Estamos no final dos anos 40. Foi quando a direção das Emissoras Associadas decidiu dar um impulso no radioteatro da
Tamoio. Pegou alguns artistas do elenco da Tupi e os transferiu para a Tamoio.
Como o patrão era o mesmo, ficou tudo em casa.
A
Tamoio, então, (Ex-Educadora) passou a ter seu elenco próprio de radioteatro e
dos bons: Newton Da Mata, que se tornaria um grande dublador até nossos dias, Thelmo
de Avelar que atuaria também na rádio Ministério da Educação, Maravilha
Rodrigues, o galã Antonio Leite, Nair Amorim, Mildred dos Santos, Aliomar de
Matos e muitos outros.
E
foi lançada, então uma programação que fez história no radioteatro carioca.
Vamos
contar como foi.
A
Tamoio apresentava todas as tardes Pausa
para meditação, escrito por uma jovem que havia se casado com Dias Gomes e
que se chamava Janete Clair.
A
jovem havia escrito apenas uma novelinha para a rádio América de São Paulo
quando migrou com o marido para o Rio tentar a vida, já que na capital paulista
as coisas estavam difíceis.
Dias
Gomes foi para a Tupi com diversos projetos de programas debaixo do braço e
Janete foi contratada pela Tamoio como locutora.
Para
sorte dela o diretor da rádio era Paulo de Grammond, irmão de sua madrinha de
casamento Sarita Campos. Esta era figura importante no radioteatro da Tupi e
conhecia muito bem Janete dos tempos de
rádio América.
Vai
daí, indicou Janete para fazer parte da equipe de Pausa para meditação, na
Tamoio.
A
esta altura Janete estava grávida e adorou escrever para o programa, pois assim
não precisava sair de casa.
Os
textos de Janete eram perfeitos. Os ouvintes escreviam cartas que eram adaptadas e radiofonizadas por ela com
raro talento.
Eram
geralmente cartas que falavam de amor,
traição,dúvida, remorso e desespero. Havia um narrador ou uma narradora que ia
contando a história na primeira pessoa, intercalando-se cenas com radioatores.
A
primeira Pausa para meditação foi ao
ar em 11 de novembro de 1948 numa
radiofonização de Aldo Viana. Além de Janete Clair outros redatores se
revezavam, por sinal, todos eles de primeira linha: Aldo Madureira,Roberto Mendes, Alcides Viana,
Antonio Leite Luiz Quirino, Clímaco Cesar, José Viana, Edelzia dos Santos e até
mesmo Dias Gomes.
Em
entrevista à Revista do Rádio em abril de 1959 Julio Louzada responde ao
repórter qual foram os casos mais comoventes de
Pausa...
Julio Louzada apresentava na Tamoio o famoso programa Pausa para meditação.
Sem dúvida o encontro de uma mãe com seu filho do qual
se achava separada havia 42 anos. O encontro se deu no auditório da Tupi, no
dia em que o filho completava 43 anos. O caso da menina que perdeu uma das
pernas, esmagada entre a barca e o ancoradouro quando retornava de um passeio a
Paquetá, cujo apelo encontrou todo o apoio do Sr. Albano, da Ortopedia Brasil,
que além de lhe dar uma perna mecânica, ajudou por muitos anos a menina. O
recente caso do menino Ciro Parmaniani, que perdeu um braço num desastre de
lotação e foi amparado pelos irmãos Venâncio e Veloso donos das Casas da Banha
(importante rede de supermercados da época). Enfim, inúmeros casos que mostram a identificação do programa com o público,
para minorar o sofrimento de tantos infelizes que recorrem à Pausa para
meditação.
Era
muito interessante, pegando o ouvinte
pela emoção. O programa que começava sob os acordes de Orpheu no inferno de Offenbach era dinâmico e durava apenas 25
minutos: 22 de ação e 3 minutos com os conselhos de Julio Louzada.
A
fala final do narrador, terminava sempre
com o chavão: “Que devo fazer? Me aconselha Julio Louzada”! E vinha o
conselho sempre com muita classe e veemência por parte do apresentador.
È
oportuno destacar que após completar dez anos no ar, o programa ganhou também
um cunho mais assistencialista, conforme se pode verificar pelos exemplos
citados por Louzada.
Graças
ao estrondoso sucesso de Pausa... a
revista O Cruzeiro, que também
pertencia a Chateaubriand. passou a publicar as histórias sob a forma de fotonovela. Semanalmente, cobrindo duas
páginas, uma história era selecionada.
