DIAS GOMES
Foi um nome importantíssimo no radioteatro, tendo depois se transferido para a televisão, enriquecendo a teledramaturgia com seu enorme talento. Foi também escritor e autor de teatro, tendo ingressado na Academia Brasileira de Letras. Antes de vir para a Nacional, fez sucesso no rádio paulista e depois no Rio, na Rádio Tamoio. Na Nacional destacou-se muito pelo fato de
escrever durante vários anos uma peça completa que ia ao ar todas as 6as.feiras
às 22 e cinco. Era o Grande Teatro que recebeu o nome De Millus que patrocinava a audição. Depois passou a chamar-se “Grande
Teatro Orniex” fabricante do Lustra-móveis Shell.
O
Grande Teatro era um velho projeto de Dias Gomes e isto porque, por volta do
ano de 1944 ele estava em
São Paulo e na rádio Pan-Americana escrevia o Grande Teatro Pan-Americana. Era uma peça completa por semana com uma hora de duração.
Um trabalho magistral de concisão, pois Dias Gomes tinha a capacidade de
transformar em um radioteatro de 60 minutos, um romance ou uma peça teatral
famosa.
Quem
dirigia essa rádio era Oduvaldo Viana. No final de 1944 ele vendeu a emissora e
veio para o Rio, desmoronando-se assim
toda a estrutura radioteatral que ele havia montado.
O
Grande Teatro pode finalmente voltar ao ar anos depois pela Nacional e o grande
público de todo o Brasil conheceu peças famosas graças ao talento de Dias
Gomes.
Sei
de pessoas que ouviam determinada encenação e depois corriam para ler o
romance.
Dias Gomes: radioteatro de qualidade nos anos 40 e 50 abriu caminho para o teatro e teledramaturgia até o final de sua brilhante carreira.
“Os
Miseráveis” “O homem que ri” “Madame
Bovary” “O retrato de Doryan Grey” A
dama das camélias” “O corcunda de Notre Dame”
“O morro dos ventos uivantes” e
muitos e muitos outros títulos, pois o Grande Teatro esteve no ar por quase
duas décadas.
Dias Gomes foi para a Nacional na metade dos anos 50 para escrever o Grande Teatro.
Do casamento de 33 anos com Janete Clair, teve uma filha, Denise Emmer que se dedicou á música.
Janete Clair, Denise Emmer e o paizão Dias Gomes.
JANETE CLAIR, UM DOS GÊNIOS DA RADIONOVELA
Vou falar agora dessa figura extraordinária de
novelista que foi Janete Clair.
Janete
estava afastada quatro anos da vida
artística. Ela perdera o segundo filho com algumas semanas de vida por
problemas de Rh. Foi aconselhada a não ter mais filhos.
Dedicou-se,
então, inteiramente a Guilherme. “Fiquei inteiramente dopada de 1952 a 1956 dedicada ao
lar”, citou Artur Xexéu na bela biografia de Janete que ele escreveu em 1996.
Em
1956 ela foi recebida pela rádio Nacional e
lá escreveu 36 novelas.
Me lembro
dos locutores anunciarem suas primeiras novelas, que eram patrocinadas pela
Sidney Ross, pelo nome de Janete Dias Gomes.
Mais
tarde ela voltaria a adotar o sobrenome Clair, escolhido por Octávio Gabus
Mendes, nos anos quarenta, porque ela adorava a música Clair de Lune, de
Debussy.
Na
verdade, o nome verdadeiro dela era Janete Emmer.
As
radionovelas de Janete já mostravam sua enorme capacidade de armar tramas,
criar ganchos e montar situações que mantinham os ouvintes vidrados nos
capítulos.Lembro-me muito bem de “Uma escada para o céu” que ia ao ar às terças, quintas e sábados às
8 da noite sob o patrocínio de Melhoral.
Janete era assim quando começou no rádio.
O
extraordinário sucesso das radionovelas de Janete, eram apenas o prenúncio do
que ela viria realizar na telinha.
Janete nos tempos de TV Globo.
Era
mais uma vez o rádio plantando o sucesso da televisão.
Mas
o rádio contou também com produtores que escreviam lindos programas que
usavam elenco de radioteatro.
Vou
citar alguns, pelos quais eu sempre nutri uma grande admiração e respeito, por
sua criatividade e competência.
