O termo produtor tem conotações
diferentes para rádio, teatro, cinema e televisão.
No teatro e no cinema
o produtor é aquele que entra com o dinheiro, financiando a produção.
Na televisão o produtor é aquele
profissional que gerencia a produção do programa e dá as condições
de trabalho que o viabilize.
No cinema, no teatro e na
televisão, portanto, produtor não dirige atores. Isso é tarefa do diretor.
Já em rádio, o produtor é aquele
que cria, escreve o programa. È o autor
do programa.
Se o produtor escreve crônicas é
um cronista, se escrevia comentários que
eram lidos por locutores, era um comentarista. Se produzia novelas era um
novelista.
As primeiras radionovelas da
Nacional nos anos 40 eram todas importadas. Especialmente cubanas, a começar por
Em busca da felicidade .
No entanto, na medida que o radioteatro ia se consolidando e absorvendo a
tecnologia dos roteiristas estrangeiros, foi se formando uma
verdadeira escola de adaptadores para o rádio no Brasil, caminho aberto pelo
gênio de Gilberto de Andrade.
Mas o trabalho dos novelistas não
ficou restrito apenas às adaptações. Começaram a surgir os autores. Neste período, destaque para Oduvaldo Viana
e Amaral Gurgel.Consultando os arquivos
da Nacional, entre 1941 e 1959 foram escritas cerca de 807 novelas,
movimentando 118 autores. Quase 10 por cento da totalidade dessas a novelas,
foram de autoria de Oduvaldo Viana.
Oduvaldo Viana, pai do Vianinha:
pioneiro foi um dos maiores novelistas do rádio
Amaral Gurgel, talento do velho cinema:
sucesso no velho rádio
Eurico Silva, que se tornou
famoso pela adaptação de O direito de
nascer viria a escrever mais de 40 novelas para a Nacional. Destaque para Amanhã seremos nós.
Ensaio de radioteatro na Nacional anos 50:
Eurico Silva, de branco, entre Floriano Faissal e Domingos Martins
UMA MÁQUINA DE CRIAR EM CIMA DE
UMA MÁQUINA DE ESCREVER.
Os novelistas,tanto da Nacional
quanto da Tupi e da Tamoio, não levavam boa vida. Era trabalho duro manter no
ar uma novela com três capítulos semanais de 23 minutos e ainda por cima ter
que redigir comerciais.E isto porque os textos publicitários, que iam ao ar nos
intervalos comerciais, eram feitos pelos próprios escritores.
Mais tarde a
Nacional, sempre em busca da perfeição, criou a figura do redator comercial. Eram escritores de gabarito que se dedicavam a
produzir textos comerciais e criativos. Oranice Franco, antes de se consagrar
como produtor (As histórias do Tio Janjão), produziu textos comerciais).Além das
novelas, muitos autores escreviam também esquetes, programas humorísticos,
musicais e programas montados.Muitos, além disso, atuavam no microfone, como
Mário Brasini, Cícero Acaiaba,Walter Foster,Álvaro Aguiar, Mário Lago com seu "Presidio de mulheres" e
outros.Escrever,portanto, era uma
obsessão para muitos, que tinham que cumprir suas tarefas e entregar os textos a tempo e a hora. Por isso valia tudo.A
estrela Ísis de Oliveira, em depoimento ao Museu
da Imagem e do Som revelou que os novelistas roubavam as falas dos atores e
as colocava nos personagens, transferia para os textos conversas e desabafos
que captava pelos corredores.
Walter Foster novelista e radioator
Álvaro Aguiar era o Tio Janjão, seriado infantil de Oranice Franco.
Oranice ingressou mais tarde na Academia Brasileira de Letras.
Alvaro também escrevia As aventuras do Anjo.
Mário Lago, compunha, atuava e batalhava na máquina de escrever.
Mário Brasini:
"Sou uma máquina de criar, em cima de uma máquina de escrever. Chego na emissora de manhã e nunca saio antes das 11 da noite".
Dinah Silveira de Queiroz escrevia textos para a Nacional, antes de ingressar na Academia Brasileira de Letras
Cesar Ladeira interpretava diariamente às 13 horas "Cronica da Cidade" que Genolino Amado escrevia. Genolino foi outro que também ingressou na A.B.Letras.
SILENCIO!
ESCRITORES TRABALHANDO.
No 22o. andar, Floriano Faissal
criou uma área em que alguns novelistas dispunham de um espaço onde poderiam
escrever e guardar seu material. Eram pequenos boxes de meia parede, onde cabia
apenas uma mesa com máquina de escrever
e um arquivo.Vários novelistas dividiam esse pequeno espaço, trabalhando
em turnos.Do lado de fora se ouvia o martelar das máquinas de escrever e se
evitava fazer algazarra para não atrapalhar quem estava escrevendo.Outros
produtores possuíam instalações no 20º. andar. Boa parte deles, no entanto, escreviam
fora da emissora. Como a demanda por novelas era muito grande, com frequência,
a Nacional simplesmente comprava os textos de
autores que não faziam parte de seus quadros permanentes. Com a
valorização do gênero, as empresas de publicidade ou simplesmente adquiriam
textos dos autores ou contratava novelistas para escreverem com exclusividade.