Pesquisando alguns números, encontrei: O
Cruzeiro 5 de fevereiro de 1949, Pausa para meditação apresenta A tragédia de
Maria Regina.Em 12 do mesmo mês foi a vez
da carta da ouvinte Maria José, moradora no Rio Grande do Sul ter sua
história, O noivo cego publicada em fotos. A beleza é minha desgraça, saiu no número de 19 de fevereiro.
As
fotos eram do consagrado José Medeiros e os textos adaptados por ninguém menos
do que David Nasser. O programa, que ia ao ar às 5 da tarde, passou a ser
reprisado às nove da noite. E um fato
curioso: a revista convocava os leitores a escreveram para a redação, dando
conselhos e orientações ao missivista.
Assim, uma história publicada na segunda-feira, ai ao ar na segunda seguinte,
com o peso dos conselhos enviados. O conselho, como de praxe era dado por Júlio
Louzada. Eis ai um interessante trabalho de multimídia no final dos anos 40,
utilizando rádio, revista e correio!
O
programa era tão popular que a frase que o chavão que encerrava o programa
virou tema e refrão de uma marchinha
carnavalesca de enorme sucesso que terminava
...”estou desesperada! Me
aconselha seu Júlio Louzada”.
O
programa era “uma coqueluche,” como se
dizia na época e graças ao sucesso
de outro carro-chefe da Tamoio, a Oração da Ave Maria, conduziu Louzada à
Câmara de Vereadores em várias legislaturas.
Somente
no ano de 1953, segundo boletim da Rede
das Emissoras Associadas, à qual pertencia a Tamoio, Júlio Louzada recebeu
quase 50 mil cartas.
A
popularidade do programa era tamanha que, além de inspirar marchinhas de
carnaval, também se expressava através de piadas. Como esta, publicada na
Revista do Rádio de 1958, na seção Feira
de Amostras, assinada por René
Bittencourt:
Aquelas duas radialistas, que parece que
não se dão, e não se dão mesmo, encontram-se novamente:
- Alô, querida!
-Alô, Bem!
-Imagine, querida, mandaram uma carta
anônima ao meu marido, contando tim tim por tim tim., uma aventura amorosa que
eu tive. Um namoro sem importância.
-Chi! Olha, Bem, eu não quero ser Julio
Louzada, não, mas acho que você devia
contar toda a verdade ao seu marido. Vá por mim, hein!
-Ah, querida, como é que pode? Eu nem
sei de que aventura se trata!....
RÁDIO
TAMOIO, A EMISSORA DA FAMÍLIA BRASILEIRA, COME A TUPI E FUSTIGA A AUDIENCIA DA
PODEROSA NACIONAL.
Com
a providência de realçar o radioteatro
da Tamoio o resultado foi que o sucesso daquela faixa de horário foi tão grande
que a Tamoio bateu a audiência da Tupi e fustigou a da Nacional,
fazendo
o gigante da praça Mauá manter-se em
estado de alerta.. Era uma faixa de horário que começava às 5 da tarde com Pausa Para Meditação, seguida de A Oração da Ave Maria às seis, a Novela Religiosa às 6 e quinze, a Hora da saudade e finalmente a audiência era mantida até as 19
horas quando entrava no ar o Capitão
Atlas. A revista Radiolândia da primeira quinzena
de abril de 1954 ,publicou o seguinte:“A
Rádio Tamoio quase não
mantém programas com cantores exclusivos. A maior parte é de programas montados
e de novelas. Sendo que a Tamoio caminha rapidamente para se transformar no
paraíso das radionovelas. Todas as instalações foram remodeladas e novos estúdios criados. Tudo refrigerado para
os atores não ficarem cozidos, como vinha acontecendo até então. Apesar disso
tudo, não são os atores os campeões de correspondência na Tamoio e sim Júlio
Louzada com sua “Pausa para meditação” ,Recebendo perto de 4 mil cartas por mês
é muito justo que existam pessoas esperando para ser atendidas há mais de anos.
O Teatro das duas e meia,agora Teatro Odol, recebeu nada menos do que 35.671 cartas.