Não
poderia deixar de lembrar outro grande produtor: Lourival Marques. Era um homem
de pesquisa. Possuía uma enorme biblioteca, assinava revistas, colecionava
recortes de jornais, tendo para isso duas secretárias.
Durante
anos escreveu um dos maiores sucessos vespertinos da Nacional: “Seu criado
obrigado”. Ia ao ar às segundas, quartas e sextas às 13 e trinta. Havia um
narrador:César Ladeira e uma espécie de secretária: Nilza Magrassi ou Daisy
Lucidi. A voz feminina lia cartas e o narrador respondia. Os ouvintes perguntavam
sobre tudo e “Seu criado” respondia. Isto tudo intercalado por piadas e números
musicais.
Naquela época as enciclopédias eram caras, o telefone raro e não se sonhava com o Google... Por tudo isso, o rádio era o grande veículo, auxiliado pelos correios. Os ouvintes perguntam e Seu Criado, Obrigado, respondia!
Naquela época as enciclopédias eram caras, o telefone raro e não se sonhava com o Google... Por tudo isso, o rádio era o grande veículo, auxiliado pelos correios. Os ouvintes perguntam e Seu Criado, Obrigado, respondia!
Cesar Ladeira era o Seu Criado
Nilza Magrassi, a Secretária
Embora fosse ao ar no início da tarde, havia no
estúdio do 21º. Andar uma grande orquestra, e elenco de radioatores.
Quem
patrocinava era Super-Flit um inseticida distribuído pela Esso.
Lourival
e duas pesquisadoras cuidavam do
programa, que por sinal era o campeão de correspondência da rádio.Havia uma
sala no 20 o. andar só para “Seu criado”
trabalhar; Eram centenas de cartas por semana e muitas, claro, ficavam sem
resposta, por absoluta falta de tempo. Porém algumas cartas que não eram respondidas
no ar o eram pelo correio. Bastava mandar envelope selado e sobrescritado para
a resposta. Os ouvintes perguntavam de tudo e havia os que pediam receitas de
pratos típicos, poesias específicas, indicações de livros e letras de músicas
em português ou outros idiomas. Outros enviavam piadas que eram transformadas
em quadros rápidos interpretados pelos humoristas da emissora..
A revista Radiolândia fazia uma seleção das perguntas mais
interessantes dirigidas a “Seu Criado” e as publicava quinzenalmente.
Eis um pequeno trecho de uma dessas publicações:
NILZA - Zeneida, residente em Madureira, escreve
perguntando se Carmen Cavalaro é homem
ou mulher?
CESAR-
Apesar do nome, Carmen Cavalaro é homem.
NILZA – A jovem Hilda
Amaral, de Betim, Minas, escreve perguntando: que devo fazer com meu irmão?
Quando bebe, fica louco, tentando o suicídio.
CESAR- Talvez você possa ser ajudada pelos
Alcoólatras Anônimos, cujo endereço é Caixa Postal 254- Rio de Janeiro. Por que
não experimenta?
NILZA – Affirt Zimóles,
residente na rua 25 de março, São Paulo, escreve assim:”li num livro, há poucos
dias, um trecho que diz: “o animal tinha élitros negros de rara beleza”...O que
é élitros?
CESAR – Élitros são asas
anteriores dos coleópteros, de
coleópteros, de consistência córnea e sem nervuras.
E ia por ai afora. Alguns
que tomam conhecimento dessas perguntas, hoje, podem achá-las simples, óbvias
ou primárias. Mas vamos pensar num Brasil rural dos anos 50 em que muitos
municípios não possuíam bibliotecas públicas, nem jornais ou revistas. O acesso
ao conhecimento era precário e o rádio cumpria seu papel de informar e
esclarecer. Radialistas como Lourival Marques e outros, possuíam a preocupação
de informar, ensinar, sempre de forma leve, lúdica e agradável.
Como
Lourival possuía um vasto arquivo com registros
sobre a vida dos principais artistas brasileiros e internacionais, a
Revista Radiolândia o convidou para ser responsável por duas colunas na revista quinzenal. Foi assim
que surgiu,em abril de 1954, o Dicionário
de Gente do Rádio, que organizado em ordem alfabética se
tornou uma excelente fonte de consulta para pesquisadores que
colecionaram aquele material.
