Chegou
o ano de 1964.
Quando
do golpe militar de 1º. de abril, estabeleceu-se o caos na Nacional, sendo a
emissora ocupada por tropas do Exército.
Estimulado por estes acontecimentos o
presidente João Goulart acabou por anunciar as Reformas de base no dia 22 de fevereiro de 1964. No dia 13 de março houve o histórico comício
da Central do Brasil, bem em frente ao ministério da Guerra. Ao discursar o
presidente Goulart anunciou o congelamento dos aluguéis, diante de um mar de
faixas de protestos.
Os
militares recebiam tais gestos como um
acinte.
Quatro
dias depois desse discurso o líder comunista Luiz Carlos Prestes pressionou
Jango no sentido de que o presidente tomasse uma definição.
Era
demais. O germe do movimento militar que
amadurecia latente desde a renúncia de Jânio em 24 de agosto de 1961 aflorou.
Assim, em 31 de março tropas vindas de São Paulo e Minas marcharam em direção
ao estado da Guanabara, uma vez que Jango encontrava-se no Rio.
Vamos
voltar um pouco nos fatos para dizer, que aqueles dias conturbados do final do
governo João Goulart envolveram a Nacional. E não poderia ser de outra forma,tendo em vista ser a emissora
um reduto de figuras destacadas, atuantes, de projeção nacional e formadoras de
opinião. Desde que Jango tomara posse em 1961 que a emissora vinha dividida. De
um lado os simpatizantes de Jango e defensores do regime. De outro aqueles que
se opunham ao caos e segundo alguns “à baderna que imperava na rádio”.
Dessa
forma, quando a rádio foi tomada pelos militares na tarde de 1º. de abril passou a acontecer de tudo. Cassações,
perseguições, prisões, violências e traições.
As
cassações eram sumárias e os militares, pelo simples fato de “ouvi dizer, numa
conversa de corredor”, interrogavam, condenavam, prendiam,
afastavam e demitiam. Os mais
visados fugiram ou se exilaram. Outros, submetidos a interrogatórios.
Alguns foram proibidos de sequer
freqüentar as instalações da emissora.Os
que caíram em desgraça, pertenciam aos mais diversos quadros. Iam,desde
simples funcionários a redatores, novelistas, produtores, cantores, músicos,
técnicos, locutores ou radioatores. Foi um show de arbitrariedade, um festival
de injustiças, um recital de iniquidade. Em suma, uma tragédia para a emissora
e para os envolvidos, que o mais cruel dos enredos de novelas ousaria
apresentar.
E
O GIGANTE DA PRAÇA MAUÁ 7 CAMBALEOU
AFINAL,QUE
ORGANIZAÇÃO RESISTIRIA A GOLPE
SEMELHANTE?
Mas,
nesses tempos conturbados,houve também muita solidariedade. Alguns artistas que permaneceram tentaram
substituir os colegas atingidos. Acumulavam funções, de modo a que seus
programas não saíssem do ar. Renato Murce, por exemplo, grande amigo de Paulo
Roberto, num esforço sobre humano, além de escrever seus programas, escrevia
também os do médico radialista, na esperança que as coisas se aclarassem e
Paulo retornasse aos quadros da emissora.
Não
retornou.
Uma
novela chamada Primavera sem flores de autoria de Cícero
Acayaba que estava no ar, no ar continuou, embora sem a citação do autor, para
não despertar a ira dos interventores militares. Aliás outra novela de Acaiaba
retornaria ao ar em 1966, embora o escritor estivesse demitido
Os
ouvintes em todo o Brasil, como sem entender muito bem o que ocorria com a
rádio, tiveram que ouvir as vozes de outros atores que substituíam os
personagens nos capítulos das novelas.
E
indagavam: onde está Gerdal? Por que Isis de Oliveira não aparece nas novelas?
Cadê o Mário Lago? E o “Anjo” sem Rodney Gomes! Não ouço mais a Wanda Lacerda,
o Mário Brasini e os Gracindo (Pai e filho)?
Aos
poucos, os programas assinados pelos
cassados, demitidos e afastados foram saindo do ar, paulatinamente. De
repente, a programação da rádio
transformou-se em uma programação fantasma, cheia de lacunas e programas tampão.
O
Diário Oficial de 24 de julho de 1964 publicava a demissão dos funcionários dos
quadros das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, “sem prejuízo sanções penais a que estejam sujeitos”.
Eis,
a seguir, a relação dos demitidos.
A título de esclarecimento incluo ao lado
algo sobre cada um deles, que consegui levantar.
Dalisio Machado
Edmo
do Valle-
contra regra pioneiro.Ajudou a montar o estúdio de radioteatro
Elias Haddad
Gerdal Renner dos
Santos-
radioator de destaque
Iracema Ferreira Maia- a cantora Nora Nei.
