Uma das novelas que sucedeu a Em busca da felicidade no horário das
dez e meia da manhã, foi As tranças de Madalena, que tinha Isis
de Oliveira no papel título. Certa manhã, como acontecia nos finais de semana
eu e minha mãe pegamos a barca na praça
Quinze de Novembro para chegar a tempo de ouvir a novela do outro lado da baía.
Desembarcamos na praça Araribóia e
rumamos para um café que havia na esquina da avenida Amaral Peixoto. Lá estava
um rádio ligado em alto volume, transmitindo
As tranças...Que uma pequena
multidão de radiocalçadas ouvia com
atenção. Entramos no café e minha mãe pode acompanhar a
novela, enquanto eu saboreava um daqueles deliciosos bolinhos que os bares
vendiam e que ficavam sob uma redoma de vidro sobre as mesas, acompanhado de uma xícara de café com
leite. Quando a novela acabou , a
multidão se dissipou, dona Áurea pagou a conta e me disse:
-Betinho, agora vamos naquela
barraca comprar um peixe para eu preparar para domingo na fazenda.
Se o mercado informal nos dias de
hoje é uma tônica, imagine naqueles tempos de pós-guerra. Por isso havia na
calçada que dava para o mar uma quantidade de barracas que vendiam o peixe
fresco que vinha do entreposto da
praça Quinze. Minha mãe escolheu
um lindo badejo de mais de dois quilos, que o barraqueiro embrulhou em várias
folhas de jornal. Não se espantem, mas naquela época ainda não havia sido
inventado o plástico e o papel de embrulho era artigo de luxo. Nos tempos
bicudos do pós-guerra era tudo embrulhado em jornal mesmo.
Rumamos para o terminal do ônibus
e embarcamos na viação Cabuçu, rumo ao Rodo de São Gonçalo.
Quando o ônibus chega ao bairro
de Neves, um passageiro salta carregando um peixe embrulhado em jornal.
Imaginando que aquele era o seu
peixe, minha mãe interrompe a saída do veículo e interpela o passageiro que já
estava na calçada:
- Senhor, será que este peixe não é o meu?
Ao que ele respondeu a distância:
-Não senhora. Esse badejo é meu. Comprei nas barcas de Niterói.
-Pois eu também! E não estou
encontrando o meu embrulho.
Um pequeno alvoroço se instala no ônibus, que
não estava lotado. O motorista sai do seu posto e junto com os passageiros se
propõe a esclarecer o incidente, procurando o embrulho. Para resumir: o peixe
de dona Áurea estava caído no chão, sob dois acentos adiante de onde estávamos.Era na realidade um embrulho
igualzinho ao do homem o que havia
gerado a dúvida de minha mãe.
Desfeito o mistério, foi uma
risada geral, inclusive do homem da calçada, que felizmente, levou tudo na
esportiva.
No domingo, sintonizada no Programa Casé, toda a família Salvador,
festejava a Páscoa saboreando enchovas preparada por dona Áurea em meio a
muitas gozações pelo ocorrido.
Antes da metade dos anos quarenta
e emissora da praça Mauá já havia colocado no ar mais de uma centena de
novelas, todas elas patrocinadas e distribuídas a partir do tradicional
horário das dez e meia , entrando pela
tarde, às 13 horas e chegando no horário
nobre. A Colgate-Palmolive jogou suas
novelas para as 8 da noite.
O elenco de radioteatro recebia direto dos anunciantes o mesmo
ocorrendo com Vitor Costa. O faturamento da rádio deu um pulo, os horários das
novelas aumentaram e a audiência idem.
A PRE-8 era líder em todo o
Brasil. Chegaram novos transmissores de ondas curtas além da onda média e a
cobertura era nacional.
Entre os novos horários de novelas que a PRE-8 criaria nos anos
quarenta destacou-se o de 21 horas. O patrocinador, um produto que
existe até hoje, era anunciado pelo excelente locutor Aurélio de Andrade:
“No ar a novela das nove, sob o patrocínio do Óleo de Peroba, o supremo
renovador dos móveis”.
Os autores que mais se destacaram
nessa faixa foram Oduvaldo Vianna, Amaral Gurgel e Guiaroni
Duas novelas, entre as muitas que fizeram enorme
sucesso foram “A bela e a fera” e A gloriosa mentira “esta última de Guiaroni”.