Seu Criado, obrigado encontrou um seguidor no Pergunte ao João da Rádio Jornal do Brasil, que também se tornou
muito popular na época, servindo até de inspiração para um samba cantado por
Miltinho na década de cinqüenta e que tinha por título, justamente Pergunte ao João.O programa não tinha a
sofisticação do “Seu criado”mas também cumpria muito bem sua nobre missão. Era
escrito por um produtor da rádio Jornal do Brasil, chamado João Evangelista e
apresentado pelo excelente locutor Jorge “Majestade” da Silva e Anita Taranto.
Era diário, de 11 ao meio-dia e as perguntas e respostas eram intercaladas por
uma programação musical em
disco. Não havia cenas de radioteatro.
Mas
além de Seu Criado Lourival produzia
todas as 3ª.feiras às 21 e trinta um dos mais lindos programas noturnos da Nacional: A canção da lembrança.
Era
patrocinado por Phimatosan e constava de um glamoroso bate-papo entre um casal
que ficava recordando músicas de filmes antigos, daí o título. O casal lembrava
um filme, falava um pouco sobre ele e citava a canção que serviu de tema para o
filme.
Ai
vinha a música, geralmente vertida para o português com um cantor ao vivo à
frente de uma grande orquestra.Lourival era dono de um invejável arquivo
musical. Ele recebia da Embaixada Americana muitas fitas e discos com gravações
de musicais americanos e programas de rádio da Voz da América. Possuía também muitos livros que falavam de
filmes e letras de lindas canções em inglês.
Os arranjos eram maravilhosos, geralmente de Leo
Peracchi , Ercole Vareto,Alberto Lazolli, Lírio Panicalli ou Radamés
Gnatalli. Peracchi era o autor do
prefixo musical e das passagens de grande beleza.
No
vibrante arranjo da abertura do programa a cargo da mini-sinfônica da rádio, havia a participação da cantora
Lenita Bruno, dona de uma linda e educada voz. Lenita era esposa de Peracchi e
também cantava melodias durante o programa.
Os
locutores eram Jorge Cury e Reinaldo Costa. que anunciavam :-A Canção da lembrança é um programa de
Lourival Marques, para Phimatosan, um
tônico poderoso”! Era, na verdade, um dos mais lindos programas noturnos da Nacional, de extremo bom gosto e categoria.
Outro
programa que Lourival escreveu durante muitos anos com grande brilho e bom
gosto foi o Rádio Almanaque Kolynos.
Esse
programa era uma criação do genial
produtor de rádio José Mauro, irmão do grande cineasta pioneiro Humberto Mauro.
Assim,
deixo de falar do Lourival Marques para falar, em seguida, deste outro produtor muito importante na história
do nosso rádio que foi ...
JOSÉ
MAURO,UM MITO DOS PROGRAMAS MONTADOS.A HABILIDADE DE FLORIANO E DOS ARTISTAS ENVOLVIDOS
Vamos
falar primeiro de José Mauro, um dos gênios de nosso rádio, brilhou em todas as
estações de rádio por onde passou, deixando sua marca nas programações que
dirigiu.
Na
rádio Nacional do anos quarenta ele não deixou por menos. Entre os inúmeros
programas que criou e dirigiu, cito agora o Rádio
Almanaque
Nesse
programa José Mauro selecionava um tema e o desenvolvia sob diversos
aspectos, ilustrando-o com cenas de radioteatro emolduradas por uma trilha musical,especialmente produzida,
executada pela grande orquestra. Era uma trilha para cada programa. Um
verdadeira obra-prima musical que pontuava as ações encaminhadas por uma
narrador, tudo muito cronometricamente.
O ensaio era duas horas antes do programa
entrar no ar. O diretor musical Paulo Tapajós possuía um perfeito entrosamento
com o ensaiador do programa de maneira que as falas do narrador e a participação dos radioatores, casasse
perfeitamente com o tamanho das frases musicais.
O
profissionalismo dos músicos da orquestra era de alto nível. Todos professores, liam suas partituras de “primeira”. O mesmo
acontecia com os atores.
