segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ANOS SESSENTA: O RADIOTEATRO COMEÇA A DESCER A LADEIRA




O dragão  mostrou sua cauda,  mas não exibiu sua carranca.  Meados dos anos cinquenta: Juscelino vence as eleições e promete durante a campanha conceder o canal 4 do Rio de Janeiro à Nacional. Chateaubriand era dono de um vastíssimo império de emissoras de rádio e televisão, além de jornais e revistas, editoras, laboratórios farmacêuticos  e pesados investimentos agropecuários. Quando o Velho Capitão soube das promessas de Juscelino, ficou colérico. Se a promessa se cumprisse a Rádio Nacional, que já liderava no rádio, certamente dominaria o mercado da televisão. Era preciso fazer alguma coisa e já! Transcrevo a seguir o que escreveu Mário Lago em seu Bagaço de beira-estrada.
Numa dessas tantas viagens Assis Chateaubriand sentou-se no banco ao lado de Juscelino, e levou a viagem inteira procurando demovê-lo da loucura de dar o canal à Nacional...
Entre sorrisos de clichê o presidente lhe fez ver que já tinha empenhado a palavra, não podia recuar agora, e o velho guerreiro não teve papas na língua: “Se Vossa Excelência der o canal de televisão à Nacional, jogo toda a minha rede de rádio, imprensa e televisão contra seu governo”.
Chateaubriand para Juscelino: 
"Se você der o canal de tevê para a Nacional usarei todas as minhas forças contra seu governo"!



Juscelino, em campanha, tremeu, elegeu-se e o Nacional não teve a sua televisão

 Floriano Faissal,diretor da Nacional:
 mensageiro da  notícia da perda do canal aos funcionários.
Mario Lago era radioator na Nacional
 e contaria em livro o que aconteceu.
Mario Lago, poeta, escritor e compositor:
 testemunha do drama dos artistas e funcionários da Nacional

 RESSACA E SOCO NO ESTOMAGO.  O DRAGÃO MOSTRA A SUA CARA HORRENDA
 A Nacional seguiu liderando e parecia ter prestígio junto a Juscelino, noticiando as ações de seu governo, transmitindo trechos de discursos, não fosse a estação uma emissora pertencente ao Patrimônio da União. Tanto que deu apoio à montagem da Rádio Nacional e da TV Nacional de Brasília. A emissora de rádio foi montada em tempo recorde: quatro meses  e foi inaugurada em 1958, enquanto a de televisão foi ao ar no dia da fundação de Brasília: 21 de abril de 1960, mandando imagens da inauguração. A Nacional parecia ter prestígio com JK.
Não tinha.
Juscelino após a inauguração da capital:
entrega do canal da Nacional é T Globo

Na ressaca das festanças da inauguração,o presidente bossa-nova mandou às favas o próprio despacho de 18 de julho de 1956 e entregou o canal 4 a Roberto Marinho, que rindo até as orelhas inauguraria em 1965 a televisão Globo.
Prédio pioneiro da TV Globo, que depois seria uma rede.
Primeiro logo da TV  Globo. Desolação na Nacional

Juscelino ficou bem com Chateaubriand e com Marinho, duas respeitadas feras dos veículos de comunicação deste país, mas a decisão foi um soco no estômago da emissora da Praça Mauá. Entre diretores e funcionários o desalento foi total.  Finalmente o dragão mostrara a sua cara horrenda. 

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