O TRIPÉ MÁGICO DO RÁDIO BRASILEIRO.
Segundo o saudoso radialista e pesquisador Luiz Carlos Saroldi sucesso do rádio repousa em três nomes: Edgard Roque pinto, que introduziu o rádio no Brasil no inicio dos anos 20.Ademar Cazé, que profissionalizou o rádio, trazendo anunciantes e dinheiro para pagar os que atuavam e finalmente Henrique
Foréis Domingues,que transformou o rádio em espetáculo, criando os chamados na época de programas montados, pois deles participavam elenco de radioteatro,cantores, instrumentistas e grande orquestra e coro.
O jovem Almirante
Radamés Gnatali a frente da Orquestra da Nacional:
preparativos para um dos programas montados entrar no ar.
José Meneses, violão. Radamés na flauta e Chiquinho do Acordeão:
Ensaio final para entrar no ar.
Traje a rigor na Nacional: no ar com Almirante em um dos seus programas montados
O locutor Aurélio de Andrade, mão no queixo e ao fundo José Mauro.
Caricatura de Almirante no Bando dos Tangarás
No ar pela Rádio Nacional... Curiosidades Musicais em 1938
Dedicado pesquisador de nosso folclore:
sempre se aprendia muito ao ouvir seus inteligentes programas.
O Arquivo de Almirante, no Museu da Imagem e do Som:
paraíso dos pesquisadores a partir dos anos 60.
ALMIRANTE
Ele foi além de radialista, compositor, cantor e pesquisador. Nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1908. Seu apelido, Almirante, teve origem no período de 2 anos em que serviu na Marinha (1926-27). Era bonito, alto, garboso, voz potente e por isso teve oportunidade de desfilar ao lado do comandante da Reserva Naval, em traje de gala, sendo então confundido com um almirante. O apelido pegou e ele o levou para a vida artística.
Ao lado de Noel Rosa e Braguinha, iniciou sua carreira artística em 1928, no conjunto Bando de Tangarás. Gravou grandes
sucessos, como “Yes, nós temos bananas”, “Touradas em Madri” e “O orvalho vem
caindo”, além de ter sido parceiro de Carmen Miranda em discos e filmes
nacionais.
No carnaval de 30 lançou a música “Na Pavuna”, um dos seus grandes
sucessos. Recebeu o título de A maior patente do rádio, (afinal era Almirante)...graças a programas inteligentes, criativos e inovadores como Curiosidades musicais e Incrível! Fantástico!
Extraordinário!
O Bando da Lua com Carmem Miranda.
Almirante é o altão à direita.
Almirante foi um dos primeiros a se encontrar com Carmem
quando ela retornou ao Brasil, pouco antes de sua morte.
CURIOSIDADES MUSICAIS.
Foi o primeiro programa montado do rádio
brasileiro, que estreou na rádio Nacional no dia 2 d
abril de 1938.
Já o famoso e pioneiro “Caixa
de Perguntas, foi outra ousadia de Almirante. Estreou também na Nacional no dia 5 de agosto de 1938. É considerado o primeiro
programa de auditório do rádio.
E era patrocinado por um produto chamado BY-SO-DO”. Não me perguntem para que servia esse produto...
E era patrocinado por um produto chamado BY-SO-DO”. Não me perguntem para que servia esse produto...
Paralelamente à sua vida de produtor radiofônico, ele gravou vários sucessos musicais, como "Na Pavuna"cujos primeiros acordes serviam, inclusive de prefixo musical para seus programas.Participou de vários filmes na pioneira Cinédia, estúdio de cinema nacional.
Estava sempre junto dos grandes artistas da época como Francisco Alves, Noel Rosa,Josué de Barros, Ari Barroso, Silvio Caldas e de Carmem Miranda.
Foto de 1932, da esquerda para a direita, Francisco Alves, Noel Rosa, Carlos Lentini,Carmem Miranda, Josué de Barros, Almirante,Betinho, João Martins.
Ao microfone da Tupi, no detalhe, Francisco Alves, já nos anos 40.
Bando da Lua e Carmem Miranda, pouco antes de seguirem para o Estados Unidos.