A
radioatriz Isis de Oliveira conta:
nestes programas havia um ensaio no andar 22 com o diretor que
geralmente era Floriano Faissal. Em seguida o elenco descia para o grande estúdio
do 21 onde já estava a orquestra reunida e então era feita uma leitura com a
orquestra.Acontece que nem sempre esse ensaio com a orquestra era possível se
fazer. Nós atores, ficamos então atentos ao Floriano, o qual, entrosado com o
maestro dava os sinais para nossas entradas, pausas ou velocidade de leitura.
Havia
muito profissionalismo, tanto por parte da orquestra quanto do elenco e assim
tudo saia perfeito!
Havia,
portanto, a figura do maestro à frente da orquestra que dava sinais ao ensaiador, para a entrada dos
atores no momento de suas falas.
Floriano,
horas antes, fazia ele, um ensaio com o maestro e marcava os tempos das músicas
em seu script. Dessa maneira ele tinha condições de ir dando os sinais para os
atores, que deveriam ler as falas no tempo certo da música. Era uma enorme
responsabilidade que exigia do diretor ter bom ouvido, sensibilidade e
segurança no momento de dar os sinais. Floriano aprendera essa técnica com
Vitor Costa.
Muitas vezes, ainda menino, participei
de histórias infantis para os famosos Festivais GE, nas noites de terça-feira.
O maestro Leo Peracchi escrevia umas trilhas lindas que eram executadas pela
sinfônica da rádio. Vitor Costa tinha um código. Mão no meu ombro. Quando
apertava era para eu falar. Quando soltava eu parava, dando uma pausa, para a
orquestra poder subir. E era assim. Dava tudo certo! Conta Abelardo Santos.
Enquanto isso no controle de som, havia
um segundo maestro, que, com a partitura
e o roteiro à sua frente dava ordens, ao
operador de um microfone que se
deslocava sobre uma base acima das
cabeças dos músicos. Esse microfone era chamado de girafa ou “boom”. Era uma
base com rodas, onde se prendia uma haste com o outra haste em ângulo de 45
graus de onde pendia um microfone.
A
fim de captar melhor o som dos
instrumentos da orquestra, o operador do boom,
sob as ordens do segundo maestro que lhe chegavam pelos headphones, deslocava
o girafa segundos antes para junto
desse ou daquele instrumento ou grupo de instrumentos musicais.
Toda
essa importante manobra se processava
para suprir uma deficiência das mesas de som da época.
Essas
mesas só podiam receber 4 microfones. Os
técnicos descobriram que, ligando os microfones em série, se poderia obter um
resultado tal, como se tivéssemos oito microfones.
O
passeio do boom pelo estúdio, se
aproximando dos instrumentos na hora certa, funcionava como se tivéssemos em
mãos diversos microfones, evitando-se, assim, que um instrumento abafasse o
outro o que produziria um “som chapado”
que os maestros odiavam..
A
manobra do boom está muito bem descrita no excelente livro de Luis Carlos Saroldi e
Sonia Virginia Moreira denominado Nas
ondas da rádio Nacional onde os autores dão um título muito espirituoso
ao relato de Paulo Tapajós: “Uma girafa passeia pelo estúdio”.
Rádio Almanaque, Festivais GE, A canção
da lembrança e outros programas do
gênero eram gravados conforme iam ao ar, em discos de acetato de 16 polegadas. Terminado o programa toda a equipe
se reunia num estúdio ocioso ou na discoteca e ouvia o programa. Era um laboratório, uma auto-avaliação do que
havia ido ao ar e se analisava técnica e artisticamente a produção, corrigindo
falhas, buscando um aprimoramento.
Por
isso a Nacional se transformou, no
decorrer dos anos, em um verdadeiro modelo, uma referência no rádio de sua
época.
Uma
escola de rádio.
E
José Mauro era um dos mestres dessa escola.
Houve
um período em que José Mauro
foi para a Tupi. E levou junto seu talento, para escrever Instantes Sinfônicos,
também um programa montado transmitido do auditório com grande orquestra, coro e elenco de
radioteatro do qual fazia parte a jovem adolescente contratada da Tupi, Aliomar
de Matos. È ela que nos conta:
O programa ia ao ar à noite, no horário
nobre.Fazíamos o ensaio e descíamos para o palco-auditório,vestindo as melhores
roupas, como se fôssemos para uma festa. Lá estava a orquestra, o coro e todo o
elenco. Na platéia do lindo e confortável auditório, pessoas bem vestidas e
comportadas. Eu adorava participar desse programa. Tudo maravilhoso!