Numa dessas novelas, não sei qual
das duas, havia um personagem cômico, alegre,
vivido pelo grande Walter Dávila. Era o doutor Memeco, que ao formular
qualquer frase. Tinha um cacoete que o fazia dizer
- “Meco! Meco-meco”! E
depois dizia o que tinha que dizer.
“A gloriosa mentira” tinha Ismênia dos Santos e Celso Guimarães como o casal de mocinhos.
Destaque para Floriano Faissal
que interpretava um tio, apaixonado pela sobrinha (Ismênia dos Santos) .
Numa noite,no clímax da novela,
um dos capítulos termina com o tio, embriagado, querendo agarrar a moça para
beijar. A cena foi forte, pois a contra-regra arrastava cadeiras, louça se quebrava, com ela
tentando se desvencilhar, enquanto se
ouvia o personagem de Floriano gritar:
-Venha cá ! Quero beijar estes
lábios carnudos e vermelhos!
Este rosto lindo e macio !
E a moça gritava e fugia:
-Não meu tio ! Não faça isso !
Ao fundo, a sonoplastia executava
uma música agitada e dramática que se fundiu com
O sufixo da novela.
No dia seguinte à transmissão houve
reação do público. Muitos protestos
escandalizados enquanto outros,
veladamente, invejando o tio tarado, pois a voz de Ismênia dos Santos era uma
tentação de tão linda.
Confesso que até hoje não consigo
aceitar aquela “escorregada” de “A
gloriosa mentira”. Foi uma cena
forte, embora em uma novela às 9 da noite. (Naquela época as crianças dormiam
cedo). Não consigo compreender simplesmente pelo fato de que os padrões de
autocensura na emissora eram muito fortes. E o próprio Floriano, que
interpretou a cena, se transformaria, mais tarde, num zeloso guardião da ética
e da moral no radioteatro que ele veio a dirigir, como veremos um pouco mais
adiante.
Leio, com algum a frequência, que
as novelas do velho rádio evitam tocar
em determinados assuntos tabus para a época. Realmente as novelas jamais
falavam de homossexualismo. Este era abordado apenas de forma jocosa nos
programas humorísticos como acontece até hoje na televisão.O mesmo acontecendo com
determinados tipos de preconceito que
estavam presentes a todo instante, ridicularizando o negro, o nordestino, o
imigrante, o gago, o surdo ou o mudo. Isto era mais evidente nos programas de
humor.
Floriano Faissal dirigia o radioteatro da Nacional com mão de ferro, mas era doce e humano quando necessário.
Castro Gonzaga era radioator e escrevia novelas.Dono de uma bela voz grave, foi da Tupi e da Nacional. Nos anos 80 ainda atuava em novelas da TV Globo.
O adultério, a suposição de
incesto, a curra ou a tentativa de
estupro, volta e meia rolavam, embora em cenas veladas ou levemente sugeridas ou referidas, especialmente nas
novelas noturnas. Esses assuntos não eram tratados de forma explícita. Eram
apenas “sugeridos” com habilidade pelos novelistas. O restante ficava por conta
da imaginação do ouvinte
Embora, palavra amante
não fosse citada, o adultério, a
traição, os triângulos amorosos era uma constante. Cá pra nós, caso contrário
as histórias seriam uma enorme chatice.
Se as relações sexuais eram
apenas sugeridas nos filmes, não seria o rádio que as explicitaria. Assim,
gritos e sussurros para sugerir atos sexuais
eram muito discretos ou praticamente ausentes. O máximo que acontecia
era um beijo mais demorado com os atores
inspirando e em seguida prendendo a respiração por dois segundos e
expirando juntos. Esse era o beijo “cinematográfico” através do rádio.
Meu amigo Sérgio Rubens que
trabalhou comigo no Clube Juvenil Toddy
me conta que ele soube na ocasião que a atriz
Lygia Sarmento foi advertida pela direção da rádio por ter se excedido
em sussurros durante a cena de um
caloroso beijo de amor.
Lygia era uma excelente atriz que
começou em teatro aos 16 anos na década de vinte. Trabalhou na Companhia Jaime
Costa, quando viajou pelo Brasil inteiro. Entrou para o cinema em 1931 com
“Alvorada da Serra”. Depois fez “O jovem
tataravô” e “Segredo das asas”. Era,
portanto, uma estrela, quando entrou para
o radioteatro da Nacional nos anos 40. Era uma figura encantadora na
vida real, mas nas novelas era muito escalada para fazer o gênero megera.
