Embora a grande maioria das emissoras de rádio do eixo Rio-São Paulo
exibissem uma programação de novelas e programas de radioteatro, sem dúvida,
foi a Nacional do Rio, que melhor desenvolveu esse gênero que era de tanto
agrado entre os ouvintes. Vamos, portanto continuar falando do radioteatro do
Nacional.
A REALIDADE E A FANTASIA DO OUVINTE.
Muitos ouvintes, com frequência,
misturam realidade com fantasia. Isto acontece até hoje nas telenovelas, quando
confundem Persona com pessoa.
Henriqueta Brieba:
sucesso nas radionovelas, migrando depois para a Globo
Ela atuou em teatro até a morte
Uma tarde, Henriqueta recebe
recado para retirar no serviço de correspondência da Nacional uma enorme caixa
de papelão que havia chegado pelo correio.
Feliz da vida, imaginando um
presente que uma ardorosa fã lhe havia mandado.
Ao abrir a caixa, na frente dos
curiosos funcionários, o que viu foi uma
grossa corda de uns 2
metros , e um bilhete que dizia:
“Esta corda é para você se enforcar, para pagar as maldades que fez na
novela, sua megera”!
Esta história me foi contada por
Daisy Lúcidi.
Daisy Lúcidi:
na Nacional desde os anos 40', me contou esta história.
Anos 50':
excelente Elza
Gomes, que vivia um papel de megera numa novela da Nacional, quase foi agredida
numa feira por uma fã revoltada com suas maldades.
QUAL DE VOCÊS É A GENOVEVA? QUERO
QUEBRAR A CARA DELA!
Carmem Sheila me contou a
seguinte história. Houve nos anos 50 uma novela na Nacional escrita por Amaral
Gurgel. Chamava-se a Menina da saudade
e se passava no interior de uma fazenda no tempo da escravidão. O senhor do
engenho, homem rico e poderoso, amiúde escolhia uma negrinha filha de escravos
para transar. Eis que uma delas engravida. Nasce, então, uma menina que cresce
e se transforma numa linda mulata, de feições finas e olhos esverdeados. Por
outro lado, o dono da fazenda tem também uma filha com a esposa. Sendo a filha
branca um pouco mais nova que a mulatinha. A fim de manter esta sempre por
perto da casa grande, o dono reserva à negrinha a missão de ajudar a tomar
conta da filha legítima. As duas crescem e brincam juntas. Ocorre que a branca,
Genoveva era seu nome, era feia que nem a necessidade, contrastando com a
beleza da mulatinha. Por inveja e despeito Genoveva está sempre fazendo
maldades com a mulatinha, sem que esta possa se defender dada a enorme
distância social. Os ouvintes tomam as dores da mulatinha e passam a ter ódio
de morte por Genoveva. Cartas e cartas
chegam à emissora condenando a jovem megera e assumindo as dores da indefesa
mulatinha. A novela seguia outras vertentes, mas a história das duas meninas,
que fora concebida por Gurgel para ser uma história secundária, repercutiu tanto, que superou o
interesse da linha mestra da radionovela.
Numa tarde, uma ouvinte
revoltada, invade a sala de ensaios com
a intenção de agredir a jovem atriz que interpretava a Genoveva. E
dirigindo-se para as duas jovens atrizes, que estavam sentadas lado a lado segurando seus roteiros exclama: Qual de vocês é a Genoveva? Quero quebrar a cara dela!.Sorte das duas, que a ouvinte
não pode concretizar o ato, impedida que foi por outros artistas.
Carmem Sheila, começou adolescente no radioteatro da Nacional...
...hoje dubladora de sucesso. Eis alguns personagens que ganharam sua voz.
DOUTOR MENDONÇA ATENDE NO CORREDOR DA RÁDIO.
FÃ ENTREGA UM ENXOVAL DE BEBÊ A
ÍSIS DE OLIVEIRA.
