quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

MAIS HISTORIAS VIVIDAS NO BAR DA NACIONAL


 Roberto Salvador

      O bar da Rádio Nacional  na cobertura do Edifício A Noite:               do andar 22 ,vista para um Centro diferente do de hoje

De sua varanda se via parte do centro da cidade, a baia de Guanabara, o cais do porto do Rio de Janeiro e como o gabarito dos prédios do Centro nos anos 40 e 50 era baixo dava para ver as barcas que ligavam o Rio a Niterói e os aviões descendo no aeroporto Santos Dumont.


        Bar da Nacional:encontro de artistas funcionários nos                                                    intervalos dos programas.

Do papo e do convívio surgiram várias histórias, que aos poucos vou reunindo neste blog.

Ai vão mais algumas.


O ambiente no bar, naturalmente era descontraído e após uns drinques ficava melhor ainda. Conversa fora jogada em mesa de bar eis  que surgiam alguns apelidos para os artistas dados pelos próprios  colegas. Geralmente irreverentes,uns pegavam, outros não. Se você conhecer o artista, vai sentir que o apelido se encaixa como uma luva. De alguns eu tenho a explicação, mas não me peçam para  esclarecer a origem de outros. Vejamos:

                             Wilson Batista era o Virilha.
                              Não me perguntem por quê.

Orlando Silva cercado por pequenas fãs.


O cantor das multidões no programa de Paulo Gracindo
tinha também o curioso apelido de Suvaco.

O talentoso cantor Ciro Monteiro: Formigão


Dolores Duran querida dos colegas, 
mas não escapou de um apelido:
Caxumba.


Ataulfo Alves era o Urubu Malandro,
 por seu andar gingado e cadenciado,

O locutor Afrânio Rodrigues, aquele que narrava o “Edifício balança, mas não cai” certa vez entrou no bar e amigos exclamaram:
-Chegou o “chão de garagem”!
É que Afrânio usava muito Gumex no  cabelo. (Duralex, sed-lex, no cabelo só Gumex” lembram-se desse comercial?).

                                                Francisco Alves : 
                 “Carne assada” ou “Chico Duro", não abria mão                                                para pagar nada para os amigos.

Alguns apelidos eram tão maldosos e encerravam tamanha dose de preconceito que nos dias atuais, creio, seria processado quem os propagasse. Exemplo: o do cantor Black-Out era  “Negativo de Fotografia”.

Black-Out: campeão dos carnavais

Enquanto Evaldo Rui era o “Espanador da lua”, Gilberto Milfont, por sua baixa estatura era o “Jóquei de Cabrito.”

Evaldo Rui


Gilberto Milfont


Esta também se passou no bar da Nacional. Certa noite sentaram-se a uma mesa, Renato Murce  e Fernando Lobo, dois grandes produtores, sendo que o Fernando é o pai de Edu Lobo, uma das glórias da música brasileira e Murce criador de Piadas do Manduca, Papel Carbono e outros sucessos. Pois bem, pediram um  Whisky com gelo. Fernando era  uma excelente pessoa e muito brincalhão. O garçom, solícito trouxe os copos, a garrafa e um  balde com gelo. Quando colocou as primeiras pedras no copo de Murce, exclama para o companheiro:
-Você vai consumir este gelo, Renato? Este gelo é de ontem!
O pobre garçom, espantado, sem nada entender, acabou caindo na gargalhada no que foi acompanhado por Renato.
Este fato está no livro Bastidores do Rádio, que Renato Murce  escreveu, mas Fernando Lobo, todas as vezes que contava esta história a atribuía a Renato.
                                                     Fernando Lobo
Renato Murce com seu importante livro 



Castro Barbosa e Lauro Borges: 
No ar a PRK-30!



José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni


Bem, esta não aconteceu no bar da Nacional, mas poderia ter acontecido e é contada por José Bonifácio de  Oliveira Sobrinho,  no prefácio do excelente livro de Paulo Perdigão sobre a PRK-30. Vamos transcrever o trecho em que Boni se refere a Lauro Borges.

O Lauro era um eterno brincalhão. Quando entrava em um restaurante, sentava à mesa e dizia para o garçom:
-Quer  me chupar os nabos, por favor?
E os garçons, atônitos, perguntavam:
- O que o senhor disse?
E ele dizia:
Guardanapos, por favor.
Um dia, no Hotel da Bahia, ele repetiu a brincadeira:
-Quer me  chupar os nabos, por favor?
E para surpresa de Lauro, o garçom respondeu:
Chupo, sim, senhor, O senhor é o Lauro Borges, e eu o considero o maior humorista do Brasil. Para homenageá-lo, eu faço qualquer coisa.
Pela primeira vez na minha vida eu vi o Lauro Borges sem graça.


 Na época radioator mirim  Abelardo Santos contou-me que a chegada da cantora Marlene ao bar era apoteótica.
Marlene: apoteótica também na vida real


Antes de adentrar no salão, se via alguma amiga sentada a uma mesa, dava um oh! Abria os braços como se fosse uma estrela entrando num palco. Todos paravam para olhar e morriam de rir com o histrionismo da rainha do Rádio.Marlene era muito alegre.Concluiu Abelardo

                                    Cantora Marion, Gerdal Santos
                e ao fundo de camisa vermelha, Abelardo Santos.


 Já que falei de Abelardo, vai mais essa. Quando ele foi contratado para o radioteatro da Nacional com pouco mais de 10 anos, apreciava muito comer pêssegos em calda com Catupiry. Menino pobre, nascido na ladeira do Barroso, no morro da Providência, aquilo era, para ele, um manjar dos deuses.Entre um capítulo de novela e outro, lá ia ele ao bar comer seu prato preferido. O restaurante tinha convênio com o departamento de pessoal. Assim, bastava a Abelardinho assinar um vale e pronto.Quando seu pai foi receber o pagamento do menino,no fim do mês, eram vales e mais vales do restaurante. Pagamento? Muito pouco.
Meu pai chegou pra mim e disse, Abelardinho, você está trabalhando, praticamente para comer pêssego em calda com Catupiry! Dê um jeito nisso!

Cantora Nora Ney

 Nora Ney possuía uma dicção perfeita. Mas adorava encarnar em sua amiga, a também cantora Alayde Costa, uma das precursoras da bossa-nova. Alayde,criatura humana calma e tranquila  aceitava as brincadeiras. Ela possuía um problema de dicção que não  prejudicava, em nada sua atuação. Mas no bar, Nora dizia para Alayde:
Te pago o lanche, desde que você peça ao garçom: Televisão, (apelido do garçom) me serve  um pudim? E Alayde, então, atendia:
Oh, Televissão me serve um putim?

Alaíde Costa, precursora da bossa-nova
 ainda nos encanta com sua voz

Roberto Salvador, autor deste blog

E então amigos, gostaram desta postagem? Mandem seus comentários.Contamos com vocês para preservarmos a memória de nosso velho rádio!

Microfone dos anos 40 e 50.

Rádio de válvulas dos anos 40.

Até a próxima!!







3 comentários:

  1. Adoro recordar o que se passava nos meustempos de adolescencia.Tudo era mais puro.

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  2. Ao nosso grande mestre de cerimônias da vida, o nosso aplauso e o nosso carinho. Saudade , mas saudade bonita de tudo isso que você faz reviver nos nossos corações!!!!! Tania e Tarquínio.

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  3. Excelente relato de uma época em que o autor nos apresenta com maestria o alicerce do que conhecemos hoje como rádio e tv.
    Um livro que todos devem ler.
    É cultura. É entretenimento. É história.

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