Paulatinamente muitos artistas de rádio passaram a atuar também nos canais de tevê que existiam no Rio, embora
conservassem seus contratos de exclusividade
com a PRE-8, Rádio Nacional.
Floriano Faissal, então diretor
de radioteatro, em depoimento na Universidade do Rio de Janeiro, 22 anos depois relatou:
A direção da Nacional congelou salários. Nivelou tudo, burocratizou os
salários. Os artistas mais famosos tiveram o direito de fazer um programa por
semana na televisão ou no teatro.
Mas, boa parte de artistas fez as
malas e embarcou, de vez, no barco da televisão quando Moacyr Áreas chegou para
dirigir a Rádio Nacional. Até ai nada de mais, não fosse ele também diretor da
TV Rio.
Foi por força disso,que no mesmo
depoimento Floriano acrescentou:
“Durante um bom tempo, o que mais se ouvia na televisão carioca era:
nosso tempo está esgotado, pena que nossa televisão não seja a cores e... por
uma deferência especial da Rádio Nacional”.
È importante lembrar que, embora
a PRE-8 não pagasse a seus artistas aqueles salários que os ouvintes imaginavam
que eles ganhavam, oferecia,por outro lado, uma vantagem acima das demais:
contratos de trabalho. Sim, porque as demais emissoras pagavam cachê. Não
obstante os cachês fossem bons, nada melhor do que um contrato que dava mais
segurança e garantias em caso de doença ou faltas justificáveis. Os contratos
eram de um ano,mas em sua maioria, renováveis. O sonho de todo artista era
trabalhar na Nacional. Ser ouvido em todo o Brasil, uma garantia de bom público
em shows pelo país, participação em filmes e boa bilheteria nos teatros. A
emissora era uma verdadeira vitrine. Quando seus artistas migraram para a
televisão, levaram também audiência; um
público curioso que queria ver na telinha seus ídolos do rádio. Curiosa
armadilha do destino: a Nacional que transformara em ídolos seus artistas
principais, os perdia agora para a televisão. E mais do que isso, esses mesmos
ídolos carregavam a audiência junto e por via de consequência, os
imprescindíveis anunciantes.
Assim, a Nacional começava a
sentir os reflexos também de problemas cruciais que muito contribuíram para sua
trajetória rumo ao poço: a descontinuidade
administrativa e a marcha dos anunciantes rumo à novidade da televisão.
Sobre a descontinuidade
administrativa gostaria de lembrar que as bases do sucesso da emissora foram
fincadas pelo gênio de Victor Costa, que ao dirigir a emissora por 16 anos
seguidos lhe deu personalidade. A partir da saída de Victor a rádio passou a
conhecer diretor após diretor, numa
rotatividade que muito a prejudicou.
Além disso a programação não se
renovava. Era previsível e repetitiva. Afinal, o que fizera sucesso a 20 anos
atrás, não obrigatoriamente, deveria fazer sucesso, diante de um país que
necessitava de reformas e que se transformava. A sociedade dos anos 60 também
mudava. A mulher se liberava.Ela saia de casa para trabalhar. Nada a mantinha
mais ouvindo novelas matinais e programas de auditório vespertinos. Era a
pílula e a minissaia. A corrida espacial e um Brasil que deixava de ser rural e
rumava para o oeste.Diante de uma
rápida evolução no sentido moral, social, econômico e político, a Nacional continuava
a mesma. Não criava, não inovava, não se adaptava aos novos tempos.
Alguns estudiosos ao lerem alguns
roteiros de novelas que haviam feito sucesso nos anos 40 tiverem uma
constatação: os textos daqueles gloriosos tempos haviam envelhecido. Sejamos
justos: se hoje lermos também os textos das primeir
Mas a questão não era apenas com
a emissora da praça Mauá.Observava-se um certo marasmo e uma programação
previsível na maioria das rádios.Havia duas exceções, porém. Uma era a Tamoio
que no final de 1957, sob a direção de José Mauro e seus Bacharéis do disco criaram o slogan Tamoio, música, exclusivamente música.
A outra inovação veio da Eldorado com excelente
programação musical.Embora muitos acusassem essas rádios de vitrolões, porque a programação era, em
grande parte, baseada em discos, foi um sucesso de audiência!E a FM ainda não
havia chegado!
O horário nobre noturno do rádio
também se bandeou para a televisão. O horário nobre do rádio, agora seria de
manhã. Mas não o rádio das novelas e dos seriados, mas o rádio da música, da
informação e do serviço público.
Na Nacional,os artistas que
permaneceram dedicavam-se ao máximo, de tal forma que a liderança da emissora
ainda se manteve, movida talvez pela velocidade inercial, numa espécie de vôo
de cruzeiro com piloto automático, por um breve período. Mas, progressivamente,
foi sendo superada pelo novo tipo de rádio que emergira no final dos anos
cinquenta.
Conforme se constata, esta crise
não afetou apenas a Nacional. As emissoras cariocas se desfizeram de seus
elencos de radioteatro. Cantores, músicos, maestros e orquestras inteiras foram
extintas. Os estúdios diminuiriam de tamanho e novos equipamentos seriam
adquiridos para adaptar as emissoras aos
novos dias.
A Rádio Tupi também buscou se
amoldar quando viu seu faturamento diminuir. Reduziu seu elenco e o Maracanã dos auditórios ficou deserto.