Dentro de cada um de nos há
uma vontade imensa de saber o que o futuro nos reserva prova é a grande
popularidade do programa do Professor Ramayano, a “Revelação do seu
destino”.Apesar da exigência de duas bulas
de certo remédio que patrocina o programa 22.922 cartas chegaram ao
programa em 1953. Até hoje não foram atendidos nem um terço dos pedidos dos
consulentes. Mesmo assim eles continuam escrevendo e esperando. A criançada
também colabora para colocar o seu programa preferido em destaque na tabela de
correspondência. Temos “As aventuras do
capitão Atlas” com 19.372 cartas com
perguntas ingênuas como esta: “O mocinho tal vai ficar ferido”? O Índio
quebrou a perna? Parênteses:
o Índio era o amigo fiel do capitão Atlas. Mas voltando à Radiolândia:
Maria Muniz, veterana em
programas femininos e sempre atuando na Tamoio, recebe perto de 100 cartas por
dia. Só o seu programa Marcha Nupcial com menos de 4 meses de vida já acusa 12 mil e poucas cartas. Léa Silva vem
seguindo de perto Maria Muniz, com 1228 cartas.
A Novela Religiosa, que contava a vida dos
santos, era de autoria de Anselmo
Domingos, o mesmo diretor da famosa
Revista do Rádio.
Mas a série contou ainda com a autoria de Maria Muniz.
Anselmo
Domingos também adaptava os capítulos de
rádio e os publicava na sua revista.
Uma
das novelas de maior sucesso foi a que ele escreveu sobre a vida de Santa
Terezinha. Durante semanas a Revista do Rádio publicou os capítulos com enorme
sucesso, isso em 1958,mas a série já
existia desde o início dos anos cinqüenta.
A Revista do Rádio se limitava a publicar os
capítulos quase que na íntegra, suprimindo-se, tão somente, as rubricas com as
indicações para a técnica, a contra-regra ou sonofonia.
O
mesmo não acontecia com as adaptações que eram feitas por Oduvaldo Viana. Elas
ganhavam uma forma literária, perfeitamente adaptadas à mídia impressa.
A Novela Religiosa era um sucesso de audiência. A jovem radioatriz Nair
Amorim, que entrou para a Tupi-Tamoio em 1950, possuía uma voz muito doce e por
isso mesmo era sempre escalada para fazer os papéis das santinhas e de Nossa
Senhora.Ela mesmo nos conta:
Eu vivia sempre as santinhas e
conquistei grande admiração do público ouvinte por causa disso. Certa vez recebi uma emocionada carta de um ouvinte na
qual ele me atribuía uma graça que havia recebido. Expliquei-lhe que eu era apenas uma atriz e que ele deveria creditar o milagre à santa
que ele devotava. Ele argumentou que eu era um instrumento da santinha e como
tal era também responsável. Fatos como
esse se repetiram com vários ouvintes. Por conta disso, em determinada ocasião,
a direção das Emissoras Associadas me proibiu de posar para fotos trajando maiô
ou vestidos provocantes. Era para não afetar minha imagem muito ligada às
minhas personagens santas.
Outro
fato curioso em relação a esta faixa de horário é contado por Aliomar de Matos.
Foi muito engraçado, eu, a Mildred dos
Santos, a Alba Regina e a Janeth Clair ficamos as quatro grávidas ao mesmo
tempo.Foi quando o Dias Gomes comentou durante um ensaio: com essas barrigas
vocês quatro não vão poder ocupar os microfones ao mesmo tempo!
A
Rádio Tamoio,realmente, produzia um radioteatro da melhor qualidade. Havia no
segundo andar da av. Venezuela modernos estúdios, um pequeno auditório e salas
para administração e produção. O estúdio possuía, uma cabine de som de cerca de 12 metros quadrados ,
uma mesa de quatro canais e dois pick-ups
(toca-discos).
O
estúdio, propriamente dito, com cerca de
25 metros quadrados, possuía 3 microfones e material de contra-regra. Era o
essencial, já que a programação de radioteatro se limitava àqueles horários
citados. Desse estúdio é que o jovem Abelardo Barbosa- “que está com tudo e não
está prosa”- animava sozinho o seu Cassino
do Chacrinha.
No
início de 1949, pouco antes do fatídico incêndio que relatamos no início deste
livro a Tamoio lançava no ar, logo após a Oração
da Ave Maria,a novela religiosa Maria, mãe dos pecadores, cabendo a
Sonia Barreto viver o papel título.
Ainda
em março de 49 o novelista Luiz Quirino escreveu As mil e uma noites. Ia ao ar diariamente às 19 e 45.
Ida Gomes: brilho no radioteatro da Tupi e
depois na Tamoio, antes de ir para a televisão.
