domingo, 30 de novembro de 2014

ACONTECEU EM UMA MESA DO BAR DA RADIO NACIONAL...


No programa “Noturno” na rádio JB-AM, Luiz Carlos Saroldi, produtor, relata um fato importante, que soube eu, aconteceu na hora do almoço no bar da Nacional.
È que Mário Brasini, Max Nunes e Paulo Gracindo,muito amigos, costumavam almoçar juntos lá. Pela manhã, Brasini,que além de excelente ator e produtor,  era muito bom datilógrafo batia os roteiros à máquina que Max lhe ia ditando. Gracindo ficava peruando, ajudando a fechar umas piadas, dando palpites e coisa e tal. Foram almoçar e durante o almoço, Brasini desabafou:
-Max, eu fico aqui de datilógrafo de luxo, por que o Gracindo não passa a escrever o programa com você?
Ao que Max Nunes respondeu: -Paulo, eu topo, desde que você me ceda aquele quadro que você escreve  no 24 horas da vida alheia, do  Parente pobre e o parente rico.
E ali, na mesa de almoço ficou decidido:
Brasini escreveria o 24 horas. Paulo Gracindo e Max Nunes seriam parceiros no Balança,mas não cai e o quadro do Parente...  passaria a constar do Balança, com o título alterado para Primo rico e primo pobre.
E assim, enquanto saboreavam gelatina Royal sabor morango,festejam o acordo que renderia excelentes frutos para os três.
                  O Bar da Rádio Nacional ficava no terraço e foi palco de histórias interessantes.

Gracindo ainda jovem quando escrevia o Balança mas não cai.

Mario Brasini era parceiro de Gracindo e Max Nunes

Max Nunes foi o criador do famoso Edifício balança, mas não cai.


O ambiente no bar, naturalmente era descontraído e após uns drinques  ficava melhor ainda. Conversa fora jogada em mesa de bar eis  que surgiam alguns apelidos para os artistas dados pelos próprios  colegas. Geralmente irreverentes,uns pegavam, outros não. Se você conhecer o artista, vai sentir que o apelido se encaixa como uma luva. De alguns eu tenho a explicação, mas não me peçam para  esclarecer a origem de outros. Vejamos:
Wilson Batista, Virilha; Silvio Caldas,Saci ou Preto Velho; Orlando Silva,Sovaco; Ciro Monteiro, Formigão; Dolores Duran, Caxumba.
O locutor Afrânio Rodrigues, aquele que narrava o “Edifício balança, mas não cai” certa vez entrou no bar e amigos exclamaram:
-Chegou o “chão de garagem”!
È que Afrânio usava muito Gumex no  cabelo. (Duralex, sed-lex, no cabelo só Gumex”).
Ataulfo Alves, tinha um andar elegante e cadenciado, por isso veio logo o apelido:”Urubu Malandro”.
Francisco Alves era o “Carne assada” ou “Chico Duro” certamente porque não abria mão para pagar nada para os amigos.
Alguns apelidos eram tão maldosos e encerravam tamanha dose de preconceito que nos dias atuais, creio, seria processado quem os propagasse. Exemplo: o do cantor Black-Out era  “Negativo de Fotografia”.
Enquanto Evaldo Rui era o “Espanador da lua”, Gilberto Milfont,  por sua baixa estatura era o “Jóquei de Cabrito.”
   Black-Out e seu apelido hoje, politicamente incorreto: Negativo de fotografia.
O alto Evaldo Ruy era o Espanador da lua

Gilberto Milfont, cantor de bela voz, baixinho era o Jóquei de cabrito

O penteado de Afrânio Rodrigues lhe valeu o apelido Chão de garage.

A elegância e o andar cadenciado de Ataulfo Alves:
 apelido de Urubu malandro.

GARÇOM, OUTRO GELO POR  FAVOR !