Gilberto Martins estava incluído neste último caso.
SUBLITERATURA?
Os novelistas faturavam bem e
certamente por isso, começaram a despertar uma certa inveja entre os escritores
tradicionais. Com frequência eram acusados por estes de produzir subliteratura para o rádio.Não era bem
assim. Embora algumas concessões
tivessem que ser feitas para atender aos patrocinadores, a grande maioria
produzia uma literatura para o rádio que os ouvintes consumiam e os
incentivavam a fazer cada vez melhor. Muitos que escreviam para rádio acabaram
por se consagrar nas letras e ingressaram na Academia. Entre eles Viriato
Correia, Oranice Franco,Genolino Amado, Dinah Silveira de Queiroz, Dias Gomes, entre
outros.
Alguns patrocinadores relutavam
em aceitar novelas extraídas da literatura universal. Mas quando alguns
novelistas conseguiam romper a barreira, os ouvintes apreciavam e os editores
adoravam. È que era comum os ouvintes promoverem uma corrida às livrarias para
comprar o livro, a fim de conhecer o final da novela.
Mas isto era muito pouco, pois em
um país com os altos índices de analfabetismo dos anos 50, teria sido desejado
que as grandes obras da literatura universal houvessem ocupado um espaço maior
no nosso radioteatro.Destaque para Dias Gomes que sempre foi um produtor
preocupado em levar para o público obras clássicas da literatura. Pôde fazer
isso no projeto do Grande Teatro.
Também a Rádio Ministério da Educação que não possuía compromissos com
patrocinadores, chamou para si a tarefa de valorizar mais os autores clássicos.
Dias Gomes:
talento no rádio, foi para o teatro, televisão e cinema.
Outro que ingressaria na Academia Brasileira de Letras.
GIUSEPPE GHIARONI DA VIDA DE CRISTO A TANCREDO & TRANCADO
Ghiaroni escrevia muito para o
horário das 9 da noite e tem mais de
duas dezenas de títulos no acervo da rádio. Isso nos anos 40 e 50, quando era
responsável por seis programas semanais e uma novela.
Aos domingos iam ao ar dois
programas seus: na hora do almoço entrava no ar “Romance Musical”. Era uma
história contada em 30 minutos. Ghiaroni pegava uma música popular e da letra
tirava uma história, interpretada pelo elenco de radioteatro. A música ia sendo
tocada aos poucos, acompanhando o andamento do enredo. Muito interessante!
Era um dos poucos programas
gravados. A gravação era durante a semana, feita num disco acetato de 15 polegadas.O outro programa dominical de
Ghiaroni e um de seus grandes sucessos foi a série “Tancredo e Trancado”, que
durante muitos anos animou o final de domingo no auditório da Nacional. O extraordinário poder de concisão de
Ghiaroni possibilitavam uma história completa,
com princípio, meio e fim a cada semana, em apenas vinte e cinco
minutos! Participavam, além de Brandão Filho, Apolo Correia e Ema Dávila, Paulo
César,(geralmente o vilão), Álvaro Aguiar, Bruno Neto e outros.
Apolo Correia era o Trancado.
O nome do engraçado personagem diz tudo.
Ema Dávila, mulher de Tancredo tentava por ordem nas coisas
Brandão Filho:
o detetive Tancredo, enrolado e engraçado. No final, tudo dava certo nas histórias de Ghiaroni
Depois do sucesso da “Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, o talentoso
autor se debruçaria mais uma sobre a Bíblia, radiofonizando trechos muito
bonitos do Velho Testamento em capítulos
de 25 minutos, às 9 da noite, tendo novamente César Ladeira como narrador e a
participação dos astros do elenco do radioteatro. A sonoplastia
do programa era extraída,
principalmente, das trilhas sonoras de
filmes bíblicos que haviam sido exibidos
no Rio: “Os Dez Mandamentos”, “O Manto Sagrado” e “Rei dos Reis”.
Isso aconteceu no início dos anos 60.
Aos cobras acima citados,
juntaram-se autores jovens que dominavam com maestria a técnica de escrever
novelas. Entre esses
posso me lembrar de
Cícero Acaiaba, Ivani Ribeiro, J.Silvestre e Janete Clair entre outros.
Ghiaroni:
talento para escrever A vida de Cristo e as trapalhadas de Tancredo e Trancado
Ivani Ribeiro, era assim quando começou na escrever para o rádio
Ivani Ribeiro: sucesso memorável nas telenovelas.
J. Silvestre escrevia novelas e era radioator
J. Silvestre migrou para a televisão.
Quem se lembra de O céu é o limite?
CICERO ACAIABA E A MELANCÓLICA PRIMAVERA SEM FLORES.
