OS PÃES DUROS E OS MÃO ABERTA,
MOTIVOS DE PAPO NO BAR DA RÁDIO.
Durante os descontraídos papos de
botequim no bar da Nacional, surgiam muitas histórias que falavam dos pães
duros ou mãos fechadas e dos mãos abertas.
A propósito descobri um texto na
Radiolândia, escrito pelo mestre Dias Gomes e que por isso transcrevo, a
seguir. O título da matéria é Os mãos abertas e os mãos fechadas.
O rádio é dos setores artísticos, talvez o que paga melhor. Melhor que
o Cinema ou o Teatro. Oferecendo uma estabilidade financeira que os demais
ramos não conseguem proporcionar. E apesar dos grandes salários do Rádio serem
em número reduzido, tendo-se em conta o número de profissionais que militam em
nossas emissoras, apesar do produtor de
quarenta contos trabalhar ao lado de um operador de um conto quinhentos
magros e suados, apesar de todas essas desigualdades e injustiças, os artistas
de Rádio são tidos, de uma maneira geral, como profissionais que ganham rios de
dinheiro. Rios que quando um sujeito desses que pensam no “dia de amanhã” no
tempo das vacas magras e outras tolices
, transformam-se, facilmente, em grandes mares. E em caso contrário quando
acendem charuto em nota de quinhentos, depressa escoam no oceano de todos os
prazeres. Tudo depende do sujeito ter a mão mais ou menos aberta.
Dias Gomes: novelista e escritor encarnou nos pães duros e nos mãos abertas
ANTONIO MARIA é um dos
produtores que mais ganham em nosso Rádio. E
é também dos que mais gastam. Homem dos sete instrumentos, produtor, animador,
locutor esportivo, cronista de jornal, compositor, revistógrafo e um dos
maiores boêmios do Rio de Janeiro. Enquanto for vivo o prestígio do Whisky escocês se manterá intacto por estas
plagas. Foi diretor artístico de uma de nossas boates, recebendo trinta contos
mensais. No fim do primeiro mês foi receber o ordenado e verificou que ainda
devia vinte...
Antonio Maria era "gastador", segundo Dias Gomes
MÁRIO LAGO – Eis um mão aberta por vocação. Entende que gastar mais do
que se ganha é um estímulo para se ganhar mais do que se gasta. E não trai o
seu lema mesmo quando as coisas não lhe vão bem. È homem de princípios
firmados. Certa vez- era no tempo das vacas magras- sua esposa foi obrigada
a lhe chamar a atenção para o estado das
finanças domésticas. Depois de um relatório minucioso sobre o assunto chegou à
seguinte conclusão: não havia em casa um só níquel para comprar pão. Lago tranquilizou-a. Dentro de uma hora estaria de volta com
algumas notas de mil cruzeiros no bolso.
Aquilo fora um descuido. E efetivamente,
não uma, mas duas horas depois (nunca se deve chegar em casa à hora que
se prometeu, para não habituar mal a mulher), duas horas depois voltava o autor
de “Cupim” com um grande embrulho embaixo do braço. A esposa o interrogou aflita:”Conseguiu dinheiro?” Claro,
conseguira quinhentos cruzeiros. E dizendo isso, colocou o embrulho sobre a
mesa e o desamarrou. A mulher olhou sem compreender: “Um frasco de água de colônia?
Deste tamanho? Quanto custou?” Havia
custado quinhentos cruzeiros, precisamente. A mulher tentou protestar,
mas Mário explicou com muita dignidade: “Prontos, porém perfumados”...
O elegante Mário Lago: 'prontos, porém perfumados"
E prossegue Dias Gomes em seu
relato.
PAULO GRACINDO é outro que tem fama de mão fechada.Contam que, quando
se candidatou a vereador, alguém veio oferecer-lhe votos a cem cruzeiros cada
um.O cabo eleitoral garantia 2.000 votos o que asseguraria a eleição do famoso
galã de novelas. Dizem que Gracindo começou a pechinchar e no fim da conversa
acabou por conseguir um abatimento de cinquenta por cento no preço dos votos. E quando já estavam para
fechar o negócio ajuntou:”Bem, agora o restante o senhor me financia em 10
anos, pela tabela Price. Isto, bem entendido se eu for eleito.
