O ouvinte de rádio só conta com o som para elaborar em
sua mente o cenário e os personagens que contarão a história
elaborada pelo novelista.
Três elementos são primordiais: a interpretação dos atores, a
música para criar o clima e os ruídos. Em rádio, o profissional que
produz os ruídos chama-se contraregra.
Apesar dos discos de ruídos serem bastante utilizados, muitos
ruídos, chamados de efeitos sonoros ou efeitos especiais, eram
produzidos nos próprios estúdios, usando-se simulações.
Por exemplo, cascas de coco da baía quando batiam numa mesa
ou num pouco de terra, reproduziam o galope ou o tropel de
cavalos.
Click no link abaixo e veja Gerdal dos Santos, hoje, mostrando como eram produzidos alguns desses efeitos.
http://www.youtube.com/watch?v=VDZbL_sUyCU
Um ouvinte escreveu para a rádio, certa vez, para saber se havia
mesmo um cavalo no estúdio andando em volta do microfone,
revela o contrarregra Geraldo José
Agitando-se com as mãos água em um tanque podia se
reproduzir o murmúrio de uma fonte ou correnteza suave de um
rio.
Uma folha de papel ou plástico transparente, amassada
continuamente junto ao microfone, imitava o som de um
devastador incêndio.
Um lápis ou uma caneta que rolava entre as duas mãos, batendo
num anel ou aliança no dedo, produzia o tic-tac de um relógio.
Nas horas de folga os contrarregras ficavam empenhados em
inventar fontes de ruídos,a partir de objetos
que nada tinham a ver com tais ruídos. O fundamental era o
produto final: o som que passasse para o ouvinte a emoção que os
realizadores queriam que o ouvinte sentisse.
Geraldo José, por exemplo, revelou-me que construiu uma linda
caixinha de madeira com um pêndulo que imitava perfeitamente o
tic-tac de um relógio de parede daqueles antigos.
Eu, nas horas vagas, ficava bolando traquitanas que imitassem o
ruído real, para usá-las nas novelas.
O grande mestre nisso foi Édmo do Vale, em minha opinião o
rei dos contrarregras, o pioneiro. Possuía uma coleção invejável
de artefatos produtores de ruídos especiais. Quando a Rádio
Nacional investiu pesado no radioteatro, chegando a construir
um estúdio só para as novelas, Édmo reuniu o que tinha, juntou
com o que a Nacional possuía e levou tudo para esse estúdio
de radioteatro. Édmo do Vale treinava outros jovens no mesmo
ofício. Um deles foi Geraldo José do qual passo a falar agora, pois
em minha opinião é o rei dos efeitos especiais.
GERALDO JOSÉ, O REI DOS EFEITOS ESPECIAIS.
Era adolescente quando foi para a Nacional como contínuo.
Sagaz, logo juntou-se a Édmo e começou a ver como trabalhava
um contrarregra de novela.Depois de um período de experiência,
quando ia pedir que assinassem sua carteira profissional, Paulo
Gracindo buzinou nos seus ouvidos: Fica quieto: vamos todos
para a Tupi e você vai conosco!
E lá se foi o garoto e mais uma leva de astros que a Tupi fisgava
da Nacional: Paulo Roberto, Paulo Tapajós, José Mauro,Max
Nunes, Almirante e outros.Geraldo servia cafezinho na redação
onde trabalhavam os cobras. Gracindo de vez em quando
interrompia o trabalho e gritava:
Geraldo, café! Meu apelido ficou sendo Geraldo Café. Um
dia o Max Nunes me chamou e perguntou se eu não gostaria
de estudar. Disse que sim, mas não tinha dinheiro e o horário
da escola pública coincidia com meu trabalho. O Max então
mandou que eu me matriculasse no colégio Piedade e pagou
meus estudos por todo o curso ginasial.Não sei se ele ainda se
lembra disso.Conta Geraldo emocionado.
Quando Paulo Gracindo descobriu que Orlando Drumond levava
jeito para radioator, Drumond largou a contrarregra, sendo
substituído por Geraldo José que já estagiava na função.
Ele ficou 20 anos na Tupi. Quando a TV Globo foi fundada
em 1965, foi contratado com um salário quatro vezes maior e
para lá levou toda a sua experiência de radioteatro. Montou um
departamento de efeitos sonoros e as novelas passaram a sofrer
um tratamento especial.
"Antes o som ambiente era precário, especialmente nas
externas.Passei a reproduzir sons ambientes que eram
acrescentados à trilha de áudio depois que o capítulo era
editado.Antigamente, numa cena de luta, por exemplo,os ruídos eram fracos e então o sonoplasta colocava uma música agitada que
cobria tudo.Passei a incluir ruídos adicionais que tornavam a
cena muito mais realista. Hoje a Globo tem mais de 16 contraregras
produzindo efeitos para suas novelas".
Um bom exemplo da linguagem radiofônica das radionovelas
aprimorando a teledramaturgia.E Geraldo levou sua experiência
também para o cinema. Em seu currículo constam quatro centenas
de filmes brasileiros. Nos créditos está lá: Efeitos especiais de
Geraldo José.
Geraldo José com o ator Paulo Gracindo nos anos 50 e hoje com Roberto Salvador.
Os chamados programas montados eram grandes produções com cantores orquestra, coro e elenco
de radioteatro. Aqui vemos Itala Ferreira, (atriz) Dircinha, Linda Batista, Vera Lúcia (cantoras). Germano e Milton Legey (atores) no palco da Nacional.
Todo estudante de cinema deveria de ter Geraldo Jose como ponto inicial da sonoplastia no Brasil. Muitos não o conhecem, Lamentável.
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