Bar da Nacional nos anos 50'
Por tudo isso, resolvi incluir neste blog alguns desses episódios.Venham comigo conhecer, por exemplo a história do ...
No início de sua carreira, nos
anos 40, Roberto Faissal trabalhava
apenas um turno na rádio. Tratou, então de arranjar alguma coisa para cobrir o
tempo ocioso e ganhar um dinheiro extra. E teve uma ideia interessante: ficou
rapidamente famoso e recebia um pacote de cartas de ouvintes todas as
semanas. Passou, então a selecionar criteriosamente as cartas, pela qualidade
da caligrafia e do texto. Identificava ai um comprador em potencial. Dirigia-se
ao endereço da missivista e lá tentava vender as coleções de enciclopédias. Foi
um sucesso! As donas de casa quando reconheciam a voz do ídolo, não só adquiriam as obras como chamavam as vizinhas que compravam também !
Roberto Faissal pouco antes de morrer. Aqui, numa cena de novela da TV Globo
Naquele dia, no restaurante,
Roberto estava comemorando sua nomeação para gerente de vendas da editora e
segundo ele, como tal, chegou a ganhar mais dinheiro do que como artista.
O ROSBIFE INTERROMPIDO. REFLEXÕES NO BONDE MEIER -99.
Um fim de tarde Rodney Gomes, meu
grande amigo, com quem trabalhei no Clube
Juvenil do Toddy, me convidou para fazer um lanche no restaurante.O Clube Juvenil Toddy ia ao ar todas as 5a.feiras às 4 e meia da tarde, sob o patrocínio de Toddy, o alimento dos fortes.
Anos 50': Clube Juvenil Toddy, programa destinado aos jovens
Mas, voltando à história: lá Rodney pediu um rosbife para
dois. Começamos a comer calmamente, de repente Rodney levanta-se e diz:
-Tenho que fazer o Anjo!
Interrompemos o rosbife e pedimos
ao Televisão (o garçom) para guardar
os dois pratos pois voltaríamos depois do capitulo da novela.
Entramos no estúdio e Rodney e
imediatamente incorporou o papel de Jarbas
o seguidor do famoso detetive Anjo (Álvaro Aguiar). O capítulo diário durava 10
minutos e tinha um ritmo frenético. A ação incluía, brigas, tombos e correrias.
Álvaro Aguiar era o detetive Anjo. Era ele que também escrevia as histórias
O moço Rodney: prestígio de seu personagem angariava a simpatia e admiração da clientela jovem de As aventuras do Anjo
Terminado o capítulo, voltamos ao
bar para continuar saboreando o rosbife, calmamente.
Naquela tarde-noite enquanto
voltava para casa no Sampaio, no bonde Méier 99, me pus a pensar: que estranho
veículo o rádio. De forma tão simples,
utilizando a voz do ator e os efeitos sonoros é capaz de levar a emoção a
milhões de pessoas. Assim, o ator que estava comendo um rosbife, minutos antes,
está agora no ar, falando para um país inteiro.
Sem suar a camisa, sujar a roupa
ou as mãos, sem maquiagem lá está o herói brigando, dando tiros e
enfrentando situações de perigo. Dá o seu recado e volta para comer o rosbife.
Que estranho veículo, o rádio, pensava eu, como
que minimizando o trabalho dos colegas radialistas. A verdade é que, com meus 15 anos, e empolgado com tudo o que
via e vivia no rádio, eu ainda não percebera
a verdadeira grandeza do trabalho dos profissionais do rádio. Tudo era o
resultado de muita pesquisa, perseverança, dedicação, talento e sobretudo muito
trabalho. Olavo de Barros grande
radioator da Tupi que dirigiu a primeira radionovela, conforme já relatamos no
início deste livro, costumava dizer com muita propriedade:
O ator de rádio é capaz de interpretar em qualquer outro veículo, seja
teatro, cinema ou televisão. A coisa mais difícil que existe é fazer rádio, uma
vez que toda a emoção é unicamente levada pela voz.
Sem falsa modéstia,eu possuía
muita habilidade e aptidão para o microfone. Minhas participações se faziam
espelhando-me nos meus ídolos. Por causa dessa habilidade, achava tudo muito
fácil. Já era hora de compreender que rádio era profissionalismo, trabalho e
dedicação.
Almirante, cunhou uma frase,
que mandou imprimir em seu papel de
correspondência e emoldurada em quadro que adornava as paredes de seu
escritório.Leia logo abaixo:
“Rádio só é diversão para quem ouve; para quem faz é um trabalho como outro qualqu
Esta frase está perpetuada no excelente livro que Sérgio Cabral, o pai, escreveu: No tempo de Almirante.
A constatação da importância e do
valor do trabalho do profissional de rádio me veio naquele início de noite na
condução que me trouxe de volta à casa..
Que extraordinário veículo o
rádio.
Ah! O rosbife? Estava uma delícia
e quem pagou foi o Rodney.
Aguarde: novas histórias do bar da Nacional.
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