Sempre é oportuno ressaltar que a programação ia ao ar toda ao vivo. Os profissionais eram muito bons, mas ninguém estava livre de uma falha. Continuamos a desfilar essas radiocassetadas para vocês. como esta, por exemplo, que fala do ...
MICROFONE DELIVERY
O veterano e
excelente casal de atores Elza Gomes e André Villon, vieram do teatro e
portanto, não possuíam experiência em rádio. Mas a convite de Vitor Costa
concordaram em atuar no radioteatro. E ambos saíram-se muito bem, interpretando
personagens memoráveis nas radionovelas da PRE-8. Porém ficavam muito nervosos
na hora de entrar no ar.
Estou acostumado a atuar em um palco para um público
que está diante de mim. Aqui tenho que atuar para um microfone, frio e imóvel, dizia André.
Mas o talento de
Elza e André era tamanho que eles se
superaram. Porém, não sem nervosismo.
Uma noite, André
Villon interpretava uma novela e tinha
que ler um imenso texto. E ele lia muito bem.
No decorrer da
cena, Floriano, atendendo a sinais do operador, gesticulou para o ator, a fim
de que se aproximasse mais do microfone. Com o rabo dos olhos, André,
interpretou erroneamente os gestos do diretor
e ao invés de se aproximar do microfone, pegou-o e com dificuldade, já
que tinha uma das mãos ocupadas pelo script, saiu carregando o pesado pedestal
pelo estúdio,tentando levá-lo até onde estava Floriano. Isso sem interromper a
fala! Detalhe, o microfone mais o pedestal com sua base pesam cerca de dez
quilos.
A sorte é que
alguém percebeu o que estava ocorrendo e salvou a situação.
CAPANGAS CAPENGAS.
André Villon, aqui, ao lado do diretor George Morrissy,
viveu as radiocassetadas aqui relembradas.
Mais uma de
trocar letras.
Esta aconteceu
durante a encenação de um dos capítulos de Jerônimo. André Villon fazia o papel
de um poderoso coronel do sertão, que ameaçadoramente deveria gritar para o
nosso herói:
Jerônimo,você não vai ficar livre de mim! Vou mandar
meus capangas atrás de você!
Mas a ameaça de
Villon saiu assim:
Jerônimo,você não vai ficar livre de mim. Vou mandar
meus capengas atrás de você!
Milton Rangel,
tentando consertar a cena ainda perguntou, do alto de seu cavalo:
Você vai mandar o quê???
E Villon, sem
perceber que havia errado a palavra:
Você ouviu muito bem. Vou mandar meus capengas atrás
de você.
O mais curioso
foi que, anos depois, o autor Moisés Veltman acabou criando um vilão, inimigo
de Jerônimo chamado Capenga.
Por sinal, este
foi o último inimigo de Jerônimo. Pois a série acabou aí. E quem interpretou o Capenga foi Luís Manuel.
E por falar em
Luís Manoel, vou contar outra vivida por ele.Vez por outra as novelas
utilizavam murmúrios, burburinhos de pessoas falando em fundo. Eram clássicas
as cenas de tribunal em que vez por outra o público presente se manifestava
fazendo comentários que saiam como murmúrios. Nesses momentos, os atores
presentes no estúdio, ao sinal do diretor, começavam a murmurar. Para ficar bem
natural, os atores compunham frases a meia voz. Em casa o que o ouvinte
percebia eram murmúrios. Tudo bem. De farra, alguns radioatores, geralmente os
mais jovens e sacanas aproveitavam e diziam asneiras a meia voz, tipo:
Você quer beijar minha barriga?
Por favor, senta no meu pau! Quando acabar a novela paga meu café seu
viado?
E outras
asneiras que misturadas não dava para perceber o teor.
Um dia, como o
capítulo seria previamente gravado, Luís Manoel, que já era adulto e outros que
gostavam de molecagem, resolveram pregar uma peça no companheiro Antonio Laio.
Eis a história
contada pelo próprio Luís: combinamos que
no momento do vozerio, falaríamos as bobagens, mas a um sinal meu, todos se
calariam subitamente. Antonio Laio que também gostava de falar sacanagens nessa
hora, não sabia da armadilha. O capítulo seguia normalmente. Chegada a hora do
vozerio, começamos,então a falar sacanagens. De repente paramos e deixamos o
Laio sozinho. Durou apenas três segundos mas
deu para ouvir o Laio dizer claramente:
Por favor,aperta meu rabo!
Bem só fizemos isso porque era gravado, claro!
EMPADINHAS AO VIVO.
Esta me foi
contada por Carmem Sheila.
Na Nacional
havia um casal que trabalhava no setor administrativo. Para reforçar o
orçamento,marido e mulher decidiram que ele venderia as empadinhas deliciosas
que a mulher fazia.
Assim, o marido
as acondicionava cuidadosamente, numa caixa de papelão,dessas que embalam
camisas de homem, e percorria os setores da emissora, vendendo os salgadinhos
que eram imediatamente consumidos. Era fazer e vender.
Uma tarde, no
estúdio Vitor Costa, uma novela transcorria normalmente, numa cena romântica.
Eis que a porta do estúdio se abre abruptamente e ouve-se a voz estridente do
incauto vendedor:
Vai empadinha, ai ???
Carmem Sheila
não se lembra do desfecho do incidente, mas a partir de então, jamais
empadinhas foram vendidas nas
proximidades do estúdio de radioteatro.
O FAMIGERADO
DEDOBOL NO TERRAÇO DO PRÉDIO.
