quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CURTAM AS HISTORIAS VIVIDAS NO BAR DA RADIO NACIONAL

No restaurante da Rádio Nacional junto ao terraço do 22o. andar ficava o bar-restaurante da emissora. Lugar muito frequentado por funcionários e artistas, foi palco de histórias interessantes.  De algumas eu cheguei a ser testemunha.Vamos recordar?


Na hora do jantar daquele dia, no restaurante,  Edmo do Valle era só alegria e recebia os cumprimentos de diversos companheiros. É que acabara de ir ao ar o capítulo de uma novela de aventuras no qual, após uma tremenda briga, o  vilão  atira o mocinho num poço cheio de ferozes e famintas formigas. O script pedia: ruído de formigueiro.Formigas atacam o homem que  grita desesperado.
Edmo que era um gênio da contra-regra das novelas passou boa parte da tarde buscando um ruído que  transmitisse aos ouvintes a ideia de um formigueiro. O tempo passava e finalmente o lampejo do gênio: Edmo colocou um comprimido de Alka-Seltzer num copo d’água e  fez o teste diante de um microfone. Eis que alguém sugere: - que tal uma Coca-Cola ?
O resultado sonoro foi melhor ainda com o refrigerante! Na hora da cena, lá estava Edmo produzindo o ruído que se tornou famoso.
Logo, logo, vários autores passaram a  escrever cenas que incluíam formigueiros.Edmo recebia os abraços, enquanto tomava ... uma Coca-Cola, sem Alka-Seltzer.
Edmo do Vale: o gênio pioneiro dos efeitos sonoros


Essa história foi muito comentada nas mesas do bar da Nacional. Roberto Faissal foi um dos radioatores mais completos que conheci. Uma das mais belas vozes do rádio, tinha uma capacidade de leitura impressionante pela  segurança.
Era capaz de ler páginas e páginas de um “bife” sem errar. Esclareço para quem não sabe, que chama-se “bife” em rádio ou TV  aquelas falas  imensas, verdadeiros monólogos, verdadeiros desafios para o ator. Pois Roberto, com apenas um ensaio, ia para o microfone, ao vivo, dava um banho. Possuía o que se costuma chamar de “queda de leitura”. Que implica em ler sem errar, sem falhar na interpretação e sem se perder no meio do texto. Podia tirar os olhos do papel por dois segundos e voltar, retomando a leitura exatamente no trecho que interrompera.
Quem tinha também essa facilidade era Heron Domingues, o Repórter Esso da Rádio Nacional. Uma vez vi Heron, no meio do Esso, fazer a revisão de uma nota que chegara à ultima  hora. Enquanto lia o comercial, ia fazendo anotações na notícia final que eu acabara de lhe entrega em pleno ar ! Quando acabou de ler o comercial,como de hábito, com voz pausada, encheu os pulmões e falou: -E eis a última notícia!
Isso valeu a Heron conquistar os telespectadores da TV Rio, para onde se transferiu nos anos 60. È que ele lia o noticiário quase sem olhar para o roteiro. Chamo a atenção para o fato de que naqueles tempos ainda não haviam criado o teleprompter e a maioria locutores olhava mais para o texto do que para a câmera.
Heron Domingues, o Repórter Esso: leitura segura e correta.

Mas voltemos a Roberto Faissal. Sua queda de leitura era famosa.O radioator Walter Alves me contou que certa vez Roberto apostou um almoço com Domício Costa que leria um trecho de um “bife” de novela,com o script de cabeça para baixo, sem errar!
Roberto ganhou a aposta. E naquele dia estava comemorando a vitória no restaurante da Nacional. Floriano,
seu irmão, que era o diretor do radioteatro, não preciso dizer, não gostou nada dessa brincadeira,embora o programa fosse previamente gravado.
Roberto Faissal e Domício Costa no tempo da aposta.

Domício hoje: radioator a dublador,
 um dos maiores talentos do velho radioteatro

Roberto Faissal, gênio do radioteatro,chegou a fazer telenovela na Globo.
Era assim, pouco antes de morrer.

NA APOSTA ENTRE JESUS CRISTO E JUDAS NÃO HOUVE VENCEDOR.

Mas Luís Manuel me conta uma outra versão para essa história de ler o script de cabeça para baixo
É que todo o ano se elegiam os melhores do rádio. E o título de melhor ator, ora ia para Roberto Faissal, ora para Domício Costa. Ambos eram muito bons. Lembrando que Roberto fora Jesus Cristo em  O romance da eternidade e Domício, o Judas. Ambos eram extremamente versáteis e atores de primeira linha. Certa vez  resolveram fazer uma aposta. Vamos ao relato de Luís Manuel:

Ia haver uma gravação de um diálogo entre os dois, para ser incluída em um programa. Apostaram então em interpretar com o script de cabeça para baixo. Haveria direito a ensaio e tudo mais. E foram para o estúdio. E ambos gravaram sem errar!
Luis Manuel, inicio de carreira quando menino nos anos 50' fazendo radionovela.
Talento da dublagem nos dias atuais.
Na aposta entre Cristo e Judas, não houve vencedor. 
                                       Floriano Faissal, diretor do radioteatro da Nacional, não gostou de saber dessa aposta.






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