terça-feira, 17 de setembro de 2013

GAFES HISTÓRICAS NO VELHO RÁDIO.


Sempre é oportuno ressaltar que a programação ia ao ar toda ao vivo. Os profissionais eram muito bons, mas  ninguém estava livre de uma falha. Continuamos a desfilar essas radiocassetadas para vocês. como esta, por exemplo, que fala do ... 

MICROFONE DELIVERY

O veterano e excelente casal de atores Elza Gomes e André Villon, vieram do teatro e portanto, não possuíam experiência em rádio. Mas a convite de Vitor Costa concordaram em atuar no radioteatro. E ambos saíram-se muito bem, interpretando personagens memoráveis nas radionovelas da PRE-8. Porém ficavam muito nervosos na hora de entrar no ar.
Estou acostumado a atuar em um palco para um público que está diante de mim. Aqui tenho que atuar para um microfone, frio e imóvel, dizia André.
Mas o talento de Elza e André  era tamanho que eles se superaram. Porém, não sem nervosismo.
Uma noite, André Villon interpretava uma novela e  tinha que ler um imenso texto. E ele lia muito bem.
No decorrer da cena, Floriano, atendendo a sinais do operador, gesticulou para o ator, a fim de que se aproximasse mais do microfone. Com o rabo dos olhos, André, interpretou erroneamente os gestos do diretor  e ao invés de se aproximar do microfone, pegou-o e com dificuldade, já que tinha uma das mãos ocupadas pelo script, saiu carregando o pesado pedestal pelo estúdio,tentando levá-lo até onde estava Floriano. Isso sem interromper a fala! Detalhe, o microfone mais o pedestal com sua base pesam cerca de dez quilos.
A sorte é que alguém percebeu o que estava ocorrendo e salvou a situação.
André Villon, aqui, ao lado do diretor George Morrissy,
 viveu as radiocassetadas aqui relembradas. 

CAPANGAS CAPENGAS.

Mais uma de trocar letras.
Esta aconteceu durante a encenação de um dos capítulos de Jerônimo. André Villon fazia o papel de um poderoso coronel do sertão, que ameaçadoramente deveria gritar para o nosso  herói:
Jerônimo,você não vai ficar livre de mim! Vou mandar meus capangas atrás de você!
Mas a ameaça de Villon saiu assim:
Jerônimo,você não vai ficar livre de mim. Vou mandar meus capengas atrás de você!
Milton Rangel, tentando consertar a cena ainda perguntou, do alto de seu cavalo:
Você vai mandar o quê???
E Villon, sem perceber que havia errado a palavra:
Você ouviu muito bem. Vou mandar meus capengas atrás de você.
O mais curioso foi que, anos depois, o autor Moisés Veltman acabou criando um vilão, inimigo de Jerônimo chamado Capenga.
Por sinal, este foi o último inimigo de Jerônimo. Pois a série acabou aí. E quem interpretou o Capenga foi Luís Manuel.

E por falar em Luís Manoel, vou contar outra vivida por ele.Vez por outra as novelas utilizavam murmúrios, burburinhos de pessoas falando em fundo. Eram clássicas as cenas de tribunal em que vez por outra o público presente se manifestava fazendo comentários que saiam como murmúrios. Nesses momentos, os atores presentes no estúdio, ao sinal do diretor, começavam a murmurar. Para ficar bem natural, os atores compunham frases a meia voz. Em casa o que o ouvinte percebia eram murmúrios. Tudo bem. De farra, alguns radioatores, geralmente os mais jovens e sacanas aproveitavam e diziam asneiras a meia voz, tipo:
Você quer beijar minha barriga?                                                 Por favor, senta no meu pau! Quando acabar a novela paga meu café seu viado?
E outras asneiras que misturadas não dava para perceber o teor.
Um dia, como o capítulo seria previamente gravado, Luís Manoel, que já era adulto e outros que gostavam de molecagem, resolveram pregar uma peça no companheiro Antonio Laio.
Eis a história contada pelo próprio Luís: combinamos que no momento do vozerio, falaríamos as bobagens, mas a um sinal meu, todos se calariam subitamente. Antonio Laio que também gostava de falar sacanagens nessa hora, não sabia da armadilha. O capítulo seguia normalmente. Chegada a hora do vozerio, começamos,então a falar sacanagens. De repente paramos e deixamos o Laio sozinho. Durou apenas três segundos mas  deu para ouvir o Laio dizer claramente:
Por favor,aperta meu rabo!
Bem só fizemos isso porque era gravado, claro!

EMPADINHAS AO VIVO.

Esta me foi contada por Carmem Sheila.
Na Nacional havia um casal que trabalhava no setor administrativo. Para reforçar o orçamento,marido e mulher decidiram que ele venderia as empadinhas deliciosas que a mulher fazia.
Assim, o marido as acondicionava cuidadosamente, numa caixa de papelão,dessas que embalam camisas de homem, e percorria os setores da emissora, vendendo os salgadinhos que eram imediatamente consumidos. Era fazer e vender.
Uma tarde, no estúdio Vitor Costa, uma novela transcorria normalmente, numa cena romântica. Eis que a porta do estúdio se abre abruptamente e ouve-se a voz estridente do incauto vendedor:
Vai empadinha, ai ???
Carmem Sheila não se lembra do desfecho do incidente, mas a partir de então, jamais empadinhas foram vendidas  nas proximidades do estúdio de radioteatro.

