terça-feira, 30 de junho de 2015

RÁDIO SEQUENCIA G-3. PROGRAMA DE AUDITÓRIO DA RÁDIO TUPI DOS ANOS 40.

    Era um verdadeiro show no horário de almoço!

 No início dos anos quarenta  o Velho Capitão, como era conhecido o jornalista e empresário Assis Chateaubriand, presidente dos Diários e Emissoras Associadas, queria transformar a rádio Tupi na maior emissora carioca.Ele perseguia o sucesso da Nacional como uma obsessão. As pioneiras instalações da rua Santo Cristo 148, Zona Portuária do Rio de Janeiro, foram transferidas para a rua Venezuela 43.O prédio está la até hoje. Fiz esta foto em 2009. Quando o Porto Maravilha ficar pronto ele ficará em um lugar muito valorizado. Mas hoje não tem mais nada a ver com a Tupi.
                                         

                                        A outrora Zona Portuária,
                                                       hoje é o Rio Maravilha.
Um projeto executado em plena guerra. Mas, Chateaubriand com enormes sacrifícios montou a rádio com o que havia de mais moderno. No andar térreo, instalaram-se estúdios e palco auditório, como se dizia na época.
E a rádio foi, aos poucos, montando uma programação bem ao gosto popular: radiojornalismo, futebol, radionovela , programas de auditório e muita música ao vivo.
O auditório da rádio Tupi era lindo ! Possuía até ar condicionado! Um luxo para a época! No hall de entrada o famoso pintor Cândido Portinari pintou um lindo painel a pedido de seu amigo Chateaubriand.
Instalações e acústica perfeitas. Ele só tinha um pavimento e na extremidade contrária à porta de entrada ficava o palco. Da plateia se tinha acesso por meio dos seis degraus de uma escada que acompanhava toda a frente do palco. Este era grande suficiente para abrigar uma orquestra de 20 figuras, material de contrarregra e três microfones, sendo um deles do tipo girafa ou boom que poderia ser manobrado por um  técnico, dando-lhe mais versatilidade e maior raio de ação.
No fundo do palco havia uma parede. Do outro lado dessa parede ficava o estúdio de radioteatro
Pela esquerda, na lateral do palco, se dava a entrada dos artistas. As crianças como eu ficavam sentadinhas na escada de modo que era possível ver os artistas a um metro de distância e acompanhar a ação dos operadores dentro da cabine de vidro, a entrada e saída dos artistas, enfim todo o movimento da produção.
O auditório era muito comportado. Motivado pelo requinte e conforto das instalações, o público ia bem vestido, vibrava, aplaudia, participava, mas dentro dos limites da boa educação.
A direção da Tupi decidiu criar uma programação de auditório, num horário inédito: de onze da manhã a uma e meia da tarde.
Chamava-se Rádio Sequencia G-3, sob o comando de Gilberto Martins e depois de Paulo Gracindo, que pertencia ao radioteatro. O prefixo da Tupi era PRG-3. Dai o nome do programa.
Paulo Gracindo, astro nos anos 40 
com sua mulher e o filho recém nascido.
Era o animador da Sequencia G3

Tal horário pegava os ouvintes almoçando em suas casas, bares e restaurantes que ligavam o rádio a todo o volume. Até nas calçadas do centro da cidade  se podia escutar o animado programa.
Ele era um “fantástico-show da vida” da era do rádio. Tinha de tudo um pouco: poesia, humor, informação, promoções, sorteios, pontuado por muita música e tudo ao vivo, com o público participando do auditório.
Tio Walter era irmão de minha mãe. Ele trabalhava nos serviços gerais da  Tupi e conseguia ingressos promocionais. Meu avô materno  era um português que morava num sobrado que existe até hoje, no largo São Francisco da Prainha número quinze, a uma centena de metros do prédio da Tupi. Assim,nas férias, almoçávamos mais cedo e lá íamos a pé para ver “Rádio Sequencia G-3”.
O autor deste blog morava neste sobrado de toldo vermelho.
Ficava a 100 metros da Tupi.

