domingo, 21 de dezembro de 2014

BAR DA RÁDIO NACIONAL: LUGAR DE BOAS HISTORINHAS



OS PÃES DUROS E OS MÃO ABERTA, MOTIVOS DE PAPO NO BAR DA RÁDIO.
  Durante os descontraídos papos de botequim no bar da Nacional, surgiam muitas histórias que falavam dos pães   duros  ou mãos fechadas e dos mãos abertas.
  A propósito descobri um texto na Radiolândia, escrito pelo mestre Dias Gomes e que por isso transcrevo, a seguir. O título da matéria é  Os mãos abertas e os mãos fechadas.
O rádio é dos setores artísticos, talvez o que paga melhor. Melhor que o Cinema ou o Teatro. Oferecendo uma estabilidade financeira que os demais ramos não conseguem proporcionar. E apesar dos grandes salários do Rádio serem em número reduzido, tendo-se em conta o número de profissionais que militam em nossas emissoras, apesar do produtor de  quarenta contos trabalhar ao lado de um operador de um conto quinhentos magros e suados, apesar de todas essas desigualdades e injustiças, os artistas de Rádio são tidos, de uma maneira geral, como profissionais que ganham rios de dinheiro. Rios que quando um sujeito desses que pensam no “dia de amanhã” no tempo das vacas magras e outras  tolices , transformam-se, facilmente, em grandes mares. E em caso contrário quando acendem charuto em nota de quinhentos, depressa escoam no oceano de todos os prazeres. Tudo depende do sujeito ter a mão mais ou menos aberta.
Dias Gomes: novelista e escritor encarnou nos pães duros e nos mãos abertas

ANTONIO MARIA  é um dos produtores que mais ganham em nosso Rádio. E é também dos que mais gastam. Homem dos sete instrumentos, produtor, animador, locutor esportivo, cronista de jornal, compositor, revistógrafo e um dos maiores boêmios do Rio de Janeiro. Enquanto for vivo o prestígio do  Whisky escocês se manterá intacto por estas plagas. Foi diretor artístico de uma de nossas boates, recebendo trinta contos mensais. No fim do primeiro mês foi receber o ordenado e verificou que ainda devia vinte...
Antonio Maria era "gastador", segundo Dias Gomes

MÁRIO LAGO – Eis um mão aberta por vocação. Entende que gastar mais do que se ganha é um estímulo para se ganhar mais do que se gasta. E não trai o seu lema mesmo quando as coisas não lhe vão bem. È homem de princípios firmados. Certa vez- era no tempo das vacas magras- sua esposa foi obrigada a lhe chamar a atenção para o estado das finanças domésticas. Depois de um relatório minucioso sobre o assunto chegou à seguinte conclusão: não havia em casa um só níquel para comprar pão. Lago tranquilizou-a.  Dentro de uma hora estaria de volta com algumas  notas de mil cruzeiros no bolso. Aquilo fora um descuido. E efetivamente,   não uma, mas duas horas depois (nunca se deve chegar em casa à hora que se prometeu, para não habituar mal a mulher), duas horas depois voltava o autor de “Cupim” com um grande embrulho embaixo do braço. A esposa o interrogou  aflita:”Conseguiu dinheiro?” Claro, conseguira quinhentos cruzeiros. E dizendo isso, colocou o embrulho sobre a mesa e o desamarrou. A mulher olhou sem compreender: “Um frasco de água de colônia? Deste tamanho? Quanto custou?” Havia  custado quinhentos cruzeiros, precisamente. A mulher tentou protestar, mas Mário explicou com muita dignidade: “Prontos, porém perfumados”...
O elegante Mário Lago: 'prontos, porém perfumados"

E prossegue Dias Gomes em seu relato.
PAULO GRACINDO é outro que tem fama de mão fechada.Contam que, quando se candidatou a vereador, alguém veio oferecer-lhe votos a cem cruzeiros cada um.O cabo eleitoral garantia 2.000 votos o que asseguraria a eleição do famoso galã de novelas. Dizem que Gracindo começou a pechinchar e no fim da conversa acabou por conseguir um abatimento de cinquenta por cento  no preço dos votos. E quando já estavam para fechar o negócio  ajuntou:”Bem,  agora o restante o senhor me financia em 10 anos, pela tabela Price. Isto, bem entendido se eu for eleito.
Paulo com a esposa dona Dulce e Gracindo Junior: 
'sou mão fechada pois penso no futuro"