UM SAPATO VOA NO
MEIO DA TARDE SOBRE OS CÉUS DA PRAÇA MAUÁ
A mesma Carmem
Sheila me relatou esta também.
Entre um
programa e outro o artista tinha, muitas vezes, intervalos de horas. Para matar
o tempo, os homens descobriram um jogo que consistia em uma tábua de madeira
com uns preguinhos que representavam os jogadores de futebol dispostos em
campo. Havia também uma bolinha feita a mão, de papel laminado. O jogo
consistia no seguinte: os dois adversários iam dando petelecos na bolinha para
ver quem chegava primeiro ao gol. Dava gosto ver os marmanjos disputarem. Havia até torcida e um campeonato!A jovem
Juraciara Diácovo era uma das campeões do dedobol.As partidas tinham lugar
sobre a mureta do terraço do prédio. Certa vez a novela ia entrar no ar e nada
dos atores aparecerem no estúdio. Foi preciso que alguém, desesperado, fosse
chamar o elenco lá fora.
Quando soube disso, Floriano Faissal,
possesso, mandou quebrar a tal da tábua, não sem ameaças de punição.
Em vão:meses
depois, lá estava o dedobol de volta.
Esta me foi
narrada por minha querida amiga Juraciara.
Os homens fabricavam bola de meia e jogavam no terraço,
também para passar o tempo. Certa vez, o Carlos Marques (radioator) ganhou de
presente de “seu”Floriano um vistoso par de sapatos.No dia em que estreava os
sapatos, passou pelo terraço e viu a turma batendo bola. Não resistiu e entrou no jogo. Oh! Decepção: logo no primeiro lance ao tentar um chute
um dos sapatos se soltou do pé e voando pela mureta foi cair na praça Mauá 22
andares a baixo.
Coube a Carlos
Marques ter que passar o dia todo atuando nas novelas com um pé descalço e
outro calçado. Sorte que não era programa de auditório.
A MULHER QUE COMEU SONHOS.
Na Tupi dos anos
40 e 50 havia uma excelente radioatriz chamada Amélia Simone, vinda de São
Paulo, a estrelinha das novelas da PRG-3.Amélia Simone era tia de Mildred dos
Santos, também radioatriz.Esta é a mãe de Galvão Bueno. Logo, Amélia Simone é
também tia do narrador.Sobre Mildred falaremos mais adiante. Por hora, diríamos
que uma das novelas de sucesso estrelada por Amélia Simone chamava-se A
mulher dos meus sonhos.Acontece
que a turma da Tupi, de brincadeira, chamava a novela de A mulher comeu sonhos. Alguns vaticinavam que o locutor,por causa dessa gozação, ia acabar
anunciando ao microfone o nome errado. Não deu outra. Uma tarde o subconsciente
do locutor virou consciente e ele anunciou solenemente:
Pela Tupi do Rio, no ar ...A mulher comeu sonhos!
Ao narrarmos
estas radiocassetadas pode ficar na cabeça do leitor que o rádio na época era
um sem-fim de erros. Acontece que 99 por cento da programação era ao vivo.
Inclusive os comerciais. O ritmo de
trabalho era frenético, uma programação era seguida de outra e embora os profissionais fossem de altíssimo nível,
falhas eram inevitáveis. E as que aconteciam e ganhavam cunho hilário
entravam para a história.
Certa noite de
domingo o programa “Nada além de dois minutos” ia ao ar com seu habitual
“timing”pela Nacional. Mais adiante falaremos um pouco desta produção
radiofônica de Paulo Roberto e que se constituiria em um referencial na
linguagem radiofônica.
Pois bem, o
médico-radialista conduzia o programa quando de súbito parou! Fez um silêncio
de 5 segundos que pareceram uma
eternidade! Paulo Roberto retoma o fôlego e diz angustiado:
-Floriano,
(Floriano Faissal o diretor do programa) perdi a página ! Não sei continuar!
Não havia como
consertar. O programa era ao vivo, diante de um elenco, uma grande orquestra e
um auditório lotado. Rapidamente, Floriano que acompanhava atento com sua
cópia, correu para o lado de Paulo e indicou-lhe no roteiro, colocando o dedo a
fala .
O narrador então
retomou o texto e tudo seguiu normalmente sob os aplausos do auditório.
Naturalmente Paulo Roberto havia colocado suas páginas fora de ordem após o
ensaio e se perdeu no meio do programa. Cavacos do ofício. Um incidente que foi
prontamente corrigido graças ao profissionalismo de Floriano Faissal.
FERNANDA
MONTENEGRO E JULIO CESAR COSTEIRA, EXEMPLO DE PROFISSIONALISMO.
Paulo Roberto escrevia e apresentava o Nada Além de Dois Minutos.
Allan Lima,
radioator da MEC, grande diretor de
radioteatro e dublagem conta que certa vez o galã Júlio César Costeira fazia
uma cena de amor com Fernanda Montenegro, num radioteatro da Ministério da
Educação, quando o “girafa”, aquele microfone
que fica suspenso no estúdio, começou a descer lentamente. Naturalmente
devido a algum para-fuso mal apertado. Só havia os dois no estúdio e o
operador, do outro lado do vidro, ocupado com o fundo musical não podia fazer nada. E o “girafa”
descendo... Júlio César e Fernanda deram
uma grande demonstração de
profissionalismo: não hesitaram e foram também se abaixando e quando a cena
terminou estavam, ambos, de cócoras, quase
de gatinhas. Mas fizeram a cena
inteira !
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