Esta também se passou no bar da Nacional. Certa noite sentaram-se a uma mesa, Renato Murce  e Fernando Lobo, dois grandes produtores, sendo que o Fernando é o pai de Edu Lobo, uma das glórias da música brasileira e Murce criador de Piadas do Manduca, Papel Carbono e outros sucessos. Pois bem, pediram um  whisky com gelo. Fernando era  uma excelente pessoa e muito brincalhão. O garçom, solícito trouxe os copos, a garrafa e um  balde com gelo. Quando colocou as primeiras pedras no copo de Murce, exclama para o companheiro:
-Você vai consumir este gelo, Renato? Este gelo é de ontem!
O pobre garçom, espantado, sem nada entender, acabou caindo na gargalhada no que foi acompanhado por Renato.
Este fato está no livro Bastidores do Rádio, que Renato Murce  escreveu, mas Fernando Lobo, todas as vezes que contava esta história a atribuía a Renato.
Fernando Lobo

Renato Murce


Bem, esta não aconteceu no bar da Nacional, mas poderia ter acontecido e é contada por José Bonifácio de  Oliveira Sobrinho,  no prefácio do excelente livro de Paulo Perdigão sobre a PRK-30. Vamos transcrever o trecho em que Boni se refere a Lauro Borges.

O Lauro era um eterno brincalhão. Quando entrava em um restaurante, sentava à mesa e dizia para o garçom:
-Quer  me chupar os nabos, por favor?
E os garçons, atônitos, perguntavam:
- O que o senhor disse?
E ele dizia:
Guardanapos, por favor.
Um dia, no Hotel da Bahia, ele repetiu a brincadeira:
-Quer me  chupar os nabos, por favor?
E para surpresa de Lauro, o garçom respondeu:
Chupo, sim, senhor, O senhor é o Lauro Borges, e eu o considero o maior humorista do Brasil. Para homenageá-lo, eu faço qualquer coisa.
Pela primeira vez na minha vida eu vi o Lauro Borges sem graça.
Boni

                                                              Lauro Borges
 Na época radioator mirim  Abelardo Santos contou-me que a chegada da cantora Marlene ao bar era apoteótica.
Antes de adentrar no salão, se via alguma amiga sentada a uma mesa, dava um oh! Abria os braços como se fosse uma estrela entrando num palco. Todos paravam para olhar e morriam de rir com o histrionismo da rainha do Rádio.Marlene era muito alegre.Concluiu Abelardo

Já que falei de Abelardo, vai mais essa. Quando ele foi contratado para o radioteatro da Nacional com pouco mais de 10 anos, apreciava muito comer pêssegos em calda com catupiry.Menino pobre, nascido na ladeira do Barroso, no morro da Providência, aquilo era, para ele, um manjar dos deuses.Entre um capítulo de novela e outro, lá ia ele ao bar comer seu prato preferido. O restaurante tinha convênio com o departamento de pessoal. Assim, bastava a Abelardinho assinar um vale e pronto.Quando seu pai foi receber o pagamento do menino,no fim do mês, eram vales e mais vales do restaurante. Pagamento? Muito pouco.
Meu pai chegou pra mim e disse, Abelardinho, você  está trabalhando, praticamente para comer pêssego em calda com Catupiry! Dê  um jeito nisso!


 Nora Ney possuía uma dicção perfeita. Mas adorava encarnar em sua amiga, a também cantora Alayde Costa, uma das precursoras da bossa-nova. Alayde,criatura humana calma e tranqüila  aceitava as brincadeiras. Ela possuía um problema de dicção que não  prejudicava, em nada sua atuação. Mas no bar, Nora dizia para Alayde:
Te pago o lanche, desde que você peça ao garçom: Televisão, (apelido do garçom) me serve  um pudim? E Alayde, então, atendia:
Oh, Televissão me serve um putim?

Um comentário:

  1. Afranio Rodrigues, pela quantidade de gumex que usava
    Fazia do seu penteado uma camada ondulada e dura. Seu spelido era "Jacaré Engomado"

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