Foto de 1938 na Rádio Cultura de Poços de Caldas:
Vassourinha, Aurora Miranda, Almirante,Carmem,Silvio Caldas e Geraldo Mendonça
Voltamos a citar o Bando de Tangarás, um conjunto vocal e instrumental organizado no Rio de Janeiro em 1929 Seus integrantes eram Almirante(pandeiro e vocal), Braguinha(violão e vocal), Henrique Brito (violão),Noel Rosa(violão) e Alvinho (violão e vocal).
Mas a grande criação da “maior
patente do rádio brasileiro” foi o...
...INCRÍVEL, FANTÁSTICO, EXTRAORDINÁRIO!
Almirante usava todos os recursos
do rádio da época para produzir seus programas.
Tinha uma boa voz, narrava seus
textos com muita emoção e autenticidade. O “Incrível” como se
chamava comumente, era um dos preferidos autor deste blog.
Lançado na Tupi em 1947 com grande divulgação na época, o programa
radiofonizava cartas de ouvintes que narravam fatos sobrenaturais.E
Almirante fazia questão de que essas
cartas contivessem referências de testemunhas de pessoas que haviam também
testemunhado o acontecido. Se não era fornecido no ar o endereço completo das
testemunhas, por motivos óbvios, eram
dados detalhes que faziam crer que o fenômeno tinha realmente acontecido
com aquelas pessoas.
Almirante abria o programa com
uma pergunta desafiadora:
Você não acredita no sobrenatural?
Então ouça !
E três vozes exclamavam, intercaladas por acordes da
orquestra:
Incrível ! (ACORDE)
Fantástico!(ACORDE)
Extraordinário! (ACORDE FINAL)
Extraordinário! (ACORDE FINAL)
O
“Incrível” contava com elenco de radioteatro,efeitos sonoros e grande
orquestra.
Almirante conduzia o programa e a
narrativa podia ser feita na primeira ou na terceira pessoa, com a entrada das
dramatizações pontuadas por efeitos sonoros e
uma trilha musical executada pela orquestra acompanhando a ação.
O patrocínio era de “Guaraína, um
remédio que não ataca o coração”.
A contrarregra poderia ser de
Barros Barreto ou de Orlando Drumond. Os
arranjos e a orquestra eram da responsabilidade de Aldo Taranto e Morfeu, dois dos mais famosos maestros da Tupi
naqueles anos 40.
Ia tudo ao vivo, às terças-feiras
às 21 e trinta. O programa era feito do palco-auditório que seria destruído pelo incêndio de 1949.
Não havia público. Um vigia
trancava a porta de acesso à platéia, fechavam-se as cortinas prateadas e o
palco se convertia num imenso estúdio que abrigava locutores, atores e
orquestra. Algum material de contra-regra era levado para lá, conforme
exigência do script. Muito usadas eram as correntes que se arrastavam sobre
uma taboa, uma porta que rangia, um tanque com água, vidraças que eram
quebradas, coisas assim.
Relata-me a radioatriz Aliomar de
Matos, (que quando do lançamento do Incrível
tinha apenas 16 anos), que depois o programa passou a contar com a presença do
público, que bem comportado, não se manifestava, assistindo em silêncio à
performance dos atores no palco-estúdio.
Aliomar de Matos e acima com seu filho nos anos 60
Estes eram os mesmos que faziam
as novelas ou os programas humorísticos durante o dia. Cito apenas alguns
deles: Paulo Porto,Paulo Gracindo,Castro Gonzaga, Amélia Simone, Germano, Ida
Gomes, Restier Junior, Edelzia dos Santos, Leda Maria, Luiza Nazareth, Paulo
Raimundo, Hamilton Ferreira, Duarte de Moraes, Thelmo de Avelar, Antonio Leite,
Luiza Nazareth, Nair Amorim, Aliomar de Matos e tantos outros de grande talento.
Orlando Drumond, mais tarde seria o "Seu Peru"na televisão:
Inicio de carreira como contraregra no Incrível, Fantástico, Extraordinário.
O locutor, na maioria das vezes,
era o excelente Osvaldo Luís.
Inicio de carreira como contraregra no Incrível, Fantástico, Extraordinário.
Paulo Porto, galã de novelas, atuava também no Incrível.
Hamilton Ferreira, comediante nos programas humorísticos, era dramático no Incrível.
