sexta-feira, 23 de maio de 2014

COMO ERA A MAYRINK VEIGA A NOITE.




 Em 1950 Lourival Marques assumiu a direção artística da PRA-9 e contratou o novelista Edgard G.Alves para escrever novelas. Ele escrevia duas novelas diárias, simultaneamente, fato muito comum  entre os novelistas da época.
Outro que escrevia muito para a Mayrink Veiga era Raimundo Lopes. Todas as sextas-feiras ás  10  da noite ia ao ar o Teatro Sertanejo. Eram histórias rurais focalizando a vida interiorana, muito dentro da realidade do Brasil dos anos 40 e 50- um país extremamente rural. Eram também peças completas, muito bonitas, bem feitas, com  sonoplastia e efeitos. O estúdio da Mayrink não era exclusivo para  radioteatro, porém o produto final era bom. Destaque para os atores Selma Lopes, Chico Anysio, Germano, Nancy Wanderley e outros, que embora também  participassem de programas humorísticos, eram extremamente versáteis e faziam belo trabalho.
E a Mayrink não ficou com apenas Raimundo Lopes. Ela foi buscar um dos novelistas que estavam mais em evidência no rádio carioca: Amaral Gurgel.
O Jornal  “A Noite” em sua seção “A Noite no rádio” publicou em sua edição do dia 11 de dezembro de 1956 a seguinte nota.

O grande  produtor Amaral Gurgel está realizando  bonitos programas para a série “Lendas e verdades de todo o mundo”, todas as 5ªs feiras às 22 horas na Rádio Mayrink Veiga.
Esse programa conta com a participação do grande elenco de radioteatro da PRA-9.


Observe-se a interessante consolidação do radioteatro do horário das 22 horas na Mayrink o que  foi mantido durante alguns anos.
Mas a radiodramarturgia não era propriamente o maior investimento da programação noturna da PRA-9. Ela contratou os melhores comediantes cariocas, outros que vieram de São Paulo e garimpou novos jovens talentos do humor. Chamou produtores de nome, que vieram da Tupi e lançou uma linha de programas noturnos de humor que marcaram época no rádio carioca. Vamos ver alguns deles.

UMA MISS QUASE MORRE EM QUEDA DE AVIÃO !

Foi assim que por volta do ano de 1953, a Rádio Mayrink Veiga produziu uma guinada no rádio carioca. Fazendo parte das Organizações Vitor Costa ela contratou os maiores astros do humor  no Rio de Janeiro, como dissemos. Para lá foram também produtores já consagrados como Haroldo Barbosa e Antonio Maria e outros que estava começando entre eles um jovem e talentoso produtor: Sérgio Porto, o famoso Stanislau Ponte Preta. Pescou também atores e locutores de alto nível entre eles um monstro sagrado chamado Luiz Jatobá.


ANTONIO MARIA: DA TUPI PARA A MAYRINK

CHICO ANYSIO

ROSE RONDELLI, MISS CAMPEONATO E UMA DAS CERTINHAS DO LALAU: ESCAPOU DO ACIDENTE DE AVIÃO


HAROLDO BARBOSA VEIO DA TUPI PARA A MAYRINK

SERGIO PORTO, O STANISLAU PONTE PRETA:
  DO JORNALISMO, ESTOUROU NA MAYRINK NOS ANOS 50.

E dois jovens locutores que também surgiam: Carlos Henrique e Cid Moreira. Conseguiu patrocinadores para todos os horários noturnos e  lançou uma linha de programas humorísticos que roubou audiência da Tupi e da Nacional numa faixa de horário que ia de oito às dez da noite, de segunda a sexta –feira.
Dois humoristas se destacavam na Mayrink Veiga nesse período: Zé Trindade e Chico Anísio, sendo que este passou também a escrever quadros humorísticos. Foi na Mayrink que surgiu um quadro em “A cidade se diverte”: a “Escolinha do professor Raimundo”.
Havia a boazuda dona Zezé, Nanci Wanderley; um mineirinho meio caído vivido por Antonio Carlos, um aluno muito burro com ares de sofredor interpretado João Fernandes e um espertalhão: Zé Trindade.

LUIZ JATOBÁ E WALTER DAVILA


JATOBÁ:  DA RADIO JB PARA OS ESTADOS UNIDOS.VOLTOU AO BRASIL PARA A MAYRINK.
SILVIO CALDAS, O CABOCLINHO QUERIDO E CESAR LADEIRA


CARLOS HENRIQUE:  DUPLA COM O JOVEM CID MOREIRA NAS NOITES DA MAYRINK.

