segunda-feira, 15 de abril de 2019

A MARINHA NAS ONDAS DO RÁDIO

Roberto Salvador

A MARINHA NAS ONDAS DO RÁDIO
  A gloriosa Marinha do Brasil sempre mereceu do velho rádio  um certo destaque. Alguns pontilhados de coincidências curiosas, cheios de histórias e hilaridades. e outros de momentos dramáticos.

O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Um exemplo desse drama foi o vivido pelo país, quando, durante a Segunda Guerra,   nossos navios mercantes  passaram a ser torpedeados pelos submarinos nazistas, sem que o Brasil estivesse em guerra com a Alemanha de Hitler. 


Dezenas de navios mercantes brasileiros torpedeados:
 morte de centenas de civis

O paquete Cayru foi torpedeado no litoral dos Estados Unidos

Protesto popular: 
Brasil declara guerra à Alemanha Nazista



1941: no ar "o primeiro a dar as últimas"!



Heron Domingues: 
o mais famoso locutor do Repórter Esso pela Nacional


FALANDO DE ALMIRANTE
Deixando um pouco de lado os dramáticos fatos que levaram o governo do Presidente Vargas a declarar guerra à Alemanha Nazista, gostaria de lembrar que uma das figuras mais importantes da história de nosso rádio foi Almirante. Não aquele almirante, cuja biografia enche de glórias as galerias do Clube Naval, mas outro: Henrique Foréis Domingues, a quem o rádio tanto deve. Vamos falar um pouco dele saindo dos anos 40 e voltando aos anos 20.

Almirante, quando entrou para o rádio

  Em 1926, aos 18 anos , Almirante foi fazer a reserva naval na Marinha de Guerra do Brasil, estudando de noite. No ano seguinte, no dia  5 de julho, participou das solenidades históricas  de recepção do hidroavião Jahú que chegara ao Rio, após a gloriosa travessia do Atlântico.
                                          O heroico hidroavião Jahu:
                               travessia histórica do Atlântico em 1926

 Em um carro aberto, que cruzava as ruas da capital, ia   o Capitão Matias da Costa, dirigente da reserva, sentado na frente, enquanto que o marinheiro Henrique, atrás, como ordenança seguia instalado em um banquinho, todo duro e engomado. Na rua, perguntavam: Quem é o da frente?
-É o comandante!
-E aquele aí atrás?
-Ah, esse deve ser o Almirante!
O apelido pegou. E o reservista naval Henrique Foréis Domingues foi definitivamente “promovido” a Almirante, para glória  do rádio, do cinema e da música popular brasileira. É que, após servir à nossa Armada, mordido pelo meio de comunicação que despontava nos anos 20, depois da baixa, incorporou-se ao grupo de pioneiros que fundavam o rádio no Brasil. 

OS TRÊS GRANDE NOMES DO RÁDIO BRASILEIRO

Professor Roquette-Pinto introduziu o rádio no Brasil



Adhemar Casé trouxe profissionalismo ao rádio



Almirante:
 gênio criativo, deu nova dimensão ao veículo


Os estudiosos dos primórdios do rádio,  destacam três nomes: Edgard Roquette-Pinto,que introduziu o rádio no Brasil, Adhemar Casé que trouxe o profissionalismo ao veículo e Almirante, criador do rádio espetáculo, graças ao seu enorme talento e criatividade.

 Voltando a falar de Almirante, gostaria de dizer que ele tinha orgulho de ter sido marinheiro. Prova disso está numa cena do filme “Alô, alô carnaval” de 1937 em que ele, vestido de marinheiro, canta com Lamartine Babo, a marchinha, que lembrando Luiz de Camões, dizia: “As armas e os barões assinalados/ Vieram assistir ao carnaval/ Cantando espalharei por toda parte/ que o porta estandarte  vai ser seu Cabral”.
Lamartine Babo: 
genialidade na composição musical

  Nascido e criado em Vila Izabel, Almirante, foi um  dos componentes do famoso Bando dos Tangarás, que reunia ainda  Henrique Brito, Braguinha e Noel Rosa. 


                Nascido e criado em Vila Izabel, Almirante (no centro, ao microfone) e o famoso Bando dos Tangarás com  Henrique Brito, Braguinha e Noel Rosa (de branco). 

Almirante produziria para o rádio programas importantes:  o pioneiro  Curiosidades Musicais e outros como Rádio Almanaque Kolynos, Incrível, Fantástico, Extraordinário e  Caixinha de música. 

