segunda-feira, 27 de junho de 2016

FALANDO MAIS DA RÁDIO MEC QUE ESTÁ FAZENDO 80 ANOS!

O ESTÚDIO  DE RADIOTEATRO DA PRA-2
   As emissoras de hoje, tanto AM como FM tem como prefixo as letras ZY. Mas antigamente era PR. A Nacional era PRE-8. A Tupi PRG-3. A Tamoio era PRB-7, a Mayrink Veiga era PRA-9 e assim por diante. A Ministério da Educação, pioneira,  foi logo assumindo A2. Vamos ver agora como era o estúdio onde  a emissora fundada por Roquette-Pinto fazia seus programas de radioteatro.
Os programas de radioteatro da rádio Ministério da Educação eram feitos num estúdio de porte médio no terceiro andar do prédio da praça da República 141-A. Era um bom estúdio. Havia um microfone para os efeitos do contrarregra, um microfone fixo e dois  “girafas”. Era o que poderia ser instalado na mesa valvulada de 4 canais  da época. Havia uma ampla técnica com dois pick-ups, uma parede de vidro que a separava do estúdio.

Uma das primeiras mesas:  possuía apenas 4 canais


Roberto Monteiro operador de áudio:
 muitos anos na modernas mesas.

No estúdio ficava também um piano de cauda, um quadrado de pedrinhas e areia para imitar passos externos e uma taboa de madeira por onde caminhava o contrarregra para produzir passos dentro de casa. Havia uma estrutura de madeira com uma porta e uma maçaneta. Tinas com água, papel celofane para  “produzir incêndios”, vidros para serem quebrados e outras quinquilharias que o contrarregra levava para o estúdio de onde extraia os mais estranhos  ruídos. Era isso que se fazia também na Tupi e na Mayrink, já que na Nacional era outra história, (estúdio  Victor Costa do qual já falamos).
Mas desse estúdio saíram grandes programas.
A sonoplastia era eficiente e de muito profissionalismo. A rádio MEC tinha grandes sonoplastas. Curiosamente todos os sonoplastas executavam outras funções na emissora.
Paulo Santos: voz bonita e elegante

 Me  lembro de Paulo Santos dublê de sonoplasta e locutor. Hamilton Santos, ator e sonoplasta, Jefferson Duarte; esse fazia de tudo, ator, locutor e um dos primeiros dubladores dos filmes nos anos 50.
A sonoplastia ou sonofonia na MEC seguia uma linha voltada para a utilização de músicas clássicas em seu radioteatro. Ao contrário da Nacional que  seguia uma linha eclética, utilizando de tudo, desde concertos e sinfonias a trilhas sonoras e músicas de filmes. Certamente devido ao fato de que a MEC possuía uma discoteca invejável de música clássica, possibilitando aos sonoplastas uma gama maior de opções sem necessidade de recorrer às trilhas de filmes.
Um aspecto curioso que rolava em todas as sonoplastias das rádios é que não era de bom tom um sonoplasta  usar  uma obra que já estava sendo aproveitada por outra emissora. Isso era inadmissível e denotava uma autêntica falta de criatividade e conhecimento musical.
Assim como jamais a sonofonia da Nacional utilizou uma obra de  Otorino Respighi, a MEC não aproveitava nem 30 segundos de uma das quilométricas obras de Gustav Mahaler.
A Tupi utilizava à exaustão os discos de Otto  Cezana em todas as suas novelas. Jamais a Nacional ou a MEC  tocaram Cezana.
 Havia também um extremo cuidado com a disseminação das gravações. Se um sonoplasta  “descobria” uma frase musical num poema sinfônico e a gravava num disco acetato para aproveitar só um pequeno trecho, esse disco não podia sair dos limites do setor de sonofonia. Era o medo do    material  cair nas mãos de profissional de outra rádio. O material de cada um era coisa sagrada e preservada.
Tive essa experiência, quando uma vez eu ia encenar uma peça de teatro com colegas de colégio e pedi ao Lourival Faissal, chefe da sonofonia da Nacional para me copiar um pequeno trecho da obra “Manfred” de Tchaycoviski em acetato e ele, dando uma tragada no seu cachimbo, me  fitou nos olhos e disse: Não!
Mas voltando à rádio MEC.
O radioteatro da rádio Ministério da Educação  era muito bom. Pontificavam atores excelentes.
Magalhães Graça em caricatura de Sergio Vioti

Magalhães Graça: do radioteatro da MEC para sucesso na dublagem

Atores se preparam!