Morreu recentemente em 2007, aos 94 anos por ironia, um dia após a morte de Ghiaroni que morreu aos 89 anos.
Do Anuário do Rádio, publicado
em 1956, consta a seguinte declaração de Floriano Faissal o mesmo que 10 anos
havia protagonizado a cena do “ataque” à sobrinha.
As novelas da Rádio Nacional se caracterizam sempre pela boa qualidade.
Não admitimos a irradiação de textos negativos, destrutivos e em conseqüência
indignos. Há assim, muita vigilância em torno das novelas programadas. Quer um
pequeno detalhe? Ei-lo: não se permite na Rádio Nacional que o vocábulo
“amante” apareça no texto de uma novela.
E na mesma publicação, há este
depoimento de Sérgio Vasconcelos, outro diretor da emissora:
Na Rádio Nacional procuramos educar o público também através das
novelas, incutindo no ouvinte bons
sentimentos, maneiras corretas de agir em sociedade. Quero apenas
demonstrar que é assim que a Rádio Nacional educa, levando o ouvinte a repelir
o mal e aplaudir o bem.
Minha aluna da Faculdade Moacyr
Bastos, Cátia dos Santos Machado, em novembro de 2004 escreveu uma interessante
monografia sob o título: “A Rádio
Nacional fazendo a alegria dos cariocas no final da década de 1940”.
No tocante à moralidade das
novelas da época, extraio mais este
trecho.
“Na realidade a Nacional
constituía-se assim, em um importante instrumento de influência na opinião pública. A respeito, Miriam Goldfeder afirma
que a emissora fazia parte de um
mecanismo de controle social, ‘destinado a manter as expectativas sociais
dentro dos limites compatíveis com o sistema como um todo’. A mesma autora
pondera: ‘ O que a Rádio Nacional propagava, em última instância, não era a
excelência de um modelo político, mas a legitimidade de um tipo de sociedade e
de um quadro de valores éticos’”.
Na segunda metade dos anos
quarenta a Nacional lançou um programa muito interessante chamado “Atire a
primeira pedra”. Era uma coletânea de histórias verídicas, que os ouvintes
enviavam e eram radiofonizadas em histórias completas (isto é: princípio, meio
e fim no mesmo dia). “Atire”... Foi
escrita durante anos por novelistas variados: Raimundo Lopes, Ghiaroni, Haroldo
Barbosa entre outros, segundo registros dos arquivos da Nacional. Às sextas-feiras às dez da noite, uma
história completa em 25 minutos na qual
o personagem principal contava seu drama.A narrativa, sempre começava com a
frase: “Meu nome é”...Ou “Eu me chamo”...
E ao final tomava uma decisão. Cabia ao ouvinte julgar se o personagem agira certo ou errado.
Eram histórias muito bonitas e
criativas que focalizavam temas humanos e bastante maduros e polêmicos para a
época.Anos depois mudou de horário e passou para sábados às 11 e quinze da
manhã no horário patrocinado pela Sidney
Ross. E também mudou de nome para “Que o céu me condene”. Os temas, por força
do horário deixaram de ser mais pesados,
mas a beleza das histórias continuou a mesma.
Esta série é precursora do famoso
“Você decide” que a TV Globo mostrou com enorme sucesso. No tempo do velho
rádio, a interatividade usada pela televisão, décadas depois, era inviável tecnicamente
Era, portanto um formato
interessante, que consistia como dissemos em um narrador na primeira pessoa do
singular que contava o seu drama com entradas de diálogos pelos demais atores.
Ao fim do capítulo, tendo ao fundo o poema sinfônico “Morte e Transfiguração”
de Richard Strauss, o ator dizia com toda
ênfase :
- Esta é a minha história. Estou aqui para ser julgado E se agi errado alguém terá o direito de me condenar.Que esse alguém, com a força de
sua convicção me atire a primeira pedra!
Quando o seriado mudou de nome, logicamente o
texto final sofreu alteração e ficou assim:
- Esta é a minha história. Estou aqui para ser julgado (a). E se agi
errado, que o céu me condene “!”.
E a música que estava em fundo
subia a primeiro plano dando um clima de
encerramento ao programa.
O segredo do sucesso das
radionovelas consistia simplesmente no fato, de que ao ouvinte era permitido tudo imaginar. A interpretação
dos atores, a sonoplastia, a contra-regra e o
texto levavam o ouvinte a idealizar a cena e com isso aflorar nele
fortes emoções : ódio ou amor, ternura ou revolta, amizade ou horror, antipatia
ou afeto.