Almirante, era anunciado pelo slogan "a maior patente do rádio brasileiro",criado por Cesar Ladeira.

Digo que criou o rádio espetáculo, através do que se chamou na época de  programas montados, pois contavam com numeroso elenco reunindo radioatores, orquestra, cantores e coral.
Orquestra da Nacional


Foi ainda um grande pesquisador musical resultando  no importante Arquivo Almirante que hoje se encontra incorporado ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

 EMILINHA BORBA, A FAVORITA DA MARINHA
Mas a referência do rádio à  nossa Marinha não se restringe apenas aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial nem  a Almirante.




Lembraríamos aqui que a querida Emilinha Borba foi eleita “a favorita da Marinha” em 1947. No ano seguinte foi a “favorita dos marinheiros” fechando o ciclo em 1949 com o título de “favorita permanente da Marinha”. Não me perguntem quais eram os critérios para a concessão dos  títulos. Contudo é inegável que eles eram mais  uma prova da simpatia e do carisma da famosa cantora.



PROGRAMA VIVA A MARINHA .
Na Rádio Nacional, inúmeros programas se dedicaram aos gloriosos feitos de nossa Armada. Nos difíceis anos quarenta, diversas radionovelas incluíam em seus enredos os feitos da Marinha na defesa de nossos navios mercantes, como dissemos acima, bombardeados pelos submarinos alemães. Programas jornalísticos  davam destaque ao drama vivido por essas embarcações.  Viva a Marinha!  escrito  por Luiz Felipe Magalhães, do final dos anos quarenta e que ia ao ar  nas noites de quintas-feiras,  era um lindo programa com radioatores, orquestra e coro onde eram dramatizados feitos da guerra do Paraguai e outras batalhas memoráveis de nossa história.

Manoel Barcelos era o narrador de Viva a  Marinha


Orquestra da Rádio Nacional dava brilho ao programa



Lembro-me bem, nos meus tempos de garoto,  ouvir o programa retratando A tragédia do Baependy, que torpedeado pelos nazistas no litoral de Sergipe em 15 de agosto de 1941, causou a morte de 270 pessoas, inclusive mulheres e crianças, provocando consternação nacional e que levou Getúlio Vargas a decidir pela entrada do Brasil na Segunda Guerra. 

Viva a Marinha possuía um lindo prefixo musical executado pela orquestra e coro da Nacional com versos que diziam:
 No mar ou na terra,
salve a nossa Marinha de Guerra,
avante  brasileiros!
Viva a Marinha!

O programa possuía um narrador que contava as histórias interpretadas pelos atores, intercalando-se passagens e números musicais.


Famoso quadro da Batalha Naval de Riachuelo

 UM FATO HILARIANTE
Certa noite, um desses programas retratava um sangrento episódio da Batalha de Riachuelo. Em meio à dramatização o ator Rodney Gomes interpreta um médico, enquanto Domício Costa vivia um marinheiro. Desesperado o médico dirigindo-se ao marinheiro exclama:
Envie estes feridos para a enfermaria!
No que o marinheiro responderia:
Impossível, doutor! Muitos feridos! A  enfermaria está cheia!
Contudo, no clímax da dramatização, a batalha comendo solta, Domício Costa atrapalha-se e  exclama!
Impossível, doutor! Muitos feridos! A enfermeira está cheia!
O estrondo  de um tiro de canhão, afortunadamente, e um acorde providencial da orquestra abafaram os risos do elenco e o programa seguiu sem que os ouvintes percebessem.
Domício Costa, excelente ator, trocou as letras.

Rodney Gomes 

Ao final da transmissão, nos bastidores, a gozação do elenco foi em cima do excelente Domício Costa, que sequer percebera o erro. Mas, Rodney, sacana, perguntou a Domicio
Afinal, Domício, quem encheu a enfermeira?
O que o grande Domício respondeu, não tenho coragem de publicar. Ambos eram meus amigos. No momento em que conto esse fato, os reverencio, pois eram excelentes profissionais.

CONCLUSÕES 
  Relembrei aqui, portanto, amigo leitor, alguns fatos pitorescos que mostraram, como  a Marinha do Brasil, navegando nas ondas do rádio, cruzando os mares da imaginação dos ouvintes,  os fez viajar pelos feitos gloriosos de nossa Armada.
Viva a Marinha!

O autor do blog

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