Sobre Cícero Acaiaba: quando escrevia meu livro, soube que ele estava vivendo em Varginha, Sul de Minas Gerais e viajei até lá com
Nylza, minha mulher, quando gravei depoimentos dele que foram incluídos nesse
livro.
Cícero começou como radioator e
logo em seguida passou a acumular as funções de novelista. Durante os dezessete
anos em que atuou na Nacional, escreveu cerca de cento e trinta novelas, a
maioria patrocinada pela Sidney Ross.
Contou-me Cícero que chegou a escrever duas novelas diferentes ao
mesmo tempo.
Para não se confundir com as duas
tramas, ela tinha uma estratégia: usava
uma máquina de escrever para cada novela.
Cícero era ligado ao Partido
Comunista. Amigo de Mário Lago, Jorge Amado e Graciliano Ramos.
Tal ligação custou-lhe muito
caro, pois quando veio o movimento de 64
e estava no ar a novela “Primavera sem flores” ele foi punido: respondeu a três
inquéritos
militares. Seu pagamento foi suspenso, embora a novela continuasse no ar, mas com o
nome do autor omitido.Grande talento, escreveu diversos livros e até terminar seus dias, no Sul de Minas, colaborando com contos diários no jornal local.Seu último romance chamou-se Meu pé direito, uma referência a um defeito de nascença no pé que o obrigava a um calçado especial.
O último romance de Cicero Acaiaba chamou-se Meu pé direito,
uma referência a um defeito de nascença que o obrigava a um calçado especial
Pois e... emocionante esses escritos e as respectivas fotografias,daqueles que um dia,eu,ainda muito pequeno,os elegi como os meus idolos: OS NOVELISTAS DE RADIO!!... Como conheci e conheço esses nomes!!... No inicio da decada de 1970,iamuito a Radio Nacional,levando meus escrito originais e adaptaçoes,principalmente para o TEATRO EM CASA,(antigo GRANDE TEATRO ORNIEX),a diretores como Dayse Lucidi ou Jose Valuzi,dos quais eu so obtinha meros elogios sobre os textos e nada mais... Apos a leitura do Livro do Prof Roberto Salvador,A ERA DO RDIOTEATRO,e que eu pude compreender muita coisa...
ResponderExcluirPois e... emocionante esses escritos e as respectivas fotografias,daqueles que um dia,eu,ainda muito pequeno,os elegi como os meus idolos: OS NOVELISTAS DE RADIO!!... Como conheci e conheço esses nomes!!... No inicio da decada de 1970,iamuito a Radio Nacional,levando meus escrito originais e adaptaçoes,principalmente para o TEATRO EM CASA,(antigo GRANDE TEATRO ORNIEX),a diretores como Dayse Lucidi ou Jose Valuzi,dos quais eu so obtinha meros elogios sobre os textos e nada mais... Apos a leitura do Livro do Prof Roberto Salvador,A ERA DO RDIOTEATRO,e que eu pude compreender muita coisa...
ResponderExcluirBom dia! Li seu comentário...eu estava aqui procurando uma foto do José Valuzi apenas para ver como ele era...e vc chegou a conhecê-lo pessoalmente muito legal gostaria gostaria de ter tido essa sorte..sabe me dizer onde posso encontrar foto dele ja garimpei bastante na internet mas não encontrei...sou fã do teatro de Misterio...ass. Marcos Gomes - Curitiba/Pr
ExcluirEstimado Marcos, muito e muito obrigado por seu comentário! Também não possuo em meus arquivos nenhuma foto do Valuzi. O negócio é que naquela época não se tirava tanta foto como hoje. Muito se perdeu em termos de memória visual. Que pena!
ExcluirQiantos genios passaram pelo nosso radio
ResponderExcluirO rádio era uma usina de criatividade. Quem fez bom rádio se deu bem em qualquer outro veiculo, Lucas. Grande abraço!
ResponderExcluirOlá, Roberto, como vai? Estou atrasado, preciso ler seu livro, sem falta. Eu coleciono programas antigos de rádio, principalmente radioteatro, sabe como posso encontrar programas? Há algum colecionador com quem posso falar? Obrigado por qualquer ajuda, desde já. Quem souber, pode responder, por favor.
ResponderExcluirObrigada aos saudosos Domício costa e Deise lúcidi eternas vozes do rádio.
ResponderExcluirTrabalhei com ambos na Nacional. Eram admiráveis figuras humanas. Obrigado por seu comentário, Cleusa. Visite meu canal no Youtube A Historia do Radio Roberto Salvador. Você vai gostar
ResponderExcluirOla, que ano morreu a radio atriz Lurdes Santana do Teatro de Mistério?
ResponderExcluirJose Valuzi ainda ta vivo?
Grato
Boa noite, na foto que deveria estar a Dinah Silveira de Queiroz está uma foto da Raquel de Queiroz, outra acadêmica.
ResponderExcluirAbraço!