O FAMIGERADO DEDOBOL NO TERRAÇO DO PRÉDIO.
UM SAPATO VOA NO MEIO DA TARDE SOBRE OS CÉUS DA PRAÇA MAUÁ

A mesma Carmem Sheila me relatou esta também.
Entre um programa e outro o artista tinha, muitas vezes, intervalos de horas. Para matar o tempo, os homens descobriram um jogo que consistia em uma tábua de madeira com uns preguinhos que representavam os jogadores de futebol dispostos em campo. Havia também uma bolinha feita a mão, de papel laminado. O jogo consistia no seguinte: os dois adversários iam dando petelecos na bolinha para ver quem chegava primeiro ao gol. Dava gosto ver os marmanjos disputarem.  Havia até torcida e um campeonato!A jovem Juraciara Diácovo era uma das campeões do dedobol.As partidas tinham lugar sobre a mureta do terraço do prédio. Certa vez a novela ia entrar no ar e nada dos atores aparecerem no estúdio. Foi preciso que alguém, desesperado, fosse chamar o elenco lá fora.
Quando soube disso, Floriano Faissal, possesso, mandou quebrar a tal da tábua, não sem ameaças de punição.
Em vão:meses depois, lá estava o dedobol de volta.
Esta me foi narrada por minha querida amiga Juraciara.
Os homens fabricavam bola de meia e jogavam no terraço, também para passar o tempo. Certa vez, o Carlos Marques (radioator) ganhou de presente de “seu”Floriano um vistoso par de sapatos.No dia em que estreava os sapatos, passou pelo terraço e viu a turma batendo bola. Não resistiu e  entrou no jogo. Oh! Decepção: logo no primeiro lance ao tentar um chute um dos sapatos se soltou do pé e voando pela mureta foi cair na praça Mauá 22 andares a baixo.
Coube a Carlos Marques ter que passar o dia todo atuando nas novelas com um pé descalço e outro calçado. Sorte que não era programa de auditório.

A MULHER QUE COMEU SONHOS.
Na Tupi dos anos 40 e 50 havia uma excelente radioatriz chamada Amélia Simone, vinda de São Paulo, a estrelinha das novelas da PRG-3.Amélia Simone era tia de Mildred dos Santos, também radioatriz.Esta é a mãe de Galvão Bueno. Logo, Amélia Simone é também tia do narrador.Sobre Mildred falaremos mais adiante. Por hora, diríamos que uma das novelas de sucesso estrelada por Amélia Simone chamava-se  A mulher dos meus sonhos.Acontece que a turma da Tupi, de brincadeira, chamava a novela de A mulher comeu sonhos. Alguns vaticinavam que  o locutor,por causa dessa gozação, ia acabar anunciando ao microfone o nome errado. Não deu outra. Uma tarde o subconsciente do locutor virou consciente e ele anunciou solenemente:
Pela Tupi do Rio, no ar ...A mulher comeu sonhos!

Ao narrarmos estas radiocassetadas pode ficar na cabeça do leitor que o rádio na época era um sem-fim de erros. Acontece que 99 por cento da programação era ao vivo. Inclusive os comerciais. O ritmo  de trabalho era frenético, uma programação era seguida de outra e embora os  profissionais fossem de altíssimo nível, falhas eram inevitáveis. E as que aconteciam e ganhavam cunho hilário entravam  para a história.



Certa noite de domingo o programa “Nada além de dois minutos” ia ao ar com seu habitual “timing”pela Nacional. Mais adiante falaremos um pouco desta produção radiofônica de Paulo Roberto e que se constituiria em um referencial na linguagem radiofônica.
Pois bem, o médico-radialista conduzia o programa quando de súbito parou! Fez um silêncio de  5 segundos que pareceram uma eternidade! Paulo Roberto retoma o fôlego e diz angustiado:
-Floriano, (Floriano Faissal o diretor do programa) perdi a página ! Não sei continuar!
Não havia como consertar. O programa era ao vivo, diante de um elenco, uma grande orquestra e um auditório lotado. Rapidamente, Floriano que acompanhava atento com sua cópia, correu para o lado de Paulo e indicou-lhe no roteiro, colocando o dedo a fala .
O narrador então retomou o texto e tudo seguiu normalmente sob os aplausos do auditório. Naturalmente Paulo Roberto havia colocado suas páginas fora de ordem após o ensaio e se perdeu no meio do programa. Cavacos do ofício. Um incidente que foi prontamente corrigido graças ao profissionalismo de Floriano Faissal.
Paulo Roberto escrevia e apresentava o Nada Além de Dois Minutos.

FERNANDA MONTENEGRO E JULIO CESAR COSTEIRA, EXEMPLO DE PROFISSIONALISMO.


Allan Lima, radioator da  MEC, grande diretor de radioteatro e dublagem conta que certa vez o galã Júlio César Costeira fazia uma cena de amor com Fernanda Montenegro, num radioteatro da Ministério da Educação, quando o “girafa”, aquele microfone  que fica suspenso no estúdio, começou a descer lentamente. Naturalmente devido a algum para-fuso mal apertado. Só havia os dois no estúdio e o operador, do outro lado do vidro, ocupado com o fundo  musical não podia fazer nada. E o “girafa” descendo...  Júlio César e Fernanda deram uma  grande demonstração de profissionalismo: não hesitaram e foram também se abaixando e quando a cena terminou estavam, ambos, de cócoras, quase  de gatinhas. Mas fizeram a cena  inteira !

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