Paulo com a esposa dona Dulce e Gracindo Junior:
'sou mão fechada pois penso no futuro"
Seria uma clamorosa injustiça não incluir entre os técnicos em economia
do nosso rádio, o veterano locutor da Nacional, pois o narrador da Crônica da
Cidade é tido como um dos especialistas no assunto.
Cesar Ladeira: veja abaixo sua opinião sobre o jornalista Samuel Wainer.
Gozação pura.
Coitadinho do Wainer (Samuel) se ele fosse diretor do Banco do Brasil.De
lá não arrancava um tostão.Tem por princípio não emprestar dinheiro a amigos...
para não perder o dinheiro.Não assina lista de enterro porque a morte o
apavora. Não paga café para os amigos para não lhes roubar o prazer de pagar o
dele. Não dá presente a ninguém porque considera isso uma maneira deselegante
de comprar a amizade alheia. Não dá esmolas... para não humilhar o mendigo.
Wainer, fundador de Ultima Hora.
Mas vamos deixar de lado o artigo de Dias Gomes. Na minha opinião o maior mão
aberta que conheci foi PAULO ROBERTO
Paulo Roberto não era apenas
mão aberta, tinha também um coração aberto. Homem bom, ajudava
financeiramente qualquer amigo ou colega que estivesse em
apuros. Muitos , é bem verdade, abusavam. Paulo tinha
noção disso, mas seu desprendimento era tamanho que chegava a superar qualquer lógica. Embora fosse um dos
maiores salários do rádio, do cinema e posteriormente da televisão, além de
acumular com sua profissão de médico, não fez riqueza.
Homem cortês e de gestos
elegantes, vestia-se com ternos bem talhados, camisas finas e boas
gravatas. Zelava por sua aparência e
andava de táxi, pois não gostava de dirigir. Caridoso e solidário com os que o
rodeavam. Colegas que estavam na pior, almoçavam no restaurante da rádio e
penduravam a conta em nome do médico-radialista. Sempre morou em apartamento
alugado. Tinha, sim, uma salinha na rua Evaristo da Veiga, no centro, onde
guardava seus arquivos. Segundo sua filha Maria Célia, ele costumava dizer: “tenho uma escova de dentes”!
Segundo sua filha Maria Célia, ele costumava dizer: “tenho uma escova de dentes”!
Mas dito isto, passo a narrar esta
história interessante, que reúne o mão
aberta Paulo Roberto e um que possuía fama de pão-duro: Vicente Celestino.
Vicente Celestino: fama de tão pão duro, que ''não repartia nem o cabelo" acabou sendo desfeita.
Mas coube a Paulo Roberto dirimir esta fama ao
contar uma história autêntica e comovente. Nos idos de 1934 o novelista e
escritor Oduvaldo Viana, sofreu uma grave crise de apêndice e quase morreu.
Passou semanas internado em um hospital em São Paulo. Oduvaldo
vinha passando por dificuldades financeiras, mas não queria que seus colegas
soubessem. Uma tarde, Vicente Celestino foi visitá-lo no hospital. Ao retirar-se despediu-se de Deocélia, mulher de Oduvaldo e deixou o amigo
cochilando. Minutos depois, o novelista acorda e pede a mulher que ajeite seu
travesseiro. Ao mexer nos travesseiros eis que ela descobre um pacotinho de
dinheiro. Vicente, o “pão-duro”, sem que ninguém percebesse, deixara cerca de
30 contos de réis para ajudar o amigo! Era uma quantia razoável para a época e
que ajudou no tratamento daquele que se tornaria um dos maiores novelistas do
Brasil, pai de Vianinha, uma das glórias de nosso teatro.
Oduvaldo Viana : ajuda do amigo Vicente Celestino
A mãe Deocélia, Vianinha e o pai Oduvaldo.
Ela testemunhou o fato.
Histórias como essa rolavam no papos do Bar da Nacional. Vamos contar outras.
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