Quando
José Mauro foi para a Tupi o Rádio
Almanaque conheceu outros produtores. Em certo período Haroldo Barbosa
alternava com Paulo Roberto a redação do programa. Lourival Marques o
escreveu nos anos cinquenta.
A
produção do programas montados era trabalhosa, porque exigia muita pesquisa e
criatividade para quem produzia e fôlego e talento para quem realizava. Mas
tudo isso era o que não faltava àqueles
radialistas.
José Mauro escreveu grandes programas montados na Nacional e depois na Tupi.
O
maior entre os produtores: Almirante. Certamente uma das mais importantes
figuras do rádio em todos os tempos.
Escreveu
programas importantes na história do rádio: “Curiosidades Musicais”o primeiro
programa montado do rádio brasileiro, que estreou na rádio Nacional no dia 2 de
abril de 1938.
“Caixa de Perguntas, foi outra ousadia de Almirante. Estreou também na
Nacional no dia 5 de agosto de 1938. È
considerado o primeiro programa de auditório do rádio. E era patrocinado por um produto
chamado BY-SO-DO”. Não me perguntem para
quê.
Almirante: criador do rádio-espetáculo e dos programas montados. Aqui está apresentando sua famosa criação: Caixa de surpresas, nos anos 30.
Mas
a grande criação da “maior patente do rádio brasileiro” como era chamado
Almirante foi o “Incrível, Fantástico,
Extraordinário.
Almirante
usava todos os recursos do rádio da época para produzir seus programas.
Tinha
uma boa voz, narrava seus textos com muita emoção e autenticidade. O “Incrível” como se
chamava comumente na época era um dos meus preferidos.
Lançado
na Tupi em 1947 com grande divulgação na
época, o programa radiofonizava cartas de ouvintes que narravam fatos
sobrenaturais.E Almirante fazia questão
de que essas cartas contivessem referências de testemunhas de pessoas que
haviam também testemunhado o acontecido. Se não era fornecido no ar o endereço
completo das testemunhas, por motivos óbvios, eram dados detalhes que faziam crer que o fenômeno
tinha realmente acontecido com aquelas pessoas.
Almirante
abria o programa com uma pergunta desafiadora:
Você
não acredita no sobrenatural? Então ouça !
E
três vozes exclamavam, intercaladas por
acordes da orquestra:
Incrível
! (ACORDE)
Fantástico!(ACORDE)
Extraordinário! (ACORDE FINAL)
Extraordinário! (ACORDE FINAL)
O “Incrível” contava com elenco de
radioteatro,efeitos sonoros e grande orquestra.
Almirante
conduzia o programa e a narrativa podia
ser feita na primeira ou na terceira pessoa, com a entrada das
dramatizações pontuadas por efeitos sonoros e
uma trilha musical executada pela orquestra acompanhando a ação.
O
patrocínio era de “Guaraína, um remédio que não ataca o coração”.
A
contra-regra poderia ser de Barros Barreto ou de Orlando Drumond. Os arranjos e a orquestra
eram da responsabilidade de Aldo Taranto e Morfeu, dois dos mais famosos maestros da Tupi
naqueles anos 40.
Maestro Aldo Taranto um dos responsáveis pelos arranjos do Incrível...
Castro Gonzaga era radioator do Incrível...
Maria do Carmo: radioatriz versátil atuava no drama e na comédia.
Ida Gomes, radioatriz da Tupi,depois foi para televisão.
Paulo Porto, radioator brilhante:
dirigia o Incrível, Fantástico, Extraordinário.
Ia
tudo ao vivo, às terças-feiras às 21 e trinta. O programa era feito do
palco-auditório que seria destruído pelo
incêndio de 1949.
Não
havia público. Um vigia trancava a porta de acesso à platéia, fechavam-se as
cortinas prateadas e o palco se convertia num imenso estúdio que abrigava
locutores, atores e orquestra. Algum material de contra-regra era levado para
lá, conforme exigência do script. Muito usadas eram as correntes que se
arrastavam sobre uma taboa, uma porta que rangia, um tanque
com água, vidraças que eram quebradas, coisas assim.
Relata-me
a radioatriz Aliomar de Matos, (que quando do lançamento do Incrível tinha apenas 16 anos), que
depois o programa passou a contar com a presença do público, que bem
comportado, não se manifestava, assistindo em silêncio à performance dos atores
no palco-estúdio.