Jorge
Neves Bastos. O cantor Jorge Goulart
Jose Luiz Rodrigues
Calazans
Jose Marques Gomes- Paulo Roberto,médico e um dos grandes produtores
Mario Lago- novelista,compositor, radioator e narrador de novelas
Penha
Marion Pereira (Marion)- cantora
Rodney
Gomes- radioator (As aventuras do Anjo)
Severino do
Brasil
Manique
Junior
Antonio Ivan Gonzaga de
Faria
Adelaide
Andrade Teixeira
Epaminondas Xavier Gracindo- Gracindo Junior, radioator, filho de
Paulo Gracindo
Fernando Barros
da Silva
Francisco
de Assis Pires
Jose Palmeira Guimarães
Jairo Argileu de Carmo e Silva- um dos mais importantes locutores.
Jose
Geraldo da Luz - radioator
Jolio Anastacio Garreta Prates- Narrador de novelas e apresentador
Jorge Viana da Silva
Mario Farias Brasini- Co-produtor do Balança mas não cai e outros. Também
radioator.
Newton Marin
da Mata- radioator
Oduvaldo Vianna-
novelista de destaque
Ovidio Chaves
Paulo Grazioli
Sergio Moura Bicca
Wanda
Lacerda-
importante radioatriz. Casada com Mário Brasini
Alfredo
de Freitas Dias Gomes- Novelista
Antonio Teixeira Filho
Jose Gomes
Talarico- jornalista
João de Souza Lima
João Fagundes de Menezes
Hemilcio
Jose Froes- radioator era o diretor geral da
Nacional
Gracindo Junior, o jovem cassado e demitido em 64
O veterano Gracindo Junior inaugura o novo auditório da Nacional
ao lado de Lucinha Lins e Marlene
Jorge Goulart demitido em 64, 45 anos depois pouco antes de morrer vitimado por câncer de laringe que lhe tiraria a bela voz
Nora Nei, mulher de Jorge Goulart: cassação ao retornar de turnê pela União Soviética.
Mário Lago, Floriano Faissal, Mafra Filho e Ismênia dos Santos.
Lago, havia sido preso várias vezes antes de 64. Era filiado ao Partido Comunista.
Rodney Gomes, cassado em 64.
Anistiado foi trabalhar no radioteatro da Rádio MEC onde se aposentou.
Roberto Salvador, autor do blog, Gerdal dos Santos e o sonoplasta Geraldo José.
Gerdal, demitido em 64, anistiado, retornou á Nacional onde permanece até hoje.
Roberto e Eládio Nunes no programa de Gerdal dos Santos.
Gerdal e Daisy Lúcide são os mais antigos artistas da Nacional, testemunhas da catástrofe de 1964.
Não resta
dúvida que alguns demitidos eram simpatizantes de esquerda e participavam de
atividades sindicais. Mas outros serviam
aos ideais da emissora, que, afinal de contas pertenciam ao Patrimônio da
União.
Depondo
perante os militares, Paulo Roberto, ao responder à indagação sobre onde estava
no dia 31 de março, afirmou enfático:
Eu estava trabalhando na emissora,
servindo ao governo que me paga. O senhor não estava em seu quartel?
Foi afastado e depois
demitido.
Paulo Roberto ao ler sua crônica Bom dia compadre, na manhã de 1o. de abril, defendendo o presidente Goulart, provocou a ira dos militares.
Os colegas não
envolvidos sabiam das injustiças que estavam sendo cometidas e buscaram,
dentro de suas possibilidades, segurar as pontas dos companheiros.
Tinham esperanças que, ao baixar a poeira muita coisa fosse esclarecida.
A poeira não baixou e as iniquidades
seguiram.
Com
muito esforço a programação foi mantida nos anos que se seguiram e a rádio
sustentou no ar alguns de
seus tradicionais programas.
Por
exemplo: Seu criado, obrigado, de
Lourival Marques, Jornal em banca, de Helio do Soveral, A cidade se diverte, de Haroldo Barbosa,
Alegria da rua de Jazon Alves e até o
clássico Edifício Balança, mas não cai, já então escrito
por Emanuel Rodrigues e Meira Guimarães. Tais programas ficaram no ar até 1969
quando assumiu a direção Paulo Cesar Ferreira, que fez alterações na
programação e para melhor.
Foi
uma fase muito difícil, de muito desdobramento, e de nenhum apoio por parte do
novo governo. Dela, os veteranos não gostam nem de se lembrar. A radioatriz
Daisy Lùcidi revelou em depoimento que “houve um período em que nem papel havia
para escrever os programas. Foi muito
triste”.
Daisy Lúcide em recente encontro com Roberto Salvador, autor do blog. Daisy viveu os dias difíceis da Nacional pós-derrocada de 64.
Mário
Monjardim declarou que as cassações “
foram um duro golpe para a emissora.
A Nacional começou a cair ali. Era duro
ver nossos companheiros cassados, perseguidos e punidos. Até hoje sinto uma
tristeza imensa ao recordar aquele período”, declarou Monjardim em depoimento
feito a este autor.
O nome desse "movimento" é GOLPE
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