Roberto Salvador
Família acompanha radionovela anos 40:
tramas elaboradas e conflitos prendem ouvintes.
Qualquer estrutura dramática quer seja de teatro, rádio ou
telenovela, cinema, um romance literário, para se sustentar tem que possuir
algo imprescindível: o conflito. Sem conflito não há história. Haverá sempre uma
disputa entre seres humanos: um homem e outro homem, uma mulher e outra mulher. Há conflito
entre irmãos. Entre famílias. Conflitos entre o homem e a natureza. Conflito entre o ser humano
e sua consciência. A eterna luta entre
o bem e o mal.
MULHERES MÁS DO RADIOTEATRO
Vamos nos ocupar, dessa vez, de falar de algumas mulheres que se
destacaram no velho radioteatro, digamos assim, por sua maldade, despertando a ira dos ouvintes
com ódio extravasado através de cartas e mais cartas que chegavam às emissoras.
Revista do Rádio: sempre promovendo os ídolos radiofônicos
Fui encontrar no
número 484 da Revista do Rádio de
27.12.1958 uma curiosa reportagem sobre a excelente atriz Ida Gomes
tendo como título “Por que você não morre”?
Ida Gomes no inicio de sua carreira no radioteatro...
...e depois como uma das Irmãs Cajazeiras na Globo
Ida Gomes foi para a Tupi ainda mocinha, com um contrato
provisório fazer o papel de Lucrécia Bórgia . A atuação de Ida Gomes despertou nos
ouvintes um ódio tão grande pela célebre
envenenadora italiana que Olavo de Barros contratou-a imediatamente, pois a
considerou “uma cínica perfeita”.
A partir de então
dediquei-me a este tipo de papel,
declara Ida à Revista do Rádio.
Ela faria depois dezenas de outras novelas na rádio Tupi,
sempre encarnando o papel de vilã.
Maria e outras mulheres, como Maria Olímpia; Uma consciência atormentada, como Branca.
Em Corações amargurados, Ida era Eva, uma espiã nazista.
-Uma vez, quando fazia
A Ciganinha em que eu martirizava a mocinha, terminado o capítulo uma
ouvinte telefonou-me indignada e disse: ‘Por que você não morre’? E
desligou imediatamente.”
Ida Gomes conclui sorrindo:
-Como vê, sei perfeitamente que o público não morre de
amores por mim, quando interpreto esses tipos, mas eu não me importo com isso.
Sinto-me feliz por poder dar às personagens o realismo que elas exigem.
Luiz Quirino e Olavo de Barros na Radio Tupi.
Olavo descobriu o talento de Ida Gomes
Nair Amorim, hoje:
atuação na Patrulha da Cidade pela Super Tupi.
Na Rádio Tupi havia uma jovem atriz de voz meiga e suave que
só fazia papéis de boazinha. Era Nair Amorim que me confessou em depoimento:
Meu grande sonho é era um dia fazer papel de megera numa
novela. Mas jamais consegui.
Nair Amorim:
começo em 1950 na Rádio Tamoio
Com efeito Nair foi a maior intérprete de Nossa Senhora e
santas que o rádio conheceu na série Novela Religiosa da Tamoio. Os ouvintes
acreditavam que Nair Amorim era realmente "santa". De tal maneira, que a direção
da emissora orientou a atriz a não posar de maiô ou roupas provocantes, para
não comprometer sua imagem.
ATRIZ MORRE CARBONIZADA EM CASA:
A VIDA IMITA A NOVELA.
Uma excelente radioatriz que
costumava também fazer papéis de malvada foi Zezé Fonseca, atuando com
grande brilho tanto na Tupi quanto na Nacional.
Zezé Fonseca:
interpretava magistralmente mulheres más.
Zezé Fonseca:
tórrido romance com o cantor Orlando Silva entre 1940 e 1943.
Orlando Silva:
morfina e bebidas derrubaram sua carreira várias vezes.