Estes
eram os mesmos que faziam as novelas ou os programas humorísticos durante o
dia. Cito apenas alguns deles: Paulo Porto,Paulo Gracindo,Castro Gonzaga,
Amélia Simone, Germano, Ida Gomes, Restier Junior, Edelzia dos Santos, Leda
Maria, Luiza Nazareth, Paulo Raimundo, Hamilton Ferreira, Duarte de Moraes,
Thelmo de Avelar, Antonio Leite, Luiza Nazareth, Nair Amorim, Aliomar de Matos
e tantos outros de grande talento.
O
locutor, na maioria das vezes, era o excelente Osvaldo Luís,
Eu
costumava ficar acordado, escondido de meus pais, é claro, junto ao grande
rádio da sala de jantar da fazenda dos Arcos, volume no mínimo, ouvido colado
no alto-falante.
Morria
de medo com as horripilantes histórias,
mas o prazer de ouvi-las superava o pavor. Numa noite ouvi uma dessas
histórias, numa casa na zona rural, os moradores foram acordados com os cães em alvoroço. Ao chegar à
janela que dava para o quintal da casa, viram um estranho animal de patas muito curtas que se arrastava com
dificuldade pelo terreiro. A noite não era muito escura e dava para ver os
cachorros tentando se aproximar, mas sendo rechaçados por aquela criatura
bizarra.
-Quando
as luzes do quintal foram acesas, narra Almirante,os moradores da casa viram
uma coisa medonha, o rosto da criatura era de Francisco Osório, um agiota,
muito mal visto na região, que duas semanas antes fora barbaramente assassinado
por um de seus credores.
-Foi quando, aquela criatura, soltando
um som, misto de grunhido e voz
humana disse algo que deixou todos
petrificados, segue Almirante.
-Que Deus me perdoe... que Deus me ajude
... Rezem por mim ! Rezem por mim!.
E
a orquestra atacou com um acorde dramático
e patético.
Bem,
não preciso dizer que morri de medo e voltei pé ante pé para minha cama ao
término do programa.
Mal
havia pego no sono e eis que os cachorros que guardavam a fazenda começaram a
latir sem parar.
Meu
pai e meu avô se levantaram e foram até a janela que
dava para o terreiro onde os cães se encontravam.
Pulei
da cama e fui junto. Eu guardava ainda na memória a história que havia
rolado no programa de rádio.
Eu
tinha nessa época uns nove anos de idade e meu pai me deixou olhar pela
veneziana da janela ao lado.
Os
animais latiam furiosamente e tentavam atacar um outro do porte deles . Parecia um outro cão que se espremia conta a parede da casa. De quando em vez ele
investia valentemente contra os cachorros de tal maneira que estes, embora
fossem três não ousavam se aproximar.
Eu
estava petrificado com aquela cena, pois era inevitável que eu não
estabelecesse uma analogia com o que ouvira no rádio uma hora antes.
Finalmente
o animal conseguiu escapar em meio a matilha. Foi então que meu pai e meu avô
viram que se tratava de um cachorro do
mato, ou lobo-guará, que naquela época ainda encontrava habitat nas matas da
região. Suas longas pernas e focinho comprido não deixavam margem a dúvidas. Saiu em louca disparada, deixou os
pastores para trás.
Excitadíssimo,
voltei para a cama, custei a pegar no sono, mas nunca deixei de ficar com o
ouvido colado na Tupi, às terças-feiras às 21 e trinta.
-Você não acredita no sobrenatural?
Então ouça !
Então ouça !
E
eu não deixava de ouvir.
Almirante
foi um radialista extraordinário.
Segundo
Luiz Carlos Saroldi ele compõe com Edgard Roquette-Pinto e Ademar Casé, o tripé
perfeito, no qual se apoiou o rádio no Brasil.
O
primeiro por sua visão empreendedora ao fundar a primeira emissora de rádio e
Casé por ter criado as raízes do rádio comercial, possibilitando a
profissionalização dos artistas ao deixar de vender aparelhos de rádio para
vender anúncios para o rádio.
Pois
Almirante pensava em rádio 24 horas por dia.