CID MOREIRA: INICIO DE CARREIRA NA MAYRINK NOTURNA

ZÉ TRINDADE DESPONTOU NA PRA-9 NO ANOS 50.

Quando “A cidade se diverte” saiu da Tupi e foi para a Mayrink Veiga, levou também “Cazuza,o calouro que já vem gongado” juntamente com outros personagens e intérpretes.
As segundas-feiras era dia de “Miss Campeonato”, uma sátira ao futebol e que levava torcidas ao auditório para eleger a miss mais bonita. Quem assinava o programa era Sérgio Porto e parece-me que foi daí  que surgiriam pouco depois as “Certinhas do Stanislau” que tanto furor provocaram naqueles dias.
Destaque em “Miss Campeonato” era a vedete e  mais tarde radioatriz Rose  Rondelli,que depois se casou com Chico Anísio e tiveram dois filhos,Nizo Neto e Ricardo.
Mas, Rose, na ocasião, passou um tremendo susto, quando o avião  da Vasp em que  viajava com a mãe caiu nas águas da Guanabara, logo após decolar.
Vamos relembrar o que a edição de O Globo de  31 de dezembro de 1958. publicou.

Irremediavelmente afetado pelo incêndio que lavrou num de seus motores, um Scandia da Vasp mergulhou ontem na Baía de  Guanabara , pouco depois de ter decolado do aeroporto Santos Dumont rumo a São Paulo, com 33 passageiros e quatro tripulantes a bordo, num dos mais dramáticos desastres aéreos de que se tem notícia nesta capital. Ainda não se sabe o número exato de mortes. Até o fechamento desta edição tinham sido recolhidos cinco cadáveres ao necrotério do IML. Entre os sobreviventes estão a vedete Rose Rondelli e sua mãe.
A tragédia, segundo relato das poucas pessoas que a testemunharam em todos os lances, consumou-se de repente. O avião movimentava-se normalmente e, quando já perdera contato com o solo, na altura dos 800 metros da pista, notou-se a fumaceira que saia do motor esquerdo, logo seguida de grossas línguas de fogo. Os que  estavam no Santos Dumont  viveram instantes profundamente dramáticos, pois já não acreditavam que o piloto, por mais habilidoso que fosse, conseguisse chegar de volta à pista, como parecia ser o seu propósito. E esses prognósticos infelizmente se confirmaram. A aeronave girou em torno do próprio leme, tombou pesadamente para a esquerda e caiu no mar.

Houve grande comoção quando se noticiou que a Miss Campeonato estava entre os passageiros. Somente quando as rádios  esclareceram que Rose Rondelli havia escapado com vida é que os admiradores ficaram aliviados.
Rose Rondelli também era muito conhecida em São Paulo, onde estrelava Miss Campeonato para a TV Paulista.