Serviria mais tarde para abrigar estúdios da TV Excelsior. Mas a Rádio Tupi possuía uma grande vantagem. A
televisão era sua e os seu elenco simplesmente mudou-se da avenida Venezuela 43
para o Cassino da Urca e lá os egressos do radioteatro foram formar o cast
da TV Tupi. Os anunciantes, claro, foram junto.Para as associadas o impacto da
televisão fez apenas as coisas mudarem de endereço. Enquanto isso a Tamoio,
também pertencente a Chateaubriand, flanava feliz com seus Bacharéis do disco, sob o comando de José Mauro. As rádios, como a
Nacional que demoravam a optar pelos novos formatos, pagaram
tributo por isso.
A mesmice do rádio já incomodava
muita gente. Antevendo a queda,eis o editorial que escreveu Anselmo Domingos,
diretor da Revista do Rádio, no último número da RR em 27 de dezembro de 1958:
Vai se chegando ao fim do ano e sentindo-se que o rádio continua fixo
naquele mesmo ponto de um ano atrás. Ninguém sente que ele tenha evoluído.
Hoje, como ontem a programação das emissoras sofre leves alterações- enquanto
as de televisão se alteram muito. Isto que aqui se diz não é vaticínio de morte
para o rádio, ele que viverá ainda opor algumas gerações como força inflamável
e necessária.O que se quer, não apenas nós, mas o público em geral, é que o
rádio se solte da sonolência, da contemplação, do devagar em que vai. Enquanto
a televisão corre, o rádio espera. O que, não se sabe. Contando-se a dedo, nos
novos programas lançados em 1958, conta-se pouco. Com duas estações de
televisão no Rio, três em
São Paulo e uma em Belo Horizonte , as novidades surgem de instante a
instante. È como se os homens do ofício só tivessem sugestões para dar à TV.
MUITOS ARTISTAS QUE ERAM BONS NO RÁDIO NÃO TIVERAM VEZ NA TELEVISÃO.
Rádio é som. É voz. É sonoplastia. São efeitos sonoros...
Tudo que vai forjar a chamada linguagem radiofônica colocada a serviço da imaginação do ouvinte.
No tocante aos radioatores, locutores e apresentadores de rádio é imprescindível ter uma boa voz.
Não precisava ter cara nem corpo bonito, apenas voz bonita, dicção perfeita e talento, muito talento é claro.
Quando a televisão abriu para esses profissionais, nem todos se adaptaram ao novo e sedutor veiculo. Os que no rádio permaneceram tiveram que enfrentar os novos desafios de ter que fazer um rádio diferente ou ficar sem emprego.
Mas nem tudo ocorreu da noite para o dia, até porque a televisão daquele tempo era muito precária, com tudo feito ao vivo em um veículo ainda buscando uma identidade junto ao público.
Valia, sim, como uma grande novidade.
O que surgiu primeiro foi o teleteatro, pois as telenovelas surgiriam bem depois por causa das dificuldades de produção.
Houve uma crise nos meios artísticos motivada pela falta de adaptação dos elencos ao novo veículo.
UMA PEÇA DE TEATRO CHAMADA CAROS OUVINTES.
Este espetáculo que estreou no teatro MASP na capital paulista de autoria de Otávio Martins aborda com muita felicidade este fenômeno que teve início no final dos anos sessenta.Narra as agruras de um elenco de radioatores que vê o patrocinador de sua novela de sucesso, cancelar os contratos, porque seu produto seria agora anunciado na televisão, o veículo do futuro!.
Imaginem vocês o que não aconteceu!
Otávio Martins, autor do roteiro e diretor da peça, fez um enorme trabalho de pesquisa, procurando conhecer o mundo do radioteatro e das radionovelas. Como eram os atores, como viviam, como se trajavam. Embrenhou-se pelos bastidores e corredores das estações de rádio, pesquisou músicas e jingles (anúncios musicais do velho rádio) e o resultado foi um trabalho de alto nível artístico, capaz de emocionar a quem o assistir.
Um elenco jovem, que não viveu a era do radioteatro, mas que incorporou com fidelidade o espírito da época.
O autor e diretor Otávio Martins, quis conhecer o autor deste blog. Segundo Otávio,o livro A Era do Radioteatro foi o livro de cabeceira dele e de todo o elenco.
Alguns dos componentes do elenco e o autor do blog:
vibração das ondas do rádio em noite de pré-estreia.
Amanda Costa vive Leonor Praxedes na novela fictícia Espelhos da Paixão.
Na rádio ela também cantava jingles e números musicais.Ei-la com o autor do blog.
O palco do teatro MASP era o estúdio de radioteatro de Espelhos da Paixão.A esquerda ficava o contrarregra, produzindo os ruídos e a direita o sonoplasta colocando os discos com as músicas
No final do lindo espetáculo, o autor do blog vai curtir a cabine do sonoplasta.
Programa distribuído entre os espectadores da peça:
um misto de Revista do Rádio e Revista Grande Hotel.
Uma nostálgica volta ao período áureo do velho rádio.
Vamos deixar que o autor e diretor Otávio Martins, conte, ele mesmo,como surgiu Caros Ouvintes
Caros Ouvintes: a dramática transição da radionovela para a telenovela no final dos anos sessenta.
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