A Oração da Ave Maria de Julio Louzada,foi um fenômeno no rádio. Por todo o
Brasil houve centenas de imitadores. Logo, logo, praticamente todas as
emissoras de radio do Brasil tinha a sua Oração
da Ave Maria.
De
segunda a sexta-feira, pontualmente às 6 da tarde, na hora do Ângelus Louzada
abria o programa e falava coisas bonitas, elevadas e enaltecedoras, com
uma Ave Maria orquestrada em fundo.Eram feitas também intenções e pedidos, com
os ouvintes mandando cartas com
intercessões a alguns santos .
Louzada
tinha uma forte e bela voz. Seu
improviso era perfeito. Um homem simples e culto. Passava sinceridade, daí,
possivelmente a explicação para seu enorme sucesso.
“Nesta hora em que todos nós nos
reunimos, eu deste microfone amigo e você do recesso sacrossanto do seu lar” ...
...empregados, comerciantes,
funcionários, reclusos e você no seu leito de dor, vamos todos rezar, a oração
da Ave Maria”!
Louzada e família em sua casa no bairro do Rocha, subúrbio do Rio de Janeiro.
Seu prestígio era tão grande que elegeu-se várias vezes para Câmara de Vereadores do então Distrito Federal.
Estas fotos são de uma reportagem da Revista do Rádio.
E
ele rezava, já agora tendo ao fundo a Ave
Maria de Gounot cantada pelo lendário Enrico Caruso.
Julio Louzada tornou-se um dos mais famosos nomes do rádio por mais de duas décadas. Como disse, a quase
totalidade das emissoras de rádio do país tinha a sua oração da Ave Maria. Uma
delas era a rádio Farroupilha de Porto Alegre. E isto me lembra...
...MAIS
RADIOCACETADAS
Vamos
a elas. Na Farroupilha, cabia a um padre apresentar o programa. Ele chegava
religiosamente, sem trocadilhos, à radio
minutos antes de entrar no ar e fazia o programa nos mesmos moldes do
Louzada. As músicas de fundo eram as mesmas.
Não
havia o que ensaiar pois tudo era sempre igual, todos os dias. Um dia o
operador do programa faltou e foi substituído por outro. Sem problemas, era só
colocar a música em fundo enquanto o padre falava.
Quando
este começa a rezar a Ave Maria, operador coloca o fundo musical muito alto. O
padre não gosta e faz sinal com a mão
para o operador baixar a música. Este, entende que era para se ajoelhar e então
se ajoelha por trás da parede de vidro e deixa a música rolando alta, para
desespero do padre.
Só
aparecia o topete do operador...
O
curioso é que, ao sinal do padre, meia-dúzia de pessoas que eventualmente
assistiam ao programa do estúdio, também se ajoelharam e baixaram suas cabeças
contritamente
Ainda
sobre a Oração da Ave Maria : o
programa era patrocinado por um remédio para o fígado, chamado Hepatina Nossa Senhora da Penha.Antes da
transmissão o locutor que tinha seus salários atrasados, foi até a sala do
diretor e reclamou da falta de pagamento. O diretor respondeu mal ao locutor e este saiu
revoltado, não só pelo atraso do salário,mas também pela forma grosseira com
que fora tratado. Vai direto para o estúdio com a raiva contida. Ao anunciar o do programa o locutor deveria
dizer:
E agora, senhores ouvintes a Rádio
Tamoio tem o prazer de apresentar a Oração da Ave Maria, na palavra de Júlio
Louzada.
Este programa tem o patrocínio da
Hepatina Nossa Senhora da Penha.
Eu disse: Hepatina Nossa Senhora da
Penha.
Mas
o que saiu na hora foi isto:
E agora, senhores ouvintes a rádio
Tamoio tem o prazer de apresentar a Oração da Ave Maria, na palavra de Júlio
Louzada.
Este programa tem o patrocínio da
Hepatina Nossa Senhora da Penha.
Eu disse Hepatina ??? Nossa Senhora da
Penha!!!
O locutor ficou sem pagamento e sem emprego e a rádio
sem o locutor.
O MAIOR SUCESSO ERA O "EU ACREDITO EM MILAGRES" ESCRITO
ResponderExcluirPOR MARIA MUNIZ.
Sim! Belo programa!
ExcluirNa aquele tempo eu era feliz e não sabia! ... Pena que os ponteiros do relógio não voltam no tempo(!?!).
ResponderExcluirConcordo com você Lúcio. Bons e belos tempos...
ExcluirAlmir sayao lembra de tds e me conta as histórias
ResponderExcluirValeu, Almir!
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