terça-feira, 15 de abril de 2014

O MOVIMENTO MILITAR DE 31 DE MARÇO E A RADIO MAYRINK VEIGA


 Trinta e um de março de  1964: a  PRA-9, uma das mais queridas emissoras do Rio de Janeiro e que viveu momentos gloriosos do nosso rádio, no início dos anos 60 participou ativamente da Campanha da Legalidade. Ela constituía a Rede da Legalidade, e mobilizando a opinião pública em defesa dos direitos do vice João Goulart, ameaçado pelos militares de não assumir a presidência da República, com a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1962.
Jango assumiu, veio o regime parlamentarista e os militares tinham a Rede da Legalidade atravessada na garganta.. Em 1º. de abril mesmo após as rádios de todo o país anunciarem que Jango renunciara e fugira para o Uruguai, a Mayrink Veiga e Farroupilha de Porto Alegre remanescentes da Rede da Legalidade  continuaram a conclamar o povo a resistir. Foi quando a  Mayrink foi também ocupada,obrigada a sair do ar tendo  seus transmissores lacrados.


Os discursos de Brizola: a ira dos militares decretou a morte da Mayrink.

  A radioatriz Celma Lopes contou ao autor deste blog,  que naquela noite triste, o humorista Zé Trindade, um dos astros da emissora, interpretava o personagem Alarico Mala Sorte. Foi quando um tenente do Exército irrompeu o auditório  e bradou: Acabou, acabou, acabou! O público nos primeiros instantes pensou que aquilo fazia parte do quadro, mas quando um grupo de soldados entrou no palco e na plateia, todos viram que não era brincadeira. O tenente tirou o programa do ar e ordenou que o público se retirasse. Imaginemos o clima de terror e desolação que dominou o elenco e os funcionários da emissora!  
Zé Trindade: a voz do humorista foi a última que a Mayrink  mandou para o ar antes que fosse fechada.

Finalmente, em julho de 1965 a PRA-9 teve sua frequência  definitivamente cassada, depois de 37 anos de destaque na radiofonia brasileira.
Bem ao lado da Mayrink no dial, ficava a Rádio Globo, PRE-3. Embora poucas pessoas soubessem, a Globo utilizava, precariamente, um canal pertencente ao governo do Chile.
Os chilenos já haviam pedido o canal de volta e a situação da Globo era portanto, difícil.
Com a cassação do canal internacional da Mayrink, os militares deram-no para a Globo, que de emissora de pouca expressão, iniciou uma escalada, que fez dela líder do Ibope em curto espaço de tempo.
Fundada em 1927 a Mayrink, era uma emissora pioneira.Possuía nos anos 40 e 50, um belo elenco de radioteatro, orquestras, cantores, auditório refrigerado e um prédio de 5 andares exclusivamente destinado a seu uso.
Anos 30: elenco da Mayrink: Pixinguinha, Orlando Silva, Carmem e Aurora Miranda, Benedito Lacerda e outros astros da época

Carmelia Alves, a rainha do baião. Estrela dos anos 50.

Multidão aguarda os astros. Entre os anos 30 e 60 a querida emissora ameaçava a Nacional e a Tupi, especialmente no Grande Rio.

Diretoria da emissora nos anos 50:Edmundo Souza,Francisco Abreu e os artistas: Haroldo Barbosa, Caymmi, Sergio Porto e Rodolfo Martensen.


Luiz Gonzaga, Carmelia lves e Humberto Teixeira.


O jovem Flavio Cavalcanti começou na Mayrink nos anos 50                                    com seus Discos Impossíveis

                  O cantor Mario Reis foi ídolo nos anos 30.
                         Dizem que influenciou João Gilberto.

 Tudo isso desmoronou, para tristeza de seus ouvintes. Seu  acervo e patrimônio se perdeu de vista. Alguns colecionadores conseguiram resgatar algumas peças de seu acervo, inclusive, mesas de som, válvulas e microfones históricos.

NA FACHADA UM EPITÁFIO
Hoje quem passar pela rua Mayrink Veiga número 15, no centro do Rio de Janeiro,vai ver lá um prédio de 5 andares com fachada de acabamento desbotado e sujo. Fui rever o prédio.
O pequeno, mas aconchegante auditório refrigerado substituiu as poltronas por carros. Hoje é um estacionamento disputado, pela carência de vagas na região central.Indaguei de dois vigias o que funcionava no prédio.
-Nada. Está vazio. Parece que é do Banco Central. Nós ficamos aqui tomando conta dos carros e para que não seja invadido.Disse-me um dos vigias.
Dei mais uma olhada no que era o auditório e pareceu-me ouvir o eco das vozes de Zé Trindade e Chico Anísio. De Carlos Henrique e Cid Moreira. De Cesar Ladeira e Nancy Wanderley. De Ângela Maria e da Orquestra de Peruzzi.
Sai de fininho, antes que os olhos ficassem úmidos.Atravessei a rua e olhei mais uma vez para o edifício.

 No frontispício, as letras de metal foram arrancadas, ou certamente roubadas. Mas deixaram marcas que teimam em permanecer, onde se pode ler claramente, soando como um lacônico epitáfio: Rádio Mayrink Veiga.

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