A MAGIA DO RADIOTEATRO
(Onde produtor e ouvinte são cúmplices)
Quem não gosta de ouvir histórias? As crianças que o digam e que o digam também os contadores de história e de causos.
Quando nos propomos a ouvir uma narrativa, nossa mente se coloca,de imediato, disponível e elabora um cenário, que agregado ao que nos chega aos ouvidos, acende o pavio de nossas emoções.
É neste princípio que se fundamenta a linguagem radioteatral. Ao contrário da televisão, que nos mostra tudo pronto, o rádio nos entrega um produto que deverá ser completado por nós, por nossa imaginação.
O teatro cego, fez e continuará fazendo nossa mente viajar por mundos fantasiosos, construindo cenários e ambientes, onde idealizamos os personagens nobres ou indignos, arrogantes ou simpáticos, ricos ou pobres, velhos ou moços, feios ou bonitos. Contando apenas com o texto radiofônico, direto e objetivo, com as vozes dos atores, a sonoplastia,a sonofonia e a contra regra, acompanhamos, o desenrolar das tramas, intrigas, traições, alegrias e sofrimentos. Rimos com a comédia e os esquetes humorísticos. Choramos com os dramas monumentais.
Desde os anos trinta, quando surgiu, no alvorecer do rádio, que o radioteatro vem despertando emoções. Os mais veteranos irão lembrar-se das famosas radionovelas, dos saudosos programas humorísticos, das peças completas e dos chamados programas montados com numeroso elenco de atores, cantores, coro e orquestras. Tudo ao vivo e com muito profissionalismo.
Por excitar nossa imaginação, mais do que qualquer outro veículo o radioteatro continua, até hoje, despertando o interesse da audiência.
Mas, se o radioteatro ainda desperta esse interesse, por que as emissoras hoje não investem no gênero como antigamente?
A questão é complexa. Inicialmente falta coragem e ousadia aos empresários radiofônicos. Eu diria, que existe uma certa acomodação. As verbas publicitárias aplicadas hoje no rádio destinam-se, em grande parte, ao jornalismo, incluindo-se ai as transmissões esportivas. Por que não convencer os anunciantes a investir no gênero, criando um hábito entre os ouvintes?
Os mais veteranos, certamente se lembrarão do seriado Jerônimo, o herói do sertão, campeão de audiência em todo o Brasil nos anos 50 e 60.
Pois bem:passado recente, a direção da Rádio Nacional tentou colocar novamente no ar o seriado. Foram então convidados alguns radioatores e gravado um piloto no mesmo histórico estúdio de radioteatro da emissora, no 21º.andar do edifício A Noite. Aqui, Jerônimo era interpretado por Márcio Seixas, o moleque Saci por Luís Manuel, Juraciara Diácovo vivendo Aninha e Newton da Mata um vilão, todos sob a direção de Rodney Gomes. Embora o capítulo experimental tivesse um excelente padrão técnico e artístico, não vingou. Motivo: falta de patrocínio.
É evidente que”Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.Tudo passa, tudo sempre passará”. como cantaram Nelson Mota e Lulu Santos.
Reviver as novelas e os programas de radioteatro com a mesma pujança de décadas passadas é pura utopia. Afinal o rádio mudou. O país é outro e a sociedade se transformou. Mas nada impede de pensar a emissão de programas especiais no formato radiodramaturgia, que ocupem uma pequena parte da programação e que sejam economicamente viáveis. Segundo a radioatriz e hoje dubladora Juraciara Diácovo o radioteatro utilizando peças completas e um reduzido, porém versátil, elenco pode ser viável comercialmente.
É evidente que”Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.Tudo passa, tudo sempre passará”. como cantaram Nelson Mota e Lulu Santos.
Reviver as novelas e os programas de radioteatro com a mesma pujança de décadas passadas é pura utopia. Afinal o rádio mudou. O país é outro e a sociedade se transformou. Mas nada impede de pensar a emissão de programas especiais no formato radiodramaturgia, que ocupem uma pequena parte da programação e que sejam economicamente viáveis. Segundo a radioatriz e hoje dubladora Juraciara Diácovo o radioteatro utilizando peças completas e um reduzido, porém versátil, elenco pode ser viável comercialmente.