Almirante escrevia e narrava seus programas
Eu costumava ficar acordado,
escondido de meus pais, é claro, junto ao grande rádio da sala de jantar da
fazenda dos Arcos, volume no mínimo, ouvido colado no alto-falante.
Morria de medo com as
horripilantes histórias, mas o prazer de
ouvi-las superava o pavor. Numa noite ouvi uma dessas histórias, numa casa na
zona rural, os moradores foram acordados com os cães em alvoroço. Ao chegar à
janela que dava para o quintal da casa, viram um estranho animal de patas muito curtas que se arrastava com
dificuldade pelo terreiro. A noite não era muito escura e dava para ver os
cachorros tentando se aproximar, mas sendo rechaçados por aquela criatura
bizarra.
-Quando as luzes do quintal foram
acesas, narra Almirante,os moradores da casa viram uma coisa medonha, o rosto
da criatura era de Francisco Osório, um agiota, muito mal visto na região, que
duas semanas antes fora barbaramente assassinado por um de seus credores.
-Foi quando, aquela criatura, soltando um som, misto de grunhido e voz humana disse algo que deixou todos petrificados, segue Almirante.
-Que Deus me perdoe... que Deus me ajude ... Rezem por mim ! Rezem por
mim!.
E a orquestra atacou com um
acorde dramático e patético.
Bem, não preciso dizer que morri
de medo e voltei pé ante pé para minha cama ao término do programa.
Mal havia pego no sono e eis que
os cachorros que guardavam a fazenda começaram a latir sem parar.
Meu pai e meu
avô se levantaram e foram até a janela que dava para o terreiro onde os
cães se encontravam.
Pulei da cama e fui junto. Eu
guardava ainda na memória a história que
havia rolado no programa de
rádio.
Eu tinha nessa época uns nove
anos de idade e meu pai me deixou olhar pela veneziana da janela ao lado.
Os animais latiam furiosamente e
tentavam atacar um outro do porte deles
. Parecia um outro cão que se
espremia conta a parede da casa. De
quando em vez ele investia valentemente contra os cachorros de tal maneira que
estes, embora fossem três não ousavam se aproximar.
Eu estava petrificado com aquela cena,
pois era inevitável que eu não estabelecesse uma analogia com o que ouvira no
rádio uma hora antes.
Finalmente o animal conseguiu
escapar em meio a matilha. Foi então que meu pai e meu avô viram que se tratava de um cachorro do mato, ou
lobo-guará, que naquela época ainda encontrava habitat nas matas da região.
Suas longas pernas e focinho comprido não deixavam margem a dúvidas. Saiu em louca disparada, deixou os
pastores para trás.
Excitadíssimo, voltei para a
cama, custei a pegar no sono, mas nunca deixei de ficar com o ouvido colado na
Tupi, às terças-feiras às 21 e trinta.
-Você não acredita no sobrenatural?
Então ouça !
Então ouça !
Sérgio Cabral, em seu excelente livro No tempo de Almirante, nos conta:
O incêndio da rádio Tupi destruiu, entre outras coisas um saxofone de Pixinguinha e uma
invenção de Almirante que já havia sido
introduzida na Nacional e que estava em pleno funcionamento na Tupi: era o
“Procurol” um dispositivo que permitia a todo funcionário atender o telefone,
em qualquer dependência da emissora.
Almirante espalhou pela casa uns quadros que projetavam números
correspondentes a cada funcionário. A
telefonista atendia o telefone e
imediatamente disparava o número chamado e todos os quadros se acendiam com
aquele número.
Era isso mesmo! Evidentemente que
somente os funcionários mais graduados ou da diretoria é que estavam incluídos
nesse esquema. Ao ver seu código no painel, bastava ir ao telefone mais próximo e atender.
Este sistema também, mais tarde
foi implantado na Nacional.
Quando cheguei, à emissora em setembro de
1952 o sistema funcionava perfeitamente e era uma solução para aqueles tempos
em que não havia celular.
Almirante! Um radialista extraordinário. Pensava em rádio 24 horas por dia.
Almirante, um radialista extraordinário. Pensava em rádio 24 horas por dia!
Atuou muito com Noel Rosa e é autor de importante livro sobre o Poeta da Vila.
Almirante, um radialista extraordinário. Pensava em rádio 24 horas por dia!
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