Seria uma clamorosa injustiça não incluir entre os técnicos em economia do nosso rádio, o veterano locutor da Nacional, pois o narrador da Crônica da Cidade é tido como um dos especialistas no assunto.
Cesar Ladeira: veja abaixo sua opinião sobre o jornalista Samuel Wainer.
 Gozação  pura.

Coitadinho do Wainer (Samuel) se ele fosse diretor do Banco do Brasil.De lá não arrancava um tostão.Tem por princípio não emprestar dinheiro a amigos... para não perder o dinheiro.Não assina lista de enterro porque a morte o apavora. Não paga café para os amigos para não lhes roubar o prazer de pagar o dele. Não dá presente a ninguém porque considera isso uma maneira deselegante de comprar a amizade alheia. Não dá esmolas... para não humilhar o mendigo.

Wainer, fundador de Ultima Hora.


   Mas vamos deixar de lado o artigo de Dias Gomes. Na minha opinião o maior mão aberta que conheci foi  PAULO ROBERTO
   Paulo Roberto não  era apenas  mão aberta, tinha também um coração aberto. Homem bom, ajudava financeiramente qualquer amigo ou colega que estivesse em  apuros. Muitos, é bem verdade, abusavam. Paulo tinha noção disso, mas seu desprendimento era tamanho que chegava a  superar qualquer lógica. Embora fosse um dos maiores salários do rádio, do cinema e posteriormente da televisão, além de acumular com sua profissão de médico, não fez riqueza.
Homem cortês e de gestos elegantes, vestia-se com ternos bem talhados, camisas finas e boas gravatas.  Zelava por sua aparência e andava de táxi, pois não gostava de dirigir. Caridoso e solidário com os que o rodeavam. Colegas que estavam na pior, almoçavam no restaurante da rádio e penduravam a conta em nome do médico-radialista. Sempre morou em apartamento alugado. Tinha, sim, uma salinha na rua Evaristo da Veiga, no centro, onde guardava seus arquivos. Segundo sua filha Maria Célia, ele  costumava dizer: “tenho uma escova de dentes”!
Segundo sua filha Maria Célia, ele  costumava dizer: “tenho uma escova de dentes”!

Mas dito isto, passo a narrar esta história interessante, que reúne o  mão aberta Paulo Roberto e um que possuía fama de pão-duro: Vicente Celestino.
Vicente Celestino: fama de tão pão duro, que ''não repartia nem o cabelo" acabou sendo desfeita.


   Mas  coube a Paulo Roberto dirimir esta fama ao contar uma história autêntica e comovente. Nos idos de 1934 o novelista e escritor Oduvaldo Viana, sofreu uma grave crise de apêndice e quase morreu. Passou semanas internado em um hospital em São Paulo. Oduvaldo vinha passando por dificuldades financeiras, mas não queria que seus colegas soubessem. Uma tarde, Vicente Celestino foi visitá-lo  no hospital. Ao retirar-se despediu-se  de Deocélia, mulher de Oduvaldo e deixou o amigo cochilando. Minutos depois, o novelista acorda e pede a mulher que ajeite seu travesseiro. Ao mexer nos travesseiros eis que ela descobre um pacotinho de dinheiro. Vicente, o “pão-duro”, sem que ninguém percebesse, deixara cerca de 30 contos de réis para ajudar o amigo! Era uma quantia razoável para a época e que ajudou no tratamento daquele que se tornaria um dos maiores novelistas do Brasil, pai de Vianinha, uma das glórias de nosso teatro.
Oduvaldo Viana :  ajuda do amigo Vicente Celestino

A mãe Deocélia, Vianinha e o pai Oduvaldo. 
Ela testemunhou o fato.

Histórias como essa rolavam no papos do Bar da Nacional. Vamos contar outras.


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