Infelizmente a partir de um determinado momento de sua vida
Zezé começou a beber exageradamente, entrando num lamentável processo de
autodestruição.
Luís Manuel me contou que nos anos 50, quando muito
menino participava de uma série chamada Presidio de mulheres, às três
horas da tarde escrita por Mário Lago intitulada O amor conhece os caminhos. Na
trama ele era órfão e tinha como madrasta uma
megera interpretada por Zezé Fonseca. Os ouvintes se condoíam das
maldades que o pobre menino sofria da madrasta. No último capítulo, uma
tragédia e a malvada recebe seu castigo ao morrer queimada em um incêndio em
sua própria casa. Os atores ensaiaram o capítulo sem que Zezé chegasse.
Faltavam minutos para a novela entrar no ar e aparece a atriz, cambaleando pelo
corredor que dava acesso ao estúdio. Já havia uma atriz substituta pronta para
assumir o papel de Zezé, mas esta, arrancando o script de suas mãos e disse
categórica: deixa que eu faço!
Vejamos o relato do próprio Luís Manuel:
Luiz Manuel:
começo em rádio aos 12 anos nos anos 50.
Hoje grande dublador e diretor de dublagem.
Ela nem havia ensaiado. Tomou o papel com todas as marcações
e a novela entrou no ar. Quando olhei para a Técnica (onde ficavam os
operadores atrás do vidro),vi alguns atores que se esgueiravam, só para ver o
que iria sair dali. Pois Zezé deu um show de interpretação, sem vacilo, sem
erro. Na cena final eu contracenava com a madrasta e após umas peripécias há um
incêndio na casa e a megera morre queimada, para gáudio dos ouvintes. Ai vem a
ironia da vida. Dia seguinte, não é que há um incêndio no apartamento de Zezé e
ela morre carbonizada?
Zezé era assim no inicio de sua carreira
Zezé Fonseca só era má nas novelas. Na vida real era uma
grande pessoa e boa colega. Mas a bebida levou-a a um fim trágico. Talvez tenha
adormecido com o cigarro aceso.Os jornais da época, contudo, noticiaram que houve uma explosão de gás no apartamento. provocando o incêndio.
Muito culta, possuía
bastantes livros colecionava jornais e revistas. Tudo material que alimentou o
incêndio não dando chance à grande
artista.
Mário Lago, era radioator, compositor e escrevia radionovelas. Escreveu a série Presidio de mulheres,no ar diariamente às 3 da tarde.
HENRIQUETA BRIEBA RECEBE PRESENTE INSÓLITO.
Na novela A gloriosa mentira Henriqueta Brieba interpreta
uma mulher que de tão má despertou a ira dos ouvintes. Ismênia dos Santos interpretava Vera, a mocinha da novela. Vera sofria na mão da megera vivida por Henriqueta Brieba.
Ismênia dos Santos:
"sofrimento" nas mãos de Henriqueta Brieba.
Ismênia era filha de Armando Duval que deu o nome ao estúdio de radioteatro. Era casada com o diretor Vitor Costa.
Certa vez Henriqueta foi chamada a
ir buscar no departamento de correspondência da Nacional uma encomenda. Feliz
da vida, recebeu uma bela caixa cuidadosamente embrulhada para presente. Henriqueta, orgulhosa, abriu a caixa e se deparou com uma grossa corda
e um bilhete: “essa corda é para você se enforcar sua desgraçada”!
Henriqueta Brieba em três momentos.
Na televisão...
No teatro...
... e na Rádio Nacional.
Os ouvintes das radionovelas costumavam confundir os personagens com os atores. Era comum os artistas serem abordados nas ruas e terem que dar satisfações a ouvintes revoltados. Nos dias de hoje isso talvez possa parecer exagerado, mas tudo acontecia por conta da forte influência que o rádio exercia na vida das pessoas daquela época.
Microfone dos anos 40/50
Rádio de válvulas, anos 40/50
O autor do blog
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Até breve!
Muito bom! Recordar é viver.
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