sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

FATOS DE MINHA VIDA E O VELHO RÁDIO


   Vou contar um pouco de minha história e a relação do velho rádio com minha vida.
   Visitando o final dos  anos quarenta, passo a relatar o seguinte:
   Meus avós tinham uma fazenda em São Gonçalo, que depois de loteada nos anos 50 deu origem ao bairro que recebe hoje o nome de Jardim dos Arcos.

   Numa sexta-feira tínhamos que ir para São Gonçalo. Nós morávamos numa vila de casas na rua da Bela Vista no bairro do Riachuelo, subúrbio da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Minha mãe decidira pegar a barca de meio dia, que nos levaria a Niterói. Infelizmente por conta disso iríamos perder o capítulo da novela.
Resignada, minha mãe me arrumou e  quando começamos a descer a Bela Vista em direção à Vinte e quatro de maio, onde pegaríamos o bonde 76 rumo à Praça Quinze dona Áurea constatou que todas as casas da rua estavam ligadas na novela.
Num Rio de Janeiro em que as pessoas, em pleno verão, deixavam as janelas de suas casas completamente escancaradas, sem medo de assaltos,  era possível ouvir a novela enquanto caminhávamos.
Uma das barcas da Cantareira: travessia Rio-Niterói durava quase uma hora!

Família ouvindo rádio nos anos 40.

Bonde Engenho de Dentro-Praça Quinze
Barcas de Niterói nos anos 40


   A chegada  ao ponto do bonde coincidiu com o final do capítulo! Eu tinha na época pouco mais de 5 anos, mas nunca me esqueci desse fato que mostra a força, a popularidade, a audiência e a penetração do velho rádio.
   O genial Max Nunes, ao conhecer outros episódios semelhantes ao que eu vivi com minha mãe naquela manhã, afirmou o que resume tudo:
Max Nunes
São Gonçalo dos anos 40.

“Você não acompanha a novela; a novela é que acompanha você”.
   Naqueles tempos se ouvia rádio diferente. Havia um só aparelho em toda a casa e geralmente ficava na sala de jantar. Era grande, de válvulas e tinha um som potente que alcançava todos os demais cômodos da casa.
  Quando chegamos ao cais da   praça Quinze a barca da Cantareira já nos aguardava. Para os mais jovens relembro que a companhia que explorava a concessão do transporte marítimo entre Rio e Niterói e  as ilhas de Paquetá e Governador era a Companhia Cantareira e Viação Fluminense. Cada barca tinha um nome, mas o povo chamava simplesmente de barca da Cantareira. Eram movidas a vapor e possuíam duas rodas laterais que as impulsionavam. Eram  espaçosas, porém muito lentas. A travessia entre as duas cidades durava quase uma hora, mas era gostoso ir lendo, conversando ou simplesmente olhando a paisagem ou, eventualmente, ver a evolução de grupos de golfinhos que se aproximavam da embarcação.
Mal embarcamos, a “Nictheroy” apitou. Grossos rolos de fumaça começaram a sair pela chaminé. As rodas  laterais começaram a girar e partimos.

Foi assim que pegamos a Cantareira do meio-dia e  dona Áurea  ficou sabendo quem eram os pais verdadeiros de Alice Medina personagem vivida pela jovem atriz Ísis de Oliveira.

ALGUNS RADIOATORES QUE ATUARAM NESSE CAPITULO DE EM BUSCA DA FELICIDADE.
Ísis de Oliveira, a Alice Medina de Em busca da Felicidade.
Daisy Lúcide era uma menina quando atuou na famosa novela.
Hoje a veterana radioatriz continua trabalhando na Nacional.

Alda Verona foi Ofélia

Lourdes Mayer foi a Constança.
 Na vida real foi esposa de Rodolfo Mayer

Flora May foi Miss Keity

Rodolfo Mayer foi Alfredo Medina


Nos anos 40 o Brasil era um pais rural e as ondas do rádio cobriam o território nacional.O veiculo reinava praticamente sozinho e assim a quase totalidade das grandes verbas de publicidade se destinavam ao rádio. As radionovelas caíram no gosto popular, dai o enorme sucesso do radioteatro.





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