Mas voltando a Sérgio Porto.
Ele também assinava com Haroldo Barbosa o sucesso que foi “Levertimentos”.
A famosa coluna de rádio de O GLOBO “O ouvinte desconhecido” assim publicou em 12 de abril de 1957:
‘A  rádio Mayrink Veiga, na próxima terça-feira, vai festejar o terceiro aniversário do programa humorístico “Levertimentos” escrito por Haroldo Barbosa e Sérgio Porto e interpretado pelo melhor cast cômico do rádio brasileiro”.
Não poderíamos deixar de falar de um programa humorístico, que se não era capaz de arrancar gargalhadas dos ouvintes e assistentes do auditório, fazia um tipo de humor inteligente, criativo e eu diria fleumático.
Chamava-se, “Vai dar Valsa”. Com um texto muito interessante  Haroldo Barbosa, pegava um tema ou uma história e em vinte e cinco minutos o analisava sob diversos ângulos. Grande parte do programa recaia sobre a  narração  a cargo do genial Luiz Jatobá.  As falas do narrador eram entremeadas com participações rápidas do elenco. Todas as vezes que entrava o narrador, entrava junto um piano,ao vivo, tocando  notas em ritmo de valsa. Lembro-me de um programa em que Barbosa focalizou o que pode acontecer com amadores que resolvem preparar uma pescaria numa desabitada praia da Barra da Tijuca do início dos anos 50.  Não se esquecem de nada, inclusive comida e cachaça. “Na verdade o objetivo era encher a cara e a pescaria era apenas um remoto detalhe” diz o narrador. Num velho Chevrolet 39 eles partem para a aventura. Acendem o lampião,armam a barraca de lona, mas começa a chover.E tome cachaça. È quando levam um grande susto com um enorme siri, que se alojara na barraca. E tome cachaça...Após expulsarem o siri aos berros, eles tentam se abrigar da chuva e do frio. Como a chuva melhorasse, eles resolvem, já completamente tontos, retomar os molinetes e reiniciar a pescaria. Mas quem está pescando com o molinete deles: o siri !
Mediante  berros e ameaças o siri interrompe a pescaria e se afasta displicentemente. E as vicissitudes prosseguem. Tudo que eles decidissem fazer o siri tomava a frente.
Exaustos, tocados e sem pescar nada, resolvem bater  em retirada. Mas, para desespero do grupo, o carro não pega de jeito nenhum. Não têm uma ferramenta, uma chave de fenda que seja,  desesperados, sentam-se no chão, arrependidos do programa furado. Eis que, para surpresa do grupo, quem aparece para consertar o carro? O siri!
Nesta história cheia de surrealismo, o siri conserta o carro, vê o carro partir e ainda acena se despedindo.
Após rápidas considerações sobre o perigo de se promover certos programas,à semelhança da pescaria frustrada de nossos heróis, o narrador adverte:
“ Você deve planejar tudo e pensar bem no que pretende fazer. Caso contrário, certamente ...
Ao que um coro exclamava:
Vai dar valsa !
E ai a orquestra, que permanecera silenciosa durante todo o programa, atacava uma valsa que era o  sufixo do programa.
A propósito desse programa assim se expressou a Revista do Rádio de abril de 1958.

O programa se fez popular em face dos temas que Haroldo Barbosa escolhe.: todos quase sempre envolvendo o próprio ouvinte, participante indireto das situações pitorescas que ali se fazem pródigas. A exemplo do que aconteceu a um cidadão que levou a família para um ´piquenique na Ilha do Governador. E sofreu como tambor em dia de parada. Francisco Anísio fez bem o chefe da família (mulher e quatro filhos) que sofre com a esposa (Ema D’Àvila) e a garotada (Nanci Vanderlei, Antonio José,Jaime Filho e Selma Lopes, todos em ótimo nível) em meio às peripécias de quem enfrenta um domingo ensolarado, de maiô e tudo, sem contar com o resto. Narração convincente de Sérgio de Oliveira. Parte comercial coerente.

 OS PROGRAMAS TINHAM UM PREFIXO MUSICAL ESPECIAL.
O humorístico de Haroldo Barbosa “A cidade se diverte” entrava no  ar com uma composição que dizia assim:

A cidade se diverte,
Vamos todos gargalhar.
Faz de conta que a tristeza
Foi morar noutro lugar.
A cidade se diverte,
Quá, quá, quá.
Faz de conta que a tristeza,
Foi morar noutro lugar!

Em rua da alegria, de Antonio Maria, o programa começava assim nas noites de terças-feiras na Mayrink Veiga:

Essa rua não é minha, não é sua.
Essa rua é de todos nós.
Tem gritos e canções.
Tem risos, emoções.
Vamos cantar a uma voz.
Alegria, alegria da rua.
Essa rua é de todos nós.

Era uma marchinha alegre e gostosa que o auditório lotado acompanhava junto ao ritmo de palmas.

A frente da orquestra estava o maestro Peruzzi e o coro era composto pelos próprios atores.

A programação noturna da Mayrink Veiga tinha também musicais com Ângela Maria, Luiz Gonzaga, Silvio Caldas  e outros astros.
O chamado horário nobre ia de 20 ás 23 horas. Eram programas caros com bons patrocinadores, grande elenco e que marcaram época no velho rádio. Todas as emissoras se esmeravam em produzir  programas para o horário nobre. Mas a Mayrink Veiga, a Tupi e a Nacional eram as campeãs de audiência.


3 comentários:

  1. tenho muita saudade dos programas noturnos da mayrink veiga,alem do hoje e dia de rock com Jair de taumaturgo

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  2. BONS TEMPOS DOS PROGRAMAS HUMORÍSITICOS DA RÁDIO MAYRINK VEIGA COMO POR EXEMPLO: Mis Campeonato, vai da Valsa, Alegria da Rua, Levertimentos, Boate do Ali-Babá, Vai Levando, Me Da´meu Boné entre outros.

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