Nos últimos anos, identificamos algumas emissoras que utilizam o gênero em sua programação, com uma roupagem adequada aos dias de hoje.
Destaque para programas como Patrulha da cidade e Você decide verdade. pela Super Tupi e Globo, respectivamente. A Patrulha (51 anos no ar), segue uma linha narrativa com entradas dramatizadas, sonoplastia e efeitos sonoros.
A radiodramaturgia está presente também nos quadros humorísticos da Super Tupi a cargo de Luizinho Campos na Companhia do Riso e no personagem Manuel Tamancas no programa diário de Francisco Barbosa. O estilo, ao cair no gosto dos ouvintes, fez crescer a audiência, proporcionando à emissora uma boa resposta na hora de comercializar seus horários.
Um jovem produtor, Gustavo Correia, coloca no ar, estoicamente, nas tardes de sábado na Nacional o seu VILA RISO, rico em dramatizações,efeitos sonoros e ritmo moderno.
Alguns exemplos esparsos de novela são encontrados principalmente em programas religiosos veiculados pelas rádios FM. Entre elas a 93-FM que coloca no ar uma novela evangélica. O elenco é composto de jovens atores e da veterana Carmem Sheila.
Cito também uma experiência interessante levada ao ar todas as manhãs pela Transamérica FM, Café com bobagem, com apresentação de esquetes, piadas e muita alegria e irreverência.
A SOARMEC- Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC, promoveu a 1ª.Oficina de Radioteatro,conduzida pelo veterano Francisco “Chico” de Assis.Tudo surgiu da constatação de que cursos de comunicação social e teatro não oferecem a oportunidade pela qual os artistas poderiam ter acesso ao conhecimento da linguagem, interpretação e construção de textos de radioteatro.
Na oficina os alunos tiveram aulas expositivas e depois partiram para a preparação de seus próprios roteiros. Fizeram também testes de voz e alguns talentos se revelaram. Um louvável trabalho, sem dúvida. Em 2007 a Casa de Ruy Barbosa publicou uma interessante coleção chamada Estudos. Um dos livros da coleção se dedica à publicação de scripts de radionovelas resgatados de arquivos. O material publicado pertence à novela Herança de ódio de Oduvaldo Viana, que foi ao ar pela Rádio Nacional entre 1951 e 1952 e que durou 3 meses. É uma transcrição pura e simples dos roteiros, contendo todas as marcações e as entradas da contra-regra, da sonoplastia e da sonofonia. Trata-se de um importante trabalho que visa preservar os magníficos textos de nossos talentosos novelistas.
As agências de publicidade já descobriram que suas mensagens comerciais de apenas 30 segundos, quando adotam a linguagem do radioteatro, criando peças interessantes e criativas, despertam o interesse dos ouvintes que voltam suas atenções para o anúncio. Um exemplo é a agência WGGK de Washington Olivetto e outras do Rio e São Paulo que produzem peças interessantes. Roteiros criativos, estilo moderno, dinamismo, ritmo, embora com um elenco reduzido, cumprem com grande sucesso seus objetivos. É só ligar o rádio pela manhã nas principais emissoras e ouvir alguns desses comerciais. Por que não insistir com o gênero na programação? Se a produção radioteatral é cara a criatividade, pode, perfeitamente, adequar os recursos disponíveis à produção. Elenco, técnicos, produtores, roteiristas podem ser formados e burilados em oficinas. É mão de obra especializada, sim, e existem muitos jovens egressos das escolas de comunicação e teatro com ganas de trabalhar e têm uma mente extremamente criativa.
Embora os estúdios não estejam adaptados e não possuam as dimensões dos estúdios do velho rádio, a questão é muito bem compensada pela evolução tecnológica e pela digitalização.
A Nacional e a Rádio MEC-AM, ambas pertencentes à Empresa Brasil de Comunicação, firmaram convênio para reviver a radiodramaturgia em sua programação. Vale a pena aguardar e torcer para que se torne realidade.
Embora na maioria das vezes não se tenha a perfeita noção disso, o fato é que a linguagem radioteatral explora o que guardamos de mais nobre em nosso íntimo: a nossa imaginação.
È ai que reside a magia do radioteatro, onde produtor e ouvinte são cúmplices.
Roberto Salvador é professor universitário, pesquisador e autor do livro A Era do Radioteatro
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