Havia na Rádio Tupi um locutor de primeira linha, Carlos
Frias. Ele lia diariamente a crônica Boa
Noite para você, às 19 horas, ao som de Moonlight
Serenade com a orquestra de Glenn Miller. Além disso, Frias era o
locutor padrão da Tupi e atuava nos
programas noturnos do Cacique do ar. Em junho de 1946, Frias participava de um circuito
automobilístico Rio - Petrópolis. Na
subida da serra o carro que Frias pilotava chocou-se violentamente contra um
obstáculo.Sofreu fraturas por todo o corpo e no crânio, mas o pior é que seu
rosto, ao bater no para-brisas ficou
bastante machucado e sua língua muito seccionada, presa apenas por uns fios.
Ao saber do acidente, Paulo Roberto, produtor de programas
de rádio e também médico, rumou imediatamente para o Hospital do Pronto-Socorro
e identificando-se foi visitar Frias na
emergência. E chegou exatamente na hora em que o cirurgião de plantão optava
por amputar parte da língua do locutor, tendo em vista a mesma estar muito
comprometida pelo choque. Ao saber disso, Paulo Roberto rebelou-se e mandando a ética às favas,
esbravejou para o médico:
- Vocês sabem quem é este homem? È Carlos Frias, um dos
maiores locutores do rádio brasileiro. Cortar a língua dele é cortar sua
própria vida! Não é só a língua que você deixa este rapaz perder, não, é a
própria vida! A língua está presa por um fio? Então está presa a alguma coisa,
é a este fio que você tem que se agarrar como se estivesse se afogando e lhe
atirassem uma corda. Por conta disso,
todos os esforços têm que ser feitos no sentido
de preservar este órgão vital para o trabalho dele!
Era tamanho o desespero de Paulo Roberto, que ele parecia
ter perdido o controle.
Por fim, emocionado dirigiu-se mais uma vez ao colega:
-Que espécie de médico é você que se entrega diante da
primeira dificuldade?
A equipe médica, atônita, diante da veemência de Paulo de
pronto despertou e partiu para a ação.
Houve então uma mobilização geral e um cirurgião
especialista foi chamado às pressas.
Numa delicada cirurgia que durou horas, língua de Frias foi
cuidadosamente costurada em diversos pontos e o órgão foi recuperado.
O fato teve uma repercussão muito grande na época, pois
Frias e Paulo Roberto eram muito populares. Catorze anos mais tarde o número 581 da
Revista do Rádio, publicado em 5 de novembro de 1960, entrevistou Carlos Frias,
que recordou o acidente. Numa reportagem de duas páginas, sob o título: O suplício
terrível de Carlos Frias que ouviu quando os médicos disseram que ele ia
morrer.
Porém uma coisa que me chamou a atenção foi o fato de Frias
não se referir ao empenho de Paulo Roberto em preservar sua língua. Embora ele
estivesse inconsciente, certamente tomou conhecimento do incidente, porque
havia muitas testemunhas na emergência do Pronto-Socorro.
Que houve a discussão entre o médico radialista e a equipe
isto é certo, pois os jornais noticiaram no dia seguinte e meses depois, no
programa “Obrigado doutor”, escrito por Paulo Roberto, a história de Frias foi
radiofonizada.
O fato me foi lembrado, certa vez, pelo próprio Paulo
Roberto e confirmado por sua filha Maria Célia Machado.
Não gostaria de fazer julgamentos, mas a omissão de Frias na
reportagem da Revista do Rádio nos permite admitir que houve
ingratidão por parte do narrador de Boa
noite para você. Ou, o que é
possível, a omissão foi dos autores da
matéria da Revista do Rádio.
O excelente livro de Mário Lago, Bagaço de beira de estrada, em sua página 45, confirma a atitude de Paulo na emergência do pronto-socorro..
Com todo o respeito que tenho por meu mestre Mário Lago
não concordo quando ele escreve.
-Não voltou a ser o
locutor brilhante que era, mas voltou a falar, e poder ficar na companhia dos
amigos sem constrangimento.
O radialista ficou,
sim, afastado do microfone longo tempo e teve que se submeter a duros e
exaustivos exercícios mas, finalmente,
voltar a atuar com a mesma categoria na Rádio Tupi. E mais: Frias brilharia quatro anos após o acidente também
na televisão Tupi, onde atuou como apresentador de programas. E fica no ar uma
pergunta que não se cala: o que seria do grande locutor, se Paulo Roberto não
houvesse agido com tamanha energia
naquela noite?
Revista do Rádio de novembro de 1960 relembra o acidente de junho de 1946.
Frias, amante de carros e seus exemplares nos anos 60.
Paulo Roberto, médico e radialista preservou seu colega após o acidente.
A veemência de Paulo Roberto no pronto socorro garantiu a vida profissional do locutor Frias.
Aqui, o médico atendendo na Maternidade de Cascadura nos anos 60.
Aqui o radialista apresentando seus famosos programas na Nacional.
Coro Continental - SALVE O BRIGADEIRO - Carlos Frias.
ResponderExcluirDisco Continental-PR-200-A.
Ano de 1946.
Arquivo Nirez.
Coisas que o tempo levou.
Dom Pedro I gritou
No Ipiranga a nossa liberdade.
E o povo em coro saudou:
Salve, Salve Vossa Majestade!
Agora outro grito ecoou,
Sacudindo o Brasil inteiro.
E o povo na rua gritou:
Oba! Salve, salve o Brigadeiro.
Ô, ô, ô, ô, ô, ô!
O povo tá alegre porque o brigadeiro chegou.
Ô, ô, ô, ô, ô, ô!
Chegando o brigadeiro a nossa tristeza acabou.
https://www.youtube.com/watch?v=zG1IkvRFYM8