Mas havia também o outro lado:
uma senhora, apaixonada pela voz de Saint-Clair Lopes, o seu Benjamim, de “Em
busca”... decidiu doar em cartório, com
reserva de uso e fruto, (citam algumas fontes, por testamento, segundo outros
autores), seu único e modesto apartamento onde morava. Como não tinha
herdeiros, doou
para “aquele que, por meio da voz lhe tinha trazido tantas e
tantas emoções através de seus personagens”.
Saint- Clair Lopes herdou apartamento de uma admiradora
Ísis de Oliveira:
gravidez da personagem em novela a fez receber enxoval completo de bebê.
“Em busca da Felicidade” por ser uma novidade para os ouvintes,
criou nesses uma empatia em que fantasia e realidade se confundiam.
Floriano Faissal, o doutor
Mendonça, se vestia muito bem. Gostava
dos ternos brancos, inclusive os sapatos, como era moda nos anos 40.
Certa tarde, uma senhora foi à
rádio dizendo que queria falar com o doutor
Mendonça.
O porteiro, encaminhou-a ao Floriano, lógico.
Ao vê-lo no corredor o
cumprimentou e chamando-o sempre de doutor
Mendonça, pediu que Floriano a examinasse pois estava com um "problema
abdominal".
O ator tentou explicar à ouvinte que ele não era a
pessoa indicada para cuidar dela e para não magoá-la sugeriu que procurasse o
doutor Paulo Roberto.Lembrando a vocês, que Paulo Roberto, acumulando a medicina com o rádio
produziu na Nacional, Obrigado doutor,
Nada além de dois minutos, Gente que
brilha, Honra ao mérito e outros programas memoráveis.
Paulo Roberto obstetra na Maternidade de Cascadura, Zona Norte do Rio.
Paulo Roberto radialista de raro talento.
Desconheço o final dessa
história, que foi contada pelo próprio
Floriano, durante uma palestra que coordenei na Universidade do Estado do Rio
de Janeiro com a professora Marlene Blois em
22 de outubro de 1984
Mais adiante falarei da grande
figura de Paulo Roberto, médico e radialista da Nacional.
Citando outro fato, em que
ouvintes confundem realidade com fantasia, lembro que
em O direito de nascer, Ísis de Oliveira que interpreta a jovem Maria Helena do Juncal, recebeu um
enxoval completo de bebê, quando sua personagem engravidou e foi desprezada
pelo pai o terrível Dom Rafael do Juncal.Sobre
essa novela falaremos mais adiante.
Certa vez Rodolfo Mayer quase foi
agredido por um grupo de ouvintes. Elas não aceitavam ver o personagem
interpretado por ele,um homem sem escrúpulos,que engravidara uma jovem (Iara
Sales), omitindo que era casado com uma senhora decente(Zezé Fonseca). O pequeno grupo ludibriou a segurança e
partiu para cima do Rodolfo ofendendo-o. Eu e outros companheiros entramos no
meio e tiramos o Rodolfo do sufoco. Contou Floriano Faissal em depoimento
ao Museu da Imagem e do Som.
Rodolfo Mayer: seu personagem, embora casado com o de ...
Zezé Fonseca ...
..."engravida" a mocinha Iara Salles.
Revolta entre a opinião pública.
Saint-Clair Lopes foi outro que
recebeu ameaças por carta e pessoalmente, ao interpretar uma peste chamada Manuel Justino na novela Renúncia,sucesso
que ia ao ar às 9 da noite nos anos 40.
Com frequência, nos dias atuais, quando a radionovela cedeu seu lugar à telenovela, os fans seguem confundindo o personagem com o ator. Isto se deve a diversos fatores, entre eles a empatia, a simpatia ou a antipatia que pessoa e persona produzem na emoção dos ouvintes, no passado e dos expectadores nos tempos de televisão. Na época da radionovela, já falamos, em nosso blog, a tamanha influencia exercida pelo veiculo rádio na nossa sociedade.
Anos 30': ouvindo rádio em família.
No pós-guerra, o lema era:
"um rádio para cada aposento da casa".
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