quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O ÊXODO DO RÁDIO RUMO À TELEVISÃO:DO RADIOTEATRO PARA O TELETEATRO.



Paulatinamente muitos artistas de rádio passaram a atuar também nos canais de tevê que existiam no Rio, embora conservassem seus contratos de exclusividade  com a PRE-8, Rádio Nacional.
Floriano Faissal, então diretor de radioteatro, em depoimento na Universidade do Rio de Janeiro, 22 anos depois relatou:
A direção da Nacional congelou salários. Nivelou tudo, burocratizou os salários. Os artistas mais famosos tiveram o direito de fazer um programa por semana na televisão ou no teatro.
Mas, boa parte de artistas fez as malas e embarcou, de vez, no barco da televisão quando Moacyr Áreas chegou para dirigir a Rádio Nacional. Até ai nada de mais, não fosse ele também diretor da TV Rio.
Foi por força disso,que no mesmo depoimento Floriano acrescentou:

“Durante um bom tempo, o que mais se ouvia na televisão carioca era: nosso tempo está esgotado, pena que nossa televisão não seja a cores e... por uma deferência especial da Rádio Nacional”.

È importante lembrar que, embora a PRE-8 não pagasse a seus artistas aqueles salários que os ouvintes imaginavam que eles ganhavam, oferecia,por outro lado, uma vantagem acima das demais: contratos de trabalho. Sim, porque as demais emissoras pagavam cachê. Não obstante os cachês fossem bons, nada melhor do que um contrato que dava mais segurança e garantias em caso de doença ou faltas justificáveis. Os contratos eram de um ano,mas em sua maioria, renováveis. O sonho de todo artista era trabalhar na Nacional. Ser ouvido em todo o Brasil, uma garantia de bom público em shows pelo país, participação em filmes e boa bilheteria nos teatros. A emissora era uma verdadeira vitrine. Quando seus artistas migraram para a televisão, levaram também  audiência; um público curioso que queria ver na telinha seus ídolos do rádio. Curiosa armadilha do destino: a Nacional que transformara em ídolos seus artistas principais, os perdia agora para a televisão. E mais do que isso, esses mesmos ídolos carregavam a audiência junto e por via de consequência, os imprescindíveis  anunciantes.

Assim, a Nacional começava a sentir os reflexos também de problemas cruciais que muito contribuíram para sua trajetória rumo ao poço: a descontinuidade  administrativa e a marcha dos anunciantes rumo à novidade da televisão.
Sobre a descontinuidade administrativa gostaria de lembrar que as bases do sucesso da emissora foram fincadas pelo gênio de Victor Costa, que ao dirigir a emissora por 16 anos seguidos lhe deu personalidade. A partir da saída de Victor a rádio passou a conhecer   diretor após diretor, numa rotatividade que muito a prejudicou.

Além disso a programação não se renovava. Era previsível e repetitiva. Afinal, o que fizera sucesso a 20 anos atrás, não obrigatoriamente, deveria fazer sucesso, diante de um país que necessitava de reformas e que se transformava. A sociedade dos anos 60 também mudava. A mulher se liberava.Ela saia de casa para trabalhar. Nada a mantinha mais ouvindo novelas matinais e programas de auditório vespertinos. Era a pílula e a minissaia. A corrida espacial e um Brasil que deixava de ser rural e rumava para o   oeste.Diante de uma rápida evolução no sentido moral, social, econômico e político, a Nacional continuava a mesma. Não criava, não inovava, não se adaptava aos novos tempos.
Alguns estudiosos ao lerem alguns roteiros de novelas que haviam feito sucesso nos anos 40 tiverem uma constatação: os textos daqueles gloriosos tempos haviam envelhecido. Sejamos justos: se hoje lermos também os textos das primeir
Mas a questão não era apenas com a emissora da praça Mauá.Observava-se um certo marasmo e uma programação previsível na maioria das rádios.Havia duas exceções, porém. Uma era a Tamoio que no final de 1957, sob a direção de José Mauro e seus Bacharéis do disco criaram o slogan Tamoio, música, exclusivamente música. A outra inovação veio da Eldorado com excelente  programação musical.Embora muitos acusassem essas rádios de vitrolões, porque a programação era, em grande parte, baseada em discos, foi um sucesso de audiência!E a FM ainda não havia chegado!
O horário nobre noturno do rádio também se bandeou para a televisão. O horário nobre do rádio, agora seria de manhã. Mas não o rádio das novelas e dos seriados, mas o rádio da música, da informação e do serviço público.
Na Nacional,os artistas que permaneceram dedicavam-se ao máximo, de tal forma que a liderança da emissora ainda se manteve, movida talvez pela velocidade inercial, numa espécie de vôo de cruzeiro com piloto automático, por um breve período. Mas, progressivamente, foi sendo superada pelo novo tipo de rádio que emergira no final dos anos cinquenta.
Conforme se constata, esta crise não afetou apenas a Nacional. As emissoras cariocas se desfizeram de seus elencos de radioteatro. Cantores, músicos, maestros e orquestras inteiras foram extintas. Os estúdios diminuiriam de tamanho e novos equipamentos seriam adquiridos para  adaptar as emissoras aos novos dias.
A Rádio Tupi também buscou se amoldar quando viu seu faturamento diminuir. Reduziu seu elenco e o Maracanã dos auditórios ficou deserto. Serviria mais tarde para abrigar estúdios da TV Excelsior. Mas a  Rádio Tupi possuía uma grande vantagem. A televisão era sua e os seu elenco simplesmente mudou-se da avenida Venezuela 43 para o Cassino da Urca e lá os  egressos do radioteatro foram formar o cast da TV Tupi. Os anunciantes, claro, foram junto.Para as associadas o impacto da televisão fez apenas as coisas mudarem de endereço. Enquanto isso a Tamoio, também pertencente a Chateaubriand, flanava feliz com seus Bacharéis do disco, sob o comando de José Mauro. As rádios, como a Nacional que demoravam a optar pelos novos formatos,   pagaram  tributo por isso.
A mesmice do rádio já incomodava muita gente. Antevendo a queda,eis o editorial que escreveu Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio, no último número da RR em 27 de dezembro de 1958:


Vai se chegando ao fim do ano e sentindo-se que o rádio continua fixo naquele mesmo ponto de um ano atrás. Ninguém sente que ele tenha evoluído. Hoje, como ontem a programação das emissoras sofre leves alterações- enquanto as de televisão se alteram muito. Isto que aqui se diz não é vaticínio de morte para o rádio, ele que viverá ainda opor algumas gerações como força inflamável e necessária.O que se quer, não apenas nós, mas o público em geral, é que o rádio se solte da sonolência, da contemplação, do devagar em que vai. Enquanto a televisão corre, o rádio espera. O que, não se sabe. Contando-se a dedo, nos novos programas lançados em 1958, conta-se pouco. Com duas estações de televisão no Rio, três em São Paulo e uma em Belo Horizonte, as novidades surgem de instante a instante. È como se os homens do ofício só tivessem  sugestões para dar à TV. 

MUITOS ARTISTAS QUE ERAM BONS NO RÁDIO NÃO TIVERAM VEZ NA TELEVISÃO.
Rádio é som. É voz. É sonoplastia. São efeitos sonoros...
Tudo que vai forjar a chamada linguagem radiofônica colocada a serviço da imaginação do ouvinte.
No tocante aos radioatores, locutores e apresentadores de rádio é imprescindível ter uma boa voz.
Não precisava ter cara nem corpo bonito, apenas voz bonita, dicção perfeita e talento, muito talento é claro.
Quando a televisão abriu para esses profissionais, nem todos se adaptaram ao novo e sedutor veiculo. Os que no rádio permaneceram tiveram que enfrentar os novos desafios de ter que fazer um rádio diferente ou ficar sem emprego.
Mas nem tudo ocorreu da noite para o dia, até porque a televisão daquele tempo era muito precária, com tudo feito ao vivo em um veículo ainda buscando uma identidade junto ao público. 
Valia, sim, como uma grande novidade.
O que surgiu primeiro foi o teleteatro, pois as telenovelas surgiriam bem depois por causa das dificuldades de produção.
Houve uma crise nos meios artísticos motivada pela falta de adaptação dos elencos ao novo veículo.

UMA PEÇA DE TEATRO CHAMADA CAROS OUVINTES.
Este espetáculo que estreou no teatro MASP  na capital paulista de autoria de Otávio Martins aborda com muita felicidade este fenômeno que teve início no final dos anos sessenta.Narra as agruras de um elenco de radioatores que vê o patrocinador de sua novela de sucesso, cancelar os contratos, porque seu produto seria agora anunciado na televisão, o veículo do futuro!.
Imaginem vocês o que não aconteceu!
Otávio Martins, autor do roteiro e diretor da peça, fez um enorme trabalho de pesquisa, procurando conhecer o mundo do radioteatro e das radionovelas. Como eram os atores, como viviam, como se trajavam. Embrenhou-se pelos bastidores e corredores das estações de rádio, pesquisou músicas e jingles (anúncios musicais do velho rádio) e o resultado foi um trabalho de alto nível artístico, capaz de emocionar a quem o assistir.

Um elenco jovem, que não viveu a era do radioteatro, mas que incorporou com fidelidade o espírito da época.

O autor e diretor Otávio Martins, quis conhecer o autor deste blog. Segundo Otávio,o livro A Era do Radioteatro foi o livro de cabeceira dele e de todo o elenco.

Alguns dos componentes do elenco e o autor do blog:
 vibração das ondas do rádio em noite de pré-estreia.

Amanda Costa vive Leonor Praxedes na novela fictícia Espelhos da Paixão.
Na rádio ela também cantava jingles e números musicais.Ei-la com o autor do blog.



O palco do teatro MASP era o estúdio de radioteatro de Espelhos da Paixão.A esquerda ficava o contrarregra, produzindo os ruídos e a direita o sonoplasta colocando os discos com as músicas

No final do lindo espetáculo, o autor do blog vai curtir a cabine do sonoplasta.

Programa distribuído entre os espectadores da peça:
um misto de Revista do Rádio e Revista Grande Hotel.
Uma nostálgica  volta ao período áureo do velho rádio.

Vamos deixar que o autor e diretor Otávio Martins, conte, ele mesmo,como surgiu Caros Ouvintes




Caros Ouvintes: a dramática  transição da radionovela para a telenovela no final dos anos sessenta.








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