quinta-feira, 9 de julho de 2015

RÁDIO SEQUENCIA G-3: SUCESSO DA RADIO TUPI NOS ANOS 40.

 “Radio Sequência G-3”famoso programa de auditório da Tupi, brilhou no rádio carioca no final dos anos quarenta.Começava às 11 da manhã e pegava as pessoas na hora do almoço.Era um musical com variedades. Apresentava cenas humorísticas de radioteatro escritas por Barbosa Junior, Haroldo Barbosa,  Aloysio Silva Araújo, Silvino Neto, Manuel de Nóbrega, Max Nunes e outros. Nóbrega escrevia diariamente o quadro “Cadeira de Barbeiro”, que tinha a participação de Matinhos, o próprio  autor, Otávio França, Wellington Botelho e Abel Pêra, tio de Marília Pêra . (o pai de Marília era Manuel Pêra, ator de teatro,cinema e TV)                           
Cadeira de Barbeiro” viera de São Paulo, onde tinha a participação de Manuel da Nóbrega em 1944. Depois passou a ser apresentado no Rio, também. A ação se passava numa barbearia e rolavam aqueles papos de salão de barbeiro que a gente conhece. Mas tudo inspirado  nos costumes e  sobretudo na política do dia a dia.
O contrarregra tinha uma caixinha de fósforos que ele aproximava do microfone e raspava com um pente, caricaturando a navalha passando no rosto do freguês-vítima que era interpretado  por Otávio França.
Aloysio Silva Araujo veio de São Paulo
 para escrever Cadeira de Barbeiro

O jovem Paulo Gracindo, astro da Tupi nos anos 40

 Max Nunes  acadêmico de medicina:
  começou na Tupi carreira de sucesso

Silvino Neto brilhava na Sequencia G-3

José Mauro: um dos gênios do rádio. 
Autor da letra da música prefixo de Sequência G-3

Wellington Botelho apresentava o quadro o "amigo urso".

“SENTA, NÃO DEMORA”!   
Exclamava o barbeiro interpretado por Aloysio, num forte sotaque paulistano italianado. Ai rolavam  fatos engraçados com críticas à sociedade e a política mundial e nacional.
Em pleno governo da  ditadura de Getúlio Vargas e de Filinto Muller, chefe do temido Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP as piadinhas rendiam advertências e ameaças à direção da rádio. Depois, no governo Dutra, a repressão deu um refresco, mas a censura continuava presente.
Ao término de um desses programas, quando eu e minha mãe deixávamos a rádio, correu na rua o boato, segundo o qual,   Aloysio havia saído da rádio num camburão, preso pelo DIP.
Isso fazia aumentar mais ainda o sucesso do quadro e a audiência do programa.
Como toda a censura é burra, o público ria das piadas de duplo sentido cujo espírito os censores, muitas vezes, não logravam alcançar.
Filinto Muller, homem de confiança de Getúlio Vargas:
censura burra e cruel.
Abel Pêra  também interpretava um juiz em um tribunal onde era julgado um réu. Era a “Queixa do dia”, escrita pelo  jovem médico Max Nunes, que havia sido convidado por Gilberto Martins. Havia os advogados e as testemunhas. 
O infeliz réu era  gaiatamente interpretado pelo excelente Otávio França, que gritava seu bordão:
-Mas o que foi que eu fiz ? O que foi que eu fiz?     
                                                                                                                                                O quadro originava situações engraçadas .
 Era quando Abel Pêra batendo com seu martelo na mesa, bradava:
 -Silêncio ! Silêncio ! Caso contrário mandarei evacuar o ambiente! Oh! Me! !
O grande radioator Abel Pera: 
 o juiz  em A queixa do dia.
Havia também uma dupla de maliciosas fofoqueiras: Mariquinha e Maricota, vividas pelas atrizes Maria do Carmo e Luiza Nazaré. Por sinal, esta última manteve-se ativa no radioteatro da Tupi por  quase 40 anos.
 Rádio Seqüência G-3, um show alegre e movimentado em que a Tupi batia todos os recordes de audiência, era uma criação de Gilberto Martins, o mesmo de “Em busca da felicidade”, novela pioneira da qual falaremos mais adiante.
Entrava no ar ao som de uma música alegre e gostosa, acompanhada pelo auditório, autoria de José Mauro, cuja letra era um resumo do programa.
Que porção de atrações vem ouvir.
Vem ouvir anedota.
Assistir com prazer
Mariquinha e Maricota.
Tem gargalhada.
Tem a boa piada.
Tem também alegria.
Tem a queixa do dia.
Onze e meia acabou de bater.Bom humor vem chegando.
Pra tomar o comando.
Que sensação vai ser.
Aqui está outra vez a Sequência G-3.
Não deixe de ouvir, se quer divertir.
Com Pêra, Matinhos e França, vai rir.
De 5 em 5 minutos ouvindo...
A voz do Paulo Gracindo.
Entrava no palco, então, sob os aplausos em seu impecável terno branco, Gracindo determinando:
Minha senhora, largue as panelas e venha ouvir Rádio Sequência G-3!
 Com meus cinco anos de idade ficava tão maravilhado, que quando voltava para casa, ia para trás da porta da sala e  tentava repetir o programa imitando as vozes, cantando as músicas de sucesso e fazendo os ruídos da contrarregra. Eu  era muito pequeno,mas tal experiência foi tão forte, que quando completei treze anos, peguei  o  bonde Méier 99, saltei na praça Mauá e fui sozinho à Nacional fazer um teste.
Aprovado,  dois meses depois,  estreei no Clube Juvenil Toddy,programa dirigido pela professora Maria de Lourdes Alves e  que ia ao ar às 5ª.s feiras às quatro e meia da tarde.Me mantive na rádio durante 10 anos.   