Sérgio Cabral, em seu excelente livro No tempo de Almirante, nos conta:
O incêndio da rádio Tupi destruiu, entre
outras coisas um saxofone de Pixinguinha
e uma invenção de Almirante que já havia
sido introduzida na Nacional e que estava em pleno funcionamento na Tupi: era o
“Procurol” um dispositivo que permitia a todo funcionário atender o telefone,
em qualquer dependência da emissora.
Almirante espalhou pela casa uns quadros
que projetavam números correspondentes a cada
funcionário. A telefonista
atendia o telefone e imediatamente disparava o número chamado e todos os
quadros se acendiam com aquele número.
Era
isso mesmo! Evidentemente que somente os funcionários mais graduados ou da
diretoria é que estavam incluídos nesse esquema. Ao ver seu código no painel,
bastava ir ao telefone mais próximo e
atender.
Este
sistema também, mais tarde foi implantado na Nacional.
Quando
cheguei,em setembro de 1952 o sistema funcionava perfeitamente e era uma
solução para aqueles tempos em que não havia celular.
Foto feita na Rádio Nacional em 1941: Almirante, Rose Lee, maestro Romeu Ghipsman,Celso Guimarães e Roxane
EURICO SILVA TRADUZIU E ADAPTOU PARA O BRASIL, O DIRETO DE NASCER!
Nascido
em Portugal, Eurico Silva chegou à Nacional com 39 anos de idade vindo do
teatro, quando a emissora tinha apenas 3 anos de fundada.
Era
um senhor extremamente educado, polido, discreto, de poucas palavras. Tive
ocasião de ser dirigido por ele, em várias oportunidades, no Clube Juvenil Toddy. A elegância dos
gestos era também presente no modo de se vestir. Integrou-se plenamente no rádio
e além de novelista e produtor, traduzia obras e as adaptava. Foi o que
aconteceu com O direto de nascer foi uma adaptação sua da novela cubana de Félix Caignet . Escreveu outras novelas de sucesso mas
se destacou também por seu grande poder de síntese, ao adaptar operetas famosas que eram levadas
ao ar a cargo do elenco de radioteatro da Nacional. Nesta série de programas
havia a figura de um casal expectador, interpretado por Floriano Faissal e
Simone Morais o qual ia elucidando e explicando o enredo das operetas ao ouvinte.
Dentro desse formato, o grande
público pode conhecer operetas famosas como
Viúva alegre, Sonho de Valsa, Paganini, Rosemarie, Casa das três meninas, Amores de príncipe,
Primavera, Conde de Luxemburgo,Balalaika e muitas outras. Escreveu também No tabuleiro da baiana e Você
faz o programa. Neste último, como diz o título, os ouvintes participavam
ativamente, mandando histórias ou textos que Eurico adaptava e eram colocados
no ar. Os ouvintes que tivessem seus
trabalhos aproveitados recebiam o polpudo prêmio de 100 cruzeiros, um dinheirinho
bom no final dos anos 40.
Material de divulgação da novela que mais fez sucesso no rádio brasileiro no início dos anos 50.
Nos anos 60 a novela migrou para a televisão. A jovem freira Helena da Caridade foi interpretada pela hoje veterana Nathalia Timberg.
Quando terminou a versão da novela para a televisão em 1965
houve uma festa com a participação de todo elenco a caráter.
Floriano Faissal e Eurico Silva, ambos de branco,
dirigem um ensaio de novela nos anos 50 na Nacional
.
Eis
outro português que fez sucesso no velho
rádio. Chegou ao Brasil com apenas 7 anos de idade. Em 1937, quando o
radioteatro ainda engatinhava, Soveral escreveu um seriado para a Rádio Tupi: As aventuras de Lewis Durban. Era uma
novela de mistério com capítulos semanais, pois a estrutura incipiente do
rádioteatro da época não permitia mais do que isso. Chamo a atenção para o fato
de que, neste período, Os estúdios pioneiros da
Tupi ficavam instalados num
galpão na rua Santo Cristo. Como já nos
referimos no início deste livro, foi dessas instalações que se transmitiu a
primeira radionovela. Os atores que participavam de As
aventuras de Lewis Durban, eram praticamente os mesmos que atuaram na
pioneira Mulheres de Bronze sob a
direção de Olavo de Barros.Soveral, embora muito jovem, possuía um raro talento para escrever . Era
algo como que instintivo. Autodidata,
nunca havia cursado nada além do que
o ensino médio.Porém, inteligente e observador espelhava-se no exemplo
de outros escritores. Tanto assim que viajou para São Paulo e passou a escrever
novelas para a Rádio São Paulo, cujo radioteatro era dirigido pelo mestre
Oduvaldo Viana.