Usando a entonação e a voz com
habilidade, o radioator conseguia levar até o público emoções, muitas emoções.
Paulo Gracindo certa vez interpretou um personagem que era um galã um negro. Ele
falava corretamente. Era admirado, forte e respeitado,mas sempre evitando
os estereótipos. Chamava-se Bentão.
De outra feita o mesmo Gracindo
fez, sozinho o papel de dois irmãos gêmeos. Um era bom e o outro mau caráter.
Mas para não se atrapalhar ele marcava o script com cores diferentes já que às vezes eles contracenavam.
Muitos ouvintes,com frequência,
misturam realidade com fantasia. Isto acontece até hoje nas telenovelas, quando
confundem Persona com pessoa.
Em A bela e a fera,
Henriqueta Brieba (lembram-se dela em Por
falta de roupa nova passei o ferro na
velha quando já estava com quase 90 anos?) no final dos anos 40 interpreta
uma mulher muito má. De tantas maldades que fez com Ismênia dos Santos, acaba,
no derradeiro capítulo, louca, vagando pelas ruas e servindo de galhofa para os
moleques e júbilo dos ouvintes.
Uma tarde, Henriqueta recebe
recado para retirar no serviço de correspondência da Nacional uma enorme caixa
de papelão que havia chegado pelo correio.
Feliz da vida, imaginando um
presente que uma ardorosa fã lhe havia mandado.
Ao abrir a caixa, na frente dos
funcionários, o que viu foi uma grossa corda de uns 2 metros, e um bilhete que
dizia:
“Esta corda é para você se enforcar, para pagar as maldades que fez na
novela, sua megera”!
Esta história me foi contada por
Daisy Lúcidi.
Certa vez a excelente atriz Elza
Gomes, que vivia um papel de megera numa novela da Nacional, quase foi agredida
numa feira por uma fã revoltada com suas maldades.
QUAL DE VOCES É A GENOVEVA? QUERO
QUEBRAR A CARA DELA!
Carmem Sheila me contou a seguinte
história. Houve nos anos 50 uma novela na Nacional escrita por Amaral Gurgel.
Chamava-se a Menina da saudade e se
passava no interior de uma fazenda no tempo da escravidão. O senhor do engenho,
homem rico e poderoso,amiúde escolhia uma negrinha filha de escravos para
transar. Eis que uma delas engravida.Nasce, então, uma menina que cresce e se
transforma numa linda mulata, de feições finas e olhos esverdeados. Por outro
lado, o dono da fazenda tem também uma filha com a esposa. Sendo a filha branca
um pouco mais nova que a mulatinha. A fim de manter esta sempre por perto da
casa grande, o dono reserva à negrinha a missão de ajudar a tomar conta da
filha legítima. As duas crescem e brincam juntas. Ocorre que a branca, Genoveva
era seu nome, era feia que nem a necessidade, contrastando com a beleza da
mulatinha. Por inveja e despeito Genoveva está sempre fazendo maldades com a
mulatinha, sem que esta possa se defender dada a enorme distância social. Os
ouvintes tomam as dores da mulatinha e passam a ter ódio de morte por
Genoveva. Cartas e cartas chegam à
emissora condenando a jovem megera e assumindo as dores da indefesa mulatinha.
A novela seguia outras vertentes, mas a história das duas meninas, que fora
concebida por Gurgel para ser uma história
secundária, repercutiu tanto, que superou o interesse da linha mestra da
radionovela.
Numa tarde, uma ouvinte
revoltada, invade a sala de ensaios com
a intenção de agredir a jovem atriz que interpretava a Genoveva. E
dirigindo-se para as duas jovens atrizes, que estavam sentadas lada a lado
segurando seus roteiros exclama: Qual de
vocês é a Genoveva? Quero quebrar a
cara dela!.Sorte das duas, que a ouvinte não pode concretizar o ato,
impedida que foi por outros artistas.
DOUTOR MENDONÇA ATENDE NO CORREDOR DA RÁDIO.
FÃ ENTREGA UM ENXOVAL DE BEBÊ A
ISIS DE OLIVEIRA.
