteatro da MEC
Fernanda Montenegro hoje:
rotina de merecidos prêmios
Recentemente li na coluna Gente Boa de Joaquim Ferreira dos Santos, publicada em 28 de
novembro de 2008 o seguinte texto:
Rádio Memória.
Da atriz Fernanda Montenegro ao ser entrevistada no programa
“Agora no Ar”,esta semana na Roquette Pinto: “ Eu comecei no rádio com 15 anos. Naquela
época, radialista era preparado com aulas de português, declamação, logopedia e
tinha até um preparador cultural para cada programa que ia fazer. Havia ambição
do velho Roquette Pinto em preparar o homem de rádio”.
Professor José Oiticica ...
...autor de A doutrina anarquista ao alcance de todos",
era grande amigo de Roquette-Pinto.
De fato,o professor José Oiticica, instituiu um curso de locução e passou a
corrigir os erros de pronúncia e de português. Assim a linha dos locutores da rádio pontificava pela correção,
elegância e sobriedade.
Aliás no rádio da época, cunhou-se um adjetivo para os
locutores, que passou a ser lugar comum e acabou sendo proibido de ser usado: correto. Era muito comum se dizer, por exemplo, Gilberto José correto locutor desta
emissora”.
Ficou tão manjado que nos manuais dos cursos de radialismo
a expressão “correto locutor” foi
banida.
Pois bem, os locutores mais corretos eram os da Rádio Ministério da Educação.
A audiência da MEC era qualificada: estudantes, estudiosos,
professores, intelectuais e até crianças de bom gosto, que orientadas pelos
pais, curtiam os programas de dona Geni Marcondes.
E para encerrar esta homenagem aos oitenta anos da querida Rádio MEC, vale lembrar as palavras de mestre Roquette-Pinto:
Rádio: paixão das crianças...
em décadas passadas.
O rádio cumpria seu papel e reinava sozinho entre as mídias...
...de todas as idades e camadas sociais.
“O rádio é o jornal de
quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento do
pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos
sãos, desde que o realizem com o espírito altruísta e elevado.”
E por uma questão de justiça, incluímos também as declarações de Fernando Tude de Souza, que sucedeu Roquette-Pinto na direção da emissora em 1941.
Acredito no rádio e vi
aqui que, mesmo em uma estação oficial se pode fazer bom rádio e não se desviar
de um rumo equidistante das paixões, visando apenas o bem do Brasil.
Parabéns Rádio MEC!
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