Roberto, o autor do blog aos 12 anos.

Voltando à “Sequencia”; foi em 1947 que Paulo Gracindo  assumiu o comando do programa. Já então ele era uma estrela que brilhava no radioteatro do “Cacique do ar”,tanto que  assinou um  contrato milionário com a emissora, no qual ele tinha participação na bilheteria,  procedimento raro, na época.
No dia 12 de abril de 1947 a revista “O Cruzeiro” assim noticiava na seção “Background” assinada por Fernando Lobo, pai do cantor Edu Lobo e  produtor de grandes sucessos do rádio da época.
O Cruzeiro: a maior revista brasileira da época
Fernando Lobo, radialista e cronista de prestígio.

“Paulo Gracindo  assumiu a direção de Rádio Seqüência G-3, programa anteriormente criado por Gilberto Martins.
O auditório da Tupi ficou abarrotado na primeira segunda-feira em que o galã apareceu comandando o grande show.
A praça em frente ao prédio recebeu uma multidão de mais de quinze mil pessoas que não puderam entrar.
Paulo  Gracindo é bilheteria e da bilheteria ele tem 25 por cento”.
 Não há a menor sombra de  dúvida: a visão da Rádio Sequencia G- 3 despertou em mim uma vocação tão forte, que o rádio jamais deixou de fazer parte de minha vida.
Antes de animar a Rádio Sequencia G-3 Paulo Gracindo já comandara o programa de auditório aos domingos  no final da tarde, após a transmissão do futebol.
Os jogos, na era pré-Maracanã, começavam às 15 horas e terminavam às 17 horas, porque a iluminação dos estádios era precária.
O Programa Paulo Gracindo era um típico programa de auditório com artistas, prêmios, brincadeiras e muita música.
O programa se aproveitava da  audiência do futebol e como tudo que Gracindo fazia , virava sucesso.
Um número da revista Carioca do ano de 1946 estampa uma foto do artista ao microfone da Tupi e a legenda :

Paulo Gracindo é hoje um dos  grandes nomes do radioteatro brasileiro. Sua atuação nesse gênero na PRG-3  o fez popular a valer e seu programa  domingueiro, ao qual empresta seu próprio nome, dá-lhe  ainda projeção maior.
Paulo Gracindo, ao microfone da Tupi é o que nos mostra a gravura à esquerda  ao alto desta página.

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