Quando
em 1943 voltou ao Rio, o jovem Hélio,
trazia, junto com a bagagem, uma enorme experiência.
È
importante se dizer aqui, que ele foi um dos pioneiros das novelas musicadas e
cantadas e isso ainda nos anos 40. Uma dessas novelas foi Meu amor que tinha a cantora Dircinha Batista fazendo o papel de
uma cigana. Outra foi Pequetita, tendo Mildred dos Santos no
papel título. Na vida real o apelido de Mildred era Pequetita, uma vez que sua irmã não sabia pronunciar o nome
verdadeiro. Soveral criou a personagem
que Mildred interpretou com muito brilho. O galã era Paulo Gracindo e a mulher
fatal Alba Regina, uma estrela na época. À medida que Mildred foi aparecendo na
novela a personagem título ganhou tanta força que abafou a mulher fatal. Ela
fazia uma moça ingênua que conquistou os ouvintes. Geraldo Mendonça e o autor
da novela compuseram uma linda valsa cujo título era o nome da novela. Pequetita vendeu milhares de discos em
poucas semanas. Outros números musicais
ficavam a cargo de Carlos Galhardo, interpretando músicas compostas por Geraldo Mendonça.
De pé: o contra regra Etéreo Lemos e Hélio do Soveral organizam uma cena de radionovela anos 50
Continuando
a falar de Soveral,em 1958 ele foi para
a Nacional quando lançou o famoso Teatro de Mistério, peças completas
semanais nas quais o mistério era desvendado pelo famoso Inspetor Marques,
vivido inicialmente por Rodolfo Maier e depois por Domício Costa. Escrevia
novelas, seriados, programas humorísticos e roteiros para cinema. Muitas das
chanchadas da Atlântida Cinematográfica dos anos 40 e 50 tiveram sua
assinatura. Assim, no mesmo período em que escrevia o Teatro de Mistério,
produzia também o Programa César de
Alencar. Isto entre 1950 e 1964.
Um
produtor pioneiro do radioteatro.
Um produtor eclético.
Sensacional! A Rádio Nacional marcou minha infância e adolescência, com seus extraordinários programas. Eu era um assíduo ouvinte do Grande Teatro Orniex.
ResponderExcluirMaravilhoso esse texto! É ótimo estudo para o admiradores da era do Rádio. Passei a minha infância ouvinte vários dos programas citados.
ResponderExcluirQuanto ao Grande Teatro Orniex, eu gostaria de saber em que data o texto da peça O Gosto da Vida de Maria Jacintha foi ao ar. A data do texto original é de 12 de junho de 1972.
O primeiro patrocinador foi Soutien DeMILLUS em 1954. Era o Grande Teatro DeMillus. Depois mudou para os produtos Orniex, ainda nos anos 50. Saiu do ar nos anos 60. Se o texto original é de 1972, não aconteceu no Grande Teatro. São os registros que possuo. Obrigado pelo comentário!
ResponderExcluirPROFESSOR ROBERTO SALVADOR,SEU ESPAÇO CORDIAL QUE USEI VARIAS VEZES, COM TODA CERTEZA ME TROUXE NO YOUTUBE, ONDE TENHO O CANAL RADIALISTA ZAIR CANSADO,COM MUITOS VIDEOS DE BANDAS DE MÚSICA,AS ATENÇÕES DE MILHARES DE CRIATURAS.SOU=LHE PROFUNDAMENTE AGRADECIDO , SOU DO TIME DOS ANTIGOS RADIALISTAS ACUMULANDO EXPERIENCIAS NO RADEO E NA INTERNETE HONRADO TAMBEM POR FIGURAR NA WIKIPEDIA E NO ESPAÇO DO GRANDE RICARDO CRAVO ALBIM.DEUS O ABENÇOE SEMPRE.
ResponderExcluirFico muito feliz com tuas palavras Zair. Sempre apreciei teu trabalho em defesa das bandas de música e fazer de seu programa de rádio um baluarte em defesa das bandas de música. Grande abraço!
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