Jango assumiu, veio o regime
parlamentarista e os militares tinham a Rede da Legalidade atravessada na
garganta.. Em 1º. de abril mesmo após as rádios de todo o país anunciarem que
Jango renunciara e fugira para o Uruguai, a Mayrink Veiga e Farroupilha de
Porto Alegre remanescentes da Rede da
Legalidade continuaram a conclamar o
povo a resistir. Foi quando a Mayrink
foi também ocupada,obrigada a sair do ar tendo
seus transmissores lacrados.
Os discursos de Brizola: a ira dos militares decretou a morte da Mayrink.
A radioatriz Celma Lopes contou
ao autor deste blog, que naquela noite
triste, o humorista Zé Trindade, um dos astros da emissora, interpretava o
personagem Alarico Mala Sorte. Foi quando um tenente do Exército irrompeu o
auditório e bradou: Acabou, acabou,
acabou! O público nos primeiros instantes pensou que aquilo fazia parte do
quadro, mas quando um grupo de soldados entrou no palco e na plateia, todos
viram que não era brincadeira. O tenente tirou o programa do ar e ordenou que o
público se retirasse. Imaginemos o clima de terror e desolação que dominou o
elenco e os funcionários da emissora!
Zé Trindade: a voz do humorista foi a última que a Mayrink mandou para o ar antes que fosse fechada.
Finalmente, em julho de 1965 a PRA-9 teve sua frequência definitivamente cassada, depois de 37 anos de
destaque na radiofonia brasileira.
Bem ao lado da Mayrink no dial,
ficava a Rádio Globo, PRE-3. Embora poucas pessoas soubessem, a Globo
utilizava, precariamente, um canal pertencente ao governo do Chile.
Os chilenos já haviam pedido o
canal de volta e a situação da Globo era portanto, difícil.
Com a cassação do canal
internacional da Mayrink, os militares deram-no para a Globo, que de emissora
de pouca expressão, iniciou uma escalada, que fez dela líder do Ibope em curto
espaço de tempo.
Fundada em 1927 a Mayrink, era
uma emissora pioneira.Possuía nos anos 40 e 50, um belo elenco de radioteatro,
orquestras, cantores, auditório refrigerado e um prédio de 5 andares
exclusivamente destinado a seu uso.
Anos 30: elenco da Mayrink: Pixinguinha, Orlando Silva, Carmem e Aurora Miranda, Benedito Lacerda e outros astros da época
Carmelia Alves, a rainha do baião. Estrela dos anos 50.
Multidão aguarda os astros. Entre os anos 30 e 60 a querida emissora ameaçava a Nacional e a Tupi, especialmente no Grande Rio.
Diretoria da emissora nos anos 50:Edmundo Souza,Francisco Abreu e os artistas: Haroldo Barbosa, Caymmi, Sergio Porto e Rodolfo Martensen.
Luiz Gonzaga, Carmelia lves e Humberto Teixeira.
O jovem Flavio Cavalcanti começou na Mayrink nos anos 50 com seus Discos Impossíveis
O cantor Mario Reis foi ídolo nos anos 30.
Dizem que influenciou João Gilberto.
Tudo isso desmoronou, para tristeza de seus
ouvintes. Seu acervo e patrimônio se
perdeu de vista. Alguns colecionadores conseguiram resgatar algumas peças de
seu acervo, inclusive, mesas de som, válvulas e microfones históricos.
NA FACHADA UM EPITÁFIO
Hoje quem passar pela rua Mayrink
Veiga número 15, no centro do Rio de Janeiro,vai ver lá um prédio de 5 andares
com fachada de acabamento desbotado e sujo. Fui rever o prédio.
O pequeno, mas aconchegante
auditório refrigerado substituiu as poltronas por carros. Hoje é um
estacionamento disputado, pela carência de vagas na região central.Indaguei de
dois vigias o que funcionava no prédio.
-Nada. Está vazio. Parece que é do Banco Central. Nós ficamos aqui
tomando conta dos carros e para que não seja invadido.Disse-me um dos
vigias.
Dei mais uma olhada no que era o
auditório e pareceu-me ouvir o eco das vozes de Zé Trindade e Chico Anísio. De
Carlos Henrique e Cid Moreira. De Cesar Ladeira e Nancy Wanderley. De Ângela
Maria e da Orquestra de Peruzzi.
Sai de fininho, antes que os
olhos ficassem úmidos.Atravessei a rua e olhei mais uma vez para o edifício.
No frontispício, as letras de metal foram
arrancadas, ou certamente roubadas. Mas deixaram marcas que teimam em
permanecer, onde se pode ler claramente, soando como um lacônico epitáfio: Rádio Mayrink Veiga.
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