Eu, com apenas 7 anos, vibrava com tudo o que via. Tinha a orquestra de um jovem maestro que chegara a pouco de Recife: Severino Araújo.
Quem escrevia os textos humorísticos eram Silvino Neto e Manuel de Nóbrega, dois jovens que mais tarde se destacariam na vida radiofônica. Silvino, pai de Paulo Silvino, seria o autor da Pensão do Pimpinela onde ele, sozinho, interpretava uma dezena de personagens. Manuel de Nóbrega seria destaque no rádio paulista e depois na famosa Praça da Alegria na televisão.
   Manoel de Nóbrega: início de carreira na rádio Tupi, 
  antes de ir para São Paulo e para a televisão

E na parte musical, destaque para Gilberto Alves, Pixinguinha, Odete Amaral, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, o casal Zé e Zilda,o conjunto regional de Benedito Lacerda e um jovem de cabelos pretos que se apresentava com seu violão cantando o mar e a Bahia: Dorival Caymmi.
Maestro Severino Araujo
 cercado por alguns de seus músicos

O jovem Severino quando chegou ao Rio vindo de Recife

Silvino Neto na Tupi.Fazia diversas vozes e imitações

Ele era assim quando entrou para a Tupi nos anos 30

                                      Dorival Caymmi se revelou de imediato.

O contra-regra do programa era Jorge Veiga que desejando ser cantor de qualquer maneira, ficava implorando uma oportunidade a Paulo Gracindo. O que acabou conseguindo, alcançando muito sucesso. Veiga, com sua bossa e voz fanhosa, inconfundível seria apelidado, pelo próprio Gracindo de Caricaturista do samba. 
Jorge Veiga: de contraregra a cantor famoso


Gilberto Alves: atração da Rádio Sequência G-3

Paulo da Portela,Heitor dos Prazeres,Gilberto Alves, Bide e Marçal:
Mitos do velho samba carioca.

E havia, finalmente, um rapaz magrinho, de cabelos pretos, terno e gravata, que sem dizer  uma palavra,percorria o auditório e entregava notas de 5 e 10 cruzeiros aos acertadores das promoções que Gracindo comandava do palco. Esse auxiliar prestimoso, que entrava mudo e saia calado era Abelardo Barbosa, que anos mais tarde se transformaria num fenômeno de comunicação e incorporaria o nome “Chacrinha”, porque o programa de rádio dele  que era uma zorra total, chamava-se “O cassino do Chacrinha”.
O magrinho ao microfone, quem diria..
.é o Abelardo Chacrinha Barbosa!

                                   
                             O mito,depois da Tupi e Tamoio, passagem pela Globo
                                                                 antes de emplacar na televisão.
Já que o Presidente Dutra havia  fechado os cassinos no Brasil, em 1945, o Abelardo Barbosa resolveu criar o seu.

4 comentários:

  1. Olá, você tem o prefixo desse programa Radio Sequencia?
    se tiver, por favor me envie um e-mail: caiotr@hotmail.com

    Obrigado.

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  2. Olá. Meu nome é Pedro Dufriche e quero chanar a atenção sobre um engano nessa página. O homem que aparece na foto acima com a legedda "Gilberto Alves: atração da Rádio Sequencia G-3" não é o cantor Giberto Alves, e sim o compositor Roberto Martins. É isso.

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    1. Olá Pedro Dufriche, agradeço haver me chamado a atenção para o erro da legenda.Tenho uma foto do Gilberto Alves na qual está muito parecido com Roberto Martins. Ai me confundi. Farei a rectificação. Muito obrigado!!

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    2. Prezado Pedro Dufriche, acabo de trocar a foto. Agora trata-se mesmo do famoso cantor Gilberto Alves.Mais uma vez gratissimo por sua observação.Escreva sempre.

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