Sergio Viotti e atores de rádio

 Cito apenas alguns: Pedro Paulo Colin Gil, Telmo D. Avelar, Lauro Fabiano, Dylmo Elias, Allan  Lima, Ieda Oliveira, Jefferson Duarte, Francisco José,Magalhães Graça, Sadi Cabral, Garcia Xavier, Fernanda Montenegro,Tereza Amayo, Mário Jorge, Agnes Fontoura... estou falando dos anos 40, 50 e 60.
Cid Moreira no inicio de carreira


Cid nos tempos da MEC e do JN

 
Sergio Chapelin anos 70: acumulou o JN com radio MEC

Chapelin:
 começo na rádio JB e atuou na MEC



 Em meados de 64, quando o radioteatro da  Nacional sofreu as consequências do movimento militar,  muitos radioatores foram transferidos para a PRA-2, inclusive Floriano Faissal. Todos passaram a trabalhar no Projeto Minerva, que utilizava muito radioteatro em sua programação educativo-cultural. Produtores como Paulo Tapajós e Paulo Roberto, locutores como Jairo Argileu (marido de Ísis de Oliveira), Cid Moreira, Sergio Chapelin ou  radioatores como Rodney Gomes.
Rodney Gomes fazia o personagem "Gandula"no Projeto Minerva

Rodney começo na Nacional: 
cassado, foi para a MEC

Médico e Radialista Paulo Roberto:
 cassado pela revolução de 64...


... foi para o Projeto Minerva da MEC




Paulo Tapajós produzia o "Nosso Domingo Musical"


Telmo de Avelar;
 astro da Rádio MEC.



OS RECADOS DE MESTRE ROQUETE

Não posso deixar de render minhas homenagens ao elenco de radioteatro da rádio Ministério da Educação. Não era numeroso, mas dedicado, eclético e que amava o que fazia. O elenco trabalhava em equipe com muito profissionalismo. A programação de radioteatro não era muito grande, e nem poderia ser, dadas  as limitações técnico-estruturais. Mas o que a rádio se propunha a fazer o fazia bem e utilizando a linguagem do radioteatro conseguia  levar de forma  eficiente conteúdos educativo-culturais enormemente aceitos por um público seleto que apreciava o que era bom.
Roquette-Pinto, mesmo que se retirou da direção da rádio que ele havia criado, jamais se afastou dela. Ouvia a MEC o tempo todo e quando não concordava com o que ouvia, mandava uns bilhetinhos para o diretor.
Criticava os locutores que, inadvertidamente, soltavam uma  gíria.

Joaquim Ferreira dos Santos


Fernanda Montenegro: 
inicio aos 15 anos no radioteatro da MEC

Fernanda Montenegro hoje:
 rotina de merecidos prêmios


Recentemente li na coluna Gente Boa de Joaquim Ferreira dos Santos, publicada em 28 de novembro de 2008 o seguinte texto:
Rádio Memória.
Da atriz Fernanda Montenegro ao ser entrevistada no programa “Agora no Ar”,esta semana na Roquette Pinto: “ Eu comecei no rádio com 15 anos. Naquela época, radialista era preparado com aulas de português, declamação, logopedia e tinha até um preparador cultural para cada programa que ia fazer. Havia ambição do velho Roquette Pinto em preparar o homem de rádio”.





Professor José Oiticica ...

...autor de A doutrina anarquista ao alcance de todos",
era grande amigo de Roquette-Pinto.



De fato,o professor José Oiticica,  instituiu um curso de locução e passou a corrigir os erros de pronúncia e de português. Assim a linha dos  locutores da rádio pontificava pela correção, elegância e sobriedade.
Aliás no rádio da época, cunhou-se um adjetivo para os locutores, que passou a ser lugar comum e acabou sendo proibido de  ser usado: correto. Era muito comum se dizer, por exemplo, Gilberto José correto locutor desta emissora”.
Ficou tão manjado que nos manuais dos cursos de radialismo a  expressão “correto locutor” foi banida.
Pois bem, os locutores mais corretos eram os da Rádio Ministério da Educação.
A audiência da MEC era qualificada: estudantes, estudiosos, professores, intelectuais e até crianças de bom gosto, que orientadas pelos pais, curtiam os programas de dona Geni Marcondes.


Rádio: paixão das crianças...

em décadas passadas.

O rádio cumpria seu papel e reinava sozinho entre as mídias...

...de todas as idades e camadas sociais.


 E para encerrar esta homenagem aos oitenta anos da querida Rádio MEC, vale lembrar as palavras de mestre Roquette-Pinto:

“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com o espírito altruísta e elevado.”
 
  E por uma questão de justiça, incluímos também as declarações de Fernando Tude de Souza, que sucedeu Roquette-Pinto na direção da emissora em 1941.

  Acredito no rádio e vi aqui que, mesmo em uma estação oficial se pode fazer bom rádio e não se desviar de um rumo equidistante das paixões, visando apenas o bem do Brasil.

 Parabéns Rádio MEC!
    





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