Mas havia também o outro lado:
uma senhora, apaixonada pela voz de Sant-Clair Lopes, o seu Benjamim, de “Em
busca”... decidiu doar em cartório, com
reserva de uso e fruto, (citam algumas fontes, por testamento, segundo outros
autores), seu único e modesto apartamento onde morava. Como não tinha
herdeiros, doou
para “aquele que, por meio da voz lhe tinha trazido tantas e
tantas emoções através de seus personagens”.
“Em busca da Felicidade” por ser uma novidade para os ouvintes,
criou nesses uma empatia em que fantasia e realidade se confundiam.
Floriano Faissal, o doutor
Mendonça, se vestia muito bem. Gostava dos ternos brancos, inclusive os
sapatos, como era moda nos anos 40.
Certa tarde, uma senhora foi à
rádio dizendo que queria falar com o doutor
Mendonça.
O porteiro, encaminhou-a ao
Floriano, lógico.
Ao vê-lo no corredor o
cumprimentou e chamando-o sempre de doutor
Mendonça, pediu que Floriano a examinasse pois estava com um problema abdominal.
O ator tentou explicar à ouvinte que ele não era a
pessoa indicada para cuidar dela e para não magoá-la sugeriu que procurasse o
doutor Paulo Roberto.
Esse era médico mesmo !
Desconheço o final dessa
história, que foi contada pelo próprio
Floriano, durante uma palestra que coordenei na Universidade do Estado do Rio
de Janeiro com a professora Marlene Blois em
22 de outubro de 1984
Mais adiante falarei da grande
figura de Paulo Roberto, médico e radialista da Nacional.
Em O direito de nascer, Isis de Oliveira que interpreta a jovem Maria Helena do Juncal, recebeu um
enxoval completo de bebê, quando sua personagem engravidou e foi desprezada
pelo pai o terrível Dom Rafael do Juncal.Sobre
essa novela falaremos mais adiante.
Certa vez Rodolfo Mayer quase foi
agredido por um grupo de ouvintes. Elas não aceitavam ver o personagem
interpretado por ele,um homem sem escrúpulos,que engravidara uma jovem (Iara
Sales), omitindo que era casado com uma senhora decente(Zezé Fonseca). O pequeno grupo ludibriou a segurança e
partiu para cima do Rodolfo ofendendo-o. Eu e outros companheiros entramos no
meio e tiramos o Rodolfo do sufoco. Contou Floriano Faissal em depoimento
ao Museu da Imagem e do Som.
Saint-Clair Lopes foi outro que
recebeu ameaças por carta e pessoalmente, ao interpretar uma peste chamada Manuel Justino na novela Renúncia,sucesso que ia ao ar às 9 da
noite nos anos 40.
Embora o fato não tenha
acontecido entre nós, que é o objeto deste livro, resolvi relatá-lo por ser, bastante comentado, e que mostra
como os ouvintes frequentemente confundiam
realidade e fantasia nos tempos
do velho radioteatro.
Refiro-me ao que aconteceu na
noite de domingo de 31 de outubro de 1938 nos Estados Unidos, quando Orson
Welles, com sua voz grave e marcante anunciou pelos microfones da CBS no
programa Teatro Mercúrio:
-Atenção senhoras e senhores ouvintes...Os marcianos estão invadindo a Terra...Atenção senhoras e senhores, os
marcianos estão invadindo os Estados Unidos da América... Atenção senhoras e
senhores ouvintes ...
O que aconteceu foi que a
dramatização se fez de forma tão real que desencadeou um verdadeiro pânico na
população. Pessoas buscavam-se desesperadas, procuravam fugir das cidades.
Outras passavam mal e desmaiavam. Casais trocavam juras de amor e se despediam
esperando o pior. O programa transmitido de costa a costa alcançou uma
repercussão que saiu de controle e praticamente parou o país!
Ao perceber o que estava
acontecendo a alta direção da Columbia Broadcasting System ordenou que o
programa fosse retirado do ar e feitos
os devidos esclarecimentos aos apavorados ouvintes.
Quando, finalmente, ficou claro que se tratava de uma dramatização,
as coisas se acalmaram. Mas que houve muito estrago, houve.
Este acontecimento fez com que
regulamentos internos de emissoras de rádio,em todo o mundo, seguindo
recomendações das autoridades, jamais colocassem no ar uma dramatização sem que
ficasse claro para o ouvinte que o que estava sendo levado ao ar era um programa de radioteatro.
Marion, Lolita França, Paulo Gracindo (de óculos), Ismênia dos Santos,
Neuza Maria e Altivo Diniz cumprimentam Isis de Oliveira.
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