Muitos ouvintes,com freqüência, misturam realidade com fantasia. Isto acontece até hoje nas telenovelas, quando confundem Persona com pessoa.
Em A bela e a fera, Henriqueta Brieba (lembram-se dela em Por falta de roupa nova passei o ferro na velha quando já estava com quase 90 anos?) no final dos anos 40 interpreta uma mulher muito má. De tantas maldades que fez com Ismênia dos Santos, acaba, no derradeiro capítulo, louca, vagando pelas ruas e servindo de galhofa para os moleques e júbilo dos ouvintes.
Uma tarde, Henriqueta recebe recado para retirar no serviço de correspondência da Nacional uma enorme caixa de papelão que havia chegado pelo correio.
Feliz da vida, imaginando um presente que uma ardorosa fã lhe havia mandado.
Ao abrir a caixa, na frente dos funcionários, o que viu foi uma grossa corda de uns 2 metros , e um bilhete que dizia:
“Esta corda é para você se enforcar, para pagar as maldades que fez na novela, sua megera”!
Esta história me foi contada por Daisy Lúcidi.
Certa vez a excelente atriz Elza Gomes, que vivia um papel de megera numa novela da Nacional, quase foi agredida numa feira por uma fã revoltada com suas maldades.
QUAL DE VOCES É A GENOVEVA? QUERO QUEBRAR A CARA DELA!
Carmem Sheila me contou a seguinte história. Houve nos anos 50 uma novela na Nacional escrita por Amaral Gurgel. Chamava-se a Menina da saudade e se passava no interior de uma fazenda no tempo da escravidão. O senhor do engenho, homem rico e poderoso,amiúde escolhia uma negrinha filha de escravos para transar. Eis que uma delas engravida.Nasce, então, uma menina que cresce e se transforma numa linda mulata, de feições finas e olhos esverdeados. Por outro lado, o dono da fazenda tem também uma filha com a esposa. Sendo a filha branca um pouco mais nova que a mulatinha. A fim de manter esta sempre por perto da casa grande, o dono reserva à negrinha a missão de ajudar a tomar conta da filha legítima. As duas crescem e brincam juntas. Ocorre que a branca, Genoveva era seu nome, era feia que nem a necessidade, contrastando com a beleza da mulatinha. Por inveja e despeito Genoveva está sempre fazendo maldades com a mulatinha, sem que esta possa se defender dada a enorme distância social. Os ouvintes tomam as dores da mulatinha e passam a ter ódio de morte por Genoveva. Cartas e cartas chegam à emissora condenando a jovem megera e assumindo as dores da indefesa mulatinha. A novela seguia outras vertentes, mas a história das duas meninas, que fora concebida por Gurgel para ser uma história secundária, repercutiu tanto, que superou o interesse da linha mestra da radionovela.
Numa tarde, uma ouvinte revoltada, invade a sala de ensaios com a intenção de agredir a jovem atriz que interpretava a Genoveva. E dirigindo-se para as duas jovens atrizes, que estavam sentadas lada a lado segurando seus roteiros exclama: Qual de vocês é a Genoveva? Quero quebrar a cara dela!.Sorte das duas, que a ouvinte não pode concretizar o ato, impedida que foi por outros artistas.
FALTAM LEITOS NA ENFERMARIA
Havia um programa montado noturno, na Nacional, chamado Viva a Marinha! Coro, grande orquestra e elenco de radioteatro.Numa dramática cena de guerra, um enfermeiro,interpretado por Domício Costa dirigia-se ao oficial-médico e tinha apenas que dizer:
Senhor, a enfermaria está cheia!
Acontece que Domício estava chateado, porque grande artista, havia sido escalado naquela noite apenas para dizer esta frase.Como a coisa era simples,deixou de lado o script e decorou a frase para dizê-la no momento exato. O programa seguia normal.
Ao sinal do diretor, disparou, então com seu lindo vozeirão:
Senhor, a enfermeira está cheia!
A orquestra atacou de acordes dramáticos.
E ficou no ar uma pergunta que não calou:
Quem havia enchido a enfermeira?
A MULHER QUE COMEU SONHOS.
Na Tupi dos anos 40 e 50 havia uma excelente radioatriz chamada Amélia Simone, vinda de São Paulo, a estrelinha das novelas da PRG-3.Amélia Simone era tia de Mildred dos Santos, também radioatriz.Esta é a mãe de Galvão Bueno. Logo, Amélia Simone é também tia do narrador.Sobre Mildred falaremos mais adiante. Por hora, diríamos que uma das novelas de sucesso estrelada por Amélia Simone chamava-se A mulher dos meus sonhos.Acontece que a turma da Tupi, de brincadeira, chamava a novela de A mulher comeu sonhos. Alguns vaticinavam que o locutor,por causa dessa gozação, ia acabar anunciando ao microfone o nome errado. Não deu outra. Uma tarde o subconsciente do locutor virou consciente e ele anunciou solenemente:
Pela Tupi do Rio, no ar ...A mulher comeu sonhos!
Estas e outras histórias você encontra em A Era do Radioteatro.
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