sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ACONTECEU NO BAR DA RADIO NACIONAL

Bar da Nacional nos anos 50'
Por tudo isso, resolvi incluir neste blog alguns desses episódios.Venham comigo conhecer, por exemplo a história do ...


No início de sua carreira, nos anos 40, Roberto Faissal  trabalhava apenas um turno na rádio. Tratou, então de arranjar alguma coisa para cobrir o tempo ocioso e ganhar um dinheiro extra. E teve uma ideia interessante:  ficou  rapidamente famoso e recebia um pacote de cartas de ouvintes todas as semanas. Passou, então a selecionar criteriosamente as cartas, pela qualidade da caligrafia e do texto. Identificava ai um comprador em potencial. Dirigia-se ao endereço da missivista e lá tentava vender as coleções de enciclopédias. Foi um sucesso! As donas de casa quando reconheciam a voz do ídolo, não só adquiriam as obras como chamavam as vizinhas que compravam também !
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Roberto Faissal pouco antes de morrer. Aqui, numa cena de novela da TV Globo


Naquele dia, no restaurante, Roberto estava comemorando sua nomeação para gerente de vendas da editora e segundo ele, como tal, chegou a ganhar mais dinheiro do que como artista.

O ROSBIFE INTERROMPIDO. REFLEXÕES NO BONDE MEIER -99.

Um fim de tarde Rodney Gomes, meu grande amigo, com quem trabalhei no Clube Juvenil do Toddy, me convidou para fazer um lanche no restaurante.O Clube Juvenil Toddy ia ao ar todas as 5a.feiras às 4 e meia da tarde, sob o patrocínio de Toddy, o alimento dos fortes.
Anos 50': Clube Juvenil Toddy, programa destinado aos jovens

Mas, voltando à história: lá Rodney pediu um rosbife para dois. Começamos a comer calmamente, de repente Rodney levanta-se e diz:
-Tenho que fazer o Anjo!
Interrompemos o rosbife e pedimos ao Televisão (o garçom) para guardar os dois pratos pois voltaríamos depois do capitulo  da novela.
Entramos no estúdio e Rodney e imediatamente incorporou o papel de Jarbas o seguidor do famoso detetive Anjo (Álvaro Aguiar). O capítulo diário durava 10 minutos e tinha um ritmo frenético. A ação incluía, brigas, tombos e correrias. 

Álvaro Aguiar era o detetive Anjo. Era ele que também escrevia as histórias

O moço Rodney:  prestígio de seu personagem angariava a simpatia e admiração da clientela jovem de As aventuras do Anjo

Terminado o capítulo, voltamos ao bar para continuar saboreando o rosbife, calmamente.
Naquela tarde-noite enquanto voltava para casa no Sampaio, no bonde Méier 99, me pus a pensar: que estranho veículo  o rádio. De forma tão simples, utilizando a voz do ator e os efeitos sonoros é capaz de levar a emoção a milhões de pessoas. Assim, o ator que estava comendo um rosbife, minutos antes, está agora no ar, falando para um país inteiro.
Sem suar a camisa, sujar a roupa ou as mãos, sem  maquiagem  lá está o herói brigando, dando tiros e enfrentando situações de perigo. Dá o seu recado e volta para comer o rosbife.
Que  estranho veículo, o rádio, pensava eu, como que minimizando o trabalho dos colegas radialistas. A verdade é que,  com meus 15 anos, e empolgado com tudo o que via e vivia no rádio, eu ainda não percebera  a verdadeira grandeza do trabalho dos profissionais do rádio. Tudo era o resultado de muita pesquisa, perseverança, dedicação, talento e sobretudo muito trabalho.   Olavo de Barros grande radioator da Tupi que dirigiu a primeira radionovela, conforme já relatamos no início deste livro, costumava dizer com muita propriedade:
O ator de rádio é capaz de interpretar em qualquer outro veículo, seja teatro, cinema ou televisão. A coisa mais difícil que existe é fazer rádio, uma vez que toda a emoção é unicamente levada pela voz.
Sem falsa modéstia,eu possuía muita habilidade e aptidão para o microfone. Minhas participações se faziam espelhando-me nos meus ídolos. Por causa dessa habilidade, achava tudo muito fácil. Já era hora de compreender que rádio era profissionalismo, trabalho e dedicação.
Almirante, cunhou uma frase, que  mandou imprimir em seu papel de correspondência e emoldurada em quadro que adornava as paredes de seu escritório.Leia logo abaixo:



“Rádio só é diversão para quem ouve; para quem faz é um trabalho como outro qualqu

Esta frase está perpetuada  no excelente livro que Sérgio Cabral, o pai, escreveu:  No tempo de Almirante.

A constatação da importância e do valor do trabalho do profissional de rádio me veio naquele início de noite na condução que me trouxe de volta à casa..
Que extraordinário veículo o rádio.
Ah! O rosbife? Estava uma delícia e quem pagou foi o Rodney.
Aguarde: novas histórias do bar da Nacional.


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